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A COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA – A ARTE DA CONVIVÊNCIA

[…] Ninguém acende uma candeia e a coloca em lugar onde fique escondida, nem debaixo de uma vasilha. Ao contrário, coloca-a num local apropriado, para que os que entram na casa possam ver seu luminar. São os teus olhos a luz do teu corpo; se teus olhos forem humildes, todo o teu corpo será cheio de luz. Porém se teus olhos forem malignos, todo o teu corpo estará tomado pelas trevas. Certifica-te, pois, que o fulgor que há no teu interior não sejam trevas. Portanto, se todo o teu corpo estiver pleno de luz, sem ter nenhuma parte dele em trevas, então ele estará verdadeiramente iluminado, assim como quando a luz de uma forte candeia resplandece sobre vós […]” – Lucas 11 (33 – 36)

Não é fácil pensarmos em todos os desafios que enfrentamos na vida. Seja em casa com a família ou mesmo em nossa carreira. Consegue imaginar quantas vezes nós já ficamos diante a situações difíceis, outras constrangedoras e que muitas vezes acabamos por agir de forma equivocada, e depois nos arrependemos. Aquela conversa desconecta, outras grosseiras. Aquela discussão sem fundamento aonde muitas vezes acabamos por agir de forma crítica e outras egocêntricas. Quantas críticas e brigas teriam sido ignoradas! Quantas vezes julgamos injustamente! Quantas batalhas teríamos sido evitadas se detivéssemos um conhecimento mais aprofundado diante a inteligência relacional.

Tente imaginar o quanto nossa vida seria mais simples e melhor se tivéssemos desenvolvido um conhecimento que nos auxiliasse a aprimorar nossa capacidade de nos comunicar de forma mais íntegra, benevolente, contribuindo para o bem-estar comum.

Você não é o único que precisa de algo assim, na realidade, acredito que faz parte da necessidade maior de todo ser humano, principalmente agora, aonde a sociedade hoje está permeando por um processo de transformação relacional, de valores, da moral e da ética, do profundo isolamento, vítima de um mundo imediatista, perdendo espaço a vida das relações humanas para as digitais.

São grandes as mudanças, e são inúmeros os desafios deste ambiente globalizado, das crises organizacionais e sociais, das mudanças comportamentais bem como o que mundo digital nos trouxe como a discrepância de estarmos utilizando ferramentas de comunicação que foram criadas para serem os MEIOS para nos conectar uns aos outros e não para servir como FINS para nos relacionar.

A compreensão da Comunicação Não Violenta pode representar o sucesso em nossa vida. Por isso vou falar hoje sobre a Comunicação Não Violenta e sua importância na vida e bem-estar de cada um.

É fato, o mundo hoje é o mundo do imediatismo, da instantaneidade, da superficialidade, do vazio existencial aonde não somos mais capazes de dar atenção aos nossos comportamentos diante a sistemática humana das relações. Estamos cada vez mais no “automático”, vivendo entre a angustia passada e a ansiedade futura, mas nunca no presente. Reagindo quase sempre inconscientemente, sendo incapazes de reconhecer nossa violência ao nos comunicar, escravos da ignorância a respeito de nós mesmo e na maneira de nos relacionar.

Há uma urgência de rever a forma e maneira no qual estamos nos relacionando. O mundo hoje direciona-se e privilegia o individualismo. Isso vai no desacordo com a própria natureza humana. A história demonstra que única possibilidade de a humanidade progredir está nas interações sociais, nos afetos, nas relações, sendo a premência da humanidade. O problema, é que estamos entorpecidos pelo penoso trabalho cotidiano, pela ausência da própria essência, separados de nós mesmos, fora de contato com a própria conexão emocional.

Estamos prisioneiros pela falta de reconhecer nossas próprias virtudes, na triste sensação do vazio, antipático, superficial, sem perceber, transformamos a vida em uma vida triste em que quase nunca vivemos. 

Estamos mais intolerantes, seja em casa, no trabalho, no trânsito, em todos os lugares. Muito próximo de perder as noções básicas do comportamento e as regras de convivência ética sociais, que ao que parece, se desvanecem diante ao estresse cotidiano. Ninguém ouve mais ninguém, o que há é um isolamento egoísta, formando pessoas inflexíveis, polarizadas, frias e superficiais. Não há harmonia. São exigências sociais que ao fundo buscam estabelecer uma normose social, formando pessoas sem ideias. Todos iguais a todos. Verdadeiras “religiões”. Receitas prontas que definem como cada um de nós tem que ser, o que temos que pensar, o que devemos criar, como temos que viver, o que temos que ter, como e quem temos que amar, e por aí vai seguindo manuais para a busca frenética de uma felicidade que nunca se consegue encontrar.

Não é necessário ir muito longe para perceber isto, basta olhar a pessoa do seu lado e logo percebera uma semelhança como a moda, os carros, os cabelos, as casas, as decorações e até mesmo os nomes dados aos próprios filhos. O que leva a entender que a capacidade humana de pensar, criar, inventar e extrapolar e outras maneiras de viver através de outras possibilidades, acabaram por ser varridas do cotidiano, não havendo mais diferença entre nós. “Como se uma enxurrada de ideias e de imagens prontas tivessem lavado (lavagem cerebral) a nossa capacidade de pensar, sendo extirpado de nós a nossa inteligência para refletir sobre a nossa vida e criar autonomamente a nossa própria escolha”.

“O que almejo em minha vida é compaixão, um fluxo entre mim e os outros com base numa entrega mútua, do fundo do coração.” –Marshall Rosenberg

Não há atividade humana que não sejam constituídas nas relações. Temos que reencontrar este poder natural. A comunicação é o elemento que diferencia os humanos dos demais seres. Está na linguagem o importante sentido do livre fluir de ideais, do desenvolver do conhecimento, do ato de pensar, criar, expandir, emocionar, sentir, viver a vida, está nela a capacidade inerente da inteligência cognitiva e emocional de cada pessoa.

