APRENDENDO A APRENDER

Não há como negar, a velocidade das mudanças parece ser cada vez maior. Presentes em todos os setores econômicos e consolidando tantos outros, as mudanças tem gerado também novos modelos de negócio e alteração no comportamento dos consumidores que está em plena transformação, principalmente com a evolução e o surgimento de novas tecnologias. Há de fato uma pressão imperativa sobre os empresários, que tem se sentido cada vez mais pressionados a entender e responder rapidamente essas mudanças que abrange desde os modelos de administração à forma como o trabalho é feito, obrigando-os a vivenciar um aprendizado contínuo. Por isso mesmo, não há espaço para resistência, nem ao viés contra fazer coisas novas, e sim as organizações precisam ir a favor do horizonte em busca de oportunidades de crescimento e é parte deste processo o profissional adquirir novas capacidades e ao mesmo tempo realizar o próprio trabalho. Isso requer disposição para experimentar, estando aberto para ser sempre um aprendiz em constante renovação – uma noção extremamente desconfortável para a maioria de nós. Foi atuando como coaching e consultoria com centenas de executivos em diferentes áreas, que tive a oportunidade de estar junto as pessoas bem-sucedidas nesse tipo de aprendizado. Um dos pontos que fica muito nítido ao analisar o perfil desses executivos é que eles não têm receio quanto a expor a falta de domínio de determinadas questões, aliais, eles têm uma visão muito clara de si, por isso mesmo estão sempre querendo realmente entender e dominar novas habilidades. Outro ponto que chama muito atenção é que estão rotineiramente fazendo questionamentos pontuais. Conseguem entender a dinâmica do aprendizado, o que faz serem totalmente aberto a explorar questões e colocar em prática ações inovadoras justamente porque compreendem a importância dos próprios erros o que eleva sua curva de aprendizado. Obviamente, esses itens aparecem de forma mais natural em algumas pessoas que em outras. Nesse sentido, observando-os, tornou-se possível resumir seus diferencias a partir de algumas habilidades mentais bastante simples que qualquer um pode utilizar para desenvolver. Por isso vou aqui explorar os quatro atributos fundamentais mapeados junto com esses executivos e como expandi-los para no nosso dia a dia a fim de desenvolve-los como aptidão e assim vivenciar o poder da arte de aprendermos a aprender:   Ambição, Autoconhecimento, Curiosidade e Vulnerabilidade   Ambição Dificilmente fazemos essa pergunta a nós mesmos: Sou ou não sou ambicioso? Claro que é preciso lembrar que ambição não é ganancia. Cuidado! A palavra ambição vem do latim ambire, “mover-se livremente”. Já ganância vem de ganatum, “ganho”. Ou seja, o ambicioso é aquele que sai do seu lugar de conforto, vai em busca do que deseja, corre riscos, se esforça, se dedica, enquanto o ganancioso está paralisado na sua ânsia por ganhos exorbitantes; avidez, cobiça, cupidez, e assim preso na própria cobiça, retendo tudo o que recebe para si. O ganancioso é egoísta e não mede esforços para conquistar o que quer sem se importar os meios para fazer isso. Já a ambição está para uma conquista que está além do óbvio, do comum, no qual importa os meios para alcança-los. Um corrupto é um ganancioso, já um empreendedor é um ambicioso. Explicado essa diferença, agora podemos então partir para o prático. É fácil descobrir se há ambição em você ou não: você quer se esforçar para aprender uma nova habilidade ou não. Você é corajoso ou não. Grandes aprendizes tendem sempre a aumentar seu nível de ambição, sabe porquê? Porque vicia. Sim, o conhecimento é algo que motiva. O aprendizado aciona naturalmente o sistema de recompensa e isso é muito importante já que, geralmente, a culpa por resistir a empreender as mudanças necessárias para alcançar o sucesso profissional é toda nossa. Agora, vamos ampliar essa análise para o ambiente de trabalho. Você já se deu frente a uma situação no qual a empresa que trabalha resolveu apostar em uma nova abordagem como atualizar o sistema de relatórios, ou substituir a plataforma de ERP, ou então reestruturar os