AMOR PRÓPRIO
O que significa a prática do amor próprio que tanto se fala nos livros e em eventos motivacionais. Fui fazer uma pesquisa sobre o tema deste imperativo tão presente na vida cotidiana. Dentro do universo pesquisado, em resumo o que encontrei foi que o amor próprio parece estar inexorável e maravilhosamente entrelaçado a qualquer pessoa que deseja alcançar o equilíbrio e paz interior. Muitas propostas que utilizam o termo diz que através da sua prática você atingirá o autoconhecimentoo, sabendo lidar com as emoções e sentimentos, desenvolvendo um cuidado para si mesmo. Considerado por muitos como um caminho individual empoderador seja para a vida pessoal ou profissional.
Praticar o amor próprio tornou-se sinônimo de compreensão de que você é a pessoa mais importante da sua vida e assim tomando para si o controle das suas próprias escolhas, construindo um futuro autônomo em seu caminho. Desempenhar-se ao amor próprio é assumir o individualismo para a responsabilidade pelo que acontece com sua vida.
Na busca de alguns sites e blogs, o que se vê é que as versões que cada um estabelece do sentido do amor próprio é adaptada de forma única e expressa no interesse da pessoa. O que significa que, para cada um ele é simples – no sentido de ser natural, fluido – sendo então a expressão de independência pela busca de nossas melhores qualidades.
Presentes quase que todas as pessoas que propõe em seu trabalho ajudar o outro a aumentar a autoestima, ressignificar crenças, desenvolver seu autopoder, melhorar seus relacionamentos pessoais, seja ele o casamento, namoro ou mesmo aqueles que estão passando por dificuldades no trabalho, é parte condizente aos que prometem ressignificação, elevando a pessoa a se superar e alcançar novos caminhos através de manuais e receitas práticas, rápidas e precisas e tem o amor próprio como principal foco.
Já para mim, sinceramente, não consigo ver sentido na combinação da palavra “amor” e “próprio”, quando consideramos tal descrição através das propostas que hoje são dadas ao termo. Pelo contrário, o que entendo é que são contraditórias.
Quando ouço este termo me lembro de um ensinamento budista que diz que “os desejos do eu são a raiz de todo mal, no entanto o equilibrado está na compaixão (karuṇā)” ou mesmo de uma passagem da bíblia onde Marcos diz, “ame o próximo como a si mesmo.” Ágape, melhor dizendo.
De maneira mais simples e objetiva possível, para mim a palavra “próprio” está para o individualismo, assim como o “amor” está para uma emoção que em conjunto como o sentimento leva uma pessoa a desejar o bem a outra pessoa. Não vejo com haver amor no individualismo. Para mim ele só pode existir com um outro.
O amor não é espontâneo, algo que se busca, simples ou fácil de ocorrer, ele não é encontrado e sim é conquistado, amadurecido e aprendido com as experiências da vida. É uma arte assim como a própria vida. No fundo o amor não se define, o amor se vive, na plenitude do maior sentido da vida que está para as relações humanas. Isto porque ele é uma forma de estarmos ativos e não tem a ver com um afeto passível, porque consiste em dar, e não em receber. Este nível de sentimento singular e personalíssimo, é de uma complexidade aonde ocorre um encontro emocional, cognitivo e comportamental que estão pulsando em plena relação.
Quando reflito sobre o que é o amor, logo sinto uma falta de conexão total com o termo “amor próprio”.
O que hoje vejo na prática usual deste termo é mais uma maneira das pessoas usarem como artificio para esconder aquilo que realmente à representa. Para mim é uma falha moral, entendo ser seu sinônimo a presunção à vaidade e o egoísmo. A prática do amor próprio talvez seja o maior símbolo da individualidade e narcisismo e porquê não da incapacidade de ser honesto consigo mesmo e com os outros.
São termos e práticas como estas que se encontra nas prateleiras das livrarias como resposta para uma vida boa que facilitam o uso cada vez mais intensos das máscaras para querer justificar aquilo que somos de verdade que não quereremos que o outro descubra sobre nós.
