A PRÁTICA DO PENSAR
Cada um de nós é singular para o mundo no qual vivemos. Singular para o mundo, porque somos exclusivos. Está na singularidade a composição da pluralidade de ser. Não somos o mesmo que a instantes atrás, estamos em constante construção. Temos que dar o testemunho da excelência da singularidade que existe em cada um. Quando se dá o testemunho desta singularidade é porque reconhecemos a pluralidade que é construída nas relações. Aquela que começa nos pensamentos e que se torna consciência, presenciando a vida e a sua representação única, instantânea. É um testemunho de afeto junto a diversidade do ser.
Se é justamente o fato de tanto sermos que nos faz seres plurais, é porque estamos em um constante processo de transformação. Muitas vezes, não perceber as mudanças que sofremos, faz-nos ir perdendo o próprio discernimento de nossa intrínseca condição como ser plural, bem como a noção inerente do que estamos nos tornando. São todas as variáveis que compõe o ambiente no qual vivemos e da forma no qual nos relacionamos que traz para nossa consciência humana a construção subjetiva da própria vida.
Somente aquele que sabe viver consigo mesmo está apto a viver com os outros. (Sócrates)
Se somos plurais, na condição com ser, temos que atestar a singularidade dos outros que participam de nossa vida, com sua forma e condição exclusivamente única de observar a vida. Cada um possui sua própria história, sua trajetória individual e que também não serão repetidas e vivenciadas por outro. O que não quer dizer que as diferenças representem a desigualdade. Reconhecer as diferenças nos dá a certeza de que não há desigualdades. Cada um tem sua própria gama de valores, sua forma exclusiva de ser, sua importância representada nos vários modos de compor-se ao mundo.
Nesta condição humana que vamos nos refazendo continuamente, onde cada um de nós passa por experiências diferente e por experiências diferentes, tem registros históricos diferentes, opiniões diferentes, vivencias diferentes, mas mesmo assim estas experiências não podem ser tratadas como um determinismo, porque sempre poderemos fazer outras escolhas.
Questões especificas demandam respostas especificas, nunca teremos as mesmas respostas, os padrões gerais são insuficientes para demandar respostas diante ao mundo no qual vivemos e mesmo diante a infinitos argumentos cada um tem sua própria fórmula de observar e viver a vida. Não existem manuais que nos ensinam viver como também não nenhuma regra fixa. O que há é uma busca consensual com base no respeito das diversidades – mesmo que feito da maneira que esteja longe de um ideal – porque não há uma relação epistêmica social.
Ninguém pode ser mais detentor dos direitos do que outros, é verdade! Mas circunstâncias e os desejos, diante as experiências e ao interesse individual, por mais conscientes que sejamos, tendemos sempre a escolher aquilo que de alguma forma nos favorece, razões particulares. Manipulamos e somos manipulados. A transparência é uma virtude muito difícil de exercer. Logo, a vontade, os anseios mais presentes, devem estar atreladas também a nossa noção de responsabilidade. Temos que intensificar a nossa vontade, mas com reflexão. Enquanto exercício do pensar e enquanto ação.
Por isto, temos que ser estratégicos para melhor viver. Temos que pensar. As estratégias de preservação e reconhecimentos que nós buscamos em torno de direitos é uma tarefa do pensamento porque se não pensarmos prejudicamos os nossos próprios direitos, a nossa liberdade e a possibilidade de viver publicamente. Afinal, aprendemos desde cedo que um convívio só é possível quando são estabelecidos mecanismos que possam ser representativos ao bem maior comum – o que não quer dizer necessariamente em concordância com o outro, pois faz parte do processo da vida a discordância.
A presença de conflitos, torna-se um dos elementos chave para o crescimento daquilo que é a construção de uma realidade coletiva, é a completude para o pensar. O ato de pensar é o que converge toda e qualquer divergência em conhecimento. Desta forma, é evidente que a experiência compartilhada permita estabelecer mudanças para que se adequem a condição presente do que somos no agora na busca constante de algo melhor. Tudo é representação.
Se o que importa é condição presente do que somos no agora, então é necessário que o pensamento se torne ação. Se pensamos e não agimos então que sentido faz viver.
Não existe abuso mais abominável que pode tentar impor limitações ao pensamento de qualquer pessoa. ”
O reconhecimento das ações é a condição de existência, é ser protagonista e não coadjuvante da vida. Implica em perceber quais decisões foram tomadas para a concepção do próprio mundo e quais as variáveis que fazem de as escolhas as mais adequadas para a elaboração do próprio caminho a seguir. Independentemente de quantos de “nós” participam do desenvolvimento da nossa própria história, somos o único responsável pelas escolhas e ninguém pode tirar esta condição onipresente de sermos nós mesmos a razão das próprias escolhas.
Porque somos o que pensamos, o que nos tornam responsáveis por nossas próprias ações. Cada experiência vivida trás para vida uma condição a mais de pensar, mas sem ação de nada valeu o pensar. Enquanto pudermos agir, estaremos aptos a realizar o improvável e o imprevisível, e realizam-no, continuamente, quer saibam disto, quer não. A condição de agir são variáveis de nossa consciência humana.
Sim, existe o acaso. É verdade que na vida o acaso é condição para se viver. Nem tudo que traçamos acontece da forma que querermos e não temos total controle sobre nossas ações, entretanto, não ter controle daquilo que podemos controlar e não deixar as situações por inteiro nos levar também é uma escolha consciente. É uma questão do pensar. Não ter controle é diferente de não fazer nada, e muito divergente de nos afastar de nossas próprias responsabilidades como ser. Somente com esta transparência da vida é que necessariamente nos tornam hábeis a compreender e a valorizar a própria vida.
Fato é que saber dar valor é saber dar sentido para a própria vida. Em outras palavras, embora todos estejam condenados a morrer não quer dizer que nascemos para morrer, aliais, a morte é uma personificação metafórica. É a representação máxima do início e o fim dos diversos ciclos que constituímos com a vida. É a condição proposta pela vida que podemos sempre recomeçar. Morremos, nascemos e morremos…, e este ciclo perpetua por diversas vezes na vida!
Os desafios que enfrentamos, as ininterruptas transformações que sofremos, é o que nos dá a chance de podermos recomeçar a todos os instantes. Dar mais sentido à vida e as nossas escolhas e disto transformar pensamentos em ação é questão de decisão. Criar novos pensamentos, encontrar novas possibilidades, agir com mais destreza. A decisão de sempre se presentear com o recomeço é tudo questão de escolha. Todo recomeço é uma nova oportunidade. É a chance que temos de fazer melhor que fizemos, ser melhor do que já fomos e ter mais alegria para seguir em frente. Estar consciente de um novo começo é a chance de agir para a busca da excelência como ser! E a chance de ser feliz, mesmo que por um instante!
“Eu posso não concordar com uma palavra do que dizes, mas defenderei até a morte pelo direito de o dizeres. ” (François Voltaire)