DESVENDANDO AS CARREIRAS LÍQUIDAS: MAIS QUE UMA TENDÊNCIA, JÁ É A REALIDADE!
No início dos anos 1990, um professor emérito de sociologia ainda pouco conhecido em países latinos (como o Brasil), em um dos seus artigos introduz dois conceitos singulares: “modernidade líquida” e “tempos líquidos”. Uma década depois, esse mesmo professor lançou o bestseller “Modernidade Líquida” (Liquid Modernity), o que provocou a atenção global para a profundidade e complexidade de suas ideias. O nome desse gênio é Zygmunt Bauman.
Bauman, que em sua juventude serviu no Primeiro Exército Polonês controlado pelos soviéticos, atuando como instrutor político e participando de batalhas marcantes durante a Segunda Guerra Mundial, foi capturado pelos soviéticos e enviado a um campo de prisioneiros. Após a guerra, seguiu sua trajetória como professor tornando-se um renomado e premiado acadêmico devido as suas análises sobre a natureza da sociedade e da política. Depois de uma trajetória de vida marcante, encerrou sua jornada em 2017 como autor de mais de 50 livros premiados. Seus trabalhos “líquidos” consistem sempre em análises profundas e diferenciadas das transformações na sociedade contemporânea, explorando como a fluidez, a instabilidade e a incerteza se tornaram traços proeminentes do mundo moderno.
Bauman destacou com incrível lucidez que “vivemos tempos líquidos”, capturando com suas palavras a natureza fluida e mutável do nosso mundo. Não podia ser diferente! Sua metáfora da fluidez, hoje se estende de maneira notável à esfera profissional, e lança luz sobre as complexidades da carreira moderna e suas implicações na gestão organizacional. Imagine, por exemplo, a fluidez da água, sua capacidade de se adaptar e transformar, e aplique isso à nossa realidade profissional.
Esta é a essência do meu texto de hoje: demonstrar que mais do que uma mera metáfora, a carreira líquida está cada vez mais próxima como parte intrínseca da realidade profissional. Hoje quero gerar em você uma profunda reflexão sobre a importância de entender esta tendencia que já começa a tornar-se realidade. Sim! Precisamos compreender não apenas sua importância, mas também o impacto que ela traz, se almejamos construir uma estratégia profissional que prospere nesse cenário em constante transformação. Em outras palavras, adentraremos sob perspectiva baumaniana a entender que como a água se adapta ao terreno que percorre, as carreiras também devem se adaptar e fluir para além das limitações previsíveis.
No final, vai entender que a adaptabilidade é crucial nas carreiras modernas, onde a incerteza é uma constante. Por isso a metáfora da água se moldando ao terreno é usada para transmitir a ideia de que as carreiras também devem se moldar às circunstâncias em constante mudança, desafiando as expectativas tradicionais e abraçando a incerteza como uma parte inerente do ambiente profissional contemporâneo.
A Intrínseca Relação Entre o Mundo Líquido e as Carreiras Líquidas
Assim como a água molda sua trajetória ao terreno que percorre, as carreiras líquidas se esculpem na adaptabilidade, fluindo para além das margens da previsibilidade, desafiando-nos a abraçar a incerteza como a própria essência do imperativo moderna. (Marcello de Souza)
A expressão de Bauman, “vivemos tempos líquidos”, carrega uma metáfora profunda que descreve a natureza fluida e volátil da sociedade contemporânea. Bauman mergulha de maneira excepcional nas complexidades da realidade pós-moderna. Ele explora a dinâmica dos “tempos líquidos”, que simboliza a fluidez, a incerteza e a transitoriedade das relações sociais, estruturas e valores em um mundo em constante e acelerada transformação. Nesse contexto em constante evolução, valores que antes eram estáveis e duradouros agora se tornaram fluidos e instáveis.
As relações humanas, instituições e valores não possuem mais a forma rígida que costumavam ter no século passado. Eles são constantemente reconfigurados pela velocidade das mudanças sociais, tecnológicas e econômicas. Talvez, por isso, Bauman, em colaboração com Leonidas Donskis, publicou em 2014 o livro “Cegueira Moral”. Uma obra que lança um choque de realidade da “liquidez” sobre as pessoas que escolhem ignorar ações prejudiciais ao seu redor, seja por conveniência, desinteresse ou conformidade social. Isso reflete criticamente sobre a natureza humana, ética e os desafios morais em um mundo complexo.
