O LÍDER INTROVERTIDO

“Tudo quanto conheço, mas sobre o qual no momento não estou pensando; de tudo quanto eu tinha consciência, mas agora esqueci; tudo quanto os seus sentidos percebem, mas que não é notado pela minha mente consciente; tudo quanto, involuntariamente e sem prestar atenção, sinto, penso, recordo, quero e faço; todas as coisas futuras que estão tomando forma em mim e que algum dia virão à consciência; tudo isso é o conteúdo do inconsciente.” Antony Stevens O incentivo para este artigo foi a leitura do excelente livro de Susan Cain, O poder dos quietos. Como os tímidos e introvertidos podem mudar um mundo que não para de falar. Este livro é entremeado de inspiração. Uma leitura rica, mas simples, que possibilita entender as pessoas introvertidas. Uma importante fonte de conhecimento para o aprimoramento nos modelos tradicionais de liderança que ajuda a responder questões como: Qual o perfil de um líder! Uma pessoa introvertida pode ser um líder?   Logo, o objetivo desse artigo é entender que apesar da pressão social para que as pessoas sejam extrovertidas, nem sempre esta característica propicia vantagens que os tornem capazes de serem líderes de sucesso, em contra partida é possível ser um excelente líder sendo introvertido. Susan Cain em sua pesquisa apresentada no livro, mostra que mais de um terço da população mundial são introvertidos, um número extremamente significante para ser equivocadamente analisado. Basta observar grupo de amigos, família e ambientes de trabalho, a quantidade de introvertidos que conhecemos em nossa vida. Muito do preconceito que as pessoas com esta característica sofrem ocorrem justamente por aqueles que não entendem o que é ser introvertido, talvez por serem vítimas dos imperativos sociais que faz com que rotulemos as pessoas por tipos de personalidade e isso não tem nada de verdade com o real como também não traz nada de útil. Fato é que nossas personalidades mudam com o tempo, mesmo quando somos adultos. Sempre estamos, nunca somos.  A linguagem é um fator importante em jogo: descrever a nós mesmos ou aos outros usando um adjetivo como “introvertido” ou “extrovertido” implica que isso é o que somos, e com isso vêm as conotações de permanência. Mas os seres humanos são resultados das suas próprias experiências, e esse fascínio por rótulos pode nos impedir de ver que sempre podemos mudar e crescer. Pensando assim, qual os problemas em ser introvertido ou extrovertido? Por que não podemos então, ser ambos? Ainda no século XIX, Carl Jung, foi o primeiro a popularizar esse termo de introvertido e extrovertido. Jung criou e aprimorou o conceito de reflexivo e ativo para Introvertido e Extrovertido (ou “extraversão”, como ele escrevia). Ele acreditava que não existia uma pessoa somente introvertida ou somente extrovertida. Embora muitos de nós nos denominamos veementemente como “extrovertidos” ou “introvertidos” e vejamos esses traços como partes essenciais de nossa identidade, as definições de Jung não eram tão polarizadas. Na visão de Jung, precisávamos buscar “energia” tanto fora quanto dentro para sermos “pessoas plenas”. Longe de ser “o que somos”, Jung considerava a introversão e a extroversão como tipos de consciência que podemos experimentar de maneiras diferentes em situações distintas. Tanto a introversão quanto a extroversão podem dominar nosso comportamento, mas também podemos nos beneficiar uma da outra que está em algum lugar dentro de nós, como uma maneira de valorizar as experiências de vida. Podemos perceber que seguindo os princípios de Jung temos, naturalmente, dois mundos: o interior e o exterior. Inconscientemente elegemos qual desenvolver mais a partir do resultado das nossas relações experimentadas pela vida. Para Jung, extroversão está para o enfoque dado ao objeto e introversão como o enfoque dado ao sujeito. Assim, em relação ao tipo introvertido e extrovertido ele revelou: “um encarrega-se da reflexão; o outro, da iniciativa e da ação prática.” Em outras palavras, na extroversão, a energia da pessoa flui de maneira natural para o mundo externo de objetos, fatos e pessoas em que se observa: atenção para a ação, impulsividade (ação antes de pensar), comunicabilidade, sociabilidade e facilidade de expressão oral. Extroversão significa “o fluir da libido de dentro para fora.” O