ARTIGOS (DE MINHA AUTORIA),  COACHING COMPORTAMENTAL,  COMUNICAÇÃO E COMPORTAMENTO,  DESENVOLVIMENTO HUMANO,  GESTÃO,  LIDERANÇA,  NEUROCIÊNCIA,  PENSAMENTO SISTÊMICO,  PSICOLOGIA,  PSICOLOGIA SOCIAL,  RELACIONAMENTO

O PODER DA ATENÇÃO PLENA

Tenho me dedicado atualmente boa parte dos meus estudos sobre comportamento para entender melhor o que efetivamente é, e quais os benefícios da Atenção Plena. Apesar de se tratar de um assunto complexo e fundamentado em diversas ciências comportamentais, entre elas a psicologia social, comportamental, tão como a psicologia positiva e tradicional e a neurociências, nesse artigo quero demostrar o quanto podemos aplica-la a nosso favor para alcançar resultados significativos. Além disso quero aqui ajudar a compreender como mudar nosso comportamento diante ao simples fato de prestar mais atenção no que acontece a nossa volta, em vez de agir no piloto automático. Por que? Entre os ganhos da Atenção Plena é possível destacar: redução de tensões principalmente nas relações, instigar a criatividade e o pensamento sistêmico e inovador, estimular o desempenho, ter mais controle sobre as decisões tomadas como também dar mais valor a própria vida.

Atenção Plena X Foco

Aliais, antes de continuar aqui sobre a Atenção Plena é preciso deixar claro que não tem nada a ver com a proposta de Foco descrita por Daniel Goleman. Talvez a confusão se dá por ele referir o foco como habilidade estratégica para quem busca se destacar nos projetos pessoais e no mercado de trabalho. Goleman apesar de demostrar o quanto é algo difícil de se obter nos dias atuais, devido ao bombardeamento de informações a todo instante, gerando distrações e isolamento, ele defende que esse excesso de informação nos deixa, ainda, com aquela estranha sensação de estarmos perdidos e sem saber por onde começar. Assim, focar em alguma coisa é uma missão quase impossível para muita gente.

 Particularmente, eu não sou um admirador de Goleman. Entretanto, como é muito comum as pessoas confundirem Atenção Plena com Foco, faço questão de ressaltar que andam em caminhos diferentes. Mesmo ele apontando a ideia que o Foco ajuda a manter a atenção no que de fato interessa e ainda, por exemplo, enumera três etapas principais para se desenvolver a criatividade, como: 1. Orientação quando olhamos para fora e buscamos todos os tipos de informações que possam nos ajudar. 2. Atenção seletiva quando focamos especificamente no desafio que queremos resolver. 3. Entendimento quando associamos as informações livremente para deixar que a solução apareça – ao decorrer do meu artigo perceberá que não estamos falando da mesma coisa e não se relacionam. Por exemplo quando ele diz que o cérebro vive um conflito constante entre divagar e perceber exatamente onde nos encontramos naquele momento – já estamos falando de propostas diferentes. Além disso, segundo ele nossa energia para divagar a percepção do mundo naquele momento, fica reduzida. O que contraria a maneira de que penso sobre o assunto. Ainda, ele afirma que quando focamos em perceber o nosso meio e os estímulos do mundo, nosso cérebro abandona as divagações. É importante encontrar o ponto de equilíbrio e garantir que nossos pensamentos e performance estejam indo ao encontro de nossos objetivos. Pensamento que também não está alinhado com a maneira no qual eu entendo, sendo também divergente. Por fim, talvez a maior discrepância está na afirmação que ele faz quanto ao dizer que nosso cérebro quando mantém foco constante por muito tempo, ele se cansa e podemos chegar ao ponto de exaustão cognitiva, tornando-nos incapazes de aprender. Entre tantas outras questões, espero, portanto, que ao ler o meu artigo a seguir não tentem comparar as ideias propostas.

Feito este esclarecimento quero começar aqui contrabalançar a Atenção Plena — como a procura contínua do novo — como a capacidade de curvar-se e conseguir que as coisas sejam feitas. Salientando que eu defendo a ideia de que a vigilância ou atenção muito concentrada é paradoxalmente um sinal de desatenção. Por exemplo, se estou dirigindo em uma estrada perdido e focar em buscar pistas para achar o caminho, eu posso estar correndo o risco de sofrer um acidente negligenciando a condição da estrada, o tráfego de outros veículos, a velocidade, o nível de combustível, a condição do tempo, a condição do carro, etc. Eu entendo que devemos nos dar sempre uma condição de abertura flexível— estar atento ao que faz, mas não de forma fixa, limitada ou rígida, porque assim estaremos se distanciando de uma visão sistêmica perdendo tantas outras oportunidades.

