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De certa forma, toda memória é falsa?

“Se toda memória é uma reconstrução, então toda identidade também pode ser reinventada.”

“De certa forma, toda memória é falsa.”

Essa afirmação, feita por Veronica O’Keane, psiquiatra e professora do Trinity College em Dublin, não é apenas uma provocação filosófica — é uma constatação científica. O’Keane nos lembra que memória não é um depósito de dados inalterados. Ao contrário, ela é viva, orgânica e moldável. Em seu livro El Bazar de la Memoria, a autora nos conduz por um caminho que há muito tempo venho apontando: aquilo que chamamos de “lembrança” é, na verdade, uma construção contínua.

Por isso, confesso: não me surpreendi.

Já escrevi sobre isso em meu livro O Mapa Não É o Território, o Território É Você, onde provoco o leitor a compreender que sua história de vida não é um reflexo fiel dos fatos, mas sim da forma como esses fatos foram sentidos, organizados e — acima de tudo — interpretados.

A memória mora no corpo

A história que inspirou a reflexão de O’Keane é impactante. Uma de suas pacientes, após um surto psicótico pós-parto, teve a convicção profunda de que seu bebê havia morrido. Imaginou até o túmulo. Algum tempo depois, mesmo já recuperada e consciente de que seu filho estava vivo, ao passar por um cemitério e reconhecer a lápide imaginária, foi invadida novamente pelo terror. A emoção retornou — tão vívida quanto antes.

Por quê?

Porque a memória não é apenas um registro mental. Ela habita o corpo. Está impressa nos sentidos. Quando revisitamos uma lembrança, não apenas “pensamos” nela — sentimos. Nosso corpo a revive, mesmo que racionalmente saibamos que aquilo não ocorreu da forma como lembramos.

A ilusão da objetividade interna

Não somos HDs. Somos organismos complexos que reeditam suas narrativas constantemente.
Essa compreensão deveria ser um divisor de águas para áreas como:

• Liderança
• Educação
• Psicologia
• Gestão organizacional
• Autoconhecimento

Mas, infelizmente, muitos ainda atuam como se a mente humana fosse um arquivo objetivo.

Quantas lideranças continuam punindo colaboradores com base em comportamentos sem entender os traumas, crenças e estruturas inconscientes por trás deles?

Quantos profissionais vivem se sabotando por causa de histórias internas que nunca foram atualizadas?

Quantas famílias repetem padrões, julgando uns aos outros a partir de memórias distorcidas que jamais foram reavaliadas?

A neurociência já nos mostra que a memória é altamente plástica. Cada vez que recordamos algo, regravamos aquela memória com os filtros do momento presente: humor, crenças, contexto emocional.

Ou seja: lembrar é sempre reconstruir.

O poder e o risco da reconstrução

Isso pode soar perigoso — e é. Porque, ao mesmo tempo que somos capazes de construir realidades internas saudáveis, também podemos alimentar distorções, medos e sabotagens crônicas.

Mas aqui também reside o grande poder do desenvolvimento humano: se a memória é reconstrução, então identidade também é.

Você pode não conseguir mudar o que viveu. Mas pode transformar a forma como isso vive dentro de você.

E é aí que entra a importância de uma liderança mais consciente, de processos terapêuticos sérios, de práticas de coaching profundo e, acima de tudo, de um compromisso com a própria evolução.

Um exemplo prático: da culpa à reconstrução

Imagine uma profissional que cometeu um erro grave anos atrás, foi duramente criticada e passou a se ver como “incompetente”. Anos depois, apesar de novas conquistas, a memória daquele momento ainda a paralisa. Mas ao revisitar aquele episódio com a ajuda de um terapeuta, ela percebe que estava sobrecarregada, sem suporte, e que a falha foi mais sistêmica do que individual.

A partir daí, uma nova memória começa a se formar: não a de uma mulher incompetente, mas de uma profissional em crescimento, em um sistema que falhou com ela.

Esse tipo de ressignificação pode mudar uma vida. E começa pela compreensão de que toda memória é, no fundo, uma versão — não um veredito.

O novo papel da liderança
Se a identidade de um profissional pode ser reescrita, então o papel do líder precisa se ampliar:
• De quem “cobra performance” para quem ativa potência.
• De quem gerencia comportamentos para quem reconhece narrativas internas.
• De quem julga pelo resultado para quem entende o enredo por trás da ação.
Desenvolver pessoas, hoje, exige mais do que métricas. Exige profundidade. Presença. E um olhar humano que reconheça a instabilidade da memória como uma chave de transformação — não como uma falha.

A provocação final
Se toda memória é instável…
…então, toda versão de você é provisória.

E se toda versão é provisória, por que insistir em repetir a mesma história?
Que lembrança está te definindo hoje, sem merecer?
Que narrativa você aceita como verdade, sem perceber que ela já está desatualizada?

O mapa pode até ter te guiado até aqui — mas o território está mudando. A grande pergunta é:

👉🏽 Você está pronto para ser a versão de si mesmo que ainda não lembra que pode ser?

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📘 O Mapa Não É o Território, o Território É Você — disponível para provocar sua evolução.
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