AS MARIONETES DA AUTOAJUDA
Eis então um dos grandes problemas das relações contemporâneas. Esta busca eminente do imediatismo, pelos manuais de autoajuda, das respostas práticas e prontas, daquelas que mais nos convém, são realmente desejantes e prazerosos. O problema é que ao mesmo tempo, também são fictícios, que nos alimenta de certezas e limita de perceber quem realmente fomos, somos e seremos.
Acreditar que seja possível um outro determinar o que é certo e o que é errado, o que devemos ou não fazer é o mesmo que retirar de nós a consciência das nossas responsabilidades, desconstruindo a essência humana e toda uma estrutura de sentimento e pensamentos que nos traz a verdadeira razão do viver.
Ter uma vida regida por diretrizes e regras minimiza a angustia ao mesmo tempo nos impede de sermos quem realmente somos. A verdade é que é impossível, algo ou alguém reger sobre a nossa vida, mas, com certeza, é uma boa mercadoria que se vende bem: livros, aplicativos, vídeos, palestras, treinamentos.
Porque este tipo de argumento, propõe um conjunto de atitudes mentais que influencia diretamente nos nossos comportamentos e pensamentos, que ao mesmo tempo, retira todo o contexto de uma história, e nos limita em enxergar somente o que queremos enxergar.
Tira de nós a responsabilidade da realidade com a vida, nos traz falsa sensação da necessidade e da condição de estar sempre certo, ser dono da verdade e de que tudo tem que estar sempre como queremos que esteja, daí tudo está bem. Dando a vida um resumo determinista, aonde se deseja que o reconhecimento do valor de uma pessoa seja representado pelos ideais, através de formulações imperativas que representam a chave para alcançarmos um relacionamento perfeito, conforme determinado pelos manuais.
É triste saber que há pessoas que vivem na condição de acreditar que na vida é possível encontrar respostas para tudo e que cabe para todos, como se houvesse a possibilidade de uma outra pessoa saber e reconhecer tudo que nos representa, passar pelo que passamos, sentir o que sentimos, viver o que vivemos, experienciar o que experienciamos, e daí ser competentes suficientes para definir a nossa vida e determinar o que é certo ou não para nós.
É impossível querer entender tal condição imperativa já que não somos nem capazes de definir nem a nós mesmos, porque faria sentido dar razão para um outro que mal sabe quem somos.
Não se iluda que existirá na vida algo ou alguém que poderá um dia nos definir e determinar o melhor caminho que devemos seguir, porque tudo que o outro pode nos oferecer são possibilidades abstratas, daquilo que vai nos iludir como perfeito, como ideal e como realidade de uma vida fantasiosa.
Não existe respostas que de conta de tudo, o que deveria haver é a reflexão das perguntas do porquê chegamos até aqui.
Também não vale a pena perder nosso tempo em alimentar em si a ilusão de que poderíamos nos omitir ou nos enganar, nem mesmo podemos nos refugiar e nem fugir de nós mesmos. Como já vimos com as próprias resultantes de nossa história e de toda a vida a nossa volta, somos partes e como partes nem tudo podemos, nem tudo devemos, como nem tudo ocorre como deveria ocorrer, porque uma parte está em relação com a outra parte, e assim sucessivamente vai se construindo algo maior com as relações e isto não é uma escolha, e sim a fatalidade da liberdade que nos impede de fugirmos de nós mesmos, das responsabilidades e da própria história em cada relação.
O que deveríamos fazer é assumir esta liberdade na forma do compromisso responsável e consciente dando a sua devida lucidez.
Por essas e por outras, a busca frenética da resposta pronta representa uma visão bem confortável, simplista e linear, sem a angustia de escolher e isto ocorre quando abdicamos de reconhecer a própria existência e então aceitar viver a vida a partir do que o outro nos propõe, abrindo mão de tudo que há nela. Assim, ilusoriamente torna as coisas mais fáceis pois não há esforço, riscos e aflição.
É verdade que é mais fácil fechar os olhos e terceirizar as atividades deliberativas. Claro, dessa forma, o que resta são os devaneios de que ao seguir as regras propostas pela autoajuda, o que vale serão então sempre nossas escolhas e de que todas as nossas ações são sempre as mais certas, e se o resultado disto não foi o que outro espera, pouco importa, já que nesta condição a individualidade, a vaidade e o egoísmo representa a própria inconsistência do valor.
Quando não sabemos ao certo o que nos representa valor não somos capazes de reconhecer aquilo que nos faz feliz.
