SAIR DA ZONA DE CONFORTO E IR PARA ONDE?
Alasdair White, professor britânico especialista em gerenciamento de desempenho, em seu livro “From Comfort Zone to Performance Management” faz uma ótima definição para a zona de conforto, dando sentido ao tema como uma série de ações, pensamentos e/ou comportamentos que uma pessoa está acostumada a ter e que não causam nenhum tipo de medo, ansiedade ou risco. Nessa condição a pessoa realiza um determinado número de comportamentos que lhe dá um desempenho constante, porém limitado que traz uma sensação de segurança. Em outras palavras viver dentro da zona de conforto é um processo de desaceleração do próprio crescimento humano, limita a própria capacidade de desenvolvimento, é perder a chance de experimentar a vida e tudo que há nela, deixar de lado a oportunidade de ser melhor do que já é, ter ganho de potência e encontrar a alegria de viver, aumentar as possibilidades não só de descobrir, mas saber vivenciar os momentos em que se é feliz. A zona de conforto escraviza. Viver na zona de conforto cega o indivíduo, deixando-o por conta do acaso, desesperançado do próprio sentido de ser. Todas essas relações que envolvem a comodidade humana são questões que realmente irão gerar desarmonia com o próprio sentido de vida e que em algum momento refletira na inexistência da alegria de viver. A grande questão não é a falta de compreensão do que é a zona de conforto, e suas complexas consequências, mas sim saber diferenciar entre viver na zona de conforto e estar nela. E isto faz toda a diferença. Este jargão, que está presente em quase tudo principalmente nos treinamentos motivacionais, fez da frase – você precisa sair da zona de conforto, base fundamental da autoajuda e parece que com ela, serve como resposta a tudo, apresentando-se como a verdade para o caminho a quem está na busca de respostas, na pretensão de encontrar a própria felicidade. Sair da zona de conforto é hoje sinônimo de uma vida feliz. E este artigo pretende refletir um pouco mais sobre este assunto justamente porque é a partir daí que as coisas se tornaram distorcidas e o sentido principal da ideia se desfez. Sair da zona de conforto deixa de ser determinante na vida quando fazem desta questão um imperativo social. Torna-se imperativo as imposições sociais de que viver é estar na busca constante, e os meios ditando quais são suas próprias escolhas, diante ao contrassenso da própria condição imperativa de ser sempre feliz, ser autêntico, ser você mesmo, ter sucesso, ser belo, ter autonomia e por aí segue as constituições das regras sociais. Ter que ser como condição é muito diferente do ideal de querer ser. Contradiz a própria essência do ser humano quanto a realidade de si mesmo. O fato da imposição destas regras propostas por tais eufemismos torna-se um paradoxo existencial e a insegurança da autenticidade acaba por aprisionar a pessoa a determinadas normativas que nem sempre faz sentido ou que efetivamente haja algum senso quanto aos desejos pessoais. Abrir mão da liberdade de escolher o próprio caminho, é fazer de o sujeito sentirem a obrigação de serem reconhecidas como completos, inteiros, portadores das certezas, mascarando as próprias virtudes e o sentido de ser, pois estão impedidos de demonstrar sua condição humana de imperfeições, das suas faltas, as mesmas que podem servir como incentivo para o encontro do aprimoramento da condição humana. Acaba por ser alguém que interpreta as próprias imperfeições como falhas, defeitos que deverão ser corrigidos como condição para ser aceitos. Sai da pluralidade humana e vai para a singularidade do ser como indivíduo. Deixam de vivenciar o presente e torna-se a vida uma angustia constante de escolhas e buscas que dificilmente representará as próprias preferências. Pior que estar na zona de conforto é se frustrar por perder a autenticidade de ser quem é e fazer aquilo que faz sentido para si mesmo e não para o que os outros querem de você. O primeiro sintoma desta ideologia da zona de conforto como hoje apresentada logo vai apontar para o sofrimento de fatores objetivos como ter