RUÍDOS SOCIAIS – A ENTROPIA E A SUA IMPORTÂNCIA NA COMUNICAÇÃO
Quantos livros, quantos filmes, quantos anúncios que já lemos no qual a tradução foi tão equivocada que nos fez entender coisas que definitivamente não era o que o autor queria transmitir. E aquele colega estrangeiro que falou um monte e você quase não entendeu nada!!! Isso acontece muito, todos os dias e em todos os lugares. Seja em casa, no trabalho, no cinema, na rua, enfim….
Quando a Google atualizou sua plataforma Google Translate, que transforma o aplicativo em um intérprete em tempo real, muitos acreditavam que isso era a peça que faltava para nos trazer “a um mundo sem a barreira da língua”. Mas não é bem assim. Erros de traduções sem conhecer a cultura do país já levou a sérios desentendimentos, não só literários, mas geraram sérios conflitos diplomáticos. Veja alguns exemplos publicados pela BBC Culture:
Vida em Marte
Em 1877, quando astrônomo italiano Giovanni Virginio Schiaparelli começou a mapear Marte, ele inadvertidamente lançou um filão inteiro da ficção científica. Então diretor do Observatório de Brera, em Milão, ele chamou as áreas escuras e claras na superfície do planeta de “mares” e “continentes”, e batizou estreitos com a palavra italiana “canali”. Seus colegas traduziram a informação como “canais”, lançando a ideia de que o planeta teria uma rede de passagens aquáticas construídas por alguma forma de vida inteligente.
Piada de polonês
O ex-presidente americano Jimmy Carter sabia como atrair a atenção de uma plateia. Em um discurso dado durante uma visita à Polônia, em 1977, durante seu mandato, ele ganhou mais atenção do que queria ao parecer ter afirmado: “Eu desejo os poloneses carnalmente”.
Ao menos foi isso o que seu intérprete disse. Na realidade, Carter tinha declarado que queria saber mais sobre os desejos dos poloneses para o futuro.
O intérprete acabou entrando para a História, não apenas por este erro como também por traduzir “Deixei os Estados Unidos esta manhã” por “Deixei os Estados Unidos para nunca mais voltar”.
Segundo a revista Time, até o inocente comentário de Carter de que estava contente em visitar a Polônia saiu como um inusitado: “Estou contente por agarrar as partes privadas da Polônia”.
Guerra Fria no limite
Em 1956, uma declaração do premiê soviético Nikita Khrushchev a embaixadores ocidentais em Moscou foi traduzida como “Vamos enterrar vocês”. A frase foi estampada em jornais e revistas em todo o mundo, atrapalhando em muito as relações já arranhadas entre a União Soviética e os países do Ocidente.Quando colocadas em contexto, as palavras de Khrushchev tinham um sentido mais parecido com isto: “Queiram ou não queiram, a História está do nosso lado. Vamos engolir vocês”. O que ele queria dizer era que o Comunismo iria sobreviver ao Capitalismo, que se autodestruiria, em referência a um trecho do Manifesto Comunista de Karl Marx.
Todas as relações estão vinculadas com a comunicação e são diretamente interligadas a cultura de uma sociedade. As interações, as influências e as mediações culturais são alicerce dos fundamentos mais relevantes na interpretação dos pensamentos entre o passado e o presente de uma sociedade. Todas elas envolvem escolhas complexas, cognitivas, tendo a ver com a capacidade de desenvolver ideias e pensamentos.
VOCÊ SABE O QUE É A ENTROPIA NA COMUNICAÇÃO?
Com isto em mente, temos que entender antes de tudo que a comunicação é intrínseca a cultura, e direciona-se ao conjunto de conhecimento que cada um tem dentro de si para melhor compreender e discernir aquilo que está sendo tratado, em uma abordagem especifica através da linguagem. Instituída a partir de uma dimensão de mediação que profere, ao mesmo tempo, como formação dos sentidos e como desenvolvimento da forma. Permitindo aos processos culturais funcionarem como espaços nos quais são transmitidas as diversas formas da experiência humana. O aprimoramento na comunicação está diretamente relacionado as necessidades da formação cultural, sendo então um processo cíclico, que se inter-relacionam. Em outras palavras, a aproximação entre a percepção do conhecimento da comunicação e da cultura, ao fundo pertencem as histórias e as técnicas por ela desenvolvidas. Se a cultura é a conjuntura de uma sociedade, só pode existir uma cultura manifestada, transmitida e vivida por aqueles que participam dela, através das relações representada pela linguagem, na comunicação. A cultura só existe como condição social a partir das manifestações como expressão das experiências individuais na qual se combinam o psiquismo ao cooperativismo, de acordo com os comportamentos, os valores e as normas. Pertencendo exclusivamente a seus participantes, sendo inigualáveis a outras. Logo, reforçando aqui a ideia que o modo no qual se comunicam também é uma forma de manifestação da cultura e vice-versa.
