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NÃO DESISTA DAS PESSOAS, APOSTE NELAS

“Não buscamos mais recuperar os vínculos humanos; simplesmente trocamos. Diferente de trocar sapatos, as pessoas, seja nas redes sociais ou seres queridos por outros, substituímos a dor do desgaste pela sedução da novidade. Ao não mais distinguir pessoas de objetos, somos iludidos, trocando alguém na esperança instantânea de nos tornarmos mais interessantes, sem perceber que o espelho ainda reflete o drama dessa incessante busca pelo vazio causado pela própria vaidade.” (Marcello de Souza)

Sei que parece muito estranho esta frase em tempos de hoje. Não é de agora que gradualmente estamos nos tornando acostumados a simplesmente desistir das pessoas e hoje eu afirmar que não devemos desistir, mas sim apostar nelas, realmente pode parecer loucura, mas não é.

Para entender a proposta é preciso primeiro compreender que estamos em um mundo imediatista que nos faz andar cada vez mais com pressa, perdendo a oportunidade de perceber o que realmente está acontecendo com nós, com outro e com o mundo a nossa volta. Nessa relação ininterrupta com esse mundo que tem crescente urgência, essencialmente a palavra viver parece passar sempre com a impressão de que o seu sinônimo é falta de tempo. Falta tempo para o afeto dado pelas relações.

   Sem tempo, tudo se baseia agora na praticidade. Porque então perder tempo em refletir através de uma autoanalise sobre cada experiência vivida buscando conhecer mais sobre quem somos, porque somos, o que podemos ser e o que podemos fazer para nos tornarmos pessoas melhores se há manuais disponíveis capazes de nos explicar e determinar tudo aquilo que precisamos fazer para dar razão e justificar a nossa vida e daí encontrar a tão clamada felicidade.

Não é à toa frente a tanta literatura rasa que nos faz acreditar que tudo passou a ser objeto. O carro, a casa, o animal estimação tão como as pessoas a nossa volta, não importa. Como objeto tudo fica mais simples, isso porque sempre que algo não nos atenda mais, simplesmente descartamos e buscamos outro para substituir. Não há responsabilidade e assim, nesta loucura pós-moderna, as relações com o mundo, em grande parte, passam a ser superficiais tão como os valores humanos que estão crescentemente sendo mais deturpados.  

Quando trazemos isso para as relações as pessoas passam a ser reconhecidas pelo “ter” e não mais pelo “ser”. Acabamos por nos acostumar a qualificar as pessoas pelas posses e exposições nesse teatro de verdades e certezas. Muito das razões fundamentais das relações humanas se desintegraram pela condição comparativa quantitativa de quem pode mais, ditado por regras nessa normose no qual cada vez mais acreditamos fazer parte.

A individualidade e a prepotência passam a ser descritas em manuais de autoajuda que não só determinam o que precisamos para ser feliz como também sempre traz um conceito, regras e explicações do porque somos o que somos, como uma ilusória condição de autoconhecimento que diz ter como intenção ajudar nos entender, mas na verdade é uma maneira a mais para justificar a nós mesmos da pessoa que estamos nos transformando. Afinal, podemos até escolher qual dessas mirabolantes respostas prontas melhor nos serve, basta atentar-se entre tantas e tantas teorias fúteis e superficiais aquela que mais nos convém e que nos faça se sentir melhor, como uma dose de uma droga para aliviar suas próprias culpas e desilusões.

Claro que isso server para um instante, mas não para as razões da vida. Talvez não seja gratuito que as pessoas andem tão desconfiadas uma das outras. Tão distantes e tão infelizes em um mundo que também está cada vez mais doente.

Nesse sentido é o que quero propor como reflexão para que invés de desistir das pessoas, deveríamos apostar nelas. Afinal, podemos querer encontrar resposta e justificar muito de nós mesmos, mas não podemos tirar a responsabilidade de todas as nossas escolhas que nos trouxeram até aqui e que nos faz ser quem somos e nos relacionarmos da maneira no qual estamos nos relacionando.

Se você nesse momento quiser descobrir como vai sua vida, a qualidade daquilo que você está fazendo da sua vida, é só você fazer uma reflexão de como anda as suas relações. Como seres relacionais o que qualifica a nossa existência é o tanto que a gente é saudável com as relações humanas. Está nas relações os afetos e daí a resposta que damos ao mundo sobre nós mesmos.

