APRENDEMOS INTERAGINDO COM O MUNDO REAL, NÃO COM O DIGITAL”, DIZ PESQUISADOR DO MIT
Salas de aula fechadas e excesso de dispositivos digitais atrapalham o ensino, diz Leo Brund, diretor da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa, parceria entre a Fundação Lemann e o MIT Media Lab
O ensino tradicional, com os estudantes sentados em uma sala de aula, não é o mais indicado para estimular o aprendizado. Da mesma maneira, o excesso de uso de recursos tecnológicos na escola pode ser um obstáculo ao aprendizado. É o que diz Leo Burd, diretor da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa, resultado de uma parceria entre aFundação Lemann e o MIT Media Lab, departamento de pesquisa interdisciplinar do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
Para ele, a aprendizagem “mão na massa” — em que a criança explora o mundo com as próprias mãos — é fundamental para o amadurecimento do estudante. Por essa razão, desde 2015 ele comanda um grupo de educadores, artistas, pais, empreendedores, entidades e pesquisadores, empenhados em discutir e implementar abordagens educacionais criativas para escolas, universidades e espaços não-formais de ensino de todo o país.
“A criatividade é como um músculo”, diz Burd. “Todo mundo tem, mas nasce atrofiado. Precisamos de ambientes propícios para que ela se desenvolva plenamente. Nas escolas tradicionais, raramente temos essa oportunidade, porque chegamos lá e ficamos sentados e parados, em vez de participar de atividades interativas”, afirma Burd.
Em 2016, o diretor da Rede de Aprendizagem Criativa fez uma parceria com a marca Faber-Castell e passou a assesorá-la em uma série de projetos. Um deles é o Espaço Faber-Castell de Criatividade e Inovação, lançado no final do ano passado. A ideia é aplicar no espaço uma nova metodologia de ensino, que estimule a criatividade das crianças. O estúdio está localizado no Shopping Market Place, em SP. Além dessa iniciativa, a Faber-Castell implanta a metodologia em escolas privadas e particulares. O projeto já está operando nos colégios Dante Alighieri e Mackenzie.
Confira bate-papo da Época NEGÓCIOS com o pesquisador Leo Burd.
O que é, na prática, o aprendizado criativo?
Aprendemos o tempo todo em nossa experiência com o mundo. Uma aprendizagem mais mão na massa e colaborativa permite que a criança e o jovem vejam o mundo com mais possibilidades, e não como um ser passivo. A criatividade é como um músculo, todo mundo tem, mas nasce atrofiado. Precisamos de ambientes propícios para essa habilidade se desenvolver. Brincar com brinquedos diferentes e combinar formas inusitadas de usar diversos materiais estimula o amadurecimento criativo.
A nossa inspiração é o jardim de infância tradicional. A partir do brincar, as crianças desenvolvem novos projetos e aprendem. O problema é que, quando elas crescem, vão à escola e ficam fechadas e sentadas. Nesses ambientes, os estudantes perdem o prazer de aprender e deixam de ser criativos.
Qual a sua avaliação sobre a educação no Brasil?
Os Estados Unidos possuem mais recursos. As salas de aula, por exemplo, são temáticas porque não há aulas em dois turnos (de manhã e à tarde), como no Brasil. Os alunos podem se apropriar do espaço da escola para aprender. A estrutura das escolas públicas norte-americanas é semelhante a de instituições privadas brasileiras.
Qual a sua avaliação sobre a educação no Brasil?
Os Estados Unidos possuem mais recursos. As salas de aula, por exemplo, são temáticas porque não há aulas em dois turnos (de manhã e à tarde), como no Brasil. Os alunos podem se apropriar do espaço da escola para aprender. A estrutura das escolas públicas norte-americanas é semelhante a de instituições privadas brasileiras.
No entanto, os dois países pecam pela falta de criatividade no ensino. Tanto as escolas brasileiras quanto as norte-americanas usam provas tradicionais para avaliar a performance dos alunos. Se queremos preparar os estudantes para um ambiente incerto como o que vivemos, precisamos de um ensino diferente, em que o estudante possa explorar novas possibilidades e aprender com elas.
Qual a importância da tecnologia para o aprendizado?
Vejo a tecnologia como algo complementar. Aprendemos interagindo com o mundo real, não com o digital. As habilidades sensoriais são riquíssimas e isso não se aprende no computador, tablet ou celular. Queremos que os estudantes voltem a fazer coisas como enfiar um lápis em uma rolha para sentir a textura da cortiça. O computador nada mais é que uma massa de modelar com propriedades específicas para determinados momentos da aula.
Como vai funcionar a metodologia que criou em parceria com a Faber-Castell no Brasil?
A ideia da metodologia explorar conhecimentos a partir do interesse das próprias crianças,e usando materiais escolares básicos. Uma das atividades é a criação de micromundos que possibilitem a exploração de ideias em disciplinas como português, redação ou geografia. Em um projeto chamado “Aventuras na Floresta Encantada”, por exemplo, os alunos criaram criaturas encantadas e depois desenvolveram seus habitats.
Fonte:
POR PATRÍCIA BASILIO
<“Aprendemos interagindo com o mundo real, não com o digital”, diz pesquisador do MIT – Época NEGÓCIOS | Carreira>