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O PODER DOS VULNERÁVEIS

O fato de compreender a importância de pensarmos sobre a vida nos traz a real sensação de que estamos na verdade dando sentido a cada instante das relações que passamos e que são irrecuperáveis e não viveremos mais. Se formos capazes de entender que cada instante da vida é virginal e único, podemos também compreender que iniciamos em cada átimo presente uma nova oportunidade para fazer diferente. Afinal, esta existência, neste finito instante, não voltará a repetir, este momento não será o mesmo daqui um segundo da vida, porque nada se repete. O irremediável fluxo de nossa existência, permite então trazer para nós a possibilidade de morte e vida diante as ocasiões existenciais. No instante que de fato passou, também está dando a oportunidade de um novo início a uma nova junção de matéria que deu espaço para outro e outro e assim sucessivamente. Está neste ciclo finito da vida a chance de novas escolhas diante aos discursos que construímos ao nosso respeito.

“Se eu fosse um fabricante de livros, faria um registo comentado das diversas mortes. Quem ensinasse os homens a morrer, ensiná-los-ia a viver. ” Michel de Montaigne

De certa forma, a nossa existência também é uma criação formada por crenças e o que define a nós mesmos, é aquilo que chamamos de identidade. E assim, cada um de nós, quando nos apresentamos ao mundo diante nossas relações, estamos na verdade, constantemente nos empenhando em reafirmar as crenças daquilo que somos. Crenças não só na qual acreditamos, mas que também não medimos esforços para que os outros acreditem e compartilhem sobre nós mesmos. Estimulando nossas energias vitais em busca do reconhecimento, da sobreposição de nossa identidade mais conveniente, mais vantajosa, benéfica e diante ao nosso ponto de vista, a mais elevada possível. Em outras palavras, podemos dizer que vivemos ao longo de nossa vida, personagens que nos representam da melhor forma que entendemos ser apresentados. Retrato fiel de nossas escolhas. Simulamos constantemente nossos ideais, sujeitando a ficar aprisionado pelas próprias crenças, e que, portanto, como defesa, diligenciamos insistentemente para que os outros acreditem também.

Talvez por isto, muitas vezes sentimos aprisionados diante as ilusórias expectativas dos outros sobre nós. São estas expectativas que anseiam os esforços em querer representar o que desejamos ser, como completo aos olhos dos outros. Não há aqui espaços para heresias, não há espaço para a vulnerabilidade de nossa singularidade, porque tem a ver em atender o devaneio das justificativas que nós mesmos pressupomos de nós ao longo de nossas escolhas. Não por menos, que ao passar da vida nos sentimos presos as próprias amarras dos limites que amuralhamos, construindo os limites existenciais do qual não conseguimos mais fugir e que quando ousamos, sentimos entristeceremos pela impotência de tentar ser quem realmente somos.

“Pagamos caro por esta alienação do medo de ser julgado pelo real. A verdade é que a vida no qual nos aprisionamos diante esta busca eminente dos discursos identitário, não deveria ser uma vida possível de julgar; ela é sim, parte de uma imposição de ganhos aonde cada um, procura em si, a mais alta imagem das representações. ” (Marcello de Souza)

A desarmonia das relações entre o que aparentamos e quem somos, são de fato suplícios diante a busca identitária. São tantas diferenças entre o real e o afigurado, que criamos um mundo próprio, transfigurado, perdendo, muitas vezes, o próprio sentido daquilo que realmente representa nossos anseios e passamos a focar no desejo do outro. Muitos dos conflitos internos que vivenciamos são de fato gerado pelas encenações destes nossos personagens na expectativa do reconhecimento do outro como valor. Talvez por isto, estamos sempre em desequilíbrio diante a nós mesmos. E isto tem, ao menos, uma explicação, que é o medo de ser julgado pela imperfeição.

É fato que é mais fácil usar máscaras para interpretar do que SER. Máscaras que podem também servir como defesa de nossas sombras, e a ideia central aqui é de que você é um, mas coloca uma máscara por cima para aparecer outro, justamente por querer ser reconhecido por completo diante a um mundo ilusório construído pelo próprio medo de expor as próprias vulnerabilidades e de viver a própria vida da única forma que se pode viver.

“Não há nada tão belo e legítimo quanto ser um homem de forma boa e adequada, nem conhecimento tão difícil de adquirir quanto o conhecimento de como viver esta vida bem e com naturalidade; e a mais bárbara de nossas doenças é desprezar o nosso ser.” Michel De Montaigne

Estar vulnerável é condição para consternar-se defronte do medo de se expor como incompleto em um mundo alucinado pela perfeição. Aceitar esta vulnerabilidade, é poder SER na alma. É compreender que ninguém é perfeito, mas sim, perfectíveis. É Autenticidade.

