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FAZER BRINCADEIRAS DURANTE APRESENTAÇÕES AJUDA HOMENS, MAS PREJUDICA MULHERES

Muitas pessoas querem saber como apresentar ideias e serem persuasivas de maneira eficiente no trabalho. Um conselho para as apresentações e para conquistar a plateia é: seja engraçado. O Coach em comunicação e autor do bestseller Talk Like TED: The 9 Public-Speaking Secrets of the World’s Top Minds Carmine Gallo afirma que “O humor alivia tensões, tornando a sua plateia mais receptiva ao que for proposto. Essa atitude fará de você uma pessoa agradável; as pessoas gostam de fazer negócios com pessoas de quem gostam e dar apoio a elas.  Esse conselho foi repassado por vários outros autores.

Até aqui, tudo muito interessante. Pesquisam humor conseguem aumentar o desempenho de seus colaboradores e a satisfação no trabalho. Ouvir algo engraçado ou ficar entretido reduz estresse, melhora as relações sociais, cria um ambiente com energia positiva, e aumenta a motivação. De forma geral, o humor gera consequências positivas para ambos palestrante e plateia.

No entanto, nossa pesquisa mostra que os benefícios do humor não se estendem a todo mundo – as mulheres, na verdade, podem se sentir prejudicadas quando o humor é usado no trabalho. Observamos que, quando os homens usam o humor nas apresentações, os observadores os enxergam como alguém que possui um alto nível de status (ou seja, respeito ou prestígio) dentro da organização e, assim, atribuem-lhes uma classificação mais alta por desempenho e avaliações em capacidade de liderança se comparado àqueles que não lançam mão do humor. Em contrapartida, quando as mulheres usam o mesmo tipo de humor no mesmo tipo de apresentação, as pessoas as posicionam em níveis inferiores de status, julgam seu desempenho como inferior, e dizem que elas são menos competentes como líderes.

Ao elaborarmos nosso estudo, primeiramente precisávamos pensar em como os estereótipos de gêneros e as diversas interpretações do humor no trabalho poderiam se influenciar. Estereótipos de gêneros, que são crenças a respeito de como homens e mulheres devem se portar, têm sido usados para descrever a desigualdade de gênero no trabalho – e suspeitamos que eles afetam a maneira como os colaboradores interpretam o humor no ambiente de trabalho.

Estudamos mais detalhadamente dois tipos de percepções diferentes no que tange o uso do humor no trabalho. Uma percepção é ver que o humor é um comportamento funcional – uma ferramenta que ajuda a deixar o ânimo mais leve, fazendo com que os problemas pareçam ser menos desafiadores e incentivam atitudes positivas e interações favoráveis. A segunda percepção é que o humor incomoda – um desvio de atenção no trabalho demonstra menor comprometimento porque a pessoa está mais interessada em se divertir e fazer gracinhas. Nosso palpite foi que a definição de humor – sendo funcional ou perturbador – pode ser diferente de acordo com o gênero do engraçadinho.

Mas como chegamos a essa conclusão? Os homens são estereotipados como detentores de grandes conquistas, são ambiciosos e focam na realização das tarefas. Essas expectativas estão muito em linha com a interpretação funcional do humor. Já o estereótipo para as mulheres abrange não só um número menor de conquistas e ambições, como também o aumento das responsabilidades com a família. O fato de ser tão difícil dedicar tempo para o trabalho e para as responsabilidades com a família levou à percepção de que mulheres são menos dedicadas ao trabalho do que os homens. Ao contrário do estereótipo para os homens, o feminino está mais em linha com a interpretação perturbadora do humor. Essa harmonização é muito importante porque as análises mostraram que as pessoas tendem a interpretar o comportamento da maneira que combina com o que esperam em relação ao comportamento dos outros. Sendo assim, presumimos que o uso do mesmo tipo de humor por homens e mulheres seria interpretado de diferentes maneiras.

Nossa análise foi feita com mais de 300 colaboradores que trabalham nos Estados Unidos em várias áreas de atuação. Todos foram recrutados online. Fizemos duas experiências controladas para isolar os efeitos do gênero e do humor. Para um bom resultado, contratamos dois atores (um ator e uma atriz) para fazerem o papel de gerentes de uma loja varejista. Esse “gerente” apresentava um relatório de desempenho trimestral para dois outros atores (um homem e uma mulher), que estavam fazendo o papel de gerentes regionais. Filmamos as apresentações e as mostramos numa sala de reuniões, que mostrava o apresentador e os gerentes regionais de frente para ele.

Cada ator gravou a mesma apresentação em duas versões diferentes. Uma versão continha cinco frases que eram mostradas durante a apresentação. Por exemplo, o gerente da loja começou a apresentação, fazendo uma piada autodepreciativa. “Ontem à noite, meu (minha) esposo(a) me deu uns conselhos para essa apresentação. Ele(a) disse que, independentemente do que eu fizesse, “não se mostre tão charmoso(a), espirituoso(a) ou intelectual – seja autêntico(a)!” A outra versão não continha humor algum. Estatisticamente, para cada estudo, tivemos cuidado em apontar as diferentes percepções da plateia em relação à atração física.

