PARA SUPERAR UMA CRISE É PRECISO SABER LIDERAR
“ Se cada homem é, de alguma maneira, responsável pelo estado onde vive, ele próprio também será, de alguma maneira, responsável pela maneira como as coisas surgem”. (Aristóteles)
A verdade é que a situação econômica brasileira vem a anos prorrogando aquilo que já era esperado um dia acontecer. A crise tomou conta de todas as áreas e negócios, uma crise apartidária, que além da perda da moralidade social tem a ver também com os valores das escolhas individuais. Passamos por um momento histórico aonde mais um presidente é deposto do cargo, passível do vice também perder o mandato, o que dará a sua sucessão do poder ao presidente da câmera, e por aí vai até o senado. Leandro Karnel diz que nestas trocas de cadeira, tem-se a impressão que estamos derrubando Lúcifer para assumir Satanás, caindo Satanás vem o Diabo, caindo o Diabo vem Belzebu, e assim, ao que parece é que estamos repetindo o papel que fez a Polônia, que ao se libertar dos Nazistas, abriu caminho para os soviéticos. O problema é que ao analisar os fatos de forma mais criteriosa do que emocional, percebemos que todas as pessoas no qual estão no poder não foram impostas por um golpe ou intitulados a força, muito pelo contrário, todas elas foram eleitas de forma legitima.
Estas escolhas dizem muito ao momento, não estamos somente uma crise moral, econômica e social, mas também estamos em uma das mais perversas e graves crises de liderança, tais que aqueles que poderiam representar exemplos a sociedade são factíveis de descrédito.
É fato que quando a liderança deixa de inspirar confiança o sistema começa a entrar em colapso, as pessoas começam a sentir perdidas e sem alicerce para se apoiar e seguir em frente. Considere o crescente abismo que se agrava cada vez mais em um país modelado por uma gestão política corrupta, arcaica, aonde não existe líderes, prevalecendo o modelo histórico do dono do engenho, o capataz e os escravos. Enquanto os chefes detêm o poder, o próprio status fazem deles cegos às verdadeiras condições dos empregados, deixando-os indiferentes a esse sofrimento.
Não precisa ser economista para entender que a vida está mais difícil. A crise exigi mais trabalho. As incertezas – mais do que as certezas – estão dominando seu dia. “Uma crise política, militar ou econômica sempre tem desdobramentos no mundo do trabalho”, diz o economista José Pastore. Cortes, desemprego, puxada de freio. Por isto, este é o momento fundamental de rever as próprias atitudes. Confrontar a si mesmo é buscar evidências irrefutável das próprias falhas.
Para começar a abordar essas questões, precisamos de líderes que foquem em vários sistemas: geopolítico, econômico, social e ambiental, para citar alguns. Mas, infelizmente o problema com muitos líderes, é que eles têm o foco estreito demais. Estão preocupados com os problemas imediatos de hoje, e assim não tem amplitude de foco suficiente para os desafios de longo prazo que estamos constantemente suscetíveis a acontecer. O líder deve ser capaz não apenas de resolver o urgente, mas de cuidar do importante e não deixar sua condição de líder no momento presente.
Se as pessoas não se sentem seguras, ficam paralisadas. A paralisia costuma tomar conta da maioria das pessoas em momentos de crise. As pessoas assustadas preferem esperar o momento passar para ter iniciativa e só depois, refletir e agir. Entretanto, o que tem que se entender é que a crise também pode ser porta para oportunidade, é nessas horas que a empresa tem que buscar compreender o momento para que o medo não domine. “O soldado que prefere ficar encolhido atrás da trincheira para não ser atingido torna-se alvo fácil para o inimigo que vem do outro lado”, “Os determinados, que rumam em velocidade para a barreira seguinte, têm mais chances de sucesso”, diz Valter Pieracciani.
Fazer diferente para buscar possibilidades diferentes! Na maior parte das vezes a liderança é despertada na dificuldade. O líder não nasce pronto, ele se faz, se constrói e são estes momentos que incitam a necessidade de seguir em frente, buscar alternativas e vontade de chegar lá, despertando o melhor de cada um. Nestes períodos da vida, seja ela pessoal ou profissional, é que devemos efetivamente exercer o papel de líder, seja à frente da equipe, negócios, família, empresa, e principalmente, agora, no mundo do trabalho, é crucial estar à frente da própria carreira. Hoje não assumir esse papel pode ser fatal.