Sim, é fato! Hoje, o termo “líquido” não apenas permeia as estruturas sociais e organizacionais, mas também molda nossa compreensão do mundo do trabalho. Assim como a água se adapta a diferentes recipientes e muda de forma facilmente devido à ausência de uma forma ou consistência fixa, as empresas enfrentam o mercado com essa mesma maleabilidade. Da mesma forma, as relações humanas, incluindo conexões profissionais, são mais voláteis e temporárias, influenciadas pela flexibilidade das redes sociais e tecnologias de comunicação. Instituições, sejam públicas ou privadas, são cada vez mais pressionadas a se adaptar e reestruturar devido às demandas do mercado e às mudanças rápidas nas circunstâncias. Os valores e normas sociais também se tornam menos estáveis em um “mundo líquido”, com conceitos lineares como certo e errado perdendo espaço para o dinamismo sistêmico de mudanças rapidas diante das novas informações e perspectivas.
Em um mundo onde as estruturas se liquefazem, as empresas fluem pelo mercado como água sem forma, as conexões e relações são como ondas temporárias, e as cobranças econômicas e sociais imperam sob a dançam ao ritmo frenético das demandas mutáveis. Nesse oceano de fluidez, até mesmo os parâmetros que uma vez julgamos éticos e imutáveis se transformam, cedendo perante o ímpeto incansável da natureza humana em busca de redefinição da sua própria moral. (Marcello de Souza)
Em suma, o “mundo líquido” de Bauman retrata uma realidade em que fluidez, incerteza e mudança constante são os pilares. Essa metáfora da liquidez lança uma visão crítica sobre a modernidade, mostrando como estruturas sociais, culturais e econômicas outrora sólidas e duradouras agora espelham a fluidez da água, adaptando-se rapidamente a um ambiente em constante evolução. Isso forma a base das “carreiras líquidas”, uma abordagem que abraça a maleabilidade e a adaptação às necessidades emergentes no ambiente profissional contemporâneo.
Essa transformação profissional começa a encontrar seu ápice, como parte da revolução do conhecimento, caracterizada pela constante velocidade de transformação tecnológica. A ênfase nas habilidades digitais transcende as barreiras tradicionais, reforçando a ideia de que profissionais modernos não podem se prender a funções estáticas. A “carreira líquida”, com sua ênfase na mutabilidade, desafia as trajetórias predefinidas e exige prontidão para enfrentar desafios imprevistos.
O Que É Uma Carreira Liquida?
A “carreira líquida” é um conceito que se destaca como uma evolução na abordagem convencional de desenvolvimento profissional. Baseado na perspectiva, de que a tendência é dar mais ênfase à experiência de trabalho, em vez do cargo, do status e da hierarquia, onde o colaborador deve se expor em busca continua de desenvolver uma habilidade diferente em outro segmento e ter uma experiência de contribuição que vai além do seu dia a dia. Essa ideia transcende a tradicional ênfase na progressão hierárquica e na aquisição de títulos ou cargos. Em vez disso, enfatiza a experiência de trabalho, a aprendizagem contínua e a flexibilidade nas trajetórias profissionais.
O cerne da carreira líquida reside na busca por desenvolvimento de habilidades e enriquecimento de experiências, permitindo aos indivíduos adquirirem uma ampla gama de competências e vivências em diferentes áreas e contextos. Em contraste com o modelo rígido de ascensão profissional, onde a meta é atingir posições mais elevadas na hierarquia organizacional, a carreira líquida se alinha ao mundo Ágil e prioriza a expansão horizontal e multidisciplinar.
As organizações que adotam essa abordagem promovem oportunidades que desafiam os colaboradores a se envolverem em projetos diversos, muitas vezes transcendentes aos limites geográficos e departamentais. Isso pode ser visto hoje em diversas empresas que já promovem a seus colaboradores o encorajamento a participar de projetos em diferentes países e áreas de atuação. Essa prática permite que os colaboradores contribuam de maneira dinâmica frente a outras culturas organizacionais, desenvolvendo habilidades em contextos variados e obtenham uma visão abrangente do negócio.
A carreira líquida intrinsicamente promove a aprendizagem por meio do job rotation, que envolve a temporária mudança de funções. Essa abordagem não apenas amplia o conhecimento e a experiência dos profissionais, mas também lhes proporciona uma perspectiva holística da organização. O aprendizado adquirido durante essas experiências diversificadas é então incorporado à ocupação de origem, enriquecendo a abordagem tradicional com novas perspectivas e abordagens sistêmicas ampliando a percepção do negócio como um todo. Na carreira liquida o time são todos da empresa.
Um aspecto fundamental para o sucesso da carreira líquida é o envolvimento ativo da liderança. Os líderes desempenham um papel crucial na identificação de potenciais candidatos para participar de oportunidades de job rotation e projetos multifuncionais. Através das conversas de desenvolvimento, eles identificam talentos e alinham as aspirações dos colaboradores com as necessidades da organização. Onde os colaboradores aprendem a lidar com as incertezas, criatividade e na prática a lidar com riscos, isto porque um dos pontos mais positivos da prática é o fato de que as pessoas se sentem muito mais seguras em errar e aprender quando sabem que têm sua função original que precisa desta nova perspectiva do todo de uma empresa.