Não é o tanto que nós temos de pessoas a nossa volta, não é o carro, o barco a casa, não o que consegue comprar ou o poder conquistado em seu emprego. Tudo isso tem sua importância, tudo isso representa muito das nossas provações e em certa dose, nos traz alegria e não há problema nenhum nisso.

Agora, o que qualifica a nossa vida com certeza está nas nossas relações. Porque até mesmo tudo que conquistamos só tem significado quando temos alguém para partilhar. Nada tem muita graça quando individualistas. Não é verdade!

A matéria humana está para a razão das relações. Somos seres relacionais, precisamos do outro para viver, sem o outro não conseguimos se quer nos reconhecer. Fato é que conseguimos nos tornar pessoas melhor a partir dessas relações no qual vamos aprendendo pelas experiências o que é o melhor para nós mesmos. O tanto que nos relacionamos é o quanto modificamos a nossa vida. A individualidade gera egoísmo e o egoísmo por sua vez traz às verdades e certezas à tona, realimentam crenças e criam paradigmas digna para uma vida entristecedora, uma vida infeliz.

Felicidade! É inútil buscá-la em qualquer outro lugar que não seja no calor das relações humanas… Só um bom amigo pode levar-nos pela mão e nos libertar.
(Antoine de Saint-Exupéry – Terra dos Homens – 1939)

Relacionar não é simplesmente estar com o outro e sim apresentar por inteiro para que as pessoas possam reconhecer nossas partes. Estar vulnerável, retirando as máscaras para que o outro tenha a certeza de quem somos pelos nossos valores, nossas virtudes e nossos princípios, sem ter medo de demostrar também nossas imperfeições. É aquilo que se chama ética das relações, fazer com que o outro não espere nada mais do que aquilo que realmente podemos oferecer. É saber ouvir, como também saber a hora de falar. Relação humana é um processo de doação, empatia e aprendizado continuo. Aceitar o outro como ele é da mesma forma que se auto aceitar para reconhecer nossos próprios limites. Estar numa relação é se dedicar a fazer a diferença. Ela está para o tanto que a gente se perdoa e perdoa o outro, o olhar nos olhos, é o tanto que a gente não desiste por entender que não somos nem melhores e nem piores que ninguém.

Relação é o quanto que a gente preserva a vida nas pequenas coisas, nos pequenos gestos, na delicadeza da boa intenção.

Para a permissão de uma relação primeiro temos que entender que nada é eterno como também todos nós estamos aqui nesse único e exclusivo instante buscando sobreviver da melhor forma possível e tudo que nós somos hoje é resultado das nossas experiências. A minha experiência não é sua experiência de vida. Somos singulares em tudo, mas está nas relações a pluralidade de ser humano.

Para uma relação saudável precisamos primeiro compreender que a vida se dá pela liberdade. A liberdade não é uma opção, assim dizia Sartre. Justamente por não ser opção se chegamos até aqui é porque escolhemos e se escolhemos é porque no instante da escolha decidimos por aquilo que nos representa mais valor. Essa é a dinâmica da vida. Somos constituídos de escolhas e cada escolha representa um instante a mais de experiência para tomar outras e outras decisões. Nesse sentido, podemos então dizer que somos resultado das nossas experiências e é através delas que reconheceremos o que devemos fazer no instante seguinte.

Nenhum instante de vida se repetirá. Nada na vida se repete, tudo é inédito e virginal, por isso mesmo tudo é o que deve ser, afinal cada instante da vida é uma representação do mundo que criamos para nós através das nossas experiências. Não conseguimos criar outro mundo a não ser aquele que anteriormente experimentamos, em outras palavras não é mundo que nos faz agir e sim a interpretação do mundo que temos a partir daquilo que já experienciamos na vida. Não se engane, isso é uma ação inconsciente, o cérebro sempre faz suas apostas para o instante seguinte a partir daquilo que ele já conhece e que há dentro si.