“A não-violência significa permitirmos que venha à tona aquilo que existe de positivo em nós e que sejamos dominados pelo amor, respeito, compreensão, gratidão, compaixão e preocupação com os outros em vez de sermos pelas atitudes egocêntricas, egoístas, gananciosas, odientas, preconceituosas, suspeitosas e agressivas que costumam dominar nosso pensamento. (…) O mundo em que vivemos é aquilo que fazemos dele” – Arun Gandhi 

Podemos passar uma vida inteira sem perceber quem somos e como afetamos as pessoas, nos relacionando de forma desrespeitosa, bruta e outras violentas, sem se dar conta disso. Perdendo oportunidades, afastando-se das pessoas, criando uma legião de oposicionistas.

A partir daí surge dentro de nós a angustia opressiva, ressentida, raivosa e frustrada. Precisamos restabelecer uma relação autentica, empática, patrocinando o convívio harmônico. Reaprender a ouvir, observar e raciocinar sobre as ideias propostas, aonde cada um passa a se expor, a pensar, buscar compreender, criar um ponto de vista, empenhando dentro de si a potencialização da sabedoria que só existe no partilhar de uma discussão.

 “Todo ato violento é uma expressão trágica de uma necessidade não atendida. ” Rosenberg, Marshall B.

Se não houver o propósito de nos comunicar, é impossível a mente ultrapassar limites, criar, inovar, ver além do mundo observado apenas pelos olhos e enxergar através do coração, sistemicamente. Desvanecendo qualquer possiblidade de ir adiante de outras vicissitudes, convertendo na eloquência diante a vida e as pessoas.

A comunicação representa a nossa base evolutiva, a troca sistemática entre o saber individual de cada um. Por isto é preciso repensar sobre que tipo de relação estamos construindo e quais são os verdadeiros valores que se está normatizando entre nós.

Como surgiu a Comunicação Não Violenta?

Marshall Bertram Rosenberg, foi o psicólogo americano que desenvolveu os fundamentos e a teorização da Comunicação Não Violenta (CNV). A partir de sua atividade profissional à psicoterapia, estudou a relação entre a ajuda terapêutica a indivíduos que apresentam desadaptações emocionais e os obstáculos à comunicação. Sendo um processo de pesquisa contínua inicialmente desenvolvida por ele e sua equipe internacional, tendo foco no apoio para o estabelecimento de relações de parceria e cooperação, em que predomina comunicação eficaz e a empatia. Enfatiza a importância de determinar ações à base de valores comuns. A Comunicação Não Violenta tem importante fundamento para o aprimoramento constante das relações.

Seu desenvolvimento vai de encontro as “batalhas” do dia a dia, as tornando mais leves, muito mais eficientes em uma perfeita troca nas relações. A comunicação e suas relações se convertem em estar muito mais presentes na vida. Nos distanciando do isolamento em um mundo estressado e depressivo. 

A Comunicação Não Violenta busca justamente fazer esta introspecção dentro de cada um, encontrando aquilo que temos de melhor, recuperando nossas virtudes para as relações. 

Todas as questões que estão direcionadas com a comunicação estão diretamente interligadas a nossas escolhas. Todas elas envolvem escolhas complexas, cognitivas, tendo a ver com a capacidade de desenvolver ideias e pensamentos. Rosenberg apresenta em sua obra questões fundamentais do comportamento humano e suas relações com o mundo neste sentido.

Para entender seu trabalho inicialmente temos que compreender que “apesar dele referir-se a Comunicação Não Violenta como “processo de comunicação” ou “linguagem da compaixão”, ela é mais que processo ou linguagem. “Num nível mais profundo, ela é um lembrete permanente para mantermos nossa atenção concentrada lá onde é mais provável acharmos o que procuramos. ”

Com isto, pode-se dizer que ela se direciona ao conjunto de conhecimento que cada um tem de melhor dentro de si para compreender e discernir aquilo que está sendo tratado, em uma abordagem comportamental de alto nível aplicada a linguagem.

Curiosamente, seu trabalho começou a partir de duas observações fundamentais em prol a vida nas relação: A primeira delas está diretamente relacionada ao fato de que existem pessoas que muitas vezes saí de um comportamento natural empático e passa a agir diante a certas situações com comportamentos exoráveis representados de maneiras violentas e exploratórios, outras abusivas; a segunda questão no qual ele levanta é justamente o inverso disto, ou seja, quanto as pessoas que mesmo diante a situações difíceis, sofríveis, continuam dentro de seu campo empático, se relacionando com a vida de forma harmônica e natural. Com estas dúvidas, Rosenberg aprofundou-se cada vez mais nos estudos comportamentais concentrando-se na comunicação estabelecida pela linguagem.

Seu objetivo sempre foi trazer a consciência de que todos nós, humanos, somos seres sociais e vivemos em plena constância relacional. Somos seres relacionais e a nossa vida é exatamente a representação de nossas relações com o mundo e tudo que há nele, encontrando na Empatia a capacidade de vivermos em uma sociedade melhor. Então, para entender e desenvolver efetivamente a Comunicação Não Violenta é necessário conhecer e praticar efetivamente a Empatia. Por isso temos que dar ênfase nela.

Mas o que é Empatia?

A Empatia é a chave da Comunicação Efetiva Não Violenta. Resumidamente podemos dizer que Empatia significa ter a capacidade de sentir o sentimento dos outros e perceber as coisas como eles percebem. Você assume um interesse genuíno pelas preocupações deles. Você pega as deixas do que eles estão sentindo e pensando. Com empatia, você sente emoções que não são manifestas. Você escuta ativamente para entender o ponto de vista da outra pessoa, os termos nos quais eles pensam sobre o que está acontecendo.