indivíduo extrovertido vai confiante de encontro ao objeto. Esse aspecto favorece sua adaptação às condições externas, normalmente de forma mais fácil do que para o indivíduo introvertido. Na introversão, o indivíduo direciona a atenção para o seu mundo interno de impressões, emoções e pensamentos. Assim, observa-se uma ação voltada para o interior, reflexão, o pensar antes de agir; postura reservada, retraimento social, retenção das emoções, discrição e facilidade de expressão no campo da escrita. O introvertido ocupa-se dos seus processos internos suscitados pelos fatos externos. Dessa forma o tipo introvertido diferencia-se do extrovertido por sua orientação por fatores subjetivos e não pelo aspecto objetivamente dado. Jung aponta para o fato de que a expressão “fator subjetivo” não deve ter a conotação preconceituosa de algo que foge à realidade. Segundo Jung nenhum ser humano é exclusivamente introvertido nem extrovertido – ambas as atitudes existem dentro de cada um de nós, mas só uma delas foi desenvolvida como função de adaptação; logo podemos dizer que extroversão assim como a introversão são características presentes em todos, entretanto prevalece aquela no qual faz mais sentido para o ambiente de acordo com as relações humanas nela presente. De fato, essas diferenças entre os indivíduos são causadas pelas diversas maneiras com que as pessoas utilizam sua mente, ou seja, pelas funções psíquicas e/ou processos mentais preferencialmente utilizados para se relacionar com o mundo externo ou interno. Depois de Jung, vários estudos dentro da psicologia foram direcionados a questão sobre os introvertidos e extrovertidos e hoje não há dúvidas que o modo preferencial de uma pessoa reagir ao mundo deve-se as suas características herdadas geneticamente, às influências familiares e às experiências principalmente durante a sua primeira década de vida, portanto, é resultado de um conjunto de fatores que vão muito além do que uma simples questão de escolha. Fundamentalmente, diante da perspectiva basicamente atual pode-se dizer que o tipo introvertido está mais para uma pessoa introspectiva, que precisa voltar-se para seu mundo interior e explorá-lo, pois, os seus referenciais lá se encontram. Sua introspecção vem de uma característica psicológica, aonde a pessoa é mais contida emocionalmente. Uma criança com esse perfil, normalmente procura brincar sozinha, inventando o seu mundo de criatividade e alegria. Isso não seria problema algum se não fosse pela pressão social em geral, que, por terem um comportamento mais reservado que da maioria, que são extrovertidos, acreditam que existe algo de errado, como ocorre muitas vezes dentro da própria casa, pela atitude dos pais, que começam a acreditar que a criança tem problema e que isso atrapalhe suas habilidades sociais, seu futuro e o sucesso na vida e então, muitas vezes, erroneamente, rotulando-a. Acredita-se que esta pressão social na caracterização das pessoas serem extrovertidas ou não tem seu crescimento a partir do início do século XX, aonde cada vez mais no mundo industrializado as diferenciações entre as classes sociais tornou-se ainda mais singulares e as relações humanas foram deixando de valorizar as pessoas pelo que ela é (Ser), – chamado de período cultural do caráter, e passou a admirar as pessoas pelas suas representações e conquistas (Ter) – denominado como cultura da personalidade. Com isso, surgiu a busca frenética de posses, uma estrutura econômica viva e intensa, aonde prevalece a arte do convencimento, extrapolando os limites relacionais, que se tornou uma exigência de sobrevivência pela busca das trocas e interesses. Best Sellers de autoajuda tornaram-se populares e todos em direção ao quebrar paradigmas relacionais entre as pessoas, como uma resposta ilusória e fantasiosa aos problemas comportamentais tão como relacionais. Exemplo foi o livro escrito em 1936 por Dale Carnegie, “Como fazer amigos e Influenciar Pessoas”, que logo se tornou uma febre entre os executivos e vendedores. Em sua capa está descrito que ali dentro está as ilusórias soluções para resolver os maior dos problemas – o de relacionar-se bem com as pessoas e influenciá-las na vida cotidiana, nos negócios, no trabalho e nos contatos sociais. Um dos maiores equívocos em que se vê é denominar uma pessoa introvertida com