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RESILIÊNCIA É COMO VOCÊ SE RECARREGA, NÃO O QUANTO RESISTE

Existem duas maneiras de aumentar a resiliência: uma é conversando consigo mesmo, e a outra é reprogramando o cérebro.

Se você já fracassou significativamente, siga o sábio conselho dado pelo psicólogo Martin Seligman no artigo da HBR “Cultive a resiliência“. Converse consigo mesmo. Faça uma autointervenção cognitiva e reprima seus pensamentos derrotistas adotando uma atitude otimista. Desafie os pensamentos negativos e substitua-os por uma perspectiva positiva.

Mas, felizmente, grandes fracassos são raros na vida.

Por que não se recuperar dos equívocos mais frequentes e desagradáveis, pequenos contratempos e perturbações irritantes que são rotineiras na vida de todo líder? Mais uma vez, resiliência é a resposta – mas com um gosto diferente. É preciso reprogramar o cérebro.

O cérebro tem um mecanismo muito diferente de recuperação da carga cumulativa de aborrecimentos diários. E, com um pouco de esforço, é possível melhorar a capacidade de se recuperar dos infortúnios da vida.

Sempre que ficamos aborrecidos a ponto de dizermos ou fazermos algo de que mais tarde nos arrependemos (e quem não faz isso de vez em quando?), é um sinal claro de que nossa amígdala – o detector de perigo do cérebro e gatilho da resposta de luta ou fuga – sequestrou os centros executivos do cérebro no córtex pré-frontal. A chave neural para a resiliência está na rapidez com que nos recuperamos desse estado de sequestro.

De acordo com um neurocientista da University of Wisconsin, Richard Davidson, o circuito que nos traz de volta a energia e o foco total após o sequestro da amígdala concentra-se no lado esquerdo da área pré-frontal. O especialista também descobriu que, em situações de estresse, a atividade no lado direito da área pré-frontal aumenta. Cada pessoa tem um nível característico de atividade em cada um dos lados que indica a nossa variação diária de humor – mais ativo do lado direito, mais descontentamento; se mais ativo do lado esquerdo, maior velocidade de recuperação de todo tipo de chateação.

Para dominar essa questão no ambiente de trabalho, Davidson uniu-se ao CEO de uma startup de biotecnologia onde a pressão é constantemente muito intensa, e a Jon Kabat-Zinn, da University of Massachusetts Medical School. Kabat-Zinn ofereceu aos funcionários da startup instruções para a prática de mindfulness, um método de treinamento de atenção que ensina o cérebro a registrar com foco total qualquer coisa que estiver acontecendo no momento presente – mas sem reagir.

As instruções são simples:

1. Encontre um lugar tranquilo e reservado, onde você possa ficar livre de distrações por alguns minutos. Por exemplo, feche a porta do escritório e silencie o telefone.

2. Sente-se confortavelmente, com as costas eretas, mas relaxadas.

3. Concentre sua atenção em sua respiração, percebendo sua inspiração e expiração, e comece novamente na próxima respiração.

4. Não julgue sua respiração nem tente alterá-la.

5. Perceba se algo distrai sua atenção, como pensamentos, sons ou qualquer outra coisa, e deixe-os ir, concentrando-se novamente na respiração.

Após oito semanas, e uma média de 30 minutos por dia praticando mindfulness, os funcionários haviam mudado a proporção de atividade na área pré-frontal: antes mais intensa no lado direito estressado, agora mais acentuada no lado esquerdo resiliente. Além disso, disseram que se lembraram do que amavam em seu trabalho, ou seja, entraram em contato com o que lhes dava ânimo no início.

Para aproveitamento máximo, o melhor é praticar diariamente durante 20 a 30 minutos. Encare isso como uma rotina de exercícios mentais. Pode ser muito útil ter instruções guiadas, mas a chave é encontrar um espaço em sua rotina diária – existem instruções para praticar até mesmo durante uma longa viagem.

Mindfulness tem ganhado sólida credibilidade entre executivos exigentes. Existem vários centros onde sua instrução foi adaptada para empresários, desde elegantes resorts como o Miraval até programas de liderança consciente na University of Massachusetts Medical School em Worcester. A Google University vem oferecendo um curso sobre mindfulness a seus funcionários há anos.

Mas será que você pode se beneficiar ajustando os circuitos de resiliência do seu cérebro por meio de mindfulness? Entre executivos de alto desempenho, os impactos do estresse podem ser sutis. Segundos meus colegas Richard Boyatzis e Annie McKee, é possível fazer um diagnóstico superficial de estresse relacionado à liderança ao perguntar a si mesmo: “Eu tenho uma vaga sensação de desconforto, inquietação ou sentimento de que a vida não é ótima?”. Um pouco de mindfulness pode tranquilizar sua mente.
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Daniel Goleman é codiretor do Consortium for Research on Emotional Intelligence in Organizations na Rutgers University, coautor de Primal leadership: leading with emotional intelligence e autor do livro O cérebro e a inteligência emocional.
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Tradução: Luiza Monteiro Queiroz

Fonte: Revista Harvard Business Review

Escrito por Por: Shawn Achor e Michelle Gielan

fonte: Revista Harvard Business Review Acessado em: <https://hbrbr.uol.com.br/resiliencia-para-todos/>

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