Sendo este o único caminho para se deparar com os instantes de felicidade. A falta da conscientização de valor é uma condição entristecedora. A verdadeira definição da felicidade é justamente a possibilidade de constituir encontros construídos por nossas escolhas. Se deles houver momentos alegradores, nos fará sentir bem em experimentar a vida que desejamos e não se apequenar com receitas prontas e nem se satisfazer com a falsa sensação de felicidade daquilo que não nos pertence.
Somente quando estamos conscientes da vida é que somos originalmente capazes de entender que não se é feliz, se está feliz. Porque não é tangível, temporal, algo estável ou que será permanente. São instantes presentes, raros, únicos, que representa o mais alto nível de sentido das relações humanas. Porque é sempre no agora que a vida acontece, e nós temos a chance mágica a cada instante, de usar os melhores movimentos, os melhores exemplos, tocar a outra pessoa na alma com a máxima contundência e aí sim estaremos fazendo da nossa vida uma vida de desafios, alegradora, colorida e então estaremos aptos para encontrar este raro instante em que se é feliz.
Porque assim se consegue contemplar. Porque no ato de viver se consegue viver uma teorética, uma vida voltada pelas reflexões das próprias interpretações conscientes das experiências alcançados pelo próprio sentido que se dá a própria vida, e é neste instante que estamos valorizando as relações, mas não pelas certezas e sim pela magia engrandecedora das diferenças.
Não porque as experiências é a chave para as escolhas de que elas sempre serão as melhores escolhas, pelo contrário, é aceitar que tudo e toda relação é uma questão de troca. De que no tempo há somente o presente, e que não existe passado, porque ele sempre é representado por tudo aquilo que acreditamos que ele foi diante aos sentidos da nossa presença no agora e jamais em outro instante.
Não é que temos que aceitar as coisas como foram e nem como são, seja pela falta de compreensão das problemáticas que atingiram a nossa vida, pelo acaso, de se sentir vazio, dor, tristeza, de se sentir abandonado, de uma existência que muitas vezes foram apequenadas, não é isto, e sim conseguir ver tudo isto, e muito mais, para que justamente atinja esta posição avançada, maior, da completude de si mesmo, justamente porque se compreende que a vida é feita de escolhas e cada uma delas foram tomadas pela representação naquele instante. Instante que também já passou. Afinal, a única certeza da vida é que nunca seremos o que já fomos, mas sempre poderemos ser muito mais.
Foi do que foi e de vários outros instantes que fez quem somos hoje, e esta ou aquela decisão não irá mais se repetir porque não há nada mais do mesmo e não haverá. Estar consciente disto, vai render um pouco mais de sensatez para as reviravoltas que existe dentro de nós mesmos, porque vai de encontro sempre com quem somos e queremos ser, e isto jamais poderá ser determinado pelo o que outro pensa e muito menos pelos manuais que a autoajuda mediocremente tenta nos imperar.
O que importa é o que queremos que aconteça diante a aquilo que nos faz sentido, portanto somos o reconhecimento por aquilo que queremos da vida, significa que seremos julgados por aquilo que queremos que aconteça por aqueles com os quais nos relacionamos. E o que queremos que aconteça?
Haverá os que digam que o que importa é sempre o que acontece de fato e não o que esperamos que aconteça, mas estes são pragmáticos. Para outros, o que importa aqui são nossas próprias escolhas, tendo a clareza do que queremos que aconteça.
O que realmente importa é estar ciente que muito diferente da autoajuda, a vida é dinâmica, temporal, unica e exclusiva e que jamais se repetirá. Nem tudo que esperamos que aconteça, acontece, porque uma parcela temos controle, e a outra parcela também depende das variáveis sistêmicas que representam o movimento das partes presentes em toda e em qualquer relação, e, estas, sempre vão muito além das nossas próprias inclinações.
“….cada instante da vida é uma oportunidade mágica irrecuperável e “virginal”, absolutamente inédita e nunca antes vivida, é este momento que cada um tem para fazer o melhor, de bem consigo mesmo, o melhor que se pode fazer, sabendo que cada um tem a chance de fazer deste momento, melhor que o momento anterior, melhor do que toda a vida vivida, porque hoje somos melhores do que ontem, hoje cada um é mais competente do que ontem, mais preparado e mais experiente do que ontem, então, cada um de nós tem a chance de fazer o melhor da vida, para que possa haver a alegria durante seus movimentos, suas ações, seu trabalho, e não deixar isto para que o outro nos diga o que é melhor para nós mesmos e perder a chance de reconhecer aqueles instantes em que realmente podemos ser feliz. ”.