processos de gestão e definiu novos KPIs. Quando algo assim acontecer, você estava ansioso para colocar tudo em prática? Será? Duvido. Provavelmente sua primeira reação é querer encontrar motivos para justificar o fato de não querer assumir esse desafio e buscar aprender algo novo. Tipo: “Levará muito tempo.” “O jeito antigo funciona bem.” “Aposto que é apenas frescura e que não vai melhorar em nada.” Desde cedo, aprendemos a viver uma vida de rotinas aonde nos ensinaram a manter certos padrões dentro do que é mais obvio. Por isso, geralmente o primeiro obstáculo surge quando nos confrontamos com ensinamentos novos: focamos o lado negativo e inconscientemente reforçamos nossa falta de ambição com justificativas. Entretanto, quando nos permitimos ressignificar esse tipo de crença, podemos usufruir justamente de uma condição natural do ser humano que é estimular a vontade de aprender coisas novas. Para isso, temos que partir do princípio que realmente queremos aprender alguma coisa, e assim focar o lado positivo, nos ganhos que aquele aprendizado vai trazer para sua vida pessoal e profissional — e vislumbrar um futuro contemplativo no qual irá possibilitar a colher as recompensas. O simples fato de tirar a perspectiva negativa e olhar para a positiva ajuda a impulsionar para a ação. Pesquisadores comportamentais descobriram que mudar o foco de desafios visualizando as vantagens é uma ótima forma de melhorar a ambição inicial para executar atividades que antes se entendia como pouca atraentes. Muitos dos meus clientes buscam pelo processo de coaching para tentar se reencontrar dentro da sua vida profissional e buscar algo novo para dar novo ar para suas ambições. Novos conhecimentos são essenciais para que eles possam gerar não só novas oportunidades como também motivação a novas conquistas.  Nesse sentido a alguns anos atrás – junto com um cliente que me marcou muito pela sua evolução e conquista, desenvolvi com ele toda uma nova estratégia de carreira, desenhando passo a passo quais seriam os conhecimentos necessários para serem conquistados, e a partir deles, gerar novas possibilidades de mercado e com isso alcançar um outro nível profissional desejado.  Curiosamente, mesmo ele sendo plenamente participativo na elaboração da estratégia, hesitava continuamente em adquirir conhecimento na área de gestão ágil. Mesmo que a maioria de seus colegas estivesse seguindo nessa direção, ele estava convencido de que não teria tempo para se dedicar a esses aprendizados e que isso não seria importante para sua carreira. Finalmente, acabei percebendo que esse era um problema de ambição e o encorajei a pensar em como familiarizar-se com o mundo da gestão ágil poderia ajudá-lo pessoalmente. Depois de uma série questionamentos no qual instrui ele a fazer com ele mesmo, ele percebeu que seria útil entender melhor como os modelos atuais de gestão de projetos estavam respondendo ao mercado tão como passou a explorar junto com seus colegas e a sua equipe sobre esse assunto. Depois sugeri que ele imaginasse a situação em que estaria no ano seguinte se dominasse esses novos modelos. Ele começou a se empolgar e observou: “Testaríamos abordagens diferentes nos times de desenvolvimento. Teríamos agilidade dentro de processos confiáveis e uma visão mais clara sobre o andamento do projeto e a satisfação do cliente. E economizaríamos tempo e dinheiro descartando rapidamente as abordagens menos eficientes”. Quase pude sentir sua aspiração crescer. Em poucos meses ele tinha se inscrito nos cursos programados e logo já estava conquistando suas certificações, tornando-se um polo contínuo de aprendizado, logo começou a repensar suas estratégias profissionais mais importantes e desafiadoras à luz da nova perspectiva e de novas habilidades. Exemplos: Autoconhecimento O mundo da autoajuda não mediu esforços sobre esse tal de autoconhecimento. Parece que ele se tornou a solução para tudo e para todos, mas claro que não é bem assim, até porque antes de falar em autoconhecimento é preciso compreender do que se está falando, afinal somos pessoas singulares que vive uma vida inédita a cada fração do tempo. Por