VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA: ELA PODE ESTAR DENTRO DA SUA CASA
Existem diversos fatores que levam as relações pessoais a fazer mal, mas poucos são aqueles que realmente se estende à nocividade de tão alto grau quanto uma relação em que a violência psicológica se faz presente. Feridas que sangram, mas são invisíveis, expressões que mesmo em tom sutil golpeiam e machuca a alma, fere a autoestima e a autoconfiança, lacera a dignidade, ocasiona a apatia e gera o medo e a desconfiança e, por fim, interfere diretamente na essência do próprio “Eu”.
A violência psicológica é um tipo de tema que poucas pessoas normalmente buscam compreender e menos ainda, quando envolvidos, procuram ajuda sem saber o quanto mal faz para a saúde da mente e do corpo, podendo gerar sequelas por toda a vida. Relações assim são supridas pelo desgaste emocional e sentimental com intensidade, expondo a conviver com alguém que só pensam em si mesmo e deixando um rastro de estragos pelo caminho.
Estando presente em números de lares muito acima do que se pode imaginar, a violência psicológica tem sido cada vez mais tratada em diversas relações como algo normal. Difícil de ser reconhecido e provado, os males causados as vítimas em muitos casos são até mais violentos do que um ataque físico, já que além da pessoa dificilmente encontrar recursos internos para se defender ou procurar ajuda – diferente do que acontece na violência física – a violência psicológica vai agir justamente na psique da pessoa, deixando memórias muito difíceis de serem reparados.
Nem todo mundo acorda todo dia de bom humor, tão como mesmo a pessoa mais feliz do mundo tem problemas e dificuldades de autocontrole emocional ao menos alguns dias do ano. Não deixa de ser normal às vezes se estressar, ficar irritado, ter raiva, falar coisas indevidas, extrapolar as emoções ou mesmo se revoltar. Entretanto, quando falamos de violência psicológica, na realidade se está tratando de um agressor que machuca drasticamente a mente do outro.
Apesar de normalmente serem narcisistas e egocêntrico, a violência psicológica é ocasionada por alguém que consegue se colocar sempre como o centro, mas disfarçando muito bem, agindo de forma sutil para nunca ser desmascarado. Nessa sutileza a violência se manifesta de maneira aparentemente tola, tênue e em intervalos constantes. Seu início se dá como se fosse visíveis crises bobas de ciúmes.
No começo tudo parece normal, vai se aceitando as pequenas humilhações, certos desprezos, brincadeiras sem graças com indiretas, violações da intimidade (explícita ou não), e quando se percebe a vítima começa a pedir permissão (e não a opinião) para tomar decisões.
Com o tempo o abusador começa a jogar quase sempre fazendo ameaças de dar fim ao relacionamento, para que, com isso, construa um ambiente de insegurança que vai gerando uma dependência emocional da vítima, que cada vez mais sofre pela perda gradual do seu autocontrole e da sua própria autoestima, resultado das flutuações emocionais e de irritabilidade que o abusador ocasiona, e tudo isso sustentado pela crença por parte da vítima de que há uma relação de paixão e amor que a própria situação intensifica com a ilusão de que a pessoa ama demais e por isso age assim. Nesse sentido, a vítima começa a alucinar achando que para durar a relação é necessário aceitar também o defeito desse agressor. Sem se dar conta que para um abusador psicológico não há efetivamente uma conexão emocional e sim interesse. Em outras palavras, ele não ama (no sentido real do amor) a outra pessoa, ele ama o poder que tem sobre ela.
Dentro desse ambiente gradual de agressões psíquicas a vítima tende a ir colocando, com o tempo, em dúvida seus próprios valores. Com isso, a sensação de desvalorização traz junto a culpa, como se perdesse a condição de realidade, se sentindo vítima de si mesmo. Nesse sentido a desvalorização vai tomando conta dos pensamentos e do sentimento que impactará diretamente no comportamento. A sensação de culpa passa a ser cada vez mais presente como uma chaga de incompetência e incompreensão e o medo de ficar sozinho e ser desprezado, passa a fazer parte dos pensamentos.
