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Em Resumo: Ser Resiliente Não é Ser Resistente
No universo das ciências humanas, frequentemente adotamos terminologias de outras áreas para descrever estados ou conceitos psicológicos e comportamentais. O termo “resiliência” é um exemplo claro dessa prática. Originado do latim resiliens (particípio passado de resilire, que significa “ricochetear, pular de volta”), resiliência começou como um conceito na física, aplicado ao campo da resistência de materiais, e hoje é amplamente utilizado no vocabulário corporativo. No século XXI, a resiliência emergiu como um dos atributos mais valorizados no ambiente profissional, considerado essencial para o sucesso e a adaptabilidade dos indivíduos em um mundo em constante mudança.
Embora a resiliência tenha se tornado um jargão, muitas vezes é usada de maneira inadequada, confundindo-se com resistência. Para aprofundar nossa compreensão, é crucial distinguir entre esses conceitos. Na física, a resiliência se refere à capacidade de um material de absorver energia durante a deformação e retornar ao seu estado original. Já a resistência é a capacidade de um material suportar uma força aplicada sem sofrer deformações significativas. Transpondo esses conceitos para o âmbito psicológico, ser resiliente não é simplesmente resistir às adversidades, mas sim possuir a capacidade de se recuperar e até prosperar após enfrentar desafios.
Os primeiros estudos sobre resiliência datam da década de 1970, quando Norman Garmezy começou a investigar por que algumas pessoas permaneciam saudáveis, apesar de enfrentarem condições severas e estressantes. Seus estudos com crianças em alto risco revelaram que algumas delas, mesmo em contextos adversos, não desenvolviam doenças psicológicas. Garmezy identificou que essas crianças possuíam características que lhes permitiam se adaptar e superar as dificuldades, levando ao conceito de “resiliência humana”. Seus trabalhos foram fundamentais para expandir o entendimento sobre como alguns indivíduos não apenas se recuperam, mas também se desenvolvem em resposta às adversidades.
Um ponto crucial a se considerar é a diferença entre ser resistente e ser resiliente. Resistência implica uma postura rígida frente às adversidades, como um material que se opõe à força sem se deformar. Em contraste, a resiliência envolve a capacidade de se adaptar, aprender e crescer com os desafios, absorvendo a “energia” do impacto e retornando mais forte. Em termos psicológicos, uma pessoa resiliente não apenas sobrevive aos desafios, mas usa essas experiências para se fortalecer e crescer pessoalmente.
Além disso, é importante notar que a resiliência não está relacionada a um otimismo cego. Pessoas resilientes são realistas e mantêm uma perspectiva positiva ao mesmo tempo em que enfrentam a realidade de forma clara. Essa clareza permite que elas reconheçam seus limites e façam mudanças necessárias para melhorar. A falta de consciência da realidade pode levar a crenças limitantes e ao isolamento, tornando a adaptação e o crescimento mais difíceis.
Para entender melhor como cultivar a resiliência, é útil explorar os conceitos de energia e recuperação. De acordo com Jim Loehr, James Loehr e Tony Schwartz, gerenciar a energia é fundamental para a performance e a resiliência. A pesquisa deles com atletas de alta performance revelou que, para manter um desempenho ótimo, é crucial equilibrar períodos de esforço intenso com períodos de recuperação. Isso se aplica também ao ambiente corporativo. Se você se empenha demais sem se dar tempo para descansar e recuperar, seu nível de estresse aumenta e sua capacidade de recuperação diminui.
A recuperação pode ser interna, como pausas durante o trabalho, ou externa, como férias e tempo livre. Estudos indicam que a falta de descanso adequado pode prejudicar a produtividade e aumentar o estresse, levando a sérios problemas de saúde. Portanto, para desenvolver resiliência, é essencial incorporar períodos de recuperação em sua rotina, tanto interna quanto externamente.
A resiliência também pode ser fortalecida por meio de práticas de autocuidado e autorreflexão. Conversar consigo mesmo e reprogramar o cérebro para respeitar seus limites são estratégias eficazes para melhorar a capacidade de recuperação. A capacidade de se recuperar dos desafios da vida é um reflexo de como equilibramos nossos esforços com períodos de descanso e renovação.
Em conclusão, a verdadeira resiliência vai além da mera resistência. É a capacidade de se adaptar, aprender e crescer em resposta às adversidades. Ao focar em uma gestão eficaz da energia e na integração de períodos de recuperação em sua vida, você pode fortalecer sua resiliência e alcançar um maior bem-estar e sucesso. Como Viktor E. Frankl lembrou, “Nunca devemos esquecer que também podemos encontrar significado na vida mesmo quando confrontados com uma situação sem esperanças, quando encaramos um destino que não pode ser mudado.”
Portanto, ao enfrentar desafios, lembre-se: ser resiliente é absorver o impacto, adaptar-se e retornar mais forte. Invista em sua recuperação, e permita-se crescer através das adversidades.
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