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A IDEALIZAÇÃO PELO NOVO

Neste constante desafio de vida em um mundo imediatista cada vez mais líquido; em um mundo que nos impede de revelar as próprias fragilidades, tornou-se mais comum as pessoas descartarem a sua realidade e procurarem pelo novo em busca de respostas mais práticas e fáceis.

Buscas que levam a encontrar nelas um sentido que justificará a própria razão de quem nos tornamos, dando ouvido e a devida atenção para aquelas que mais convém e deixando de ouvir o que seria necessário.

Não faltam respostas seja para o que for e conforme procurar, sempre encontraremos uma que se enquadra àquilo que dará sentido as nossas escolhas retirando de si a própria responsabilidade não tendo nada além. Na realidade, o que mais se encontra seja nas livrarias ou nas redes sociais, são opções para ajudar-nos a aceitar as nossas imperfeições, porque somos e o que devemos fazer. Ao que parece, a proposta é realmente distanciarmos da realidade passíveis de identificarmos em nós tudo aquilo que precisaria de fato tomar consciência para nos tornar pessoas melhores.

Tudo se tornou meio para nos justificar. Da ciência a pseudociência, o que se vê são artifícios usados de argumentos justificadores.

 Há um repertório ilimitado e se for procurar ficará boquiaberto com tamanho da criativo das pessoas que se preparam para iludir os desavisados. Não que não haja algumas práticas que possam auxiliar no bem-estar, mas com certeza nenhuma delas está apta a dizer algo de verdade sobre nós e o que devemos fazer e que de fato faça pela razão para uma vida ter sentido e ser vivido em sua plenitude. 

O mal desta jornada é que estamos nos afastando da autoconscientização de nós mesmo, dos limites das nossas competências, da mesma forma que distancia da realidade de tudo aquilo poderia nos tornar pessoas melhores. Talvez porque não há milagres que faça sermos outra pessoa a não ser nós mesmos.

Esta busca interior não se dá de uma hora para outra nem talvez seja possível encontrá-la na sua íntegra, vivendo uma única vida. É muito provável que alguns de nós viva 100 anos, e mesmo com esta idade, poucos saberão de si mesmo, poucos entenderão o percurso da vida e quais os motivos que fizeram cada um seguir pelos caminhos escolhidos. O que não falta neste mundo são pessoas desesperançadas que terminam a vida desiludidas pelas próprias escolhas.

Somos muito mais complexos do que isto, somos seres singulares, únicos e exclusivos, tão particular que não conseguimos repetir quem somos um segundo depois no tempo. A cada instante, estamos nos reconstruindo em um processo pleno e ininterrupto de transformação. Não há uma célula em nosso corpo que não esteja agora se modificando, da mesma são nossos pensamentos, nossas emoções e sentimentos tão como a realidade da nossa própria história. Estamos em plena relação com um mundo que não para de mudar. Junto com ele somos sistemicamente partes desta infinita transição. Sempre estamos em um processo aonde o que importa é somente um único instante que é este que se faz presente.

Diante tanta complexidade, como podemos deixar nossas vidas seguir por tudo aquilo que não seja pertencente a nós mesmos, como podemos deixar na mão de outro o conselho ou opinião de como devemos vive-la. Qual sentido teríamos para existir se já houvesse respostas ou se fosse possível a vida se regida pela transcendência para nos guiar a plenitude de nossos próprios ideais.

Esta idealização de vida por atacado, cada vez mais banal e superficial tem tornado as pessoas mais tristes, impedidas de expor seus próprios sentimentos, não porque a vida está mais difícil, mas talvez porque esteja faltando reconhecermos de fato quem somos e o que realmente queremos para encontrar aquilo intrínseco que faça sentido viver.

Hoje a regra se inverteu, o que se busca são respostas e não perguntas e esta regra serve também para as relações.

Em tudo se busca praticidade inclusive nas relações. Pessoas trocando pessoas como se trocasse uma roupa, um carro ou mesmo algo que não se tem mais valor, como se o ser humano fossem objetos. Não há mais paciência, diálogo, troca de ideias, compaixão e empatia. Não há mais espaço para as diferenças, para a amizade sincera e nem para uma relação que se faz pelo amor, respeito, reciprocidade e admiração.

Fica difícil entender hoje quais são os valores das pessoas. Tornou-se comum ver publicamente pessoas atacando pessoas, pessoas querendo humilhar pessoas, pessoas debochando de pessoas, expondo o próprio relacionamento e intimidade como se tudo isto fosse um troféu, como se não existisse o outro. Como se toda a razão da vida estivesse frente a uma mera tentativa de prazeres e interesse individuais.

