TRANSFORMANDO DERROTAS EM CONQUISTAS: A JORNADA DE ACEITAR E CRESCER COM OS FRACASSOS
Assim como as árvores lançam suas folhas no outono, preparando-se para renascer na primavera, os fracassos semeiam a renovação da alma. Eles nos concedem a oportunidade de abandonar antigas crenças, florescendo com perspectivas renovadas, enquanto fortalecemos nossa essência como uma raiz que penetra ainda mais profundamente para aquilo que chamamos de vida. (Marcello de Souza) Se há algo que está ligado à própria razão da existência humana, e que somos diariamente confrontados como um elemento que muitos buscam evitar, rejeitar e até temem: é o fracasso. O sentido do fracasso transcende sua aparente negatividade, revelando-se como uma peça fundamental na trama da vida. Ele é mais do que um obstáculo a ser evitado; é um valor implacável que nos guia em direção à autodescoberta e crescimento. Sem o fracasso, acredite, não suportaríamos a própria vida! Não saberíamos lidar com a realidade de quem somos, muito menos com as próprias experiências! O fracasso desencadeia um processo de autodescoberta e crescimento que é essencial para nossa jornada na vida. Ele atua como um espelho que reflete o Ser e o Eu. Está nele nossas fraquezas e tudo que precisamos para nos tornarmos pessoas melhores. Sem o fracasso, não seríamos desafiados a enfrentar nossas limitações e a confrontar nossa própria realidade. Sem o fracasso, com certeza, não estaríamos aqui hoje, onde exatamente estamos, não poderíamos sonhar sobre tudo que podemos ser. Está para o fracasso a lucidez que somos perfectíveis aprendendo lidar com nossas imperfeições. O fracasso nos ensina a enfrentar as dificuldades de frente, a avaliar nossos objetivos e a continuamente nos adaptar. Nos faz abraçar plenamente com nossa própria vida e compreender quem somos, aceitando tanto nossas conquistas quanto nossas falhas, tudo como partes integrais de uma vida que realmente vale a pena ser vivida. Pensando hoje sobre o fracasso, me fez lembrar de uma palavra alemã: “Übermensch” (Não se assuste caso nunca ouviu falar dela! Alias, hoje em dia tenho visto muito poucos capazes de querer entendê-la). Übermensch é um termo alemão que significa “além do homem” ou “além do humano”. Ela está presente em uma das obras mais inquietantes e complexa de ser compreendida, chamada: Assim Falou Zaratustra (Also sprach Zarathustra). O conceito do Übermensch é explorado na proposta de um gênio da filosofia chamado Nietzsche. Friedrich Nietzsche, traz a proposta “além-homem” ou também “super-homem”, como fundamentos principais a proposta de “esquecer” e também a afirmação da lei do “eterno retorno’. Mas, não só. A terceira qualidade que complementa estas duas que está para a importância que atribui ao que existiu e o desejo de ocorrência por toda a eternidade do que foi vivido. Essa terceira qualidade é denominada Amor Fati, ou melhor dizendo, Amor Ao Destino. Em outras palavras, significa que não deve haver arrependimento do homem na vivência de seus valores, portanto, de suas escolhas. Neste sentido, ele destrói toda e qualquer forma de “ideal” ao dizer que Der Übermensch vive na vida, de forma real e na maneira que ela se apresenta, sem muletas metafísicas, com as dores e todas a limitações de todo e qualquer ser um humano. Transcender limitações e buscar a autorrealização através do fracasso é profundamente enraizado na ideia “além do homem”. O pensamento nietzschiano nos ensina que o fracasso não deve ser temido ou evitado, mas sim encarado como um catalisador para um crescimento significativo e uma evolução interior. Fato é que o fracasso é sim uma oportunidade única de testar nossos limites, questionar nossas crenças e desafiar nosso potencial latente. Em contra partida, fazemos parte de uma sociedade do vazio, liquida, como dizia Zygmunt Bauman. Pois é! Fracasso tornou-se o inimigo número um de uma sociedade vazia que muitas vezes se impera no conforto da mediocridade e nos faz esquivarmos de situações desafiadoras — tememos o fracasso e suas implicações na imagem tão espetaculosa. No entanto, quero aqui convidar você a olhar além desse medo e abraçar o fracasso como um impulso para a superação. Não entendeu? Então, seja sincero com você mesmo e responda: Sem os fracassos, as dificuldades e adversidades, seriamos levados a buscar novas