Para tornar-se autêntico é preciso ter coragem. A autenticidade representa aqui a disposição de abandonar as máscaras, e assumir a responsabilidade de valer como é, porque foram absolutamente nossas as escolhas, para que as coisas sejam assim.

Coragem. A palavra “coragem” tem sua origem no latim coraticum, e possuía o mesmo significado. Este termo latino é composto por cor, que significa “coração” e o sufixo -aticum, que é utilizado para indicar uma ação referente ao radical anterior. Cor, ou cordis, também tinha o sentido metafórico de “coração”, a sede das emoções, dos pensamentos, da vontade e da inteligência. O coração representava a mente e a alma da pessoa. De acordo com o pensamento romano, e de outros povos antigos, a alma estava ligada ao coração. Assim como o coração dá vida a todo o corpo, a mente dá vida à nossa existência. A definição original surgiu como um artifício para contar a história de quem somos de todo o nosso coração. Na condição de imperfeitos e ao mesmo tempo, compaixão e gentileza de nos aceitarmos como somos. Respeito por nós mesmos. Neste momento abraçamos a vulnerabilidade completamente.

Vulnerabilidade aqui, não é a representação de algo ou alguém que esta suscetível a ficar ferido, ofendido ou tocado. Vulnerável não é uma pessoa frágil e incapazde algum ato, pelo contrário. Vulnerabilidade é a expressão metafórica de tornarmos possível retirar nossas máscaras e nos apresentarmos ao mundo por inteiro. Pessoas vulneráveis, são pessoas íntegras. Autênticas.

Vulnerabilidade não é algo confortável, nem tão pouco doloroso. É algo necessário caso desejamos viver uma vida plena. De fazer algo quando sem garantias, é a disponibilidade do respirar profundo diante nossas relações com a vida. Estar dispostos a investir nas incertezas e aceitar conscientemente que as coisas são como são, e antepomos que seja assim.

É verdade que pensar no simples fato de ser vulnerável já gera um sentimento de vergonha e medo e pode até representar um conflito de nossas batalhas por merecimento, mas, diante outra perspectiva também pode representar a origem da alegria, da criatividade, do pertencimento e do amor.

De fato, é dolorido nos contentarmos diante nossas imperfeições, mas, da mesma forma, não é possível exclui-los de nossos sentimentos, de nossas emoções. Nós não pode anestesiar isto ou aquilo, somos um conjunto de partes e todas as partes representam o que somos. Se anestesiarmos a dor, também anestesiamos a gratidão, se anestesiarmos a infelicidade também anestesiamos a felicidade. Se anestesiarmos nossos afetos também estamos anestesiando a possibilidade de reconhecer o valor de nossas relações.Talvez, seja por isso que então preferimos usar as máscaras. Para não precisar SER e portanto, não é preciso angustiar-se por escolher. Escondendo-se assim, covardemente da responsabilidade de viver a própria realidade que construímos, justificando e lamentando ao acaso por não ser diferente.

A Vulnerabilidade é algo para ser entendido, sentido e vivenciado. Desenvolver a sensibilidade de sermos capazes de aceitar e praticar a nossa vulnerabilidade é o mesmo que permitir sermos aceitos por nós mesmos da forma que somos, inacabados. Quando aberto a vulnerabilidade dificilmente não conseguiremos atingir um estado Empático em nossas relações. São nestas situações raras, que estaremos conectados verdadeiramente em nossas relações com o mundo.

Ao permitir ser vulnerável também estamos permitindo ser transparente com a vida. Tornamos permissíveis em também aceitar o outro da forma que é. Estando abertas a experimentar. Experienciar a vida. Capazes de tirar nossas armaduras. Destituir nossas vaidades, para nos tornar mais livre, abertos aprender e a se expor, se expressando de uma forma autêntica e franca. Sem julgar, sem criticar, mas sim, respeitando e compreendendo melhor o que é viver. Mantendo dentro de si um propósito muito maior do que nossas certezas, e gerar alegria pela vontade de viver própria a vida. Somente quando nos tornamos vulneráveis é aonde não faz mais nenhum sentido de posar dê. É dar mais espírito para o real, porque somente assim desaparece as esperanças e a vida então, passa a ser vivida como ela é.

