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DIGA-ME COM QUEM ANDAS E EU TE DIREI QUEM TU ÉS

“Diga-me com quem andas e eu te direi quem tu és”. Apesar de equivocadamente até hoje muitas pessoas acreditarem que essa frase é bíblica – definitivamente, não é!

O valor e o reconhecimento da amizade entre as pessoas provavelmente começaram a ser realmente discutido por volta de 2 a 3 mil anos atrás, na realidade creia-se que foi nessa época que surgiu a frase original no qual aponta-se ter vindo dos Assírios que diz “Diga-me quem são seus amigos e eu direi quem você é.”

Bíblica ou não, essa frase tem profunda realidade. Seja no campo antropológico, filosófico, psicológico ou da neurociência, há total veracidade nessa afirmação.

Saber o valor da amizade em nossas vidas tem muito a ver com o autoconhecer. Nossas amizades representam muito quem somos e se faz necessário perceber a qualidade dessas relações se estamos preocupados com o próprio bem-estar tanto como o presente e o nosso futuro.

Para muitos estudos comportamentais fica cada vez mais claro que a felicidade não está só nas experiências, nos bens materiais ou nas filosofias pessoal e transcendentais, e sim muito mais relacionado nas escolhas com quem decidimos passar nosso tempo. Além disso, não faltam estudos que demostram o como é importante observar as pessoas com quem convivemos e o quanto estas estão relacionadas nas decisões que tomamos durante a vida. Nossas amizades estão vinculadas direta e indiretamenteem quem somos, o que somos e o que pretendemos ser. Isso tudo é parte da nossa condição evolutiva, da psicologia tão como da biologia dos seres humanos.

Nossos antepassados se esforçavam continuamente em constituir e preservar suas amizades para manter suas tribos por motivos bem objetivos e estratégicos. Viver em tribo era a maneira mais segura de ajudar uns aos outros na sobrevivência, seja para a proteção e caça, nas lutas contra rivais e predadores no caso dos homens, e cuidar e alimentar melhor os filhos, no caso das mulheres. Naquela ocasião, acredita-se que a amizade não passava de uma troca de favores e de experiências.

Com o tempo a evolução do ser humano trouxe outras conotações para a amizade. Isso se dá principalmente pela transformação que cérebro sofreu durante esses milhares de anos, especialmente quando a linguagem verbal e não verbal passou a ser parte consciente e isso auxiliou ainda mais a convivência e com ela dependência social foi se tornando crescentemente mais importante para a sobrevivência.

No decorrer desse processo evolutivo houve também uma transformação química que também ajudaram no aprimoramento cognitivo e comportamental.

Com o desenvolvimento das neurociências, logo se percebeu que a amizade não era somente uma questão de preservação e de reprodução da espécie, perfaz também há diversos fatores químicos que acontecem que unem uma pessoa a outra. Entre eles está a presença da ocitocina, hormônio esse que trabalha em uma das partes mais instintivas do ser humano. Produzido pelo hipotálamo, esse hormônio foi descoberto em 1909, quando o farmacologista inglês Henry H. Dale notou que o hormônio levava à contração do útero em gatas grávidas.

Apesar de ser um hormônio tímido – por não ser produzido quando estamos presentes com pessoas estranhas e quando estamos sendo observados – muitos estudos foram destinados a seu efeito e sua relação com a vida social, e o resultado é extraordinário. Além de promover sentimentos de amor, união social e bem-estar, é responsável pelo afeto entre o homem e a mulher, sendo produzido nas mais diversas situações. Por exemplo, no orgasmo ele ajuda a estimular a mulher a contrair seu útero, e isso faz com que o espermatozoide chegue mais rapidamente até o óvulo e aumenta as chances de engravidar. Faz as pessoas serem mais carinhosas uma com a outra já que está presente como condição de afeto, além de ser responsável pelo amor incondicional que a mãe desenvolve pelo filho.