“Ouvir somente com os ouvidos é uma coisa. Ouvir com o intelecto é outra. Mas ouvir com a alma não se limita a um único sentido — o ouvido ou a mente, por exemplo. Portanto, ele exige o esvaziamento de todos os sentidos. E, quando os sentidos estão vazios, então todo o ser escuta. Então, ocorre uma compreensão direta do que está ali mesmo diante de você que não pode nunca ser ouvida com os ouvidos ou compreendida com a mente”. Filósofo chinês Chuang-Tzu – citado por Rosenberg, Marshall B.

Se Aristóteles estivesse vivo, creio que ele seria um defensor entusiástico de “philautia” como uma base necessária para a compreensão empática, acreditando que pessoas que não se sentem bem consigo mesmas ou alimentam um grau de aversão por si mesmas terão dificuldade em se relacionar com os sentimentos, as necessidades e as visões de mundo de outras. Se você quiser se pôr na pele de outra pessoa, precisa se sentir confortável na sua própria, por isto, antes de tudo, precisamos explorar como podemos nos tornar criteriosos em nossas escolhas, observar, perceber e compreender que além do momento inserido existe as intenções de cada um. Somente assim, muito mais que estar conectado, estaremos resguardados, sem correr o risco de ser vítima da própria empatia.

O comportamento humano por muito tempo foi se formando a partir da recusa do outro, com pessoas antipáticas. Foi a partir do cristianismo, que nossa cultura foi se transformando, passamos a ser conduzidos a assumir a responsabilidade pelos sentimentos de outros e a tomar as mensagens como pessoais. Por isto, muitas vezes, quando nos relacionamos com um problema de outra pessoa nossa primeira reação é encontrar em nós algo que possa minimizar essa angustia, tentando aliviar e outras resolver. Esse comportamento ainda é considerado por muitos como Empatia. Mas saiba que todo processo de ajuda, opinião, orientação ou conselhos, que tenha o objetivo de amparar a outra pessoa a sair de um determinado problema, não é Empatia.

Há aqueles que também entendem que o simples fato de partilhar o sentimento do outro, de forma solidaria e agradável pode ser interpretada como Empatia. Não, neste caso estamos falando de simpatia. Perceber o sentimento e transmitir sentimentos agradáveis com alguém, conseguindo despertar sentimentos positivos, é uma maneira simpática de lidar com as pessoas. 

A base fundamental de um processo empático é estarmos no presente, no agora, por inteiro. Quando passamos solidarizar e a propor um direcionamento a vida de outra pessoa, não estamos no presente. Qualquer proposta cognitiva que tenha por objetivo apresentar ajuda ou solução, bloqueia o tipo de presença que a Empatia requer, pois daí passamos agir na temporalidade, ou seja, em vez da Empatia, damos opiniões e explicamos pontos de vistas próprios diante a nossas experiências.

Quando nos envolvemos em um diálogo aonde nossa percepção nos conduz a refletir de acordo com nossas crenças e experiências, deixamos de estar no presente e passamos a avaliá-la na temporalidade.

A Empatia é estar presente com o outro e com tudo aquilo que ele está sentindo. De outra forma, é fundamento da Empatia ouvir na essência o que a outra pessoa está dizendo, retirando de nós todas as camadas para que a mensagem da outra pessoa permeie dentro de nosso “coração”, aceitando-a como é, da forma que é, sem críticas ou julgamento, não as tornando pessoais. Abrimos para entender o outro a partir das experiências dele. Permitindo apenas que a pessoa possa se libertar por completo, sentindo-se seguro, amparado e compreendido.

Empatia é a premissa básica para não só o outro ficar bem mas para nós também ficarmos bem. Certo de compreender que para ficar bem é preciso oferecer ao outro a certeza que a nossa paz, estabilidade, harmonia interna não pertence as forças externas, mas sim exclusivamente a nós e ninguém pode nos tirar isso porque aquilo que está intrínseco na nossa consciência é formada pelos valores que jamais se perderão, permitindo percorrer a vida em um caminho em paz, sábio e com certeza, mais harmônico para o encontro com a felicidade.

Empatia é um estado pleno de consciência de nós mesmos com a vida. Consciência de tudo daquilo que queremos, acreditamos, sabemos e desejamos. Ao ser uma pessoa consciente nos tornamos autônoma, pensante, perceptível da clareza das escolhas, reconhecendo em nós as próprias virtudes, os próprios valores, e a capacidade de reconhecer os próprios erros, os próprios acertos, identificando as imperfeições e focar sempre no melhor para o convívio ético entre as pessoas. Com certeza, diante a está consciência, raramente sofrerá sobre aqueles antipáticos, dificilmente se cairá diante a ataques, ofensas, desrespeitos. Muito pelo contrário, fruto da nossa consciência é a sabedoria, estaremos então aptos a transformar antipáticos em empáticos.

“As duas partes da Comunicação Não Violenta: expressar-se com honestidade e receber com empatia. ” Rosenberg, Marshall B.

Compreendido a Empatia, podemos entender então que Marshall considera que há uma necessidade constante de aprendemos com nossas relações, já que ela é viva e se transforma. Desta forma evitamos com que a nossa comunicação se torne automática, deixando de ser consciente e Empática, deixando o estado presente. 

A Comunicação Não Violeta tem, portanto, a nobre perspectiva de minimizar relações antipáticas e destrutivas. Quebrar situações onde exista a manipulação, chantagem ou condutas abusivas. Se utilizando da comunicação o caminho mais celebre e prático para que se quebre padrões vorazes como, por exemplo, as grosserias, falta de respeito, críticas e julgamentos, dentro deste equívoco social do certo ou errado.