isso, quero que fique claro que a proposta aqui vai um pouco além e a intenção é tornar mais familiarizado com o conceito de autoconhecimento no qual proponho que tem a ver com feedback, descobrindo como os outros nos veem. Quando se trata de aprendizagem, nossas autoavaliações — o que sabemos ou não, as habilidades que temos ou não — quase sempre são extremamente imprecisas. No meu trabalho, descobri que nas pessoas que se autoavaliam com mais precisão o processo começa dentro de sua própria mente: elas têm claro e compreendem que geralmente sua perspectiva contém vieses e imperfeições e por isso lutam por maior objetividade, o que as deixa muito mais abertas para ouvir e seguir a opinião dos outros. O segredo está em prestar atenção em como você conversa consigo mesmo sobre você, e então questionar a validade dessa “auto conversa”. Pense agora, por um momento, e considere que seu chefe acaba de entrar na sala e já sai atirando que sua equipe não está plenamente capacitada e que você precisa melhorar sua avaliação quanto ao desenvolvimento de talentos. Qual será sua reação? “O quê? Você está enganado. Minha equipe é forte.” A maioria de nós quando somos pressionados e nossas capacidades é colocado em dúvida, tendemos a responder emocionalmente de maneira defensiva. Temos muita dificuldade com a crítica. Para isso, há um exercício muito útil que foca em se dar conta da situação e perguntar para si mesmo: A crítica é verdadeira? Disponho de fatos para me defender ou devo sustentá-la? No processo de autorreflexão é possível descobrir com lucidez que está errado e seu chefe certo, ou que a verdade se encontra em algum ponto intermediário —para dar cobertura a alguns de seus subordinados você mesmo acabou fazendo algumas coisas, e uma delas é inconsistente com o cumprimento do prazo; no entanto, outras duas são extremamente importantes. O segredo é aprender a ouvir a si mesmo, de maneira a tornar o momento como algo proveitoso de aprendizado e isso tende a levar a uma situação de forma equilibrada. O que quero dizer é que a autorreflexão deve funcionar como uma “testemunha imparcial” de modo que se possa estar aberto para ver as áreas em que poderia melhorar e daí partir para instigar o lado ambicioso da conquista desenhando estratégias de como fazer isso. Tive um cliente que tinha uma visão míope de si mesmo e não media esforços pelo seu convencimento de que era um grande líder e executivo. Sim, é verdade que era um excepcional tecnocrata. Sabia de tudo na sua área e tinha um senso crítico de trabalho muito alto, além de um ótimo instinto sobre como resolver as coisas, e a alta gestão da empresa reconhecia todos esses pontos fortes. O problema é que ele sempre tendia a dar atenção apenas para as pessoas que confirmavam sua visão de si mesmo e não conseguia, de forma alguma, conviver com inputs sobre seus pontos fracos. Seu gestor me contratou para um processo de coaching para ajudar esse cliente a lidar melhor com sua equipe já que ele mesmo não conseguia perceber que sua própria equipe não se sentia comprometida ou inspirada. Quando finalmente fiz com que ele se permitisse a questionar suas hipóteses, tipo: “Na minha equipe, todos são focados e produtivos? Em caso negativo, há alguma coisa que possa ser feito de forma diferente?”, logo percebeu da necessidade de conversar com o time e foi quando a ficha caiu. Ele se tornou muito mais consciente de suas necessidades de desenvolvimento e aberto a feedback. Percebeu que não era suficiente ter insights estratégicos se ele mesmo não conseguia ver a realidade a sua volta. Ele passou a partilhá-los com seus subordinados, discuti-los com eles e depois estabelecer prioridades claras — respaldado por metas trimestrais e por metas individuais da equipe, por checagens regulares de progresso e por sessões de resolução de problemas.   Curiosidade No livro de John Medina, Brain Rules, ele descreve sobre a importância do aprendizado na vida das pessoas, tão como o quanto as crianças são insaciáveis na busca contínua de aprender e controlar. Segundo ele, “essa necessidade de explicação está tão fortemente … Continue lendo APRENDENDO A APRENDER