Podemos então compreender que existem basicamente três vertentes relacionais que solidificam a importância da relação deste binômio, comunicação e a cultura, na composição de toda e qualquer sociedade. Em primeiro lugar, a comunicação não tem por si exclusivamente a função de transmitir informações. Sua importância está muito além, pois referencia-se diretamente as relações psicossociais que mantemos com o mundo vivo, organizado e pronto, presente no simbolismo, na arte, e em todas as maneiras que expressamos em nossas relações culturais. Em segundo lugar, a comunicação está presente em todo o processo evolutivo do ser humano, é fator único que diferencia o ser humano de outras espécies vivas, sendo a base da construção organizada de uma sociedade. Diretamente relacionado aos vínculos sociais, através das ideias, ideologias, crenças, aspirações, entre outros substantivos cruciais ao bem comum, em um processo vivo que se constrói, se mantém e se transforma. E por fim, estabelecer relações com outras sociedades, outras culturas, permitindo a existência da troca nas relações, da aptidão, da inteligência, promovendo o enobrecimento do conhecimento e das experiências.
“É bem provável que sem a comunicação não haveria cultura e sem cultura não haveria comunicação, e então estaríamos fadados ao esquecimento. “ Marcello de Souza, Coaching & Você
Está no vínculo característico entre a comunicação e a cultura de cada sociedade a concepção da barreira sociocultural. Como dito antes, a cultura é algo exclusivo de cada povo, não sendo possível compará-la e nem copiar, ela pertence a sua origem. Sua exclusividade interfere na formatação de como se comunicar através da linguagem, seja pelos símbolos, pela interpretação do sentido de cada palavra, pelos gestos, tom de voz, etc. Por isso, todas comunicações entre culturas diferentes são factíveis para nos equivocar na sua interpretação, nos impedindo de compreender com exatidão a mensagem. E é justamente esta incapacidade de interpretarmos com exatidão na comunicação entre culturas diferentes e que se dá o nome de Entropia.
A Entropia é uma palavra que se originou na Física dentro do conceito da Termodinâmica. Sendo uma grandeza termodinâmica que mensura o grau de irreversibilidade de um sistema, encontrando-se geralmente associada ao que se denomina por “desordem” dentro de um sistema termodinâmico ou ainda, de forma mais resumida, basicamente significa perda de energia entre sistemas. Esta palavra foi com o tempo, transferida para troca de informações. Neste caso a Entropia é definida como sendo uma forma de medir o grau médio de incerteza a respeito de fontes de informação, o que consequentemente permite a quantificação da informação presente que flui no sistema. Em termos simples, o conceito de entropia se associa à ideia de que, quanto mais incerto é o resultado de um experimento aleatório, maior é a informação que se obtém ao observar a sua ocorrência. Logo, o conceito da entropia de informação foi aplicado nas mais diversas áreas de conhecimento, chegando a comunicação. Dentro da comunicação, a palavra Entropia está relacionada justamente a capacidade de interpretação das palavras entre culturas diferentes, ou seja, basicamente, jamais o significado de uma palavra representará na essência o mesmo significado dela em outra língua.
Hoje é fato que todas as línguas são passiveis de tradução, mas quando traduzimos não estamos exatamente trazendo o sentido correto da palavra, já que toda a palavra tem seu sentido com base na cultura de sua origem e sua interpretação com exatidão só é possível ser feita se houver domínio desta cultura. Pode existir a comunicação entre duas sociedades, mas não há como interpretar com excelência, integralmente, aquilo que se quer transmitir sem conhecer profundamente a cultura. Por isto, quando maior seu conhecimento pelo comportamento e cultura do outro, menor será a Entropia na comunicação.