perspectivas, explorar nossa força interior e nos tornar a melhor versão de nós mesmos? Übermensch A noção do Übermensch é a ideia de se tornar um ser humano elevado, que transcende as limitações impostas pela sociedade, convenções e até mesmo pela própria natureza humana. É um chamado para buscar o domínio sobre si mesmo, as paixões e as circunstâncias, transformando o fracasso em um trampolim para a autorrealização. O fracasso, nessa visão, é uma ferramenta para desafiar nossas próprias noções de quem somos e do que somos capazes de alcançar. Fato é que o fracasso não é uma derrota definitiva, mas sim uma oportunidade de colocarmos no nosso real lugar, conscientizando-nos que é preciso existir se queremos ir mais distante em nossas conquistas. Ele nos convida a abraçar o processo de enfrentar a vida que nos pertence, da qual somos os únicos responsáveis. Usar esta lucidez como um degrau para nos elevarmos além de nossas próprias limitações autoimpostas. Alcançar um nível de autotranscedência que nos leva a uma realização mais profunda de Ser de significado e de significância. Fracasso – Um paradoxo existencial Fracasso não é uma experiência unidimensional, mas sim um ponto de interseção entre desafios e oportunidades, dor e crescimento, desconforto e transformação, resultando em uma complexidade inerente à experiência humana. Entretanto, a cada tropeço, cada resultado aquém do esperado, nos lança em um ciclo interminável de autoquestionamento. Somos compelidos a examinar nossas fraquezas, nossas escolhas duvidosas e nossos objetivos agora desmoronados. Nesse contexto, o fracasso não apenas adiciona um novo capítulo à narrativa da nossa vida, mas também reforça a incômoda sensação de inadequação que temos tentado ignorar. O fracasso, de fato, oferece um tipo peculiar de consolo, embora tardio. Ele nos fornece a justificativa de que, afinal, não estávamos destinados ao sucesso. É como se nossos erros fossem uma representação vívida e dolorosa de nossa própria incapacidade intrínseca. E assim, o fracasso se torna uma plataforma sólida para a marcha constante em direção à desistência. Um caminho que nos afasta não apenas do agora, mas da própria essência de quem somos. De forma inegável, o fracasso atua como um mestre dissimulado, mas suas lições não são enriquecedoras; ao contrário, são instruções meticulosas para a nossa própria diminuição. Ele nos aponta para nossas fraquezas com uma precisão cruel, destacando nossos medos, inseguranças e tendências autossabotadoras. E, em vez de nos desafiar a ir além, o fracasso parece empurrar-nos na direção do mínimo esforço necessário. O resultado? Uma vida de mediocridade, onde nos escondemos confortavelmente nas sombras das bolhas e da conformidade. Cada revés, longe de ser uma oportunidade de crescimento, pode ser visto como um presságio do retrocesso. O fracasso não apenas nos molda para o conformismo, mas também nos prepara para a regressão. Ele nos conduz ao beco sem saída da idiotização, nos empurra para bolhas isoladas onde nossos sonhos definham, e finalmente nos impede de transformar nossas aspirações em realidade tangível. No coração do fracasso reside o medo, um medo compreensível que nos paralisa e nos impele a evitar o risco a todo custo. E dentro desse medo estão não apenas os começos, mas também os finais. O fracasso não é apenas um capítulo a ser superado, mas muitas vezes se transforma em uma narrativa inteira, definindo-nos de maneiras que jamais poderíamos ter imaginado. Para muitos, a resposta ao fracasso não importa mais; é como se a inevitabilidade do fracasso tornasse todas as outras escolhas irrelevantes. Uma distorção comportamental tão atual Não faltam exemplos nesta trajetória como Desenvolvedor Cognitivo Comportamental de pessoas que se tornaram reféns e habilidosos em transformar o fracasso em um monstro que devora a esperança e a aspiração. Levando-os por um caminho sombrio, onde a desistência parece ser a única opção razoável, onde a mediocridade é o destino final. Tenho dedicado parte do meu tempo para entender o porquê tenho atendido cada vez mais pessoas que não só estão tendo dificuldades em lidar com o fracasso, mas como se sentem cada vez mais fracassados. Que chegam a um ponto de ver o fracasso como um monstro devorador de esperança e aspiração. Não há uma resposta concreta, mas