Se somos resultado das nossas experiências e é através dela que construímos a nossa realidade isso também vale para cada relação. Talvez o maior equívoco da vida é achar que está para a relação as respostas de quem somos e o que somos como também a solução para aquilo que queremos ser. Diferente disso as relações nos traz a oportunidade de ver o mundo através das experiências do outro e com isso criarmos mais conteúdo experiencial para a nossa própria vida, afinal toda e qualquer relação é um aprendizado continuo que nos faz ver muito e ir além da capacidade criada por nós mesmos.  

Espero que agora você seja capaz de entender que quando estamos em uma relação e passamos julgar, críticas e ver defeitos no outro na verdade não é e nunca foi uma relação e sim um auto avaliação, uma autocrítica de si mesmo, já que estamos falando das nossas experiências, falando de nós mesmos e o que estamos vendo é um reflexo daquilo que somos. Não conseguimos ser o outro a não ser nós mesmos e o que outro nos representa está dentro de nós. Não criamos nada do nada, precisamos ter uma base, um fundamento interno partindo das nossas crenças e verdades para poder apontar ao outro o dedo e dizer o que é certo e o que é errado. Na dinâmica do ser humano é muito mais fácil para ele dizer do outro aquilo que nos pertence.

Nós humanos temos muita dificuldade de aceitar quem somos, não que há dentro de nós um único eu, somos formados por um complexo sistêmico no qual trazemos uma grande parte da nossa genética, do real formado pelas experiências dadas pela nossa infância como também do idealizado criado a partir do nosso aprendizado dado pela vida. Essa dificuldade é o que faz criarmos realidades paralelas, vestirmos máscaras pelo objetivo maior de sermos reconhecidos e aceitos. Justamente são estas máscaras que nos leva a deixar de acreditar no outro e muitas vezes porque o outro nos faz nos apresentar por inteiro, expondo justamente aquilo que tememos enxergar em nós. Esse medo de exposição é muito subjetivo e pertence a cada um e ele é responsável por muitas das decisões e desilusões pela vida.

Muitas das decisões foram tomadas em um instante aonde outro tinha sua perspectiva de vida e nós tivemos a nossa, ou seja, a cada instante de vida estamos baseando a nossa realidade a partir daquilo que conhecemos até aquele instante, nem mais e nem menos, por isso hoje é mais fácil falar de outros tempos passados sobre uma outra perspectiva já que desde aquele instante outras questões da vida nos trouxeram aprendizados e ensinamentos que até então não havia, logo o que quero dizer com isso é que se hoje há uma certeza de vida é que aquele instante passado não se repetirá, nem para você e nem para o outro e tudo não passa de uma ilusão a partir de uma ótica do hoje.

Claro que se juntarmos tudo descrito aqui, logo percebemos que realmente deixamos muito das nossas relações pela dinâmica vida, outras vezes pelo medo de reencontrar o pior de nós mesmos, tão como de nos sentirmos impotentes ou culpados por não ter tomado decisões melhores. Mas, de nada disso vale para a vida. Não há como materializar nada do passado e nada do futuro, só existe um instante para se viver ele se dá neste agora. Por isso, não podemos julgar, culpar, lamentar ou mesmo querer justificar, afinal do que importa.

O que importa mesmo é entender que todos nós estamos em um processo evolutivo e que cada pessoa traz dentro de si uma perspectiva de mundo, formado por crenças no qual são resultados das próprias experiências vividas. Conforme a vida passa outras experiências vão se formando e muitas das crenças são ressignificadas e outras fortalecidas. Perceba, portanto, que o aprendizado com a vida é continuo. O que quero dizer é que todos os seres humanos estão em um processo evolutivo. Todos nós crescemos a cada instante, cada um na sua velocidade e na sua subjetividade do que é uma vida boa e feliz.

Por tudo isso reafirmo a frase inicial, não desista das pessoas, aposte nelas. Talvez aquela pessoa que nós tanto julgamos, criticamos ou mesmo nos entristeceu, pode assim como nós, estar em processo evolutivo na busca do seu melhor e as experiências por ela vida durante este tempo tenha feito dela uma pessoa muito melhor ou talvez hoje nós com o tempo de vida que seu deu por nossas novas experiências também sejamos capazes de perceber o quanto daquilo que julgávamos, criticávamos o outro não faz mais sentido e não vejamos mais a pessoa da mesma forma. Como também se permita entender que se ainda julgamos, criticamos ou mesmo condenamos uma outra pessoa talvez ainda esteja em nós o problema e quem precisa mais trabalhar a autoconsciência e buscar este autocrescimento interno não é o outro, mas nós mesmos. Só sabemos que estamos curados quando aquilo que víamos de pior no outro deixa de existir e fazer sentido dentro de nós mesmos.