Não consigo imaginar uma pessoa estar de bem com a vida, alcançando sua plenitude, salvando uma relação entre duas pessoas, aumentando a sua autoestima, ressignificando crenças, desenvolvendo o seu autopoder, superando as dificuldades no trabalho, praticando este tal amor próprio. Pelo contrário, o que vejo é uma demonstração singular de autoaceitação de tudo aquilo que deveria sim ser trabalhado dentro de cada um de nós para nos tornamos pessoas cada vez melhores. Como pode alguém alcançar autoestima, coragem, integridade ou mesmo resgatar sua própria essência se fechando em um ciclo amando a si mesmo.
Como perceber subjetivamente os próprios erros, os próprios acertos, os limites, identificando as imperfeições e focando sempre na excelência para o convívio ético nas relações, amando a si mesmo. Com certeza, frente a esta consciência, raramente sofreremos sobre aqueles antipáticos, dificilmente cairemos diante de ataques, ofensas e desrespeitos, mas também deixaremos de aprender a dar valor a vida que buscamos para nosso melhor. Não se pode abrir mão do fruto maior da nossa consciência que é a sabedoria, onde estaremos aptos a transformar as relações porque estamos realmente permitindo a aprender a viver em cada experiência que se dá diante as nossas relações, pelas diferenças.
Não recordo em conversas com amigos, clientes, ou mesmo nas palestras ou treinamentos as pessoas procurando no outro o empoderado de alguém que se ama a si mesmo, pelo contrário, um dos maiores problemas das relações hoje está no ego das pessoas.
Talvez de tanto querer este amor por si mesmo, nos tornou incapazes de ter paciência, de prosseguir com um diálogo, de praticar a empatia e se pôr no lugar do outro, de entender que cada um é cada um, e que a representação de vida está na singularidade das pessoas na sua individualidade e não em seu individualismo.
É possível manter a individualidade sem prejudicar as relações que tem com as pessoas que ama ou ainda sem ser uma pessoa autocentrada ao amor próprio. Mas, para isso, é necessário que cada um de nós construa em si a maturidade que só se dá pelas experiências relacionais. Está nas experiências o verdadeiro poder do sentido à vida, do valor para as escolhas que tomamos a cada segundo. Da possibilidade se se autoconhecer, entender os próprios sentimentos, para que não confundam este comportamento evoluído com falta de amor a si mesmo ou consideração.
Existem inúmeras atitudes que ajudam a manter a individualidade sem prejudicar os laços, pelo contrário, de nos fazer crescer, de manter uma relação saudável, amigável, respeitosa e amorosa, deixando as particularidades para dar valor sincero ao outro da mesma forma que se dá a si mesmo, o que não existe é uma maneira de encontrar sentido à vida no individualismo.
Não consigo ver o amor próprio nas convergências relacionais que se deram pelas divergências. Se existe uma coisa que o tempo de vida me mostrou é que devemos falar a verdade do que sentimos, estar vulneráveis o suficiente para poder ser claro e objetivo e acima de tudo saber ouvir e aceitar quando estamos errados, para que as pessoas entendam quem realmente somos e não faça da relação uma perspectiva a ser frustrada. Então, fica a pergunta: Como alcançar tal plenitude amando a si mesmo?
A sinceridade é premissa básica para não só o outro ficar bem, mas para nós também ficarmos bem, certos de compreendermos que para ficar bem é preciso oferecer ao outro a certeza que a nossa paz, estabilidade, harmonia interna, não pertence às forças externas, mas sim exclusivamente a nós e ninguém pode nos tirar isso porque aquilo que está intrínseco na nossa consciência é formada pelos valores que jamais se perderão, permitindo percorrer a vida em um caminho em paz, sabedoria e com certeza, mais harmonia para reconhecer os encontros em que autenticamente somos felizes. Estar vulnerável é estar aberto às relações, cientes da própria liberdade e responsavelmente comprometido com suas ações para um bem maior comum e isto não se alcança com o amor próprio.