É fato que o país está em um risco social, as empresas estão correndo riscos e consequentemente o emprego também, atravessamos um dos maiores índices de desemprego da história. Neste cenário a liderança não é uma escolha a se fazer. É a única. Fazer e fazer diferente.
Precisamos ter a capacidade de perceber que o mundo muda e que é essencial mudar com ele. Temos de ser flexível no campo das ideias e das práticas e mudar o modo de pensar para poder melhorar sempre que necessário. Por isto, mais que nunca, agora é o momento de buscar ser e fazer diferente, sair da “caixinha”, criar oportunidades, rever os próprios modelos e permitir novas possibilidades, buscar as próprias referências e necessidades dentro de si e da organização. Improvisar, talvez esta seja a melhor definição para esta circunstância.
Hoje, não importa a área, o ativo mais necessário não são mais somente as habilidades cognitivas. Somente elas não são mais suficientes para nos destacarmos – especialmente quando passamos por uma turbulência clara da falta de líder. Não faz diferença se um grupo é formado somente por pessoas com alto nível de QI (esta concepção de organização pode gerar aquilo que chamamos de efeito chão), se não houver pessoas preparadas para apoiar e direcionar, nada vai valer a inteligência. Fazer a diferença é levar a equipe à frente em momentos de turbulência mesmo que você não tenha todas as respostas.
A verdade é que ninguém pode ser líder em tudo e em todos os momentos, mas todos podem ser líderes em algo e em algum estágio da vida, desde que haja necessidade. Por isto grandes líderes pulverizam a liderança na equipe, dando a oportunidade para que cada membro da equipe encontre seu espaço para liderar naquilo que ele é melhor. Não esquecendo que quando cresce no campo da elevação do trabalho, valor e reconhecimento, faz com que todos aqueles que estejam ligados a ele também cresçam. Ele deve aproveitar as oportunidades para fazer a equipe evoluir. “O sentimento de equipe depende da identificação, da visão comum”, lembre-se, líder é antes de tudo, membro do time. Se a equipe não funcionar sem um líder, não é uma equipe, é um grupo de pessoas que depende de um cacique para dizer aonde ir. Como líder este papel é fundamental, para que não ocorra o risco de se tornar um micro gerente, sem confiança, controlador de todos. Tornar um tirano, um personagem que muitas vezes nem sabe que existe dentro de si. Quando isto ocorre, você acaba colocando em perigo a própria sobrevivência da equipe, projetos e a empresa.
As pessoas costumam observar seus líderes a todos os momentos e agem de acordo com seu comportamento. Por isso é importante perceber o quanto são coerentes os atos e as palavras, quando o líder demonstra apreensão, os subordinados ficarão apreensivos (as emoções são contagiosas, se espalham como verdadeiro vírus, líder estressado transforma o ambiente e contamina todos com seu estresse), se aparentar confiança, a equipe se tornará confiante, se demonstrar derrotado a equipe também se sentirá assim. É preciso saber que um grupo necessita ter no trabalho um lugar para alegria e prazer. Seriedade não é sinônimo de tristeza, ou seja, um trabalho sério não significa ser triste. Por isso, é necessário criar circunstâncias em que o reconhecimento, a alegria e o bem-estar possam vir à tona.
Liderar é saber motivar, Daniel Pink diz que saber motivar as pessoas está relacionada a capacidade emocional e tornou-se o fator primordial de sucesso e faz toda a diferença nos resultados alcançados. Atiçar as pessoas com recompensas melhores, ou ameaça-las com punições mais severas, já não funciona mais. O mundo de hoje exige que as ações humanas estejam interligadas em torno de uma vontade de fazer as coisas porque são importantes, trazem satisfação, são interessantes e porque faz parte de algo maior. Por isto, não tem como negar que cada vez mais é necessário reconhecer a importância dos fatores comportamentais nas relações de trabalho para o sucesso. Os líderes mais eficientes personificam as pessoas, apresentando um estilo natural, mas são capazes de modificar seu estilo natural para adaptar-se as situações, flexível a mudanças.