Fato é que a proposta é dar a cada colaborador que se coloca a disposto de ir além na sua trajetória profissional — sob a perspectiva de uma carreira líquida —, atribuir experiencia antes inimagináveis, instigando a ideia empreendedora e uma mentalidade adaptável e uma disposição para sair do mesmismo, do cômodo e quase suicida de um profissional tecnocrata.
Não é de hoje que um profissional diferenciado precisa abraçar o desconhecido, abraçar desafios diversos e se comprometer com um aprendizado constante. O que acontece hoje é esta ênfase é colocada agora como uma autorresponsabilidade pela construção de um repertório de habilidades abrangente, em vez de depender exclusivamente de promoções verticais. No fundo o que muda é dar motivos reais para o colaborador “tirar a bunda da cadeira” e encarar uma realidade muito mais competitiva onde a Experiência e a contínua busca do Saber é o que fará o profissional ser um excelente, bom ou um colaborador “morno”, facilmente substituível.
Por isso, não se engane! A carreira líquida é uma abordagem que transcende a visão tradicional de carreira, focando na experiência, na aprendizagem contínua e na flexibilidade. Ela valoriza o desenvolvimento de habilidades multifacetadas, a exposição a diferentes contextos de trabalho e a contribuição em níveis internacionais. Essa abordagem não apenas beneficia os indivíduos, permitindo-lhes construir carreiras mais ricas de sentido e significativas, como também enriquece as organizações, ao trazer profissionais versáteis e alinhados com os desafios em constante evolução do mundo dos negócios.
No Papel é Simples, na Prática é Complexo Ser um Colaborador Líquido
A abordagem da carreira líquida, que se destaca por sua ênfase na experiência, no desenvolvimento contínuo e na flexibilidade, pode ser encantadora quando descrita em teoria. Entretanto, a aplicação prática dessa abordagem revela desafios significativos que vão além das linhas teóricas. Na verdade, a experiência de se tornar um colaborador líquido é um processo repleto de desafios, mas esses desafios estão intrinsicamente ligados à estratégia profissional daqueles que buscam uma carreira diferenciada e com reais possibilidades de sucesso. Ao abraçar a carreira líquida, a incerteza se torna um companheiro constante. Embora prometa oportunidades de aprendizado diversificado e enriquecimento pessoal, essa abordagem traz consigo a realidade de não conhecer exatamente o destino do próximo projeto ou como suas habilidades serão aplicadas. Isso requer uma mentalidade de adaptação e a habilidade de lidar com a imprevisibilidade.
Nesse contexto, crenças limitantes não têm espaço; o processo exige uma aceitação total e uma disposição para o desconhecido. A própria identidade profissional passa por uma transformação profunda. A carreira líquida desafia a noção convencional de uma trajetória linear e coesa. Aqueles que exploram diferentes papéis e contextos podem achar desafiador definir uma identidade profissional clara e estável. A pergunta “quem sou eu como profissional” se torna fluida, demandando um autoconhecimento profundo e uma aceitação constante das mudanças. Essa jornada é uma constante reconstrução, uma evolução que se torna ao mesmo tempo viciante para nossa mente, que anseia por desafios e transformações.
A busca pelo equilíbrio entre a busca por uma variedade de habilidades e a especialização em áreas específicas é uma luta contínua, mas que traz consigo um prazer genuíno. Aqui, a carreira líquida exige uma clareza profunda do propósito, a fim de equilibrar as metas a curto e longo prazo, desenvolvendo competências profundas enquanto se mantém aberto a oportunidades diversas e até mesmo contraditórias.
Gerenciar Tempo E Energia
Gerenciar tempo e energia torna-se uma verdadeira arte nessa trajetória. Envolvidos em uma gama variada de projetos, os colaboradores líquidos muitas vezes se encontram equilibrando demandas concorrentes. Dominar a gestão do tempo e evitar o esgotamento torna-se crucial para o sucesso em meio a esse cenário dinâmico. Nesse contexto, a importância de alinhar ações como empatia, simpatia, confiança, credibilidade e influência se torna evidente, criando uma conexão holística entre o que fazemos e o ambiente à nossa volta. A carreira líquida exige um compromisso contínuo consigo mesmo, um comprometimento com a aprendizagem constante e uma resiliência diante dos desafios — carreira liquida está para o comportamento humano assim como o comportamento está para o sucesso das relações.