Em uma sociedade cada vez mais doente como a nossa, para mim as práticas do amor próprio alimentam as crenças sobre si mesmo (autoestima baseada em si mesmo), tão como a necessidade sobre como as outras pessoas nos consideram (autoestima baseada em outros). Em outras palavras, para mim está mais para a depressão, desespero e baixa autoestima tão como para a desesperança com o outro.
Está muito claro que a maior dor presente está justamente na dificuldade das pessoas construírem projetos de vida que seja formada pelas relações mútua, pela diversidade, cumplicidade e harmonia com o melhor de cada um para algo muito maior juntos.
Seja nas empresas, nas relações sociais ou mesmo no companheirismo com seu parceiro, o amor na essência está para a aceitação e pertencimento. O respeito, o compartilhamento, as trocas, sempre farão muito mais sentido para desenvolver o empoderamento de estar presente, aceito pelo simples fato de se sentir vulnerável ao ponto de não precisar construir argumentos individualistas que escondam quem realmente somos e é isto que não consigo ver no amor próprio.
Seria muito difícil eu hoje dizer que tenho amor próprio, que prático amor próprio e busco o amor próprio, já que teria muito dificuldade de dizer para mim mesmo qual “eu” realmente amo, ou você acha que o que há dentro de cada um de nós é de fato um único eu. Não! Estamos muito longe de sermos constituídos daquilo que queremos ser e assim seremos. Somos imperfeitos, e a dentro de nós uma variância de tantos “eus” que age sobre os próprios interesses pessoais, que são impossíveis de se resumir em um único e se fosse assim, nada seriamos humanos, então como eu conseguiria dizer qual o “eu” eu devo amar, o real, o idealizado ou desejado.
“Por detrás da alegria e do riso, pode haver uma natureza vulgar, dura e insensível. Mas, por detrás do sofrimento, há sempre sofrimento. Ao contrário do prazer, a dor não tem máscara.” (Oscar Wilde)
(Definitivamente entendo que a resposta da vida não está no amor próprio, mas sim na permissão para aprender, experimentar, relacionar, amar, sentir dor ou sofrer, tudo dentro da plenitude de cada uma destas palavras. Sem regras e sem máscaras, meu desejo deveria focar em construir uma história em que se possa ser sempre útil para alguém, de aprendizados condizentes a aquela que se escolhe por si mesmo, estendendo a mão sempre que for necessário.
O que mais desejo e para mim realmente faz sentido é que nesta complexa plenitude da vida, se possa vivenciar os acertos, mas também reconhecer os erros e desta forma, a cada instante ter subsídios e ter coragem para reconhecer que as escolhas estejam longe da perfeição do próprio amor ou admiração, porque realmente acredito que precisamos ter subsídios a partir das próprias experiências para em um instante seguinte saber dar valor e assim dar sentido as próprias escolhas.
Prefiro amar, dar muito mais que receber, “ser” muito mais que “ter”, viver muito mais que me iludir por práticas que irão esconder tudo aquilo que preciso melhorar. Talvez porque realmente acredito que a eternidade está para aqueles que nos faz ter boas lembranças e que fizeram a diferença por deixar muito mais do que levou.
Não faz sentido praticar o amor próprio, porque ele distancia da realidade nós mesmos. É claro que é verdade que tudo se torna mais simples quanto mais distante da realidade de nós mesmos, quando temos artifícios que cortam o caminho da vida para a vida parece ser mais prazerosa. Mas, como todo o prazer, ele se acaba no momento que temos o que queremos. Por isto é prazeroso usar mecanismos de defesa para nos proteger da realidade e não é por acaso que onstruímos estes artifícios a todos os instantes, como também não é por acaso que quanto mais fazemos isto, mais o sentimento profundo de infelicidade nos toma, e a vida passa a ser regada pela ansiedade ininterrupta pela busca infinita por um propósito e por um sentido que nunca se dá por satisfeito.