“Ficamos perigosos quando não temos consciência de nossa responsabilidade por nossos comportamentos, pensamentos e sentimentos. ” Rosenberg, Marshall B.

Fato é que enquanto nosso corpo geralmente pode se recuperar de golpes físicos, é verdade que as feridas emocionais infligidas por palavras provavelmente permanecerão em nossa memória para sempre. Portanto é factível de entender que a Comunicação Não Violenta não depende somente de suprir nossos anseios, mas sim de forma ampla e diante a perspectiva de seu desenvolvimento social, a proposta contempla a objetividade da Ética em nossas relações. Na formatação de atitudes que possam representar o aprimoramento das regras para a convivência de todos.

Não está aqui a farda ideia de que as boas maneiras, o respeito e a empatia se deve somente a aqueles que estão dentro de um contexto sócio econômico educacional, no qual vivemos ou desejamos viver. A aplicação da Comunicação Não Violenta está muito acima disto. Está entranhado dentro da concepção mor de que temos que respeitar a todos. Sermos éticos.

Neste ponto de vista, podemos então lembrar aqui que a Comunicação é um estado intrínseco a ética. Como descrito na “grande” Ética, a que Aristóteles chamou pelo nome do próprio filho, ÉTICA NICÔMACO“ A virtude ética é adquirida pelo hábito; não nascemos com ela, mas nossa natureza é capaz de adquiri-la e aperfeiçoá-la. ” Sob esta perspectiva, é a plena compreensão consciente de que existem no mundo outros seres humanos além de nós e que todos, sem exceção, têm o direito de viver a vida dentro de uma harmonia social. Ética em nossas relações, implica diretamente a responsabilidade de cada um de nós sobre as próprias ações. Assim, na perspectiva aristotélica é ter o entendimento claro de trazer o EU nas respostas diante ao convívio social. Em outras palavras, isto quer dizer que ética é assumir aquilo diz, aquilo que faz, aquilo que parte de nós, e não transferir a outros covardemente a própria culpa. 

Portanto a Comunicação Não Violenta é fundamentada na ética. É um processo vivo, que sofre mudanças conforme a transformações comportamentais e sociais em prol do bem individual em acordo e equilíbrio com o bem comum. Não há ética quando algo é bom para alguns e ruim para outros. É a concessão de viver em grupo, dentro de um processo relacional aonde existe uma comunicação construtiva.

Assim como a ética, a Comunicação Não Violenta está longe de ser tratada como algo perfeito. Assim como a ética, é também um processo vivo, que permeia no crescimento individual e social diante as experiências vividas. Permitindo apreciar o presente de forma leve, sem se preocupar com as consequências dos erros passados. Estando sempre no presente, no real, no agora sem a companhia do que foi dado por medo, culpa, vergonha ou daquele desejo egoísta de falsear-se.

“Certas formas de comunicação nos alienam de nosso estado compassivo natural. ” Rosenberg, Marshall B..

Quanto mais nos aprofundamos nos conceitos desenvolvidos por este Marshall, vamos percebendo sua preocupação diante a natureza do ser humano e do seu estado de SER. Seu conhecimento em psicologia fez toda a diferença ao sensibilizar sua ideia em fundamentos desenvolvidos sobre este tema. 

Seus princípios direcionam ao meu ver, a necessidade vital de saber encontrar nosso lugar nas relações com o mundo, tendo a consciência que ninguém pode ser responsável por nos fazer felizes. Para isto, evidencia-se que é imperativo fugir das normativas sociais, rompendo a temporalidade sem carregar o peso da própria história, das pendências, dos traumas do passado, possibilitando mudanças, impedindo transformar nossas angustias em crenças que nos limitam sermos quem somos. Tornando as circunstancias responsáveis por fazermos tomar a parte pelo todo e julgarmos momentos passageiros como responsáveis por todas as questões de nossa vida. Para ele a comunicação é sempre um fato no agora, na vida vivida, no momento e instante que ela aconteça.

Desenvolvendo a Comunicação Não Violenta, você desenvolve recursos primorosos que buscam perfeiçoar a capacidade sistêmica de observar, sentir, mas jamais julgar. Esta preocupação foi muito bem elaborada no desenvolvimento da “Comunicação Não Violenta”.

Dentro de seus princípios está justamente a inerência em deixar muito claro que só há “Comunicação Não Violenta” quando não existe julgamento. O ato de julgar talvez realmente represente um dos maiores motivadores de atritos que acontecem nas relações que temos durante nossa vida. Quando julgamos estamos expressando nosso mais íntimo vazio. É o desconhecer de quem realmente somos. Representando a trágica forma de expressarmos a angustia introspectiva dos próprios valores e necessidades. Esta ausência de reconhecer a própria condição existencial, reflete em uma trajetória sem sentido, sem objetivo. A falta da razão impossibilita então distinguir e honrar a própria trajetória. Com isso, as virtudes essenciais do SER acabam pela inépcia de viver a própria vida. Renunciando as próprias responsabilidades, encontrando no outro a razão do que não somos.

Há um custo muito alto quando tornamos julgadores em nossas relações. Expressamos nossos tormentos e os erros que nos amedrontam. Aquele que ataca, agride e ofende o outro, no fundo está falando do espaço da própria dor. Muito daquilo que incomoda, irrita, revela muito sobre nós mesmos e muito pouco sobre o outro. Lamentável são estes. Tornando o relacionamento não uma troca, mas sim um senso comum da cega ignorância egocêntrica. Insuficientemente capazes, consistem de seus fracassos as respostas da vida, trazendo a infelicidade pela busca constante do certo ou do errado. Convivendo enclausurados na perspectiva da culpa, da raiva, ansiedade e instigando o senso crítico dentro de si. Mais cedo ou mais tarde sofrerão com as consequências da diminuição da boa vontade daqueles que se submetem a nossos valores pela coerção que vem de fora ou de dentro.