A busca por novas experiências e habilidades não é uma jornada livre de obstáculos. Adaptação rápida, assimilação de conhecimento e superação de dificuldades tornam-se habilidades essenciais nesse contexto, mas é importante lembrar que essa abordagem pode estar além do alcance de muitos, e isso é perfeitamente aceitável. Cada indivíduo tem sua própria perspectiva da vida e de suas escolhas, e a liberdade de traçar a jornada profissional é uma prerrogativa fundamental. Por isso é essencial eu enfatizar que, embora a carreira líquida seja uma abordagem pessoal de desenvolvimento, ela não deve ser adotada sem uma estratégia e um proposito claro e o apoio adequado. O despertar para essa abordagem está profundamente relacionado a perspectiva primeiro que se tem de si mesmo, além disso tem a ver com à cultura organizacional e às relações que a permeiam. Nesse sentido, mentores e líderes desempenham papéis cruciais, auxiliando os colaboradores a superar desafios e aproveitar os benefícios dessa abordagem inovadora.
Reconhecendo que, embora pareça promissora em termos teóricos, a carreira líquida enfrenta complexidades práticas que podem estar acima do que muito prospectam para si mesmo. A superação desses desafios exige um equilíbrio entre habilidades técnicas e emocionais, e essa jornada não é para todos. Entretanto, é fato que a superação dessas complexidades pode resultar em uma carreira enriquecedora, cheia de experiências significativas, beneficiando tanto o indivíduo quanto a organização, em um cenário de mudanças e desafios constantes.
Diferença Entre Carreira Liquida E Profissionais Generalistas
É essencial estabelecer uma clara distinção entre a abordagem da carreira líquida e a formação de profissionais generalistas. A “carreira líquida” e o conceito de “profissionais generalistas” são duas perspectivas distintas quando se trata do desenvolvimento e da gestão de carreiras. Vamos explorar as nuances dessas abordagens:
- Carreira Líquida: A carreira líquida não se trata de uma mudança constante sem direção. Pelo contrário, ela enfatiza a flexibilidade, a aprendizagem contínua e a diversificação das habilidades profissionais para aqueles que tem estratégia clara, objetivo traçado e um real propósito profissional. Nesse modelo, os profissionais, já munidos de suas qualificações e especializações, buscam adquirir uma ampla gama de competências e experiências paralelas, muitas vezes explorando diferentes áreas de atuação e contextos de trabalho. A carreira líquida valoriza a adaptabilidade, permitindo que indivíduos se reinventem ao longo do tempo. Assim, os profissionais líquidos não se veem limitados a uma trajetória linear ou a uma especialização única; em vez disso, buscam enriquecer suas carreiras por meio de movimentações laterais, job rotations e oportunidades diversas.
- Profissionais Generalistas: Por outro lado, profissionais generalistas são aqueles que possuem um leque abrangente de habilidades e conhecimentos, que abarcam diversas áreas, mas podem não ter uma especialização profunda em uma disciplina específica. Esses indivíduos se destacam por serem versáteis e adaptáveis, capazes de assumir diferentes funções e enfrentar uma variedade de desafios. Sua abordagem é holística e interdisciplinar, tornando-os valiosos em ambientes que demandam flexibilidade e uma visão abrangente, mas que não exige conhecimento aprofundado em determinadas áreas.
É importante notar que a carreira líquida não conduz necessariamente à generalização de habilidades. Ela concentra-se na adaptabilidade e na exploração contínua, enquanto os profissionais generalistas apresentam habilidades versáteis e amplo conhecimento, independentemente de sua especialização.
No entanto, convém mencionar que tanto a carreira líquida quanto os profissionais generalistas não são isentos de desafios. Eles requerem uma abordagem bem planejada e um entendimento claro das implicações, veja alguns pontos fundamentais para o desafio de cada um deles:
– Desafios da Carreira Líquida:
- Insegurança e Instabilidade: Se não tiver estratégia, objetivo e propósito a busca por adaptabilidade pode gerar insegurança e instabilidade para os funcionários, caso não seja compreendida adequadamente.
- Desenvolvimento Superficial: A rápida aquisição de novas habilidades pode resultar em um entendimento superficial, em vez de um domínio completo.
- Equilíbrio entre Vida Profissional e Pessoal: A constante necessidade de adaptação pode comprometer o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
– Desafios dos Profissionais Generalistas:
- Perda de Especialização Profunda: Profissionais generalistas não possui o mesmo nível de especialização que especialistas em áreas específicas.
- Desafios de Foco a Longo Prazo: A ampla gama de habilidades pode tornar desafiador estabelecer metas claras e de longo prazo.
- Falta de Profundidade em Áreas Específicas: A ênfase na amplitude de conhecimento pode levar à falta de conhecimento profundo em determinadas áreas.