Para finalizar, nunca se esqueça que todos somos dignos das imperfeições e são com elas que nos tornamos pessoas melhores e assim como cada um de nós o outro também é merecedor de sua própria evolução. Precisamos reaprender a não desistir tão fácil das coisas e principalmente das pessoas e perceber o quanto daquilo que nos incomoda no outro nos pertence e isso sim é um processo de evolução no mais integro sentido de auto cura!

Assim, em meio a realidade da vida, compreendemos que as relações humanas são um magnífico palco, onde cada ator traz consigo uma narrativa única. Não desistir das pessoas é, na verdade, um compromisso com a nossa própria evolução. Ao apostarmos uns nos outros, não apenas aceitamos a diversidade de trajetórias, mas também reconhecemos a oportunidade de enriquecermos nosso próprio enredo. Em um mundo que muitas vezes nos instiga a abandonar, a persistência nas relações se torna a expressão máxima da nossa humanidade. O aprendizado contínuo proporcionado pelos encontros e desencontros nos desafia a superar limites, a questionar preconceitos, e a descobrir o extraordinário na simplicidade de cada interação. Que possamos carregar conosco a certeza de que, ao não desistirmos das pessoas, estamos não apenas investindo em suas jornadas, mas também cultivando o solo fértil do qual brotam as flores raras da compreensão mútua e da aceitação incondicional. Que a aposta nas relações seja o nosso tributo à grandiosidade da experiência humana. E assim, ao olharmos para trás, possamos contemplar uma vida pontuada não apenas por realizações individuais, mas por um intrincado mosaico de conexões que transformaram, de maneira indelével, o curso de nossas existências. Que cada relação seja uma sinfonia única, tocada pelos instrumentos singulares de cada pessoa que encontramos ao longo do caminho.

Nesse concerto da vida, que a nota final ressoe como uma melodia harmoniosa, digna de uma jornada marcada pela coragem de nunca desistir, mas sim, de apostar, acreditar e, acima de tudo, amar. Que seja assim que nossa história seja escrita, e que cada página seja merecedora de elogios complexa e bela avaliação da vida, afinal as relações são a luz que ilumina as sombras de nossa percepção limitada. Ao não desistir das pessoas, abrimos as portas das prisões que criamos para nós mesmos, emergindo para a vastidão da compreensão mútua. A verdadeira felicidade reside na virtude e na amizade, sustentáculos fundamentais das relações genuínas.

Sobre o Autor:

Marcello de Souza, fundador da Coaching & Você, é apaixonado por assuntos referentes a gestão, liderança e fascinado pelo cotidiano e pelas mais diversas formas do desenvolvimento da inteligência comportamental humana. Estudioso, escritor, pesquisador e admirador da psicologia social, vive em busca constante do crescimento intelectual e comportamental humano.

Tem mais de 21 anos de experiência em empresas nacionais e multinacionais, atuando como agente, facilitador palestrante e consultor internacional. Tem vasto conhecimento em gestão e consultoria de equipes multidisciplinares, liderança e gestão de projetos de alto impacto, relacionamento e negócios. Coordenou times e clientes, atuando na implementação de novas ideias, simplificação de processos e identificação de áreas frágeis, bem como na antecipação de cenários com ações inovadoras de alto impacto além de desenvolver a excelência nas pessoas.

Seu trabalho seja como Coach, Mentor, Terapeuta, Palestrante e Treinador, seja em campo ou em seu consultório, utiliza dos mais alto níveis de conhecimento que envolve desde neurociências, psicologia social e comportamental como também ferramentas especializadas para análise a avaliação comportamentais, técnicas como Coaching, PNL, Hipnose, Constelação Sistêmica Organizacional e Familiar, Psicologia Transpessoal, Logoterapia, entre tantos outros fundamentos que foram alcançados em mais de 21 anos de experiência e pela busca contínua do conhecimento.

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