com certeza está intrínseco uma combinação complexa de fatores emocionais, cognitivos e sociais. Este ciclo de autoquestionamento que surge a cada tropeço e resultado abaixo do esperado tem gerado uma intensa pressão interna. Isto porque a necessidade de examinar nossas fraquezas, escolhas questionáveis e objetivos desmoronados muitas vezes leva a um aumento da autocrítica e da insegurança. Neste sentido, remeto-me ao que talvez Zygmunt Bauman teria a nos dizer. Ele que categoricamente soube explorar amplamente a natureza líquida e volátil da sociedade contemporânea, deixa claro o impacto das pressões sociais, as expectativas mutáveis e a busca por validação externa (sem se importar com os meios) têm um impacto significativo nas vidas das pessoas. Não há como negar! Todos nós, indiscutivelmente vivemos em um momento da história marcada pela incerteza e pela fluidez imoral, onde as normas sociais e as definições de sucesso são fugazes e inatingíveis. Nesse contexto, as pessoas estão constantemente buscando validação e aprovação externa para se sentirem valorizadas e aceitas. É o pleno esvaziamento do Ser e a hipervalorização do Ter (aliás tema do meu próximo livro – A Sociedade Da Dieta), o ciclo de autoquestionamento e autocrítica após o fracasso tem se tornado cada vez mais à luz dessa busca por validação. A ênfase contemporânea no sucesso, na tal “pseudoperfeição” e nas representações idealizadas de vida muitas vezes resulta em uma pressão avassaladora sobre os indivíduos. Essa pressão é amplificada pela comparação social, à medida que as pessoas se comparam constantemente com os padrões de sucesso e felicidade projetados pela sociedade e pelas mídias sociais. O fracasso, nesse contexto, não é apenas uma experiência pessoal, mas também uma confrontação com a percepção de não estar à altura desses padrões em constante mudança. Vale então lembrar quando Bauman explora o conceito de “sociedade do consumo”, onde as relações e identidades são frequentemente construídas em torno do que é temporário e superficial. Nesse cenário, o fracasso toma força como uma ameaça à imagem construída e à validação externa que as pessoas procuram. Bauman está certo ao alertar que a intensa pressão interna que sofremos, que aliás, após o fracasso é uma manifestação da natureza líquida da sociedade contemporânea, onde a busca por validação, a comparação social e a ênfase no sucesso contribuem para a sensação de inadequação experimentada por muitos indivíduos. Na verdade, a sensação de inadequação que o fracasso traz é amplificada pela comparação social e pela busca por toda esta vitrine de espetáculo. Vivemos em uma sociedade que frequentemente enfatiza a imagem, o sucesso e a perfeição, criando expectativas irrealistas sobre o que é considerado aceitável ou digno de reconhecimento, mas não só, também distorcia princípios como ética e moral. Quando confrontados com o fracasso, muitos sentem que não são mais parte de um contexto social e, assim, experimentam uma profunda sensação de vazio e desvalorização. Além disso, a natureza humana muitas vezes nos leva a buscar explicações para o que acontece em nossas vidas. O fracasso oferece uma explicação aparentemente clara e tangível para nossas dificuldades, dando-nos uma razão tangível para não termos alcançado o sucesso desejado. Essa justificativa pode ser tentadora, pois alivia temporariamente o desconforto de não atender às expectativas, mesmo que à custa de nossa autoestima. O medo do fracasso também desempenha um papel significativo nesse processo. O medo do julgamento, a perspectiva de enfrentar desafios futuros e a possibilidade de repetir os erros passados podem se tornar avassaladores. Esse medo paralisa, impedindo-nos de assumir riscos necessários para o crescimento e a realização. O medo do fracasso se entrelaça com a autocrítica, reforçando a ideia de que somos inadequados e, portanto, incapazes de enfrentar futuras situações desafiadoras. A narrativa imperativa econômica e social e a mentalidade negativa também podem contribuir para a forma como as pessoas percebem e lidam com o fracasso. Muitos indivíduos crescem em ambientes que estigmatizam o fracasso e o … Continue lendo TRANSFORMANDO DERROTAS EM CONQUISTAS: A JORNADA DE ACEITAR E CRESCER COM OS FRACASSOS
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