A violência psicológica dentro de casa é um dos mais frequentes males e que vem se destacando pelo seu aumento junto com a pandemia, levando cada vez mais suas vítimas a doenças psicológicas graves que podem ser irreversíveis. Por isso, é preciso saber identifica-la quando acontece, o que não é algo fácil.
Como muitos que já sofreram a violência psicológica dentro de casa e que conseguiram supera-la após um doloroso processo de autoconhecimento que levou a um divórcio ou separação, trouxe com o trauma um aprendizado do quanto existe de dificuldade cairmos na realidade de maneira consciente para identificar na pessoa que está ao nosso lado o quanto ela é ou não violenta.
Não são perfis fáceis de se reconhecer. São muito habilidosos com as palavras e comportamento. Esse tipo de abusador se coloca sempre como vítima, tem como discurso falar das violências por que já passou, de como foi tratada mal, que tem um trauma familiar, ou porque o (a) ex não lhe permitia fazer o que queria. Que nunca foi amada, que sofreu bulling, abusos, etc. Por serem especialistas com a mentira e a manipulação, sabem muito bem se comportar e agir quando tem segundas intenções. Esse perfil de pessoa tem a habilidade de criar jogos e movimentos emocionais e sentimentais capazes de tornar suas vítimas emocionalmente cegas. Como nunca admitem culpa, nunca é o responsável: ele é sempre uma vítima, e como subterfúgio insiste em provar que está tentando fazer o melhor, o que faz sua vítima ficar sem ação. Sem saber ao certo quais ações tomar diante a certas condições, a vítima leva a acreditar nas ilusões, menosprezando a si mesmo.
A boa notícia é que como experiência própria e a partir de estudos comportamentais e o acompanhamento de um especialista (de verdade) é possível identificar pontos que podem auxiliar a reconhecer se hoje está vivenciando uma relação aonde se é vítima da violência psicológica.
De princípio é preciso deixar claro que, como já dito, a pessoa que comete a violência psicológica usa a manipulação (quem manipula detém o poder da situação e quem é manipulado fica submisso) e a mentira como um dos seus principais artifícios tão como sempre está na contínua condição de gerar insegurança de continuar ou não a relação. A partir daí ela normalmente vai buscar fazer a sua vítima acuar com suas ameaças e depreciações psicológicas que se faz presente de diversas maneiras, como: desacreditando a opinião e as vontades, menosprezando os gostos, os desejos e sonhos, apequenando as aptidões e talentos, não mede esforços de menosprezar as capacidades pessoais e profissionais, não há, da sua parte, qualquer motivação para algo ou reconhecimento de algum feito, além de levar a sua vítima a tentar esconder coisas por medo de represaria ou mesmo reações depreciativa – nesse sentido é muito comum a vítima passar a temer contradizê-lo, e assim as opiniões passam para o seu controle e é ele que toma as decisões no seu lugar. Vai se instalando introspectivamente a tristeza, medo e desanimo como a opressão.
O abusador psicológico sente satisfação quando detém o poder, por isso tem uma grande tendência a privação e é obstinado em querer a atenção. Sempre vai encontrar mecanismos para ser parte principal de toda ou qualquer situação. Além disso sempre quer ser dono da verdade e fazer o papel da pessoa super centrada e equilibrada, madura e adulta, sabendo o que é bom ou não para o outro, como se quisesse fazer papel de pais.
Mas, não acaba por aí, tem a mania de querer organizar a agenda da vítima sem lhe consultar; contrariado ou quando quer algo que a vítima não quer torna-se explosivo, fazendo questão de procurar uma discussão para que se sinta livre em fazer aquilo que quer, desprezando a vítima. Adora consultar redes sociais da vítima, bisbilhotar celulares e ouvir conversas.
Sempre tentando criar um ambiente de tensão, faz com que suas vítimas pensem muito antes de falar, forçando a escolher as palavras certas para não ser atacado. Além do hábito do abusador de julgar o que outro faz, dizer ou vestir, tende sempre a culpar o outro pelo seu próprio estado de ânimo, pelas emoções que sente e a falta de força de vontade de ir além. Gerando na vítima confusão e desconcerto, frustração e ódio de si mesmo.