Uma organização é um espaço complexo de relações, quanto mais os líderes acreditarem que decidir sozinho é melhor do que contar com a inteligência de todos, mais próximo estará do próprio naufrágio. Em contrapartida quanto mais ele oferecer a oportunidade às pessoas a serem ouvidas mais estará abastecido de variáveis e nuances que poderão calibrar sua decisão no sentido da melhor convivência interna. Não se trata de abrir mão do poder de decidir, mas sim, um novo modo operacional para a decisão.
Segundo o psicólogo David McClelland, a categoricamente que determina o sucesso no trabalho e no convívio social são as competências especificas como autocontrole, empatia consciente, persuasão ecológica, enfim, as capacidades fundamentais definidas no contexto da inteligência emocional, através de um modelo no qual podemos denominar de “modelo de competência” – hoje comum em organizações internacionais – está cada vez mais acirrada por pessoas na identificação das principais habilidades que transformam – alguém capaz de se adaptar e renovar ideias, capaz de se comunicar de forma eficaz, relacionar e que se antecipe aos acontecimentos com a maestria de pensar e interagir sistemicamente. Não basta repetir o que já está sendo feito, o líder deve ir além do óbvio. Ele tem de ser capaz de dar vida e inovação constantemente àquilo que faz. Por isto é certo dizer que não se deve olhar para a crise apenas como um período desastroso, se você tiver essa visão, irá despertar admiração, já que a crise é o melhor meio de desafiar as mudanças e enxergar novas possibilidades.
Por isto livros e teorias de alto ajuda pouco ou quase nunca funciona, porque não é hora de imitar, o que deu certo para um em determinado momento não necessariamente dá certo para outro, cada um tem a percepção do mundo, suas próprias histórias contidas em um contexto sistêmico. Livros de autoajuda que possa proporcionar respostas prontas de como ser um líder ideal, não tem tido mais valor e eficiência, neste momento ímpar eles podem no máximo servir como inspirações. A liderança tem a ver com o momento e necessidade, e a liderança correta é aquela que melhor se adapte aos que estão inseridos na situação.
Temos também que desmistificar esta ideia “americanizada”, em seus enlatados pulverizados dos seus modelos de gestão, liderança e relacionamento ao mundo. Modelo o qual parte da padronização com manuais de autoajuda, como facilitadores para contextualização de uma normose social, fazendo-nos acreditar que tivessem resposta a tudo. Um modelo aonde a velocidade representa produtividade, aonde grande número de americanos chegou a um ponto em que não podem esperar por nada. Eles querem tudo agora, e deve ser “rápido” e “fácil”. Esses são os dois lemas do consumo americano: rápido e fácil. Se não for rápido, as pessoas não têm paciência suficiente para consumir. Se não for fácil, não têm capacidade de aprendizado suficiente para absorver. A paciência é uma virtude que (como todas as virtudes) exige exercício e prática constante.
Em vez de copiar, vamos criar, inventar, improvisar – o imprevisto e o improviso – praticar a negação do previsto, do planejado, daquilo que se faz com o “provisão” pelo conhecimento, e do controle do passado sobre o presente e o futuro. O fazer, sem ser conduzido pelo “como se faz” nem informado pelo “conhecer” – esses outros nomes do passado, do já visto – abre caminho para uma arte que não é nem um oficio nem uma tecnologia que possam ser maestria capaz de entorpecer o improvidente ser – agora, nem há história alguma que o informe. A improvisação desmistifica os mistérios que justificam um líder e desconstrói os mitos que legitimam a competência profissional com um tipo de conhecimento, como uma pratica informada pela teoria, a aplicação de princípios, regras e procedimentos que são dominados por meio da formação, do aprendizado e da iniciação. Tudo se justifica o fato de o profissional ser o dono oficialmente reconhecido de um saber vendível. A improvisação em uma liderança, é um livro de autoaprendizagem que convida os Líderes a criar, em sua própria pratica profissional, o estimulo individual, fruto do seu modo de ser, estimulando-se a se esquivar dos artifícios fáceis, da aceitação irrefletida das normas, da imitação do mestre, das receitas pré-fabricadas das auto ajudas, da ambição pelo poder. Esta é uma das questões que você deve se fazer para continuar em movimento, transcender as expectativas, não esperar por um milagre, que os outros façam algo que tire você desta crise.