“Nunca conseguimos forçar as pessoas a fazer nada. ”Rosenberg, Marshall B.

Nas relações que temos durante a vida, somos sempre apresentados aos constantes encontros dos anseios desejante de cada um. Todas as relações têm que ter por si um motivo para que ocorra, devendo ser um pacto harmônico de troca entre todos envolvidos, não tornando em algo desnecessária ou desprezível. Sem esse equilíbrio e relevância, podemos então nos equivocar e transformar a harmonia de nossas relações em angustias, suprindo o desejo de outros e não de nós mesmos. Neste ponto passamos a ser movidos pela exigência, provendo diante a necessidade daquele que nos atormentam, podendo transformar uma relação que deveria ter por princípio a empatia em medo. Medo à liberdade é a angústia da escolha.

O medo a liberdade é nosso maior medo, é angustia em sua natureza. Como resultado surgi a sensação de culpa, o vazio e a solidão. A incapacidade de escolher os nossos próprios desejos faz da vida uma vida sem graça, fútil aonde os sonhos se perdem no despejo infinito da tristeza impotente de ser quem somos. Passamos então a ser dependente, suscetível a aceitar a opinião do outro, daquele que mais lhe convém e lhe acolhe, não construindo uma razão, evitando a exposição e a contrariedade perante as relações, submisso a própria insegurança pessoal. Rosenberg “diz que uma exigência ameaça os ouvintes explícita ou implicitamente com culpa ou punição se eles não a atenderem…… A comunicação alienante da vida tanto se origina de sociedades baseadas na hierarquia ou dominação quanto sustenta essas sociedades. Onde quer que uma grande população se encontre controlada por um número pequeno de indivíduos para o benefício desses últimos, é do interesse dos reis, czares, nobres etc. que as massas sejam educadas de forma tal que a mentalidade delas se torne semelhante à de escravos. “

Em outras palavras, fato é que quando não temos convicção sobre aonde estamos no mundo das relações, quem realmente somos, sobre nossos desejos e princípios, passamos a ser marionetes nas mãos daqueles que nos acenam dando a falsa sensação de completar o fracasso que temos com nós mesmos, seja pela falta de segurança, controle, autoestima e tudo aquilo que contempla nossa maturidade emocional.

Quais são as Diretrizes fundamentais para a Comunicação Não Violenta?

A Comunicação Não Violenta tem sua estrutura desenvolvida sob quatro áreas. Marshall Rosenberg minucia seu trabalho referindo-se aos quatro componentes fundamentais para se alcançar a Comunicação Não Violenta. Estes quatro componentes, são:

1.         OBSERVAR – OBSERVAR SEM AVALIAR

Observar sem avaliar, assim diz Rosenberg. Toda comunicação deve-se iniciar observando o outro e a si mesmo. Este primeiro componente está diretamente relacionado a capacidade no qual temos que inicialmente desenvolver para alcançarmos uma Comunicação Não Violenta. Pois está neste pilar a compreensão da necessidade do amadurecimento conscientemente para desenvolver a capacidade de observar, sem adotar avaliadores a partir de critérios depreciativo, em outras palavras, sermos capazes de entrar em nossas relações sem avaliarmos negativamente, eximidos de padrões mentais e emocionais de querer achar sempre defeitos em si mesmo, nos outros e em tudo o que acontece na vida, impactando nas próprias circunstâncias no qual vivemos. Marshall diz que: “No entanto, ao combinarmos a observação com a avaliação, diminuímos probabilidade de que os outros ouçam a mensagem que desejamos lhes transmitir. Em vez disso, é provável que eles a escutem como crítica e, assim, resistam ao que dizemos. “

A falta de sabermos observar nos faz criar alucinações, modelos mentais que prejudicam a clareza de nossas relações, dessa forma, omitiremos mais, distorceremos mais, imaginaremos mais e generalizaremos mais. Em termos práticos, nossa mente irá formular nossos pensamentos através dos modelos diante a informação que estamos recebendo, interpretando-as de acordo com nossas experiências, tornando-as sempre tendenciosas.

É difícil fazer observações, avaliando o que seja em nossas relações isentando de julgamento e crítica, porque muitas vezes confundimos isso com a voz para a busca da razão. Mas este é o exercício temos que praticar diariamente.

Afinal, quando avaliamos, no fundo estamos julgando, sendo tendenciosos, e muitas vezes expressando sentimentos sobre aquilo que nos incomoda, nos atormenta e que muitas vezes carregamos em dentro de nós mesmo. Com isto vem a ansiedade, estresse, raiva, vergonha e a culpa, e então começamos a acreditar que é preciso punir, pressionar, criticar e cobrar em excesso a nós e aos outros.

Vivemos em grupos e initerruptamente nos relacionamos com a vida. Somos seres relacionais e como nossas todas as relações, só podem o ocorrer através de nossos sentidos. São eles que motivam nossas emoções que são expressas através da linguagem. Só saberemos nos relacionar e nos comunicar com maestria com qualquer pessoa nesse mundo, quando soubermos compreender quem realmente somos, perceber a nós mesmo antes de querer entender o outro. E isso nada mais é do que a nossa capacidade de primeiro saber lidar conosco mesmo e depois saber lidar com os outros. Reconhecer quem nós somos e ter maturidade nas interações ao perceber como nos relacionamos, na permissão de compreender a capacidade de identificar nossos defeitos, qualidades, limitações, bem como a percepção não de como achamos que as pessoas nos veem, mas sim ter a consciência de como realmente as pessoas nos veem. Isso faz toda a diferença e nos aproxima de uma Comunicação Não Violenta.