Colegas falando mal de colegas, parceiros falando mal de parceiros. Críticas, julgamentos, verdades, são imperativos presentes em uma disputa incompreensível se considerarmos que a maior razão da vida são as relações humanas.

A vida regida pelas respostas prontas, pela condição onipresente de temos que ser fortes, perfeitos, individualistas, amantes de si mesmo, passou a ser regra imperativa e em resposta disto os afetos tão como nossas inclinações afetivas passaram para segundo plano, reprimidas e julgadas, como se as relações humanas, o carinho e o amor pudessem expor nossas próprias fragilidades no sentido de dependência daqueles que alegremente desejamos. Entretanto, se o desejo for de conquistas, seja de lucro, bens, sucesso tão como pela exposição “teatral” que muitos se submetem, com certeza não há barreiras para a exposição, pois assim o mundo irá nos aplaudir.

Talvez realmente estejamos nos esquecendo que o que determina uma vida boa não se confere na liberdade de seu próprio desenvolvimento referencial, construindo valores pelas próprias experiências com presunções deterministas singulares restringentes ao próprio mundo.

“[…] não vale a pena sermos escravos para que de alguma forma tenhamos a sensação de que não somos culpados por nossas escolhas, perdendo a perspectiva única de escolhermos nossos próprios caminhos. A angústia nos acompanhará sempre. Por isso, mesmo diante a tantos atalhos que tomamos no dia a dia, fortaleça e permita a dignidade de ser livre. Responsável pelas próprias condutas e na responsabilidade da convivência em uma sociedade em que vive. Identificando os princípios de convivência que seja bom para todos nós. ”

(Clóvis Barros Filho)

A vida boa talvez esteja em encontrar as perguntas certas de acordo com os nossos valores e que se faz de bom senso quando buscamos dentro de nós mesmos daquilo que faz sentido a tudo aquilo que esteja conectado com nosso próprio “eu”. É algo realmente identitário o que não quer dizer que deva ser individualizado.

Eudaimonia, como dizia os gregos. Usufruir dos daimones – poderes divinos – é condição essencial para que alguém encontre mais sentido para seguir com a própria vida. Divinos aqui, não como condição de transcendência, mas de encontrar em si o seu melhor.

É o valor dos valores, a referência única proposta pela razão de viver. A vida da melhor forma que se possa viver. Neste sentido se dá a intenção de prevalecer o melhor argumento, praticar o respeito ao outro assim como pratica a si mesmo tão como a noção da realidade em um mundo coletivamente plural.

A permissão necessária da autoconscientização se materializa no instante que se vale pena viver, ela deveria representar a única razão de cada ser, já que é o início de perceber o mundo pelos próprios olhos e tudo que há nele, seja das práticas alegradoras como também os desafios, as dores os erros e próprio sofrimento, mas não só isto, também buscar entender que o outro não é igual a nós, já que cada um traz por si a própria história de vida e um entendimento que tudo isto se resumo em experiência, fundamento de toda e qualquer razão das nossas próprias escolhas.

Na experiência está a resposta única do porque cada ser existe.  Nele é que se vai encontrar a razão do viver o agora, neste momento, frente a tudo aquilo que lhe pertence.

Por este motivo, talvez realmente na vida imediatista, de praticidade de tudo e com todos, seja mais fácil trocar, buscar o novo continuamente e deixar para traz tudo aquilo que não deu certo. Desistir em vez de lutar. Afinal, o sentido ilusório das coisas talvez esteja para a resposta mais fácil não nas frustações, nos erros e nas imperfeições e sim de sonhar o sonho alheio que mais lhe convém. Talvez também isto explique está busca alucinada por uma vida feliz.

Dificilmente a felicidade esteja na opinião dos outros, do que os outros querem quem você seja ou mesmo nos interesses individuais.  Não vai encontrar ela na superficialidade, nas respostas prontas e nem no caminho mais fácil. Provavelmente ela também não estará no outro.

A felicidade é um atributo da vida, está somente presente aonde a vida está, no presente, dentro de cada um, no reino que habita a nós mesmos, corpo e alma, na vida que vale por ser vivida, não no passado e nem em futuro, mas aqui e agora conhecendo primeiro a si mesmo para que possa dar oportunidade para reconhecer o outro, aberto as diferenças, quando se fizer presente.