No mundo corporativo, os momentos de crise são aqueles nos quais as empresas devem se reinventar, transformar seus funcionários em uma equipe de autogestão, concisa, com objetivos claros e comuns, apoiam e fazem com que vistam a camisa, em uma política de portas abertas, aonde as diferenças são somadas, pulverizando conhecimento. Trazer ao ambiente a troca de ideias, a busca por informações, ampliando o horizonte das possibilidades. Estar abertos as mudanças, e o melhor a fazer é dar o máximo de si mesmo para que elas sejam implementadas com sucesso, e não fique lamentando, esperando que o milagre caia no seu colo.
Vamos aprender a fazer as perguntas certas e deixar de sofrer, lamentar, reclamar, culpar, ou buscar respostas. Há dois pontos importantes a entender antes de dizer que o sofrimento é gerado em tempos de crise. O primeiro é na circunstância da dor do luto como forma de sentir a perda de alguma coisa ou alguém, é um processo saudável. O segundo, é que alguns breves segundos de raiva, decepção, culpa ou vergonha são uma reação imediata normal ao momento de crise. É o mesmo que sentir dor quando se queima. Um momento de dor física é um alerta para que você retire a mão e evite dano maior. Alguns segundos de dor psicológica devem alertar você do mesmo jeito para que mude a mente para a percepção consciente dos fatos, para poder lidar com a situação sem o sofrimento e os danos. Se você não mudar o foco, é como se insistisse em deixar a mão no fogão quente e continuasse a sentir a dor que foi útil apenas inicialmente. Não importa o quão duro você dá em seu trabalho, se ele não produzir resultados tudo não deixa de ser em vão, e somente na crise que a percepção dos erros e acertos são efetivamente aparentados. Essa situação dolorosa acaba sendo a dádiva mais valiosa da vida profissional. A dor e o estresse se tornam tão insuportáveis que, em determinado ponto, você é forçado a mudar para a perspectiva, sendo apenas preciso transformar essa situação dolorosa em uma coisa com a qual pode recomeçar, transformar a situação em uma oportunidade de grande crescimento para si mesmo como líder.
Liderar é inspirar, motivar e animar ideias, pessoas e projetos. Liderança é a capacidade de elevar para melhor uma condição coletiva. A liderança exige um conjunto de procedimentos e atividades, mas ela também precisa da capacidade de saber fazer, da sensibilidade de saber perceber e da sabedoria de saber entender. Por isso, está muito mais ligada à arte que ao procedimento, pois é o refinamento da sensibilidade gestora, técnica e intelectual. Isso significa que uma pessoa não lidera tudo o tempo todo, mas ela sempre pode liderar nessas condições. A liderança é o prisma de uma consciência maior de nossa interligação humana, da impermanência e da fragilidade de nossos esforços, do sofrimento inútil e desnecessário causado pelo apoio aos extremismos e da grandeza da capacidade do espirito humano – a sua capacidade – para a compreensão, a compaixão e beneficência. Da percepção do mundo a nossa volta e como ele interfere nos pensamentos e na liberdade de ser.
Todos os líderes são ideais. Como ninguém nasce pronto, é preciso tornar real o líder que há em cada um de nós. Como o líder é algo a se realizar, não existe um modo ideal de ser ou um único jeito de fazê-lo, mas atitudes que favoreçam isso. A filosofia pode ser um grande aliado para buscar inspiração e conhecimento que nos apoie neste processo de buscar a própria identificação, trazendo a reflexão, afinal, a filosofia é um grande portal de conhecimento que nos leva a refletir sobre a conduta ética, de como devemos agir buscando não prejudicar o grupo no qual convivemos, ela é o horizonte para a liderança e proporciona uma vida coletiva saudável para todos. A filosofia também nos ajuda a entender a liberdade que temos para aperfeiçoar a convivência e mudar a organização para que possamos coexistir cada vez melhor, em uma liberdade de definir condutas do melhor para maioria. Somente na filosofia que estes termos podem ser discutidos e refletidos.