Vamos Começar Com O Básico

Em uma sociedade ruidosa, todos nós acabamos sofrendo continuamente de desatenção. Isso não ocorre apenas por causa do excesso de informação, mas porque nos acostumamos, desde a infância, a nos apegar e tornar-nos excessivamente dependentes de conhecimentos pré-estabelecidos relacionados ao passado, como se representassem uma verdade absoluta ou, como mencionei em um artigo publicado, servissem sempre como referência para os problemas atuais (Enganados pela própria experiência – https://www.marcellodesouza.com.br/enganado-pela-experiencia/).

Por isso, a Atenção Plena é essencial para navegar no caos — embora o próprio caos possa dificultar sua prática. O caos, para mim, é uma percepção subjetiva e introspectiva. Muitas pessoas argumentam que atualmente há um excesso de informação, mas eu diria que não há mais conhecimento hoje do que antes, considerando nossa capacidade de aprendizado. A diferença está no fato de que se tornou comum as pessoas alegarem que precisam absorver toda essa informação — e quanto mais informação obtiverem, mais imponentes serão, melhor será o resultado do seu trabalho e mais lucro a empresa terá. Para mim, o ponto crucial não está no volume de informação, mas sim na falta de tempo dedicado à reflexão clara e objetiva sobre o valor que a informação pode trazer para o momento presente de nossas vidas. Além disso, o meio pelo qual a informação é adquirida pode fazer toda a diferença, e é aqui que reside o ponto-chave da Atenção Plena. Um exemplo prático disso seria a diferença entre ler um artigo superficialmente enquanto se está distraído e dedicar um tempo para uma leitura profunda e reflexiva em um ambiente calmo e livre de interrupções.

Imagine que você está pesquisando sobre um tópico relevante para o seu trabalho. No primeiro cenário, você está em um ambiente barulhento e com várias distrações ao seu redor. Você lê rapidamente o artigo, mas sua mente está divagando, e você não absorve completamente o conteúdo. No final, você não consegue reter muitas informações úteis e não reflete sobre como isso se aplica ao seu contexto de trabalho.

Agora, no segundo cenário, você se reserva um tempo tranquilo, longe de distrações. Você lê o mesmo artigo de forma consciente, fazendo anotações, questionando o conteúdo e refletindo sobre como pode aplicá-lo em seu trabalho. Você se compromete com uma leitura profunda, absorvendo o máximo de informações possível. Como resultado, você compreende melhor o material, identifica insights relevantes e pode utilizá-los de maneira mais eficaz em sua prática profissional.

Nesse exemplo, a diferença não está apenas na quantidade de informação absorvida, mas na qualidade da absorção, influenciada pelo ambiente e pela abordagem consciente da leitura. Essa é uma demonstração prática de como o meio pelo qual a informação é adquirida pode fazer toda a diferença, e como isso está relacionado ao exercício da Atenção Plena.

Isso tem muito a ver com a capacidade de atenção, afinal, metaforicamente, pode-se dizer que estamos deixando cada vez mais de dar valor ao estado presente, o que por sua vez deixa pouco espaço para pensar no novo. É como se o passado sempre estivesse vivo em nossa consciência e determinasse um presente viesado. De fato, não faltam estudos comportamentais hoje que demonstram a importância de desfazer, ou melhor dizendo, ressignificar essa “mente restrita” para dar conta de um mundo em plena e contínua transformação. Um bom exemplo disso está no viés da cegueira de aprendizado, ou seja, não vemos o que está na nossa frente, porque achamos que já sabemos das coisas, mas na verdade não sabemos. Independentemente do que estejamos fazendo, fazer com consciência, ou seja, com a atenção no presente, torna o momento muito mais significativo de possibilidades, pois estamos nos permitindo realmente aprender.

A falta de atenção não é estupidez

Quando aprendemos algo novo, tendemos a nos fixar nesse conhecimento, repetindo pensamentos que influenciam nossas decisões cotidianas. É crucial compreender o conceito de Atenção Plena para lidar com essa dinâmica. A essência da Atenção Plena é simples: reconhecer que mente e corpo estão interligados. Isso significa estar consciente do momento presente, permitindo-nos perceber novidades e estar verdadeiramente no agora. Ao nos sintonizarmos com o presente, nos sentimos mais vivos, conectados ao mundo ao nosso redor. Aumentar essa consciência nos proporciona uma visão mais ampla das coisas, contribuindo diretamente para nosso bem-estar físico e mental.