Ela está presente no motivo do porquê existimos, o que gostamos, o que nos alegra viver, suas características únicas do que faz sermos o que somos, singular, trabalhando por si mesmo para propor a cada relação um conjunto ético sem julgamento.

É verdade que continuamente nos deparamos às escolhas e ela sempre será o que nos representará para o mundo, mas como saber qual a melhor escolha, qual o melhor caminho a perseguir se estamos cegando a nossa própria essência. Se fizer sentido esta indagação talvez então perceberá que não há resposta para isto, o que há é o dia a dia, a cada encontro com o mundo em que sempre traz algo a mais para nos completar de novas experiências para o instante seguinte e é justamente isto que nos auxiliará a encontrar um melhor caminho para plenitude de sermos cada vez melhores como pessoas.

Toda escolha parte de uma experiência anterior e assim sucessivamente vamos construindo laços que indicarão para onde devemos ir, por isto mesmo, quando permitimos viver plenamente os instantes da vida, sem se esconder da própria realidade, eu como você estaremos sempre observando a vida a partir de uma condição presente no qual permitirá perceber que cada instante seguinte também é virginal, único e exclusivo e é neste momento que podemos fazer novas escolhas ou continuar seguindo pelos caminhos fáceis, comuns ou já conhecidos, estagnando a chance de fazer diferente.

O sentido da vida talvez só se encontra no propósito dado a ela, reconhecível somente nas perguntas que ainda não foram feitas, nas resoluções de questões ainda não resolvidas, na coragem de enfrentar a si mesmo diante da realidade de quem verdadeiramente somos frente a um mundo real que não sai da nossa frente. Assim, cada caminho percorrido, cada decisão tomada, cada instante vivido valerá por ele mesmo e são com eles que traremos a razão através das experiências para sempre podermos ser uma pessoa melhor.

Para vida ter propósito é preciso acima de tudo que sejamos sinceros em procurarmos em nós o próprio sentido para se viver, quem sabe assim não possamos desfrutar quando pudermos verdadeiramente estar feliz.

Sem se apegar as verdades alheias devemos achar este propósito em nós mesmos, na repetição, na inovação, em ser comum, no óbvio, na felicidade fazendo a felicidade das outras pessoas. Da mesma forma que não precisamos desistir de sonhos, de amizades e nem das relações todas às vezes que tiver que enfrentar obstáculos ou que faça nos deparar com a nossa própria realidade.

Precisamos reaprender a lutar, batalhar, refletir, pensar, encontrar dentro de si energia suficiente para superar a nós mesmos. Viver implica em afeto. Relacionarmos continuamente com o mundo que nos afeta e que está plenamente nos transformando naquilo que escolhemos ser mais essencial.

Reaprender a fazer quantas perguntas necessárias em vez de procurar respostas, para buscar o melhor motivo para que as coisas sejam autênticas. E, se isto não acontecer da forma que deseja procure então entender ver além dos olhos e do coração em vez de simplesmente desistir, atacar ou reagir.

Quantas pessoas se arrependem de não ter tido coragem de lutar ou que passaram a acreditar nas palavras do outro e desistiram, mesmo havendo ainda vontade e razão para seguir em frente, perdendo a chance de viver.

Antes de buscar o novo, insista mais uma vez, não para fazer tudo da mesma forma, mas para fazer de maneira cada vez mais consciente. Desistindo somente quando tiver certeza que deve desistir por não ver mais como ir além. Assim, não restará dúvidas e saberá que fez seu melhor e com isto aprendeu o que não fazer mais.

A recompensa de toda luta é que nela está a oportunidade de redescobrir novos encontros alegres que passaram despercebidos quando optamos pelas respostas banais, pelos caminhos curtos e sem sentido. Seja pelo que for, sempre que nos dedicarmos a algo, tudo ganha nova relevância para a vida através das oportunidades aprendidas pela dedicação.

Agora, quem sabe, se tivéssemos em uma rotina de fazer somente o possível, no cotidiano, na futilidade, nas regras e propostas facilitadoras da vida e na fuga de si mesmo, não teríamos nos permitido ir além, e não saberíamos encontrar dentro de nós a melhor maneira de conviver com nós mesmos, perdendo a oportunidade de nos tornar unicamente capaz de dar valor a tudo que nos faz ser melhores, e esta talvez seja a maneira menos legítima de escolher tudo aquilo que nos aproximará do verdadeiro sentido em ser feliz.

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