O propósito da filosofia não é dizer o que devemos ou não fazer, muito menos é uma biblioteca de fórmulas prontas que devemos aplicar, mas pelo contrário, a filosofia é a base de referência que nos apresenta a responsabilidade de definir a vida e a convivência, justamente dos que vivem e convivem, sendo emancipadora e libertadora. Não é uma base de conhecimento tirânico, mas sim o Saber para que possamos entender qual o nosso propósito, compreendendo as nossas próprias escolhas. Na filosofia você será capaz de ser especialista de você mesmo porque ninguém conhece você melhor que você, logo quem tem que descobrir o melhor jeito de você viver é você mesmo, através da liberdade que tem nas escolhas e nos próprios valores, porque aquilo que é importante para você não necessariamente e importante para outras pessoas.
Marinoff apresenta em seu livro “O caminho do meio” uma base que nos leva a reflexão propondo o equilíbrio, uma moção de como liderar a nossa própria vida, através das propostas filosóficas baseadas no ABC, Aristóteles, Buda e Confúcio, aonde defende que só se pode aplicar algo a esta “aldeia global” se ele primeiro se aplicar a você. Como Ghandi falou: ”Você deve ser a mudança que deseja ver no mundo”. Por isto fecho este artigo com o trecho deste extraordinário livro, permitindo assim, complementar tudo descrito neste artigo em uma reflexão maior para encontrar em nós a razão de sermos e estarmos aqui, um devaneio sobre este momento ímpar que estamos passando, com isto buscar formar perguntas que possam somar e nos apoiar no encontro de sermos verdadeiros Líderes:
“ Aristóteles deixa três grandes lições para refletirmos: A primeira é que a sua realização como ser humano está dentro de você não depende de coisas externas. A segunda é que cada ser humano possui uma excelência particular ou um talento individual, um dom especial ou uma capacidade única, que, quando cultivada, refinada e polida dá rigidez à realização. A terceira, a maneira mais certa para cada um de nós aprimorar nossos dons e, por conseguinte, alcançar a realização, está em adquirir hábitos virtuosos através da proporção áurea – evitando extremos e adotando proporções boas, certas e justas.
Uma das grandes virtudes do ser humano é se conhecer, perceber quem é e o que realmente busca. Muitas vezes temos que nos conectar conosco mesmo para não perdermos a direção de nossa vida e consequentemente prejudicar aqueles no qual nos acompanham e isto serve para a família, amigos e empresa. Faça uma lista de seus hábitos, virtuosos e nocivos. Quais são os hábitos mais prestimosos para você e para os outros? Lute para reforçá-los através da prática diária. Quais são os mais prejudiciais? Lute, para reduzi-los através da prática diária. Quais são as coisas boas ou prestimosas que você faz, mas que não faz muito frequentemente? Lute para fazer essas coisas com mais frequência. Quais são as coisas más e prejudiciais que você frequentemente faz? Lute para fazer essas coisas com menos frequência. Quais são as coisas boas ou prestimosas que sempre quis fazer, mas que de alguma maneira nunca conseguiu? Comece por fazê-las hoje. Quais são as coisas más ou prejudiciais que sempre quis parar de fazer, mas que, de alguma maneira, nunca conseguiu parar de fazer? Comece por se abster de fazê-las hoje.
Dessa maneira, você se dirigirá rumo à proporção áurea de Aristóteles. Em segundo lugar, faça uma lista de suas excelências, seus talentos, dons ou capacidades. Quais são os que você está aprimorando? Quais são os que está negligenciando? Se você estiver aprimorando seus dons, terá um sentimento de importância e de realização, de significado e de propósito, que, com o passar do tempo, se transforma em felicidade duradoura, o sentido aristotélico de realização. Se, ao contrário, estiver negligenciando seus dons, você terá um sentimento de inutilidade e de fracasso, de falta de significação e de falta de propósito, que, com o passar do tempo, se transforma em infelicidade crônica, a ausência do sentido aristotélico da realização.
Por fim, se está se sentindo realizado, entenda que isso vem de dentro de você. Isto é, primeiramente, um resultado geral da predominância dos hábitos virtuosos sobre os nocivos e, depois, um resultado especial pelo fato de cultivar seus dons particulares através desses caminhos virtuosos.