Neste sentido, quando trazemos para nós a capacidade de observar estamos então, de fato, primeiro aceitando quem somos e depois aceitando o outro sem julgamento, sem críticas, sem avaliar de forma negativa, respeitando que somos seres diferentes, únicos, exclusivos e que cada um tem sua forma de ser, pensar e agir, cada um tem seu modelo de viver a vida, as experiências e razões e que de fato somos seres sistêmicos e por isso mesmo, não somos capazes de apontar o que é certo ou errado.

2.        SENTIMENTO – IDENTIFICANDO E EXPRESSANDO SENTIMENTOS

Existe um equívoco social que pensa que comunicar é dirigir-se as outras pessoas emitindo palavras e fazendo gestos. Isso não é verdade quando se trata de uma comunicação autêntica. Comunicar é se relacionar, e relações são afetos. É fundamento chave em toda a comunicação expressar nossos sentimentos enquanto nos relacionamos. Dentro da Comunicação Não Violenta, a ausência do ato de expressar o sentimento é um dos principais causadores de uma comunicação ineficiente.

Em termos gerais, quase sempre não sabemos expressar nossos sentimentos. Passamos quase todo tempo nos preocupando em expressar a maneira de pensar, direcionando sempre ao olhar do outro sobre nós e não desenvolvemos a sensibilidade deste olhar introspectivo com nós mesmos. Sem saber se comunicar com nossas próprias sensações, tomar consciência dos próprios sentimentos e então expressa-los de forma plena.

A Comunicação Não Violenta estimula uma forma de expressão reveladoramente emocional, mesmo que se corra o risco de expor as fraquezas. Dialogar com o outro a partir de um sentimento desarma uma contrarreação hostil. Dentro do contexto da Comunicação Não Violenta, nossas relações só podem o ocorrer através de nossos sentidos e são eles que motivam nossas emoções que são expressar através da linguagem em nossa comunicação. Só saberemos nos relacionar e nos comunicar com maestria com qualquer pessoa nesse mundo, quando soubermos compreender quem realmente somos, perceber a nós mesmo antes de querer entender o outro. De saber nos controlar dentro de um equilíbrio psíquico do ser, aí sim, efetivamente poderemos conduzir a plenitude de viver a vida em harmonia com outro ser, sendo sempre consonantes e jamais dissonantes, em outras palavras. Nada mais é do que a nossa capacidade de primeiro saber lidar conosco mesmo e depois saber lidar com os outros.

As relações com o mundo são intrinsicamente associadas em como trabalhamos os sentimentos, resultantes de nossas emoções. Muito de nosso sucesso com a vida está relacionado na capacidade de compreender parte do que as pessoas estão realmente sentindo. É surpreendente a frequência com que uma única concessão ou ação poderia ter evitado tantos conflitos e desperdiçado o tempo, o esforço e os recursos. Em geral, as pessoas podem ser muito ruins ao reconhecer os próprios sentimento bem como o de outros, o que, por sua vez, leva a muitos mal-entendidos e erros. A vida e as interações profissionais e pessoais seriam muito mais fáceis se todos tivessem a capacidade de assimilar e respeitar o sentimento do outro e de nós mesmos.

Rosemberg, diz que desenvolver um vocabulário de sentimentos é essencial para termos clareza sobre como expressar nossos reais sentimentos. Que nos permita nomear ou identificar de forma clara e específica nossas emoções, nos conectando mais facilmente uns com os outros. Ao nos permitirmos ser vulneráveis, por exemplo, por expressarmos nossos sentimentos, ajudamos a resolver conflitos. (Sugestão de vocabulário proposto pela CNV: https://www.cnvc.org/Training/feelings-inventory)

3.        NECESSIDADES: ASSUMINDO A RESPONSABILIDADE POR NOSSOS SENTIMENTOS

Rosenberg em seu livro, define este pilar com a “consciência de que o que os outros dizem e fazem pode ser o estímulo, mas nunca a causa dos nossos sentimentosCom ela, vemos que nossos sentimentos resultam de como escolhemos receber o que os outros dizem e fazem, bem como de nossas necessidades e expectativas específicas naquele momento. ”

 A emoção é sempre a base inicial de toda e qualquer relação que temos com o mundo, ela irá definir qual tipo de perspectiva que teremos sobre algo e como nos relacionaremos a ele. Portanto as escolhas de como reagimos com o mundo está intrinsicamente relacionado com a perspectiva que temos de nós mesmos.  Basicamente são três forças que estão relacionadas aos fatores influenciadores externos e que atuam como denominadores em nossas emoções. Essas três forças afetam nossas decisões de maneira que geralmente não prevemos: Forças internas, que são fatores que residem tanto em nossa mente quanto em nosso coração, e existem pela própria natureza do ser humano; forças de nossos relacionamentos que caracterizam nossos relacionamentos e interações com os outros; e forças externas, que são fatores que caracterizam o contexto no qual operamos e tomamos decisões.

Este pilar na Comunicação Não Violenta está justamente relacionado a esta capacidade de primeiro percebermos estas influências e segundo tomar aresponsabilidade pelo que fazemos para gerar os nossos próprios sentimentos e a partir daí, reconhecer nossas reais necessidades. Nele apresenta a sequência pratica de como evoluímos em sentido da Comunicação Não Violenta, para desenvolver a necessidade de consciência sobre o fundamento e da importância do sentimento ao receber as mensagens na Comunicação Não Violenta. Sendo eles:

3.1          Culpar a nós mesmos:

Representa grande parte dos desgastes em nossas relações.