uma pessoa que possui o perfil comportamental da timidez, procrastinadora, incapaz, lenta ou improdutiva. Aliás, ser introvertido é muito diferente de ser tímido. Pessoas tímidas tem um desconforto comportamental. Criam dentro de si um bloqueio ao se relacionar com outras pessoas e de interagir com o mundo. Uma barreira inconsciente que aflora o medo e a vergonha. Caracteriza-se pela preocupação com as atitudes, reações e pensamentos de si mesmo com os outros e vice-versa. Podendo comprometer sua capacidade de realização pessoal, tornando procrastinador na vida, empobrecendo-a. Timidez, muitas vezes, também pode funcionar como um mecanismo de autodefesa, uma máscara que permite à pessoa avaliar situações novas através de uma atitude de cautela e buscar a resposta adequada dentro da sua realidade introspectiva para a situação. Fato é que ser extrovertido ou introvertido faz parte de certos imperativos que determinam padrões equivocados e fica evidente quando se observa o dia a dia de todos nós, seja na vida social, profissional ou pessoal. Basta analisar os modelos adotados nas escolas, na maioria das empresas e até mesmo em inúmeros treinamentos de desenvolvimento profissional e de liderança além claro desse mal contemporâneo emblemado pelo mundo digital, como FOMO (Fear of Missing Out ) que logo vemos o julgamento exposto nas redes entre as pessoas que são extrovertidas e as que não são.   De qualquer forma há uma tempestade diária sobre cada um de nós com regras que exigem das crianças e adultos que devem sempre trabalhar em grupo, equipes, estar em evidência, se expor, aparecer, se destacar, falar, etc. O que muitos não pensam é que na maioria das vezes, estas ações acabam resultante em perder grandes talentos, inibindo as habilidades de pessoas que poderiam fazer a diferença, justamente por não incentivar elas nas suas zonas de maiores estimulações que mais adequadas para o seu perfil. A maior parte do modelo atual na sociedade cria ambientes favoráveis ao perfil de pessoas extrovertidas, teorizando a necessidade de estimulação. Ainda há muitos que supõe que a criatividade e produtividade tem que vir de grupos de pessoas, salas cheias e todos juntos, sem divisão, sem paredes, como aqueles ambientes conhecidos como “war room” que ficaram famosos pelo princípio de energizar a equipe, concentrar informações e permitir gerar grandes ideias para atingir os melhores resultados, indo quase sempre contrário do que muitos estudos comportamentais e da própria neurociências tem para nos ensinar nos dias de hoje. Tornou-se comum dizer que a pessoa ser introvertido não é bem o jeito certo de ser, com uma cobrança equivocada, como se tivesse realmente de ser extrovertido para gerar resultados e participar com destreza do meio social.  A verdade é que não se pode suprir as características fundamentais das pessoas apresentando regras únicas que sirvam a todos, é preciso fazer uma análise muito mais sistêmica. Talvez o que poucos levam em consideração é que esta cobrança possa gerar aos introvertidos mais do que o isolamento, mas também uma tristeza interna imensa, primeira pela falta de uma de duas necessidades fundamentais do ser humano que é o sentimento de pertencimento e o segundo o de aceitação e isso pode limitar não só a capacidade intelectual de produzir resultados extraordinários, como gerar um estresse psicológico por falta de compreender e respeitar a sua característica individual de ser. Equívoco imensurável social, já que pessoas introvertidas quase sempre são pessoas criativas, certeiras, focadas, com uma percepção apurada aos detalhes, concentradas, atentas, precisas, tem uma capacidade cognitiva de inter-relacionar as coisas de maneira muito mais exata do que as extrovertidas e muito menos passíveis de correr riscos imprevistos – o que faz uma grande diferença nos dias de hoje. Não há dúvidas que é mais fácil enganar um extrovertido do que um introvertido. Ser introvertido é apenas questão de ser reservado principalmente com meio social. Mas isto não é uma constância, e sim de momentos. Os extrovertidos necessitam de muita estimulação, enquanto os introvertidos sentem muito mais vivos, ativos e capazes quando, em parte do seu tempo, estão em ambientes mais silenciosos, reservados e tranquilos. Isto não é … Continue lendo O LÍDER INTROVERTIDO