Aristóteles entendeu o que os estoicos perceberam, ou seja, que ninguém pode tirar suas virtudes de você. Pode ser até que mude ou abdique de seus princípios, mas ninguém pode forçá-lo a fazer isso. De forma semelhante, outras pessoas podem estragar ou destruir sua casa, seu carro, sua carreira ou seus ídolos; ninguém, no entanto, pode estragar ou destruir sua realização – exceto você. Em suma, quando importa Aristóteles para sua vida, você assume responsabilidade por sua felicidade duradoura. Se você conseguir importar esses ingredientes vitais da filosofia aristotélica para sua vida, tornando-se, por conseguinte, mais realizado, então estará apto, também, a exportá-los para a vida das outras pessoas, ajudando-as para que elas se tornem mais realizadas também. Se você é, por exemplo, um líder pai, um líder professor, um líder treinador, um funcionário ou um cuidador de qualquer tipo, você é, então, responsável pela formação de caminhos nos quais as pessoas podem experimentar maior ou menor realização.
Sendo assim, o que quer que você faça usando um sentido aristotélico, pode fazer por elas, também, e seguindo exatamente as mesmas três partes. Em primeiro lugar, você acha que está encorajando as pessoas a adquirir hábitos virtuosos ou nocivos? Em segundo lugar, você as está ajudando a descobrir e a refinar as excelências, os talentos, os dons ou as capacidades que elas possuem ou, ao contrário, está impedindo que elas o façam? Em terceiro lugar, você está tornando a experiência das pessoas com a realização autos sustentada mais fácil ou está inculcando dependências malsãs que inibem o desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade dessas mesmas pessoas? Assim como Aristóteles pode ser um modelo para você, você também pode ser um modelo para os outros. Por conseguinte, importar Aristóteles para sua vida é essencial para exportá-lo para o seu meio.
Buda já está dentro de você, não é necessário “importar” sua natureza-Buda, mas sim acordá-la e ativá-la….Buda, não somente é o maior amigo que qualquer ser humano pode fazer – mas também aquele cuja amizade garante que você nunca terá inimigos. É sua insistência compassiva e incansável que diz que você próprio possui todos os recursos necessários para sua emancipação do sofrimento e para ajudar a realizar a missão cósmica de igualmente emancipar todos os seres sensíveis. Enquanto prazeres e dores, confortos e desconfortos, triunfos e tragédias são experimentados natural e necessariamente no curso de nossos ciclos de vida como seres corporificados, o sofrimento é, mais uma vez, uma coisa diferente. De acordo com os ensinamentos budistas, todo sofrimento humano surge de nossos desejos ilusórios e dos apegos malsãos que eles, invariavelmente, geram: os produtos de um ego cego, um coração egoísta e uma mente gananciosa. Tal ser busca, desesperadamente, apenas a gratificação dos sentidos, sem atenção para os custos “cármicos” inevitáveis para si e para os outros. O ódio, a cobiça e a inveja – entre outros venenos da mente – são dissolvidos pela prática diária do budismo, da mesma forma que são acumulados pela sua negligência. A prática e a teoria budista oferecem refúgio contra o ódio, a intolerância e a corrupção, onde quer que sejam encontradas.
Como importar, então, o Caminho Óctuplo de Buda para sua vida? Lembre-se, o próprio Buda tentou e mais tarde descartou extremos de indulgência e de ascetismo, declarando que nenhum extremo conduz à “norma”. Qualquer que seja a sua missão, o seu estágio ou a sua posição na vida – jovem ou velho, homem ou mulher, aluno ou professor empregado ou desempregado, rico ou pobre, crente ou descrente, a sua humanidade é o seu passaporte para usufruir dos benefícios do Caminho do Meio, os quais aumentam assim que você começa a praticá-lo.