Em vez disto, vejo mais sentido no se doar ao máximo, mesmo que neste trajeto encontre pessoas egocêntricas, narcisistas, amarguradas, apequenadas ou enfurecidas, mesmo que encontre no caminho pessoas que não conseguem conviver consigo mesmo e por isto precisa usar os outros para desabafar sua própria incapacidade de ser alguém, ou mesmo que me encontre com aqueles que se acovardam da realidade e em vez de querer o bem quer na verdade o mal.
Realmente sou o inverso da prática do amor próprio e assim continuarei sendo. Porque só vejo sentido na vida quando nos empenhamos em nos aprimorar como pessoas, e mesmo cheio de defeitos e imperfeições, o que quero mesmo é aprender ser uma pessoa melhor e para isto, preciso acima de tudo aprender a amar as pessoas na razão de me sentir também amado.
Enquanto puder, esforçarei ao máximo para encontrar no outro o seu melhor, agradecer aqueles que acho que devo agradecer, elogiando aqueles que merecem ser elogiados, reconhecer aqueles que fizeram por ser reconhecidos, pedir desculpas quando errar da mesma forma que perdão quando se fizer por necessário. Vou buscar em mim o perdão também sempre que me pedirem e se não pedir, tudo bem, estarei procurando perdoar também. Tentarei ser gentil mesmo que outro seja ríspido, estarei aberto mesmo que outro tenha se fechado, ajudarei sempre que fizer por merecer, e senão merecer tentarei ajudar também. Da mesma forma que direi quantas vezes for preciso que amo enquanto ainda amar.
Não que eu pratique exatamente isto, estou longe de já ter encontrado meu melhor, mas é isto que busco praticar. O que quero mesmo é sair desta normose de regras imperativas que se articula a necessidade do reconhecimento de se autovalorizar, perdendo a importância do que é ser diferente todos seguem um mesmo caminho para buscar seu reconhecimento tão necessário para a vida. Quando todos proclamam seu reconhecimento sem certa clareza do que buscam, a busca igualitária irá interferir na própria alteridade das pessoas.
Não consigo entender que serei melhor amando a mim mesmo, agora consigo sim compreender que quando amamos o outro nos sentimos melhores porque o amor é de fato contagiante e empoderador.
Se cada pessoa procurasse dar o seu melhor em vez de se preocupar em reconhecer o seu próprio amor talvez as coisas seriam diferentes.
Cada um tem seu jeito de interpretar o mundo e tudo que há nele e é isto que faz cada pessoa exclusivamente única, e não seguir imperativos de como devemos conduzir a própria vida. Estão nas diferenças o crescimento humano, aquilo que afeta outro e vice-versa, tornando cada experiência um valor significativo do conhecimento necessário para uma vida pessoal e social melhor.
Lembre-se de que neste universo do amor próprio, as pessoas tendem a se confortar, permanecer naquele estado e farão pouco para mudar, isto porque quando somos reconhecidos enchemos nosso ego com asuperficialidade do suficiente, dando ao desejo o permeio verdadeiro para viver. A competência participativa é retirada tão quanto a diversidade, e para as coisas da vida se cria uma relação impositiva de que a nossa verdade é mais verdade do que a do outro.
Se ainda há dúvidas do porque acredito que o inferno é repleto de pessoas que passaram a vida procurando seu amor próprio, bom, não precisa muito para encontrar a resposta, olhe para seu lado e perceba quantos estão neste momento demostrando o quanto amam a si mesmo, te atropelando com toda as forças possíveis para sustentar seu próprio individualismo de ser.
Um comentário
Beatriz
Ao que você se refere… eu chamo de: egoísmo, egocentrismo…
E, olhando ao redor, oque estão a fazer,os que se odeiam?!
O tipo de amor próprio que eu conheço, é baseado no amor que Deus tem por nós…por meio de Jesus Cristo.
O amor próprio concede a pessoa,o direito de não permitir que os outros,abusem de sua bondade.
Amor Exigente… é uma boa forma de Amar… Amar, sem ser rude consigo mesmo .
Paz e bençãos. 🙏🙏