Espero que perceba que há diferenças, e que entre elas estão no foco e na abordagem. A adoção da carreira líquida não deve ser encarada como uma estratégia para criar profissionais generalistas, mas sim como um caminho que prioriza a adaptabilidade e a aprendizagem contínua em um cenário de constante mudança. Reconhecer os desafios associados a ambas as abordagens é fundamental para navegar nesse contexto de evolução profissional. Em outras palavras, a carreira líquida é mais uma filosofia de desenvolvimento profissional que se concentra na exploração constante, na aprendizagem contínua e na adaptação às mudanças do mercado. Os profissionais generalistas, por sua vez, possuem um conjunto diversificado de habilidades, mas podem se aprofundar menos em áreas específicas em comparação com especialistas. No entanto, é importante notar que os profissionais generalistas podem adotar a abordagem da carreira líquida, buscando ampliar ainda mais suas habilidades e experiências. Ambas as abordagens têm seus méritos e podem ser relevantes em diferentes contextos profissionais.
Falta Conscientização
Depois desta prévia lucidez quero que também entenda que no universo do estudo do comportamento humano organizacional a carreira líquida é, por vezes, vista como uma espécie de “alienação”. Contudo, essa percepção revela-se, na minha visão, uma abordagem limitada e até mesmo equivocada sobre o próprio conhecimento do comportamento humano. Na prática, quando estou dentro das empresas, envolvido no desenvolvimento comportamental das equipes, percebo claramente que a adoção da carreira líquida vai além de ser apenas uma tendência organizacional ou uma vontade das empresas. Há uma intrínseca “gana” entre muitos colaboradores de almejar mais, de buscar desafios profundos e de ir além dos limites pré-estabelecidos.
Embora a carreira líquida se apresente como uma lógica que tende a se tornar realista, graças aos seus princípios atraentes, há barreiras que ultrapassam as complexidades inerentes ao próprio conceito. Entre esses desafios, destaca-se a falta de conscientização e a falta de harmonização entre a liderança e a cultura organizacional. Apesar de promover flexibilidade e a exploração de experiências diversas, muitas empresas ainda lutam para superar mentalidades arraigadas que valorizam a retenção de talentos em áreas específicas.
Um grande obstáculo, e algo que continua a me surpreender, é a persistência da cultura de liderança possessiva em relação às equipes. No cenário brasileiro, ainda encontramos líderes que resistem à ideia de movimentar e rotacionar talentos, receosos de perder colaboradores valiosos.
Curiosamente, quantas empresas já estive que não compreendem que promessas de promoção não feitas ou cumpridas geram frustrações entre os profissionais, minando a liberdade para explorar novos horizontes. Isso, infelizmente, contribui não só para o aumento do turnover como para a mentalidade de que é melhor pagar menos e contratar “mais do mesmo” do que investir em profissionais que possam realmente fazer a diferença.
A persistência desses paradigmas resulta em um descompasso entre as expectativas dos gestores e o discurso das carreiras líquidas. Algumas culturas organizacionais antiquadas ainda valorizam metas de liderança que entram em conflito com a liberdade de movimentação de talentos, criando uma dissonância entre o que é valorizado e o que é essencial para abraçar plenamente a abordagem líquida.
Outra barreira é a persistência de ferramentas e conceitos antiquados. Avaliações de desempenho e programas de desenvolvimento muitas vezes seguem paradigmas tradicionais de carreira, enfatizando a ascensão vertical em uma área específica e a busca por cargos de liderança. O espaço para exploração de segmentos e habilidades diferentes é limitado por essas estruturas rígidas. Por isso, quero aqui tomar o cuidado de deixar muito claro que o processo é complexo e existem desvantagens e desafios associados às “carreiras líquidas” e à ênfase está na adaptabilidade assim como na gestão de pessoas. Aqui estão alguns pontos a considerar que precisam ser continuamente observados:
- Insegurança e Instabilidade: Carreira liquida não quer dizer uma constante mudança. Tem a ver com experienciar. A falta deste entendimento pode criar um ambiente de insegurança e instabilidade para os funcionários. Quando mal gerenciado há falta de previsibilidade nas carreiras e a necessidade de estar sempre pronto para se adaptar podem levar a um aumento do estresse e da ansiedade.
- Falta de Especialização Profunda: Outra a questão que muitos se confundem é que a ênfase na adaptabilidade leve os profissionais a se tornem “generalistas”, adquirindo uma ampla gama de habilidades em vez de se especializarem profundamente em uma área específica. Relembrando que a carreira líquida é uma abordagem que enfatiza a adaptabilidade e a exploração contínua, enquanto os profissionais generalistas são aqueles com habilidades versáteis e amplo conhecimento, independentemente de sua especialização.