Assim como o sofrimento tem um gosto, a despeito da hora, do dia ou da posição de vida em que você o experimenta, a libertação do sofrimento também tem um gosto, a despeito da hora, do lugar e da pessoa que o experimenta
Da mesma forma que Aristóteles insistiu em que a sua realização duradoura está dentro de você, Buda insistiu em que a sua libertação do sofrimento está dentro de você. Aqueles que sofrem estão se enganando e frequentemente cometem o erro de culpar as outras pessoas por essas ações erradas. Você só pode se libertar do sofrimento quando aceitar o fato de que você se aprisionou no sofrimento e quando enfrentar e desfizer seus apegos doentios e desejos ilusórios. São estes últimos que formam as grades e as celas, as paredes e os guardas de sua prisão. Liberdade e responsabilidade são inseparáveis. Mesmo assim, assumir responsabilidades requer um grau de maturidade – maturidade emocional e filosófica. O sofrimento também pode ser um professor e um guia, um guru exigente, mas revelador, que aumenta a capacidade que uma pessoa possa ter de aceitar a responsabilidade para utilizar a liberdade para dissipar o sofrimento de alguém. Isto é complicado? Sim. Certamente precisa ser, para poder examinar as profundezas de nossos seres convulsionados. Assim como às vezes é preciso um ladrão para pegar outro ladrão, às vezes é necessária uma convulsão para dissipar outra. Quando, em seu leito de morte Buda disse aos seus seguidores que fossem “suas próprias luzes”, ele reforçou exatamente essa teoria: somos a única fonte de nosso sofrimento, assim como a fonte para dissipá-lo.
Todos precisamos de ajuda de vez em quando, ou seja, ajuda para que possamos nos ajudar, e esse é o propósito mais profundo ao qual a prática budista serve. Desta forma, não existe, em última instância, uma distinção entre ajudar a si mesmo e ajudar os outros. Tentar manter essa distinção – ou seja, tentar ajudar-se sem ajudar os outros, ou desconsiderar os outros, ou prejudicar os outros – sempre dará errado, resultando em sofrimento auto induzido. Da mesma maneira, não existe distinção entre importar o budismo para a sua vida e exportá-lo para o seu meio. Assim como inspirar e exalar formam a respiração, aquilo que você recebe e aquilo que devolve ao seu meio, junto com o que você recebe e devolve aos outros, formam o seu carma. Você não pode importar o budismo para a sua vida sem exportá-lo para a vida dos outros, assim como não pode inspirar sem exalar. E, reciprocamente, você não pode exportar o budismo para a vida dos outros sem importá-lo para a sua própria vida, assim como não pode exalar sem inspirar.
Os antigos chineses sabiam disso também, daí seu ditado: “Quando o aluno estiver pronto, o professor aparecerá.” Quando você estiver pronto para aprender uma lição, um professor sempre aparecerá com o propósito de transmiti-la a você. Isso também se aplica a você como transmissor, pois, quando outros alunos estiverem prontos, será você a aparecer para eles como um professor. Esta é, pois, a ligação entre Buda e Confúcio.
Confúcio está inserida no tao, o caminho das relações unificadas e harmoniosas entre complementos. Lembre-se de que Confúcio identificava-se como um transmissor, não como um inovador. O que ele queria dizer com isso?
Quando a liderança se desvia do Caminho – o Caminho da autoridade moral enraizado na ordem equilibrada -, a sociedade humana debate-se e implode, se destruindo através do conflito descontrolado e incontrolável. Nós também vimos isso acontecer inúmeras vezes na história do mundo: quando rebanhos são guiados por lobos, o caminho que eles trilham é eivado de terror, de privação e de massacre.
Quando, ao contrário, a líderança está alinhada com o Caminho e encoraja a sua manifestação na sociedade, a ordem equilibrada então prevalece sobre a confusão desequilibrada. Quando os rebanhos são conduzidos por pastores, seu caminho é orlado com segurança, prosperidade e harmonia.
Confúcio exaltou um retorno ao Caminho como uma panacéia à pletora de males e injustiças de sua época – um retorno a um Éden secular, do qual a humanidade não foi expulsa por um dito Divino, mas baniu a si mesma devido à força da liderança gananciosa, da negligência coletiva e do declínio moral. Confúcio concebia seu papel como um transmissor, não um inovador: um transmissor de preceitos antigos e práticas que conduzem à restauração do Caminho e, em seu rastro, ao restabelecimento da ordem equilibrada à humanidade.