que de desenvolver uma base pessoal de encantamento ou a intenção de “parecer feliz”, “ser dinâmico”, “estar em movimento” e “ser produtivo”, sem poder apresentar quem realmente você é e quais são seus verdadeiros valores. Faz-se pertencentes a um modelo proposto e não a diversidade, perde o senso de caráter e de valores. É regido pela disciplina e não reconhece a indisciplina e liberdade de experimentar, de estar em algum momento inerte de você com você mesmo. Este excesso de igualar a todos como o mesmo senso de produção, agrava a insensibilidade pluralista e de embarcar em uma jornada singular para se conhecer. Por conta mesmo da relação disso, com os ideais de completude e do movimento constante, obstam de aprender com a vida e tudo que há nela, aceitando como é, representados aos mesmos imperativos que ditam seu valor a sua produção e que isto está correlacionado ao acumulo de bem, ao sucesso ou mesmo ao poder. Uma vida almejada de objetivos autoritários que tem que alcançar- você só é bem-sucedido quando alcança as metas – faz com que não se de valor para aquilo que é imposto a você, então a vida deixa de ser boa e logo se sentira preso a sua zona de conforto e da culpa que logo te dominará. Este imperativo da zona de conforto está equivocadamente conectado não só com a capacidade produção, mas principalmente a cadeia de consumo, que qualifica suas relações sociais. A inclusão e exclusão social está associada hoje ao consumo, com a mesma prerrogativa dada a sua qualificação econômica. Por isto não por menos, faz de o mercado dizer para que saia da sua zona de conforto, tornando-se uma reflexão comum, sobreposta no proposito real, uma exigência que converte no ato de que sair da zona de conforto ao acumulo bens, e o que menos importa é quem você é, suas relações com o mundo e seus afetos. Não estar na zona de conforto e sinal de viver feliz, assim é descrito neste universo de autoajuda, mas diferente desta equivocada utopia, o mundo é muito mais complexo do que no próprio sentido ideológico de entender a própria felicidade com signos de prosperidade de bens capitais. Neste momento a pessoa transfere a felicidade do campo do desejo de ser feliz para o campo dos ideais. Ideais se relacionam a valores, às melhores e mais altas aspirações, é o direcionamento que damos a vida, a fundamentação do que buscamos, enquanto que desejos, são os interesses individuais tangíveis, conscientes capazes de suprir necessidades em uma perspectiva realista. Quando se traça os ideais com a visão do futuro você acaba por acessar a angustia. Isto porque a angustia tem a ver com escolhas e perspectivas futuras. É fato que não é possível se tomar uma decisão futura somente sobre a perspectiva da sua produção de vida como presente, entretanto, está na emoção presente a composição da visão do passado e da própria perspectiva futura. Por isso o sentido de ideal muitas vezes acaba por servir como um orientador para nossa caminhada e nossas decisões e são afirmativas que trazem em si algo da ordem do impossível, e idealizar a vida impossível torna-se a uma busca constante já que nunca é o suficientemente ideal. Se viver o imperativo de que o ideal é sair da zona de conforto, você passa a seguir como um soldado autônomo, mas não é, pois, o sentido autoritário contradiz o próprio conceito de autonomia e consequentemente das suas próprias escolhas. Diante a este imperativo, você acaba por tonar todas as respostas da vida como o próprio imperativo. Como a vida não é mais viver e sim uma dinâmica infinita, a resposta do fracasso sempre estará permeando seus mais profundos sentimentos. Sofre porque se sente de fato fracassado, principalmente por não ter correspondido ao que se esperava do próprio ideal. E esta é uma diferença, muito sutil, entre as noções do impossível, impotência, limites e a verdadeira sensação de ser capaz. Se o sofrimento tem a ver com a demanda de reconhecimento esta é uma demanda de reconhecimento da impotência que não se pode avaliza-la, justamente por não se tratar de importância neste caso, mas sim de impossibilidade por não ser