Além disso a ocitocina facilita o convívio e as alianças sociais que condiciona a construção de amizades. Quando nos encontramos com pessoas que são parecidos com a gente, que pertencem ao mesmo mundo e gostam das mesmas coisas, a produção desse hormônio também aumenta. Tão como pela necessidade de constituir relações e trazer para si o sentimento de pertencimento e reconhecimento. Nesse sentido ele também nos ajuda a transitar por grupos diferentes e por isso podem facilitar a apresentar coisas e pessoas novas e ampliar nossos horizontes – gerando uma renovação de ideias que faz bem a todos os relacionamentos, inclusive às amizades antigas.

Se estamos com alguém no qual há algumas características que entendemos ser importantes e passamos a confiar nela, o nível de ocitocina no seu cérebro também aumenta.

Em outras palavras, por causa da ocitocina o cérebro aprendeu a dar valor as relações humanas e isso passa da sobrevivência para a cooperação e a sociabilização. Condicionando o cérebro a buscar manter relações com outros humanos. A ocitocina faz com que desenvolvemos empatia e por causa dela dedicamos tempo e esforço por uma relação.

Mas não só isso. O ocitocina também ajudar a responder uma questão que sempre aparece quanto a possiblidade de existir amizade – sem envolver sexo- entre homens e mulheres? Segundo os estudos sobre o comportamento humano e das neurociências essa questão vale a pena ser discutida, afinal se há uma resposta para ela é: sim, existe e não existe. Para explica-la também temos que voltar no tempo e lembrar que nossos ancestrais tinham como objetivo de vida a sobrevivência e a preservação da espécie e por isso mesmo a origem desse sentimento é inegavelmente sexual. Como em outros animais, a ocitocina se faz presente já que ela gera essa atração e é liberada durante o sexo. Entretanto, como explicado anteriormente, durante todo esse período evolutivo houve uma transformação cognitiva e a capacidade do ser humano ter consciência faz toda a diferença de outros animais. Melhor dizendo, durante esse período de evolução fomos nos tornando muito menos instintivos e muito mais racionais, ou seja, diferente de outras espécies vivas não somos mais dotados de instintos e sim livres para fazermos escolhas o que nos faz capazes de separar as coisas.

A ciência tem sua explicação em seus estudos quando percebeu que em algum momento a partir da consciência da linguagem a ocitocina adquiriu também sua função social. Como já explicado o cérebro humano também mudou quanto as suas referências sexuais. Um maior número de receptores de ocitocina foram se espalhando por várias regiões cerebrais inclusive áreas que não tem nada a ver com o desejo sexual. Por isso, a ocitocina pode ser liberada nas ocasiões relacionais seja do mesmo sexo ou do oposto, mas hoje o cérebro consegue discernir entre um namoro, um ato sexual e a amizade.

Também hoje se sabe que biologicamente há uma diferença entre os homens e as mulheres quanto as amizades. Nesse caso as mulheres produzem mais ocitocina do que os homens e segundo as pesquisas isso explica do porquê suas amizades são mais profundas, e certas regiões do cérebro acendem mais intensamente quando existe a possibilidade de conhecer alguém novo. Justificando a intensidade das amizades femininas e também está relacionado a serem menos tolerantes o que ajuda a limitarem amizades a mais longo prazo o que é inverso ao homem.

Hoje também não há mais dúvidas da importância das primeiras fases de nossa vida quanto a formação cognitiva na pessoa no qual nos tornamos quanto adulto e as companhias escolhidas são importantes durante toda a vida, mas na adolescência podem ser decisivas quanto a formação identitária como adulto. Também é evidente que desde as primeiras brincadeiras quando criança as amizades são fundamentais para nosso desenvolvimento mental e sempre de alguma forma, influenciam nossos comportamentos, modificam nossos pensamentos e hábitos, nos ajudam a criar uma perspectiva mais ampla, nos motivam a certas escolhas, são importantes no nosso desenvolvimento da linguagem verbal e não verbal, influenciam nossas opiniões, sendo até parte das referências que construímos desde o jeito de se vestir até as escolhas educacionais e profissionais.

No livro Connected – The surprising power of our social networks and how they shape our lives, James Fowler e Nicholas Christakis vai além e demostra o quanto as amizades das amizades também passar a nos influenciar com o tempo, segundo eles: “Nosso ponto principal não é tanto mostrar que seus amigos o afetam. Isso é senso comum. Nós mostramos como pessoas que não conhecemos nos afetam.” Eles apresentam um estudo que mostra que o poder da amizade é bem mais amplo do que imaginamos e afirma que nosso comportamento sofre influência, por pessoas que nem sequer conhecemos, mas que são parte das relações de nossos amigos com seus amigos.