Por conseguinte, ao importar Confúcio para a sua vida, você estará se alinhando com o Caminho. De que maneira? Confúcio enfatizou a importância vital de cultivarmos uma disposição universal para a benevolência em relação aos outros, de nos afiliarmos ao que está certo independente do ganho egoísta ou da perda, de fazermos o bem sem visar vantagem pessoal ou desvantagem – tudo em nome de sustentar o próprio Caminho. Assim, desde o começo, Confúcio subordina os interesses de cada indivíduo aos de uma sociedade mais ampla. A medida de nosso valor como seres humanos não é o quão bem servimos a nós mesmos, mas o quão bem servimos aos outros. Ademais, quanto mais alto ascendemos na ordem confuciana, maior se torna a nossa responsabilidade de servir aos outros – ao contrário da oportunidade de servirmos a nós mesmos. Esta é a interseção-chave do pensamento confuciano e do pensamento budista.
Todos têm um lugar no sistema confuciano; todos têm um papel a desempenhar. Ninguém é supérfluo, ninguém é banal, ninguém é negligenciado. Cada um serve com sua própria capacidade e todos são valorizados. O papel de todos é considerado, cada um é responsável perante os outros.
Sendo assim, para importar Confúcio para a sua vida, pense em você como uma célula única em um vasto organismo social e se pergunte o seguinte: “Que papel ou papéis eu desempenho? Qual é o Caminho apropriado para fazer isso? Como posso melhor servir ao organismo social do qual sou parte inseparável? Quem depende do meu serviço ou dos meus serviços? Como posso oferecer meus serviços? Dependo do serviço ou dos serviços de quem? Como posso aceitar seu serviço ou serviços?”
Você importa Confúcio para a sua vida quando reflete, em geral, sobre seus deveres em relação aos outros, especificamente quando entende como expressar sua benevolência mais apropriadamente através dos vários canais sociais que ligam você ao organismo da humanidade. As cinco relações humanas básicas que foram definidas por Confúcio – pai-filho, marido-mulher, amigo amiga, mais jovem-mais velho, súdito-governante – são os tipos principais de canais através dos quais você está conectado aos outros e através dos quais sua benevolência deve fluir. A partir disso, o que acontece é que importar Confúcio para a sua vida não é estritamente separável de exportá-lo para o seu meio. Se a sua benevolência flui através de seus canais sociais, simultaneamente com a benevolência de outros fluindo através de seus respectivos canais, a importação e a exportação, assim, transformam-se em união cooperativa. O egoísmo iluminado determina e precisa que sirvamos os outros como uma condição para melhorarmos ao participar de uma ordem equilibrada harmoniosa. O egoísmo não-iluminado racionaliza a gratificação pessoal míope de curto prazo à custa dos outros, ao preço inevitável de entrar em desvantagem com os outros, pelo fato de fomentarmos uma desordem desequilibrada e discordante. “
Crise é também oportunidade, como sugere o ideograma chinês. Ir atrás, não desistir, cuidar do que é importante. Para gerenciar sua vida, a família e uma equipe, você utiliza os músculos e a razão”, diz o filósofo Abraham Shashamovitz, ex-vice-presidente da Nextel. “Para líderar de verdade, use também o coração.” Trocando em miúdos, coloque as pessoas à frente dos negócios e dos interesses da empresa. Os verdadeiros líderes souberam esperar os momentos certos. “O líder tem de ter coração grande para acolher as pessoas e estrutura de aço para tocar os negócios”, diz Cristyna Aiach Weiss, do Merrill Lynch. O filósofo Shashamovitz vai ainda mais longe. Se você encontrar parte dessas virtudes no seu líder, pode apostar: você está em boas mãos. Agora, se você as tiver, todos vão querer segui-lo.
As crises não marcam hora, lugar ou escolhe as pessoas. Sua vida será afetada de qualquer jeito – direta ou indiretamente, mesmo que você esteja preparado para esse momento, porém são as suas escolhas de como a crise irá lhe afetar. Por isto, deve-se dirigir esforços para desenvolver competências do Ser. É isto que o Aristóteles, Buda e Confúcio nos ensina. Que acima de tudo temos que saber quem somos e porque estamos aqui, perceber o que acontece a nossa volta e como o universo é influenciado por cada movimento que realizamos. O universo nos faz mover, mas nós também movemos o universo. Não podemos nos esquivar da responsabilidade que temos perante ao mundo, que reage através da representação da somatória de nossas ações. Não se engane, tudo que acontece a nossa volta nada mais é do que o resultado de nossas ações e das nossas escolhas, perante a nossos próprios valores.
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