Esse perfil é especialista em fazer sua vítima se afastar pouco a pouco das relações que são só suas, seja amigos, família, clientes e sócios. No meu caso, por exemplo, ela criou desarmonia com a minha família, com amigos, sócios e ainda me fez se afastar da sua própria família, fazendo acreditar em histórias ofensivas e negativistas.
Em resumo o objetivo de um abusador psicológico é definitivamente fazer a vítima deixar de ser quem realmente é para se tornar uma espécie de fantasma que tenta se encaixar num suposto modelo feito sob medida para os desejos do abusador. Então, pode-se então dizer que em resumo é um terrorismo relacional.
É fato que a maioria das pessoas que sofrem violência psicológica são mulheres, mas há também um número expressivo de homens e hoje se sentem mais a vontade de relatar o contexto das suas relações abusivas quando casal. Através dos sensos sobre a violência doméstica desde 2005, demostra que a violência dentro de casa tem como principal autor o cônjuge.
Como consequência de uma relação violenta psicológica leva o outro ao estresse emocional, a ansiedade excessiva, problemas digestivos, perda de sono, má alimentação, cansaço crônico, angustia, apatia, depressão, obesidade, consumo de fármacos, abuso de álcool, tabaco, etc.
Os limites para caracterizar este tipo de violência são muito imprecisos e subjetivos, por isso, dificilmente se consegue chegar a uma conclusão de quem está ou não mais propício a ser vítima ou estar mais vulnerável em conviver com esse tipo de perfil de abusador. Isso porque em todo começo de relação essas pessoas são totalmente diferentes do que irão se apresentar com o tempo nas relações. O que há é um perfil das vítimas que sofrem psicologicamente, já que essa forma de violência vai configurando mudanças na personalidade de quem a sofre, tais como insegurança e baixa ou nula autoestima, percepção de impotência para lidar com seu mundo seja pessoal ou profissional, sensação de culpabilidade e fracasso na vida torna-se permanente.
Essa perca identitária leva a sentimentos ambivalentes e a tendência da vítima é querer minimizar a gravidade da violência, ou mesmo justificá-los distorcendo a visão de realidade do agressor, sem ter consciência de que foi vítima de abusos psicológicos. Isto é mais frequente do que se acredita: há grandes doses de violência normalizada nas relações, e especialmente nas de casal onde a vítima releva as ocorrências porque acredita que é passageiro, uma fase, que a outra pessoa está passando por um momento difícil na vida (muitas vezes acreditando nas próprias mentiras que o abusador justifica), que ele tem problemas como todo mundo, de que há nele mais qualidades do que defeito, enfim, depois de um tempo, justificativas aparecem para sustentar a cegueira emocional.
Aquele que é o autor da violência psicológica traz junto a seu perfil sua sombra. Em outras palavras, os seus posicionamentos é justamente o inverso do seu “eu real”. O ato de praticar a violência psicológica é justamente para se opor a tudo aquilo que ele singularmente entende como vulnerável, por isso trata-se de um paradoxo existencial já que possivelmente é alguém inseguro, dependente, de pouca ou nenhuma empatia, narcísico, impulsivo e comumente irresponsável. Normalmente são covardes que quando são expostos ou colocados em situação de confronto tendem a fugir, desaparecer. Não são capazes de construir um diálogo a dois de maneira madura e responsável. Não consegue ouvir outro e antes de qualquer conversa já tem sua opinião formada. Sempre que se sentem acuados preferem se afastar e fazem isso tranquilamente, sem qualquer remorso. Por isso não adianta discutir, porque esse perfil de pessoa cresce em cima de possibilidades argumentativas. Não dá para considerar a conversa, porque ainda se corre o risco de entrar no jogo da dentro das suas mentiras e manipulação.