Neurologicamente explicando também é possível compreender que o cérebro usa da amizade como um facilitador. Como por muitas vezes já expliquei em outros textos, a programação cerebral instintivamente tem por si a necessidade de facilitar a vida para consumir menos energia. A questão aqui é que tomar decisões é algo que consome energia, exige atenção e também é cansativo. Para minimizar esse consumo e facilitar as coisas, o cérebro busca fazer espelhamento junto a aqueles no qual ele identifica alguma similaridade, por isso ele faz comparativos junto as pessoas no qual mantemos relações na hora de escolher.

Seja desde a roupa que vamos usar, o corte de cabelo, a música, como onde e o que comer, como também aquilo que nos traz prazer, são resultado desse conjunto de informações dada pelas relações. Por outras palavras é importante entender que erroneamente como muitos ainda pensam, não estamos plenamente no controle, seja de nossa felicidade ou ao fazer escolhas, a verdade é que a tomada de decisões está repleta de vieses que estão distantes de nosso julgamento. As pessoas não se lembram literalmente das experiências ruins como também das boas e vice-versa, isso tem muito a ver com o estado emocional presente. Nesse sentido, nossas emoções modifica uma memória e interfere nas escolhas que poderia ser racional ou irracional; que por meio dos viés relacionais, consciente ou inconsciente, são referenciados como condição para as escolhas que, por sua vez, de outra forma e em outras companhias, poderíamos até ser evitadas.

Moran Cerf, neurocientista da Northwestern University realizou diversos estudos sobre a capacidade de influência que as amizades nos condicionam e em um de seus estudos ele descobriu que quando duas pessoas amigas estão próximas uma da outra, suas ondas cerebrais começam a produzir padrões semelhantes. Segundo ele “Quanto mais estudamos o envolvimento, vemos repetidamente que apenas estar ao lado de certas pessoas realmente alinha nosso cérebro com elas”. Com isso ele chegou à conclusão de que as pessoas com quem nos relacionamos gera um impacto significativo em nosso desenvolvimento quanto a realidade, e para ele isso está muito além do que se esperava, porque vamos nos assemelhando cada vez mais um com o outro.

Ter amigos é bom, nos ajuda a ser humanos e é fundamental para o nosso desenvolvimento como pessoa. Mas a história de que quanto mais é melhor, não é verdadeiramente uma boa afirmação. Há um limite e a própria natureza humana se reserva a limitar nossas amizades. A partir de estudo feito na Universidade de Oxford os cientistas perceberam que mesmo para um cérebro humano há um número máximo que conseguimos lidar ao mesmo tempo. Isso se dá ao fato de que manter uma amizade precisa de muito esforço cognitivo, afinal além de memorizar informações sobre aquela pessoa (imagem, nome e dados sobre a personalidade dela) que serão acionadas quando há interação a também todo o processamento de informações para lidar com a relação.

Nesse estudo chegaram à conclusão que somos capazes de lidar em média com rede de no máximo 150 pessoas, acima disso cognitivamente não conseguimos ter uma aproximação que não seja simplesmente casual. Dentro desse estudo a diversos níveis de amizade, logo, em resumo estamos aptos para ter no máximo 5 grandes amigos, aqueles mais íntimos, quase irmãos. Uns 15 no qual temos empatia que são de alguma forma importante para nossa vida. Uns 50 que mantemos como relação social, e por fim uns 150 no qual conseguiríamos lembrar dos nomes, seus rostos e características comuns de interesse.

“Aquele que anda com homens sábios será sábio, mas um companheiro de tolos será destruído.” (Provérbios 13:20)

 Fica claro que isso não só acontece quando se fala somente de amizades já estabelecidas, mas sim quando se está com pessoas que temos certas semelhanças, por exemplo, em uma roda de pessoas que acabamos de conhecer, é possível que por causa de alguma delas podemos ser influenciados emocionalmente e sentimentalmente. Uma pessoa ali presente pode influenciar o humor, o ânimo, o desanimo, a alegria, a tristeza, ou mesmo se uma das pessoas fala rápido isso pode aumentar o ritmo da conversa; isso ocorre mesmo em uma plateia com muitas pessoas, onde podemos sentir mais leves ou engraçadas dependendo da reação de outros presentes.