A falta de conhecer nossos próprios valores permite muitas vezes nos sujeitar a comunicação violenta, seja verbal ou não verbal. Está em nossos valores as virtudes de quem somos e o que efetivamente tem importância em nossa vida. Nos incomodamos com aquilo que reconhecemos, ou com aquilo que não temos muita certeza, mas que representa de alguma forma, alguma marca dentro de nós e que carregamos como um fardo de culpa. A culpa escraviza e aprisiona a vida do ser humano. “Escolhemos essa alternativa a um grande custo para nossa autoestima, pois ela nos conduz a sentimento de culpa, vergonha e depressão despertando o pior de nós. “

3.2         Culpar os outros:

Passando o primeiro estágio, procuramos o caminho “mais” fácil, transferimos nossas culpas.

Para o ser humano é muito difícil assumir os erros. Neste modelo de sociedade em que vivemos, nascemos com a ideia de competição o tempo todo e por isto temos o medo como nosso maior inimigo. Neles estão ocultos todas nossas fragilidades e deficiências. A falta de se auto respeitar, do próprio amor próprio, faz com que a maioria de nós, busquem se esquivar das imperfeições, transferindo suas culpas para proteger seu próprio ego narcisista. A mente destas pessoas, sempre tenta se distanciar dos problemas, principalmente da culpa, como uma espécie de proteção contra o julgamento alheio. Pessoas assim mascaram a realidade de como realmente é para fantasiar sua supremacia e está disposto a lutar por isto, transformando suas relações em comunicação violenta. Para estes haverá sempre um culpado para tudo, seja a falta de sorte, culpa do clima, do chefe, da esposa, do marido, da chuva, do horóscopo ou até mesmo do alinhamento dos planetas.

3.3         Escutar nossos próprios sentimentos e necessidades:

Durante esse processo de amadurecimento na Comunicação, desperta em nós a necessidade de escutar os próprios sentimentos e necessidades.

Aqui deixamos de nos contentar com uma realidade que não existe, que sempre repercute em um vazio existencial imenso, nos prendendo ao mesmíssimo, e passamos a aceitar e compreender quem somos.  À pessoa a oportunidade de reconhecer seus valores, respeitando quem realmente é. Compreendendo que não há somente gozo da vida, esse, que permite à pessoa realizar valores na experiência do que é belo, na experiência da arte ou da natureza. Também há sentido naquela vida que dificilmente oferece uma chance de se realizar criativamente e em termos de experiência, que sejam também nos momentos de sofrimento e dor, no qual lhe reserva a possibilidade de reconfigurar o sentido da existência, que consiste precisamente na atitude com que a pessoa se coloca face à restrição forçada de fora sobre seu SER. Respeitando toda e qualquer relação, respeitando as opiniões. Criando a consciência dos próprios sentimentos. Fundamento da Comunicação Não Violenta.

3.4         Escutar os sentimentos e necessidades dos outros:

Chegamos aqui ao ponto maior de uma Comunicação Não Violenta. Aceitação, esta é a concepção plena de respeitar o outro e a nós mesmos, compreendendo que os sentimentos da outra pessoa são passiveis a natureza humana, desenvolvendo-se de acordo com o momento presente no qual ela se encontra, livre de preconceitos, julgamentos ou críticas, expressando com respeito e cortesia. Facilitando a comunicação bem como as resoluções de nossos problemas, de forma harmônica e sadia.

Estamos caminhando então para supremacia das relações que é a Empatia.

4. PEDIDO – PEDINDO AQUILO QUE ENRIQUECERÁ NOSSA VIDA

Este último pilar é apresentado para formar a base da concepção da Comunicação Não Violenta. Trata-se exatamente de pontuar a importância da troca que há em toda relação. Depois de observar, sentir, e identificar as necessidades, compreendendo a razão da relação, passamos então a perceber o que é efetivamente necessário para torná-la produtiva, pratica, respeitosa. Para isso temos que compreender o que existe de fundo para reconhecer o efetivo desejo. Pois assim, a comunicação fica clara e harmônica, evitando frases vagas, abstratas ou ambíguas. Sendo possível formular nossas solicitações na forma de ações concretas que os outros possam ou não realizar.

Neste ponto, Rosemberg deixa muito claro que devemos sempre se utilizar de uma linguagem positiva ao iniciarmos toda e qualquer conversa, e não menos importante é que sempre temos que expor o que desejamos e não o que não desejamos. Em outras palavras, toda comunicação acontece quando nos relacionamos. Relacionamos através dos afetos, e todos os afetos partem de uma troca. Se há uma troca então existe como fundo um pedido. Quando em muitas relações os pedidos são quase sempre formulados de forma negativa as pessoas costumam ficar confusas quanto ao que está realmente sendo pedido, e, além disso, solicitações negativas provavelmente provocarão resistência.

Claro que não precisamos de nada disto. Podemos continuar destruindo nossas relações, nosso respeito e nossa imagem através de ataques grosseiros, impondo a ordem em nossos desejos. É factível conseguirmos algo de alguém através de uma comunicação desrespeitosa, principalmente quando constrangemos ou ameaçamos, mas este tipo de abordagem tem um alto custo. A agressividade, exigência, ameaça, coação, sempre implica em resultar em algo negativo, como a raiva, ódio, vingança, etc. e este jamais é a resultante de uma relação saudável, duradoura, admirável e respeitosa.

“Formular pedidos em linguagem clara, positiva e de ações concretas revela o que realmente queremos. ” Rosenberg, Marshall B..

Fato também que não podemos esperar ter uma receptividade mais calorosa em uma comunicação se partirmos para dizer somente o que não queremos, o que não aceitamos, o que não desejamos, etc. O “não” existe apenas na linguagem e não na experiência. Portanto é mais sábio e muito menos conflitantes quando expressamos exatamente o que desejamos e não deixar dúvidas, contribuindo para que o outro acredite fielmente que estamos pedindo, e não exigindo, e deixando claro que a pessoa só atenda ao desejo se ela puder fazê-lo de sua livre vontade.