Existe sempre uma presunção de dualidade, uma essência verdadeira, um verdadeiro eu. Uma máscara que esconde a essência real e o faz parecer diferente, não irá trazer mais motivação na busca eminente de a ir mais além, e nem fará enfrentar os desafios com mais confiança e não se preocupar com o pior. Porque você nunca é você quando se esconde de você mesmo e o que nos faz viver lutando e enfrentando os problemas e as barreiras que afluem sobre a vida, é a força positiva que há introspectivamente em nós e não será nossas máscaras que irá combater momentos tenebrosos da própria vida.

De fato, na vida real somos constantemente personagem conforme as necessidades do momento. Vamos estrategicamente recriando nossas representações, buscando a melhor apresentação possível. Mas no final, nada disto é necessário, já que corremos o risco de ir tirando as máscaras e nos deparar com um vazio completo de existência. Uma ameaça eminente de usarmos tantas e tantas máscaras que de tão usadas, quase sempre nos fazem esquecer dramaticamente de quem éramos e que só sobraram mesmos as ilusórias marcas de um rosto já deformado, corroído. Quando as máscaras caem, da mesma forma que ao aceitamos esta condição, se torna possível admitir que por detrás das máscaras pode não haver mais rosto nenhum.

A coragem de ser vulnerável permite por tanto, um julgamento real e digno da própria vida. Exige sair da zona conforto, quebrar paradigmas, desfazer de hábitos, experimentar, pensar e agir, se movimentar, reaprender, reeducar, reconstruir, ressignificar. Fundamentalmente SER é nos permitir existir sem máscaras para nos ocultar. É estar vulnerável com à vida, é nos expor e aceitar nós e o outro como incompletos, sejam as fragilidades, limites e mesmo as imperfeições. É a chance de materializarmos nossas verdades e encontrar alguma essência, diante uma singularidade que transcende as cobranças sociais, que transcendem o sentido do propósito imperioso de viver. Desta forma, sendo vulneráveis, quem sabe, podemos então reencontrar conosco mesmo e talvez neste instante possamos tal como no nascimento, experienciar um instante ínfimo de autentica alegria em que a vida traz por si, algum sentido muito maior, para sorrir junto com a própria razão de querermos ser felizes.

Sobre o Autor:

Marcello de Souza, fundador da Coaching & Você, é apaixonado por assuntos referentes a gestão, liderança e fascinado pelo cotidiano e pelas mais diversas formas do desenvolvimento do comportamento humano. Estudioso, escritor, pesquisador e admirador da psicologia social, vive em busca constante do crescimento intelectual e comportamental humano.

Tem mais de 20 anos de experiência em empresas nacionais e multinacionais, atuando como gestor, facilitador palestrante e consultor internacional. Tem vasto conhecimento em gestão e consultoria de equipes multidisciplinares, liderança e gestão de projetos de alto impacto, relacionamento e negócios. Coordenou times e clientes, atuando na implementação de novas ideias, simplificação de processos e identificação de áreas frágeis, bem como na antecipação de cenários com ações inovadoras de alto impacto além de desenvolver a excelência nas pessoas.

Seu trabalho, seja em campo ou em seu consultório, aborda além das técnicas a excelência nas questões emocionais e comportamentais que permitem a plena realização pessoal e profissional da equipe e cliente, ampliando a eficiência, alcançando resultados surpreendentes.

Na busca constante da sua capacitação e conhecimento, vem conquistando as principais certificações internacionais na área de Gestão de Projetos e Desenvolvimento Comportamental Humano, como: PMP, Prince2, Scrum Master, Green IT Citizen, ITIL, Advanced Coaching Senior ( BCI), Advanced Leader Coach Training, Trainer em PNL, Master Coaching, Master Analista Corporal e Comportamental, Master Behavioral Analyst, Lean It, Hipnoterapia Avançada, Constelação Sistêmica, Business and Executive Coaching, Neurocoaching, etc. Cursou ainda MBA Executivo em Gestão de Talentos Humanos e Coaching Executivo, MBA em Gestão de Projetos, Pós-Graduação em Gestão de Pessoas com Coaching e Pós-Graduação em Psicologia Positiva com Coaching. Atualmente é doutorando em Psicologia Social na UK – Universidad John F. Kennedy.

Em sua carreira teve o privilégio de ser treinado por: Amit Goswami, Robert Dilts, Richard Moss, Shayne Tracy, Bernd Isert, Cornélia Benesch, Michael Hall, Judith DeLozier e Jeffrey Zeig.

É fã e respeita a opinião do outro, aceita o diálogo para discussões contrárias, mesmo que a opinião do outro não consiga responder as ideias e pensamentos existentes nas reflexões, aqui, escritas.

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