- Perda de Continuidade: Cuidado para não transformar a cultura organizacional como a grande provedora da rotação frequente de funcionários entre projetos e equipes. Isso é o começo do fim, e não tem nada a ver com uma cultura que promove carreiras liquidas. Não se pode em forma alguma cultivar a ideia da carreira liquida à perda de continuidade e conhecimento dos colaboradores, por exemplo, a falta de membros da equipe com expertise específica em projetos pode afetar a qualidade e eficiência do trabalho.
- Carga de Aprendizagem Constante: A necessidade de adquirir novas habilidades regularmente pode ser exaustiva para alguns profissionais. A carga de aprendizado constante pode interferir na vida pessoal e na capacidade de equilibrar trabalho e vida. É preciso ter um RH sênior, que estruture o processo de carreira liquida. De maneira a qual se alinhe com o propósito do colaborador, através de desafios equalizáveis, passiveis de serem realizados.
- Resistência à Mudança: Nem todos os funcionários se adaptam facilmente a mudanças frequentes. Alguns podem resistir à necessidade de se ajustar constantemente, levando a conflitos e redução de produtividade. Para isto, é preciso ter sempre a disposição profissionais para trabalhar não só as crenças limitantes do profissional como também ajuda-lo alinhar seus objetivos e propósito. Ter um coach ou um mentor sempre é parte do processo.
- Falta de Foco a Longo Prazo: Esteja sempre atento com a busca contínua por adaptabilidade, para não fazer com que s profissionais percam de vista metas de longo prazo. A ausência de uma trajetória de carreira linear pode tornar difícil estabelecer objetivos claros. O Feedback entre gestão, liderança e colaboradores deve ser parte do dia a dia.
- Desenvolvimento Superficial de Habilidades: A rápida aquisição de novas habilidades pode resultar em um entendimento superficial em vez de um domínio completo. Se isso estiver ocorrendo é porque há ruído no processo. É preciso sempre haver acompanhamento e análise pratica do colaborador.
- Equilíbrio entre Vida Profissional e Pessoal: A constante necessidade de se adaptar e aprender pode comprometer o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Os profissionais podem sentir dificuldade em desconectar do trabalho e relaxar. O RH deve estar preparado para isso.
- Necessidade de Recursos de Aprendizagem: A promoção da adaptabilidade exige investimentos em recursos de aprendizado, como treinamentos, workshops e cursos. Isso pode ser um desafio financeiro para algumas organizações, quando mal gerenciada.
- Desgaste Profissional: A pressão constante para se manter atualizado e se adaptar pode levar a um desgaste profissional mais rápido. Profissionais podem sentir que estão sempre em modo de alta demanda, o que pode afetar sua saúde mental e bem-estar. A ideia não é imposição e sim motivação. Trazer o conhecimento da psicologia comportamental e neurociências como base para estabelecer os critérios, política e ferramentas que instigue o interesse do colaborador de sempre se autodesafiar. Muitas vezes contratar um psicólogo social pode ajudar a desenvolver o processo na empresa.
As “carreiras líquidas” e a adaptabilidade têm vantagens claras em um mundo em constante mudança, é essencial reconhecer e abordar essas desvantagens para garantir que os profissionais possam prosperar de maneira sustentável. Um equilíbrio cuidadoso entre a busca da adaptabilidade e a mitigação dos possíveis desafios é fundamental para o sucesso dessa abordagem.
Então, Por Onde Começar?
Mudanças profundas na mentalidade da gestão de pessoas são necessárias. As práticas tradicionais de controle e monitoramento devem evoluir para um papel mais comunicativo e facilitador. O departamento de recursos humanos deve se tornar um agente de mudança, assegurando que a transição para a abordagem líquida seja compreendida e aceita em todos os níveis da organização. A minha experiência como desenvolvedor comportamental junto com os estudos de casos descritos em diversos artigos sobre cultura organizacional e sobre a perspectiva do que os colaboradores hoje buscam, deixam claro que na realidade há uma total falta de conscientização das empresas sobre carreiras líquidas. Entretanto, pesquisas recentes demostram que em grande parte os colaboradores anseiam por oportunidades de movimentação entre diferentes áreas, desejando uma abordagem mais exploratória para suas trajetórias profissionais. A ausência de flexibilidade resulta em frustrações e, em alguns casos, um alto turnover de pessoas de destaque, acabam por buscar oportunidades mais alinhadas com essa vontade pela diversidade profissional.
Para enfrentar esse desafio, a empresa pode começar para aquilo que chamo de “Encontros De Conscientização”, por exemplo promovendo workshops com profissionais sérios, sobre movimentações laterais e carreiras horizontais. Onde a ideia destes eventos é estimular a troca de experiências entre áreas distintas, incentivando a exploração interdisciplinar e a participação em projetos diversos. Adicionalmente, workshops de carreira auxiliam os participantes a mapear caminhos autônomos para o desenvolvimento profissional.
