
Por que tomamos piores decisões à medida que o dia avança?
A tomada de decisões é uma parte intrínseca de nossas vidas. Seja escolher o que vestir pela manhã, decidir qual projeto priorizar no trabalho ou decidir o que comer no almoço, somos constantemente bombardeados com escolhas. No entanto, a sobrecarga de decisões pode ter um impacto profundo em nossa saúde mental, produtividade e até mesmo nas escolhas que fazemos, o que é conhecido como a fadiga de decidir.
O que é a Fadiga de Decidir?
A fadiga de decidir ocorre quando o processo contínuo de tomar decisões leva a uma redução na nossa capacidade de tomar boas decisões. Esse fenômeno foi identificado pelo psicólogo Roy Baumeister, um dos maiores estudiosos da psicologia do comportamento, que demonstrou que o ato de decidir consome recursos mentais limitados, o que resulta em decisões cada vez mais impulsivas e de menor qualidade à medida que o dia avança.
Em um estudo seminal, Baumeister e sua equipe descobriram que, após uma série de decisões, o indivíduo passa a tomar decisões mais precárias ou até a evitar fazer escolhas, um comportamento que se reflete em diversas áreas da vida cotidiana, desde a escolha de alimentos até decisões mais complexas no trabalho ou em relações pessoais.
O Impacto da Fadiga de Decidir no Corpo e na Mente
Quando o cérebro é sobrecarregado com decisões, ele começa a reduzir seu foco e o processamento cognitivo. O resultado? Uma série de decisões automáticas e escolhas erradas. Isso pode ser observado, por exemplo, em decisões impulsivas de compras, em que, após um longo dia de trabalho, as pessoas tendem a gastar mais em itens não planejados ou até mesmo a tomar decisões importantes sem o devido processo reflexivo.
Baumeister, em seu estudo “Ego Depletion: Is the Active Self a Limited Resource?”, publicado no Journal of Personality and Social Psychology em 1998, observou que a tomada constante de decisões leva ao esgotamento do ego, ou seja, à diminuição da nossa capacidade de autocontrole, levando a escolhas erradas em situações de alta pressão. Quando estamos no estágio de fadiga, nossa resistência a tentações diminui, e podemos, por exemplo, recorrer ao consumo excessivo de junk food ou a outras atividades que não são produtivas.
Outro estudo significativo sobre o tema foi realizado por psicólogos da Université de Montréal, que analisaram como a tomada de decisões repetidas afetava a saúde mental. Os pesquisadores descobriram que pessoas expostas a um grande número de decisões diárias apresentam níveis mais altos de estresse e ansiedade, além de baixa satisfação com as escolhas feitas ao longo do dia.
Por que tomamos piores decisões à medida que o dia avança?
A principal razão pela qual tomamos decisões piores ao longo do dia está ligada à energia mental limitada. Durante a manhã, nossos recursos cognitivos estão frescos, mas, à medida que o dia avança, esses recursos se esgotam. O cérebro, então, começa a buscar atalhos para minimizar o esforço mental, levando a decisões mais rápidas, mas frequentemente inadequadas.
No estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences em 2011, pesquisadores observaram como as decisões dos juízes nos tribunais de liberdade condicional eram influenciadas pela hora do dia. Nos momentos mais cedo, os juízes tendiam a conceder a liberdade condicional com maior frequência (aproximadamente 65%), mas à medida que o dia passava e eles enfrentavam mais decisões, essa taxa caía para quase zero. Este estudo evidencia como a fadiga de decidir afeta a qualidade das escolhas, mesmo em contextos que exigem um alto grau de responsabilidade.
Fadiga de Decidir e o Impacto na Vida Profissional
No ambiente de trabalho, a fadiga de decidir pode ser ainda mais prejudicial, especialmente para profissionais em cargos de liderança ou que tomam decisões estratégicas constantemente. A sobrecarga de decisões pode resultar em um estado de esgotamento cognitivo, que diminui a capacidade de tomar decisões bem fundamentadas. Em casos mais extremos, essa sobrecarga pode levar ao burnout (esgotamento profissional), um problema que afeta milhões de trabalhadores em todo o mundo.
Estudos mostram que executivos e líderes empresariais são particularmente vulneráveis à fadiga de decidir. Em um estudo realizado por Harvard Business Review, foi identificado que os líderes que tomam decisões com frequência ao longo do dia apresentam níveis significativamente mais altos de estresse, o que pode resultar em decisões menos eficazes e prejudiciais a longo prazo.
Além disso, a fadiga de decidir pode prejudicar a capacidade de inovação e criatividade no ambiente corporativo. Quando o cérebro está esgotado, ele tende a optar por soluções mais rápidas e familiares, ao invés de explorar novas possibilidades e ideias criativas.
Como Lidar com a Fadiga de Decidir
Existem várias estratégias eficazes para combater a fadiga de decidir e otimizar o processo de tomada de decisão. Algumas delas incluem:
– Rotinas e Simplificação: Ter uma rotina estruturada pode reduzir a quantidade de decisões que você precisa tomar ao longo do dia. A famosa estratégia de decisão simplificada de Barack Obama, que escolhia usar apenas um tipo de roupa todos os dias, é um exemplo clássico. Isso economiza energia mental para decisões mais importantes.
– Delegação: Sempre que possível, delegue tarefas ou decisões menores para outros. Isso permite que você se concentre nas escolhas mais estratégicas e que exigem maior concentração.
– Limitar o Número de Decisões Diárias: Outra estratégia útil é organizar seu dia para que você não seja sobrecarregado por muitas decisões. Estabelecer um número limitado de decisões importantes para o dia pode ajudar a reduzir o impacto da fadiga.
– Técnicas de Relaxamento e Meditação: A meditação e as práticas de mindfulness ajudam a restaurar os recursos cognitivos e a reduzir o estresse. Essas técnicas podem ser fundamentais para restaurar a clareza mental e a capacidade de tomar decisões mais acertadas.
– Revisão de Prioridades: A fadiga de decidir muitas vezes é resultado de um acúmulo de tarefas e decisões não essenciais. Revisar e priorizar o que realmente importa é uma estratégia importante para reduzir a carga mental.
A Importância de Tomar Decisões com Consciência
A fadiga de decidir não é apenas uma questão de cansaço mental, mas uma limitação real que todos enfrentamos. A boa notícia é que, com o devido entendimento de como a mente funciona e com algumas estratégias simples, podemos minimizar seus efeitos e melhorar nossa produtividade, bem-estar e a qualidade de nossas decisões.
Lembre-se: a qualidade das suas decisões não depende apenas de sua inteligência, mas também da sua capacidade de gerenciar seus recursos mentais e de descansar o suficiente para tomar decisões estratégicas e eficazes.
Referências:
Baumeister, R. F. (1998). “Ego Depletion: Is the Active Self a Limited Resource?” Journal of Personality and Social Psychology.
Vohs, K. D., Baumeister, R. F., & Schmeichel, B. J. (2012). “Self-Regulation and Vagal Tone: Mechanisms of Self-Control.” Personality and Social Psychology Review.
Danziger, S., Levav, J., & Avnaim-Pesso, L. (2011). “Extraneous factors in judicial decisions.” Proceedings of the National Academy of Sciences.
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