Diante a tudo que vimos até aqui fica claro que durante a vida, seja no ambiente familiar, nas relações amorosas e no ambiente profissional, estamos cercados de pessoas que realmente vale a pena mantê-las como amigos, mas há também muitas pessoas tóxicas. Conviver por algum tempo com pessoas tóxicas pode nos levar a agir como elas, de maneira também tóxica. Por isso, de fato e sem qualquer dúvida é preciso se auto conhecer para não cair em armadilhas que muitas relações podem nos conduzir. Muitas vezes entendemos haver ganhos com as escolhas que fazemos quanto as pessoas que queremos ao nosso lado, mas que no fundo e de fato a realidade é que estamos perdendo e perdendo muito de nós mesmos. 

 Nesse sentido o autoconhecimento se faz sempre necessário até mesmo para desenvolvermos o hábito de se autoquestionar quem são as pessoas que estão a nossa volta e faz parte das nossas relações e com isso buscar perceber quais são as influências daqueles que nos cercam e o quanto elas são essenciais para nossos sonhos, bem-estar e para a qualidade de vida que tanto desejamos alcançar. Não faltam toxidade e negatividade no mundo social e profissional e esses parecem ter um poder ainda maior para exalar pessimismo e derrotismo. Sentimentos ruins são muito contagiosos e difíceis de se curar.

Por fim, não faltam estudos para demostrar o quanto as amizades podem ser determinantes para a nossa vida tão como para encontrarmos a felicidade. Por isso a decisão de escolher uma pessoa para passar o tempo não é somente e apenas um conselho e sim, pura ciência. Logo, se deseja maximizar a felicidade e minimizar a tristeza e o estresse, primeiro tenha consciência de que amizade verdadeira com pessoas que realmente vale a pena são raras, mas necessárias, por isso de valor a elas. Segundo, se está considerando construir uma vida boa, então, de uma forma ou outra, seja sensato consigo mesmo, para que incorpore nas suas relações somente aquelas pessoas que tem características próximas as suas virtudes. 

Evite minar suas decisões por estar ao lado de pessoas que minam a sua energia, desassocie – afaste-se das amizades ou relacionamentos tóxicos e pessoas que, na verdade, você não deseja por perto, porque de alguma forma lhe faz mal. Por fim, sempre faça sua autoavaliação, busque se autoconhecer e valorize quem você é, busque dentro de si a certeza de que é você que está no controle e esta sim é a decisão mais importante e determinará não só você, mas quem você realmente quer que esteja do seu lado.

 Sobre o Autor:

Marcello de Souza, fundador da Coaching & Você, é apaixonado por assuntos referentes a gestão, liderança e fascinado pelo cotidiano e pelas mais diversas formas do desenvolvimento da inteligência comportamental humana. Estudioso, escritor, pesquisador e admirador da psicologia social, vive em busca constante do crescimento intelectual e comportamental humano.

Tem mais de 21 anos de experiência em empresas nacionais e multinacionais, atuando como agente, facilitador palestrante e consultor internacional. Tem vasto conhecimento em gestão e consultoria de equipes multidisciplinares, liderança e gestão de projetos de alto impacto, relacionamento e negócios. Coordenou times e clientes, atuando na implementação de novas ideias, simplificação de processos e identificação de áreas frágeis, bem como na antecipação de cenários com ações inovadoras de alto impacto além de desenvolver a excelência nas pessoas.

Seu trabalho seja como Coach, Mentor, Terapeuta, Palestrante e Treinador, seja em campo ou em seu consultório, utiliza dos mais alto níveis de conhecimento que envolve desde neurociências, psicologia social e comportamental como também ferramentas especializadas para análise a avaliação comportamentais, técnicas como Coaching, PNL, Hipnose, Constelação Sistêmica Organizacional e Familiar, Psicologia Transpessoal, Logoterapia, entre tantos outros fundamentos que foram alcançados em mais de 21 anos de experiência e pela busca contínua do conhecimento.

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