idealmente perfeito e que como todo humano há limites que não dá para ultrapassar. Luc Ferry aborda em seu livro O que é uma vida bem-sucedida? Como as sociedades contemporâneas nos incitam a pensar o “êxito” ao modo do devaneio. Sonho de posse. Logo os valores se tornaram subjetivos durante os séculos. Para Ferry é o indivíduo que tem que entender o que é uma vida bem-sucedida, ele tem que julgar diante a suas próprios valores e razões que traga a felicidade e a renda necessária para viver. O problema é se libertar do julgamento do mundo, entre as necessidades individuais e aquelas que o mundo quer que você tenha. Um bom exemplo prático desta divergência imperativa é proposto por Shirzad Chamine que diz em seu livro que a maior parte dos seus clientes estão na metade dos 40 anos ou no começo dos 50 anos. Eles mostram sinais de alguma espécie de crise de meia idade. Segundo ele, ironicamente, as crises mais profundas são vivenciadas por aqueles que alcançaram um maior número de objetivos que se propuseram a alcançar, pessoas que efetivamente não ficaram na zona de conforto. Esses objetivos costumam estar relacionados as conquistas financeiras e atingir o ápice da profissão. Porém a crise vem finalmente quando conseguem alcançar esses objetivos há tanto tempo buscados e então se dá conta que a felicidade prometida que supostamente os acompanharia neste movimento não está em lugar algum. No núcleo da crise de meia idade está a pergunta: Será que existe ainda algo mais que eu possa fazer para me trazer a paz e a felicidade que busco todos esses anos? Serei feliz QUANDO…. Shizard ainda diz que quando você examina esse paradoxo de perto, se depara com uma grande questão de que você não pode SER simplesmente dos bens conquistados, viver na busca ininterrupta, já que este pretexto coloca em condição que a felicidade esta interligada as ambições pessoais de QUANDO você conseguir seu primeiro milhão, QUANDO for promovido, QUANDO você conseguir ser presidente da sua próxima empresa, QUANDO criar os filhos e os mandar para a faculdade, quando alcançar a segurança da aposentadoria, etc. Sempre havendo a necessidade da busca e de nunca ser suficiente suas conquistas, esquecendo de usufruir da benevolência que cada êxito pode proporcionar, do instante único e exclusivo da vida, viver o agora, tornando-se possível ser feliz quando se permite estar dentro da próprio zona de conforto. Isto porque não viver o agora, se sentir ao menos um pouco confortáveis com tudo aquilo que a vida já trouxe a você, torna você um alvo em movimento na promessa a ser cumprida. QUANDO conseguir seu primeiro milhão, você com certeza vai comemorar, talvez por alguns minutos, dias, para depois se convencer de que não pode realmente ser feliz, se não tiver a segunda casa do campo, afinal, você é tão inteligente quando os outros, e é justo que também tenha uma, certo? O QUANTO é desprezado assim que está prestes a ser alcançado. Não por menos, milhões de pessoas morrem todos os anos ainda esperando alcançar o ultimo QUANDO e sem ter sido capaz de reconhecer o QUANTO dos seus próprios valores alcançados. Esse alvo em constante movimento, não estar em sua zona de conforto, pode–se transformar em uma miragem, uma armadilha por assim dizer, como uma técnica-chave para garantir sua eterna infelicidade já que seus critérios de objetivos pessoais deixam de ser vivenciais, sem aproveitar e desfrutar daquilo que já conquistou, resultando em comparações relativas que são completamente arbitrárias: Se alguém tem mais eu também tenho que ter! Uma total inversão de valores e está sistemática líquida é visivelmente observada no cotidiano imperativo social atual. Para superar as pressões que o mundo atual impõe é necessário basear-se nos próprios valores e é fato que cada pessoa tem seus próprios valores, que são sempre únicos e exclusivos e que está diretamente interligado as próprias ações de escolha definidas durante … Continue lendo SAIR DA ZONA DE CONFORTO E IR PARA ONDE?
Copie e cole este URL em seu site WordPress para incorporar
Copie e cole este código no seu site para incorporar