Contudo, a conscientização é uma jornada contínua. A mudança de mentalidade requer mais do que workshops isolados. As organizações precisam comprometer-se a revisar práticas, reformular ferramentas de RH e garantir que líderes e colaboradores estejam alinhados na busca por uma abordagem mais líquida e flexível em relação ao desenvolvimento de carreira.
Fica claro que a falta de conscientização sobre carreiras líquidas representa um desafio substancial para sua adoção eficaz. A transformação envolve não apenas uma mudança de perspectiva, mas também uma reestruturação profunda de práticas e valores arraigados. Somente por meio de um esforço coletivo, liderança comprometida e cultura organizacional flexível é que essa abordagem inovadora pode ser verdadeiramente incorporada e aproveitada.
Não se pode deixar de enfatizar que, como já apontado em todo o texto, adquirir habilidades que transcendam as limitações da função ou área de atuação é uma necessidade imperativa no contexto atual. A mudança na qualificação dos profissionais é um ponto chave nessa transformação. A personalização emerge como um aspecto fundamental, abrindo espaço para uma mentalidade de fluidez que reconhece a variedade de formas pelas quais as pessoas podem aprender — essa mudança não se limita ao ambiente tradicional de sala de aula.
Muitas vezes é preciso a empresa investir em profissionais externos com coaching e mentoring, para que estejam a disposição a qualquer interessado. Isto sim é exemplo inspirador de democratização da aprendizagem de alto desempenho. A ideia e que fique claro que o programa “liquido” não está restrito a um ou outro grupo, permitindo que profissionais de diversos níveis se envolvam em processos de desenvolvimento humano comportamental.
Invista em plataformas capazes de oferecer seleções personalizadas com base nas habilidades e experiências desejadas, incentivando a interação entre colegas com conhecimentos complementares. A prática de relacionamento intercultural não apenas promove a expansão das habilidades, mas também contribui para enfrentar a escassez de talentos qualificados.
A relação entre a internalização das habilidades e a estratégia de recrutamento é crucial. Ao preparar colaboradores com habilidades multifacetadas, capazes de desempenhar diferentes funções, as empresas reduzem a dependência do mercado externo para preencher cargos-chave. Isso é particularmente evidente no setor de tecnologia, onde a busca por talentos é altamente competitiva. Empresas que incentivam ativamente o desenvolvimento de habilidades em tecnologia entre funcionários de outras áreas. Esse cenário é, em parte, impulsionado pelo receio da perda de talentos.
Agora, é verdade que evitar completamente os riscos e desvantagens das “carreiras líquidas” pode ser um desafio, mas é possível adotar estratégias e abordagens para minimizar seus impactos negativos. Para auxiliar você a refletir melhor no assunto e ajuda-lo a motivar a seguir, seja individual ou dentro da sua organização, com a “carreira liquida”, deixo dez dicas para lidar melhor com as questões que envolvem este processo de transformação e assim promover uma abordagem mais equilibrada:
- Comunicação Clara: As organizações devem comunicar de maneira clara e transparente as mudanças e as razões por trás delas. Isso ajuda a reduzir a insegurança e a instabilidade, fornecendo uma compreensão mais clara das direções futuras.
- Desenvolvimento de Habilidades Relevantes: Em vez de se concentrar em adquirir uma ampla gama de habilidades, os profissionais podem se concentrar em desenvolver habilidades que sejam relevantes e valiosas para seu campo. Isso ajuda a evitar o desenvolvimento superficial e a promover um domínio genuíno.
- Mentoria e Coaching: Programas de mentoria e coaching podem ajudar os funcionários a navegar pelas incertezas e a tomar decisões informadas sobre suas carreiras. Líderes experientes podem oferecer orientação valiosa sobre como equilibrar a adaptabilidade com a especialização.
- Gerenciamento do Equilíbrio Trabalho-Vida: As organizações devem promover um ambiente de trabalho saudável que valorize o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Isso pode incluir políticas de flexibilidade no trabalho e iniciativas de bem-estar para evitar o desgaste profissional.
- Plano de Desenvolvimento Individual: Funcionários podem criar planos de desenvolvimento individuais que alinhem suas aspirações de carreira com as necessidades do mercado. Isso ajuda a estabelecer objetivos claros e a manter um foco a longo prazo.
- Cultura de Aprendizagem Contínua: Incentivar uma cultura de aprendizagem contínua, onde a aquisição de novas habilidades seja vista como uma oportunidade em vez de um fardo, pode ajudar a reduzir o estresse associado ao constante desenvolvimento.