A própria comunicação dentro de uma mesma língua, ou uma mesma sociedade, pode sofrer Entropia regionais diante as diversidades culturais.
Todas as linguagens são compostas por um conjunto de informações que são parte dos fundamentos socioculturais, como: palavras, maneirismos, gírias, conceitos, atitudes, gestos, expressões, forma de olhar, pensar e observar a vida e o mundo. Para tanto, em um processo de comunicação, podemos dizer então que existem a cultura da informação, aquela que se baseia friamente na tradução das palavras, e existe a cultura em geral que é a interpretação da linguagem como um todo, seja verbal e não verbal, baseada na cultura de cada sociedade. Lembrando sempre que, na busca da excelência, a linguagem é viva, se transforma no tempo e no espaço e exige de cada de nós a sensibilidade, intuição e busca da interação e conhecimento constante das transformações sociais.
Quanto maior nosso conhecimento sobre a cultura do ambiente no qual estamos e no qual nos relacionando, menor será a Entropia.
Aprender a diversidade cultural, projeta a maior capacidade de agir de forma mais próxima e coerente com aquele no qual estamos nos relacionando sem causar equívocos e conflitos. Isso irá percorrer um longo caminho no aprimoramento das relações, interferindo inclusive na redução do estresse, que é algo que costumamos trazer pela maneira como lidamos com pessoas. Além disso, minimiza conflitos e terá o benefício adicional de melhorar nossa autoestima, quando presentes com pessoas de outras sociedades e cultura. Aumentando a nossa eficiência na comunicação, também significa melhorar a nossa capacidade de “dizer direito” na primeira vez, em vez de como muitos de nós, ter que pedir desculpas, reafirmando uma mensagem e tentando explicar por que das palavras que causaram problemas na primeira vez.
O desenvolvimento da harmonia nas relações é a maior habilidade que podemos potencializar como ser humano. O interesse e empenho em conhecer além da cultura da informação, estudando seus fundamentos, tem impacto na qualidade da forma adequada do uso da linguagem diante a princípios respeitosos que irão, com certeza, afetar o resultado desejado. Muitas vezes, a melhor maneira compreender seu público-alvo é ver a pessoa do jeito que ele mesmo se vê. Uma das essências da empatia.
Aqueles que hoje trabalham em empresas que constantemente estão em relação com outras línguas e culturas, tenha a consciência que você pode fazer a diferença se desenvolver conhecimento sobre a cultura com quem está se relacionando. O objetivo maior de entender a Entropia é justamente expandir a mente, tornando as relações muito mais harmônicas e isso requer uma competência diferenciada para lidar com as necessidades culturais. A capacidade de entrar em contato no coração da outra pessoa está na compreensão de sua cultura, lá é aonde encontrará as reais necessidades do outro. Se você alcançar isso, acredite, essa relação será muito mais concisa, respeitosa e com certeza se perpetuará.
Recomendo:
BBC Culture. Os piores erros de tradução da História. Acessado em: < http://www.bbc.com/culture/story/20150202-the-greatest-mistranslations-ever>
MEGACURIOSO.17 Palavras De Outros Idiomas Que Não Possuem Traduções Literais. Acessado em: < https://www.megacurioso.com.br/comunicacao/39467-17-palavras-de-outros-idiomas-que-nao-possuem-traducoes-literais.htm>
REFERÊNCIAS DE PESQUISA
BBC Culture. Os piores erros de tradução da História. Acessado em: < http://www.bbc.com/culture/story/20150202-the-greatest-mistranslations-ever>
CAREY, J.A. Communication as culture. New York, Londres : Routledge, 1989.
KARNAL, L. Tradução e Cultura. Acessado em: < https://www.youtube.com/watch?v=v13lUhxf_LI>.
MEGACURIOSO.17 Palavras De Outros Idiomas Que Não Possuem Traduções Literais. Acessado em: <https://www.megacurioso.com.br/comunicacao/39467-17-palavras-de-outros-idiomas-que-nao-possuem-traducoes-literais.htm>
PIGNATARI, D. Informação, Linguagem E Comunicação. São Paulo. Atelie Editorial, 2003.
11 Comentários
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