Deixar claro quais são as intenções e os desejos, torna-se muito mais produtiva e menos ofensiva uma conversa. “Quando as pessoas nos ouvem fazer uma exigência, elas enxergam apenas duas opções: submissão ou rebelião. Em ambos os casos, a pessoa que faz o pedido é percebida como coercitiva, e a capacidade do ouvinte de responder compassivamente ao pedido é diminuída. ”

Quando expressamos claramente nossos desejos, estamos nos distanciando de toda e qualquer dúvida, impedindo que a outra pessoa alucine. Expressando de forma clara, temos muita mais chance de conseguirmos o que desejamos. “Uma linguagem vaga favorece a confusão interna. ”

“Solicitações não acompanhadas dos sentimentos e necessidades do solicitante podem soar como exigências. ” Rosenberg, Marshall B.

Por fim, espero que este resumo demostre alguns pontos importantes no qual Marshall B. Roseberg tomou para desenvolver seu trabalho. Sua obra é parte de ser essencial na vida de cada um de nós e deve fazer parte da biblioteca de todos e ser lida e relida, para jamais esquecermos de sua importância para o bem melhor do convívio entre todos nós.

É fundamental compreender que Marshall deixa muito claro que quando as verdadeiras relações ocorrem, nos dialogamos através da compreensão do outro sobre os pensamentos, o que torna claro o roteiro da própria vida, instigando o que cada um de nós tem de melhor em nossa alma, florescendo a emoção motivadora, gerando um impulso interno essencial para o desenvolver da inteligência e estratégia da vida.

Desta forma, faz se entender que a incompreensão do outro não é por falta de inteligência alheia, mas sim a falta de clareza de nossos próprios pensamentos. Nada vale dialogar sem que haja a compreensão daquilo que perpetua das ideias, pensamentos e sentimentos. Não poderá conhecer-se ou manter um relacionamento verdadeiro, por definição, sem que estabeleça a clareza e o objetivo implícito das reflexões compartilhadas, gerando uma empatia sincera entre cada um.

A Comunicação Não Violenta é a possibilidade de trilharmos juntos no caminho da vida. No encontro permanente do autoconhecimento, capaz de demostrar sobre cada um de nós o aprimoramento de nossas relações vitais, que está justamente na coerência de nosso melhor em ser demostrado continuamente nas condutas diárias da forma no qual respeitamos a nós mesmos e ao outro, seja nos pensamentos, atitudes e na forma mais adequada da linguagem. Nesse sentido, tornamos seres muito mais consciente para a realidade de ação e relação com o mundo, ampliando a nossa percepção em relação ao outro e também em relação a nós mesmos.

A continua busca no aprimoramento de como nos comunicamos, traz a cada um de nós a condição de liberdade. Livres para retirarmos de nós as diversas camadas que nos cobrem e que esconde o melhor que cada um de nós temos, manifestando nosso EU verdadeiro, permitindo apreciar o poder de sermos vulneráveis, oportunidades de nos tornarmos aquilo que realmente somos, minimizando o sentimento da necessidade de sempre achar que devemos nos defender e abrimos o caminho para a possibilidade de transformações e aprendizados, podendo assim expressar verdadeiramente nosso potencial.

Toda comunicação verdadeira, Não Violenta, começa com o reconhecimento de nossa humildade em perceber a grandeza que há na outra pessoa, no coração onde moram a coragem, honra, amor, esperança, sonhos e a história de vida. Honrando o lugar na pessoa onde nós também estamos, e vice-versa, havendo somente um único objetivo, se respeitar mutualmente. Só assim é possível oferecer algo próprio e sincero a outra pessoa.

Quando nos relacionamos com outra pessoa, seja no trabalho, em suas viagens e em casa, o que exatamente você sente? Você olha nos olhos? Sem dizer uma palavra você reverencia a grandeza nelas, a partir das suas grandezas?

Rosenberg deixa muito claro que “Quando os outros confiam que nosso compromisso maior é com a qualidade do relacionamento, e que esperamos que esse processo satisfaça às necessidades de todos, então elas podem confiar que nossas solicitações são verdadeiramente pedidos, e não exigências camufladas. ”

O desafio então é de entender que acima de tudo, está na comunicação, na forma plena de dialogar, a verdadeira possibilidade de enxergar a nós próprio – podemos conversar, manter uma discussão, um bate papo, uma conversa agradável, mas não nos comunicar – sem um prévio estado emocional verdadeiro. Se não souber o que há de real em nós – algo sobre a história de nossa vida, do que gostamos e o que defendemos, o que sentimos e o que sabemos – não existimos de fato, seremos apenas um nome, um cargo, uma aparência e isso não é se comunicar.

“Quando […] alguém realmente o escuta sem julgá-lo, sem tentar assumir a responsabilidade por você, sem tentar moldá-lo, é muito bom. […] Quando sinto que fui ouvido e escutado, consigo perceber meu mundo de uma maneira nova e ir em frente. É espantoso como problemas que parecem insolúveis se tornam solúveis quando alguém escuta. Como confusões que parecem irremediáveis viram riachos relativamente claros correndo, quando se é escutado”. Rosenberg, Marshall B

Para saber mais sobre a Comunicação Não Violenta, recomendo as seguintes pesquisas:

REFERÊNCIAS DE PESQUISA

CSIKZENTMIHALYI, M. A DESCOBERTA DO FLUXO: Psicologia do Envolvimento com a Vida Cotidiana. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

DEOS, R. VOCÊ É UMA PESSOA EMPÁTICA OU SIMPÁTICA? Acessado em: <