- Flexibilidade nas Expectativas: As organizações podem promover uma mentalidade que aceite que a carreira não precisa ser linear. Isso pode ajudar a reduzir a resistência à mudança e a permitir que os funcionários explorem diferentes caminhos.
- Apoio à Saúde Mental: Fornecer recursos de apoio à saúde mental, como sessões de aconselhamento ou programas de bem-estar, pode ajudar os profissionais a lidar com o estresse e a ansiedade associados à incerteza.
- Avaliação de Necessidades: As organizações podem realizar avaliações regulares das necessidades de desenvolvimento de habilidades dos funcionários, direcionando os investimentos em treinamento para áreas mais relevantes e valiosas.
- Valorização da Especialização: Embora a adaptabilidade seja importante, as organizações também podem valorizar e reconhecer profissionais especializados em áreas específicas, garantindo que haja um equilíbrio entre generalização e especialização.
Por fim, encontrar um equilíbrio entre adaptabilidade e estabilidade é a chave para minimizar as desvantagens das “carreiras líquidas”. Ao adotar uma abordagem proativa, as organizações podem criar um ambiente que promova o crescimento sustentável e o bem-estar dos profissionais em um mundo em constante mudança.
Em um mundo caracterizado pela fluidez e constante evolução, a abordagem das “carreiras líquidas” emerge como um farol orientador para profissionais e organizações. Zygmunt Bauman, que há muito capturou a essência dessa era líquida, nos lembra que a adaptação é a chave para prosperar em meio às transformações rápidas. A carreira líquida, essencialmente uma ode à adaptabilidade, transcende as estruturas tradicionais e valoriza a busca por aprendizado contínuo, reinvenção e diversificação de habilidades. Esta abordagem não é meramente uma tendência, mas uma resposta necessária às demandas atuais do mercado. Nesse cenário em constante mutação, as “carreiras líquidas” não apenas prosperam, mas também moldam o futuro da jornada profissional.
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OBRIGADO POR LER E ASSISTIR MARCELLO DE SOUZA EM MAIS UMA PUBLICAÇÃO EXCLUSIVA SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO
Olá, Sou Marcello de Souza! Comecei minha carreira em 1997 como líder e gestor de uma grande empresa no mercado de TI e Telecom. Desde então atuou frente a grandes projetos de estruturação, implantação e otimização das redes de telecomunicações no Brasil. Inquieto e apaixonado pela psicologia comportamental e social. Em 2008 resolvi me aprofundar no universo da mente humana.
Desde então, tornei-me profissional apaixonado por desvendar os segredos do comportamento humano e catalisar mudanças positivas em indivíduos e organizações. Doutor em Psicologia Social, com mais de 25 anos de experiência em Desenvolvimento Cognitivo Comportamental & Humano Organizacional. Com uma ampla carreira, destaco minha atuação como:
• Master Coach Sênior & Trainer: Oriento meus clientes em busca de metas e desenvolvimento pessoal e profissional, proporcionando resultados extraordinários.
• Chief Happiness Officer (CHO): Promovo uma cultura organizacional de felicidade e bem-estar, impulsionando a produtividade e o engajamento dos colaboradores.
• Expert em Linguagem & Desenvolvimento Comportamental: Potencializo habilidades de comunicação e autoconhecimento, capacitando indivíduos a enfrentar desafios com resiliência.
• Terapeuta Cognitivo Comportamental: Utilizo terapia cognitivo comportamental de ponta para auxiliar na superação de obstáculos e no alcance de uma mente equilibrada.
• Palestrante, Professor, Escritor e Pesquisador: Compartilho conhecimento e insights valiosos em eventos, treinamentos e publicações para inspirar mudanças positivas.
• Consultor & Mentor: Minha experiência em liderança e gestão de projetos permite identificar oportunidades de crescimento e propor estratégias personalizadas.
Minha sólida formação acadêmica inclui quatro pós-graduações e doutorado em Psicologia Social, bem como certificações internacionais em Gerenciamento, Liderança e Desenvolvimento Cognitivo Comportamental. Minhas contribuições na área são amplamente reconhecidas em centenas de aulas, treinamentos, palestras e artigos publicados.
Coautor do livro “O Segredo do Coaching” e autor do “O Mapa Não É o Território, o Território É Você” e “A Sociedade da Dieta” (1º de uma trilogia sobre o comportamento humano na contemporaneidade – 09/2023).
Permita-me ser seu parceiro(a) nessa jornada de autodescoberta e sucesso. Juntos, desvendaremos um universo de possibilidades comportamentais e alcançaremos resultados extraordinários.
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6 Comentários
Max Valois
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Marcello De Souza
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lucas
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