Na primeira experiência, depois de os participantes contarem a trajetória profissional e o currículo dos gerentes (que eram exatamente iguais em todos os aspectos), eles assistiram a um vídeo com uma ou duas apresentações (escolhidas aleatoriamente) e avaliaram se o humor que o gerente usou incomodava ou era funcional. Em linha com as nossas expectativas a respeito da influência de estereótipos de gêneros, o uso do humor pelas mulheres foi avaliado como sendo menos funcional e mais prejudicial do que o uso do humor pelos homens. Os resultados se mostraram lineares, independentemente do gênero, uma vez que ambos homens e mulheres avaliaram o humor da atriz como sendo mais negativo.

Nossa primeira experiência mostrou que os humores, tanto feminino quanto masculino, têm diversas interpretações. Na segunda experiência, analisamos como o fato de adicionar humor se compara ao de não adicionar, usando os quatro vídeos (homens e mulheres; com humor ou sem humor). Mais uma vez, os participantes releram o histórico profissional e o currículo do gerente de loja, assistiram a um dos vídeos aleatoriamente escolhidos, e fizeram uma nova avaliação deste mesmo gerente. Quando ele acrescentou humor à apresentação, recebeu avaliações mais altas na capacidade de perseverança, desempenho na função e liderança comparadas às avaliações recebidas quando não acrescentou humor. Entretanto, com a gerente aconteceu o contrário. Acrescentar humor fez com que a avaliação nos mesmos quesitos que os do gerente fossem inferiores.

Comentários por escrito também mostraram essas diferenças. Um dos participantes percebeu que uma das mulheres que fizera a apresentação com humor demonstrou “baixa avaliação nas piadinhas” e uma outra notou que ela tentou “acobertar sua falta de perspicácia em negócios através das piadinhas.” Em contrapartida, aqueles que assistiram à palestra do ator que mostrou humor disseram que “ele é espirituoso e gosta de aplicar humor para ser diferente dos que são muito sérios” e, outra pessoa ainda acrescentou que “ele usa um pouco de humor para quebrar a monotonia de sua apresentação.”

Nossa pesquisa mostra que, quando as coisas acontecem na mesma onda, a interpretação do humor é feita de maneiras diferentes entre homens e mulheres. É provável que as mulheres sejam prejudicadas ao seguir a sugestão de acrescentar humor às apresentações de trabalho e em ambientes de trabalho mais formais, indo na contramão do que autores recomendam, que é usar humor nas apresentações.

No entanto, é importante levar em consideração o contexto adotado para a nossa análise. Os resultados podem ser válidos somente para as primeiras impressões e para as reações iniciais, o que poderia acontecer numa entrevista de emprego ou numa primeira reunião com um cliente. É possível que as mulheres que ganham reputação positiva por chegarem cedo, ficarem até mais tarde e até mostrarem uma dedicação maior para com o trabalho estejam tentando evitar resultados negativos por conta de outros dados presentes na avaliação de liderança. Infelizmente, isso também mostra que, mesmo que as mulheres não considerem os efeitos negativos e mostrem outros sinais de comprometimento com o trabalho, elas terão de atingir um nível mais alto de desempenho antes de obterem resultados positivos ao lançar mão do humor.

Por um outro lado, organizações e gestores devem tomar consciência de que esse preconceito existe. Pesquisas mostram que, assim que as pessoas que dão valor à igualdade encontram situações que levam ao preconceito, elas se tornam mais observadoras e se esforçam para não fazerem o mesmo. Ao mostrar como as características positivas de humor podem ser interpretadas de várias maneiras de acordo com o gênero, esperamos que as pessoas pensem duas vezes nas pessoas que consideram engraçadas e por quê. E por fim, isso pode ajudar as mulheres a serem menos tímidas ao aplicar o humor no trabalho e as organizações a conseguirem desfrutar dos resultados positivos que o humor pode gerar.


Evans é doutorando na University of Arizona. É formado em Engenharia Mecânica pela Brigham Young University em 2002, concluiu seu mestrado em Administração de Empresas pela University of Texas em 2011. Evans realiza pesquisas em gestão de lideranças e gerenciamento de impressões.


Jerel Slaughter concluiu seu doutorado em Psicologia Organizacional em 2000 na Bowling Green State University. Atualmente é Professor-Chefe e Chefe de Departamento em Gestão e Organização na Eller College of Management da University of Arizona. Sua pesquisa é destinada ao recrutamento e seleção de colaboradores, bem como ao mau comportamento e atitudes antiéticas em organizações.


Aleksander Ellis concluiu seu doutorado em Psicologia Organizacional em 2003 pela Michigan State University e atualmente é Professor da Eller College of Management da University of Arizona. Sua pesquisa estuda, principalmente, a natureza do trabalho em equipe nas organizações, embora seus interesses englobem várias áreas em comportamento organizacional, inclusive o impacto de estereótipos de gênero e raça.


Jessi Rivin é doutorando no primeiro ano em Comportamento Organizacional na Leeds School of Business da University of Colorado Boulder. Ela se formou em Psicologia e Administração de Empresas pela University of Arizona em 2018. Sua pesquisa é sobre liderança e aprendizagem organizacional positiva.

Fonte: Revista Havard Business Review

Acesso: http://hbrbr.uol.com.br/fazer-brincadeiras-durante-apresentacoes-ajuda-homens-mas-prejudica-mulheres/