Não conseguem assumir sua própria identidade (eu real). Esse perfil quase sempre é resultado normalmente de uma família desestruturada, ou de uma infância abusiva, fomentada por maus tratos, de excessos, de uso e abuso do álcool ou outras drogas. Enfim, esse desequilíbrio familiar favorecem a predominação padrões comportamentais que se destacam na adolescência e predomina-se principalmente quando adulto. Entretanto, é importante ressaltar que essas problemáticas dadas quando criança é uma parte que explicam apenas parcialmente um padrão de comportamento tóxico e abusivo, afinal, todos nós também estamos aptos a liberdade de escolher como queremos ser e que tipo de relações queremos construir. Então, nem tudo se justifica como resultado de uma infância infeliz, e sim daquilo que desejamos como resultado para nossa vida. Seja qual for as circunstâncias, realmente podem influenciar, mas não determinar, logo nada justifica ser uma pessoa que pratica a violência psicológica contra outros, ainda que eles mesmos, que em algum momento, também tenham sido vítimas.
A verdade é que a violência psicológica é de extrema preocupação para saúde física e mental de todos. Por isso, é preciso entender seja qual for o tempo e modelo da relação conjugal, o amor não é única condição a ser considerada para se construir algo efetivamente saudável a dois.
Seja pela herança cultural das relações duradouras ou pela crença de que ter alguém do nosso é algo essencial para uma vida feliz, sempre nos fizeram acreditar que o amor é o alicerce principal de toda e qualquer relação e com o amor o caminho a dois é rosa. Talvez por isso ainda é comum ver em muitos lares pessoas se submeterem as relações toxicas e abusivas, suportando malefícios e a violência psicológica em nome do amor; e em nome desse suposto amor (que não o é) um vai degradando o outro, vai anulando, a tal ponto em que chega um dia em que esse outro já não sabe nem quem é, nem em que sua vida se transformou.
Respire fundo e uma vez reconhecido a violência psicológica o melhor a fazer é indiscutivelmente se afastar e se preciso procurar ajuda de bom especialista (especialista de verdade), tanto quanto antes possível. Se não é possível o afastamento então coloque barreiras rígidas e evite a aproximação. É preciso aprender a dizer não e diga sempre que preciso, NÃO. Lembre-se, esse perfil trabalha invalidando outras pessoas, então não se permita ser de alguma forma, invalidado.
Acredite, não queira perder tempo tentando reconstruir algo junto a alguém que não vale a pena. Lembre-se também que um bom especialista é capaz de lhe ajudar a atravessar essa armadilha que foi vítima através de um processo terapêutico que pode auxiliar a reconhecer os seus pontos vulneráveis, fortalecendo sua autoestima e reconstruindo seus pensamentos e comportamentos de maneira a qual lhe ensinará a se defender e posicionar quando preciso de maneira mais assertiva diante a pessoas com o perfil quando diante a uma violência psicológica — e, assim, não deixando que alguém interfira na sua alteridade, e muito menos em seus valores e suas virtudes, tão como que jamais sejam colocados novamente em dúvida a sua própria essência de SER.
Sobre o Autor:
Marcello de Souza, fundador da Coaching & Você, é apaixonado por assuntos referentes a gestão, liderança e fascinado pelo cotidiano e pelas mais diversas formas do desenvolvimento da inteligência comportamental humana. Estudioso, escritor, pesquisador e admirador da psicologia social, vive em busca constante do crescimento intelectual e comportamental humano.
Tem mais de 21 anos de experiência em empresas nacionais e multinacionais, atuando como agente, facilitador palestrante e consultor internacional. Tem vasto conhecimento em gestão e consultoria de equipes multidisciplinares, liderança e gestão de projetos de alto impacto, relacionamento e negócios. Coordenou times e clientes, atuando na implementação de novas ideias, simplificação de processos e identificação de áreas frágeis, bem como na antecipação de cenários com ações inovadoras de alto impacto além de desenvolver a excelência nas pessoas.
Seu trabalho seja como Coach, Mentor, Terapeuta, Palestrante e Treinador, seja em campo ou em seu consultório, utiliza dos mais alto níveis de conhecimento que envolve desde neurociências, psicologia social e comportamental como também ferramentas especializadas para análise a avaliação comportamentais, técnicas como Coaching, PNL, Hipnose, Constelação Sistêmica Organizacional e Familiar, Psicologia Transpessoal, Logoterapia, entre tantos outros fundamentos que foram alcançados em mais de 21 anos de experiência e pela busca contínua do conhecimento.
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