Um exemplo prático relacionado a esse título seria o seguinte: imagine que você está em uma reunião importante no trabalho, mas sua mente está constantemente divagando para outros assuntos. Enquanto os colegas estão discutindo ideias e tomando decisões, você está distraído, pensando em problemas pessoais ou em tarefas futuras. Essa falta de atenção não significa que você seja estúpido ou incapaz de compreender o que está sendo discutido. Em vez disso, pode ser resultado de diversos fatores, como cansaço, preocupações ou falta de interesse na pauta da reunião.

Ao reconhecer essa falta de atenção e buscar maneiras de melhorar sua concentração, como praticar a Atenção Plena, você pode aumentar sua eficácia no trabalho e evitar mal-entendidos. Portanto, a falta de atenção não deve ser confundida com ignorância, mas sim como uma oportunidade de desenvolvimento pessoal e profissional.

A Atenção Plena

Em resumo a Atenção Plena é o processo de perceber ativamente coisas novas. Entretanto, para fazer isso, é preciso se colocar no momento atual. Que por sua vez vai nos tornar mais sensíveis ao contexto e às perspectivas. Nesse instante é a consciência lidando com o inconsciente e não o inconsciente lidando com a consciência, que em outras palavras, é o momento de presença no qual deixamos de estar no automático. É a essência da autogestão. O momento da conscientização de quem realmente somos, do que somos bem como o que podemos fazer com tudo que aprendemos a ser até o momento presente.


Gera Energia Em Vez De Consumi-La

Um equívoco comum em discussões sobre Atenção Plena é considerá-la exaustiva e tensa. Essa percepção equivocada surge da confusão entre a tensão do momento presente e a prática da Atenção Plena. É importante entender que o cérebro não gasta mais ou menos energia, independentemente da situação. A exaustão está mais relacionada às emoções do que ao esforço cognitivo. Por exemplo, a ansiedade está associada a doenças psicossomáticas, decorrentes da falta de controle emocional e dos pensamentos impulsivos, sobrecarregando o corpo.

A consciência plena considera a previsão do futuro uma ilusão. Ao priorizarmos o momento presente, diminuímos a preocupação com o futuro. Não devemos confundir Atenção Plena com preocupação constante. Ela gera energia em vez de consumi-la. O que de fato gera tensão, consome energia e afeta nossa saúde está ligado ao estresse, que são as avaliações negativas imprecisas e a preocupação antecipada com problemas que talvez não possamos resolver.

Por exemplo, imagine que você está constantemente preocupado com a possibilidade de perder o emprego. Essa preocupação constante consome sua energia principalmente por causa da tensão emocional, afetando seu bem-estar e desempenho no trabalho. No entanto, ao praticar a Atenção Plena e focar no momento presente, você reduz essa preocupação e se concentra em suas tarefas diárias com mais clareza e calma, aumentando sua eficácia e satisfação no trabalho.

Em resumo, a ideia de controle que buscamos constantemente é muitas vezes fantasiosa. Queremos acreditar que podemos controlar uma série de eventos em nossas vidas, seja por meio de habilidades específicas que podemos aprimorar, como tomar boas decisões no trabalho, ou eventos dependentes do acaso, como ganhar na loteria. Aqui reside a distinção crucial entre Atenção Plena, ilusão e crença: quando acreditamos ter controle sobre algo, tendemos a aplicar nossas respostas passadas a outras situações no presente, ignorando o fato de que a vida é imprevisível e dinâmica, e o que funcionou no passado pode não ser aplicável ao presente.

A Atenção Plena nos ensina a não nos apegarmos a essa ilusão de controle sobre eventos futuros, assim como a reconhecer que na vida, queiramos ou não, há o acaso. Assumir o controle significa praticar uma visão clara da própria vida diante das escolhas que fazemos a cada instante, direcionando-nos para a construção mais sólida de um futuro que está por vir.

Atenção Plena X Ilusão X Crença

A prática da Atenção Plena se manifesta no presente, no momento atual, estando conscientemente presente consigo mesmo e com o ambiente ao seu redor. Isso torna o momento mais claro, organizado e engajado. Quando estamos presentes, somos capazes de atribuir valores, o que é essencial para tomar decisões. Ao fazer escolhas, prestamos atenção em diferentes aspectos das nossas opções. Assim, captamos mais informações, percebemos detalhes que outras pessoas podem perder e ganhamos uma vantagem ao identificar oportunidades que passam despercebidas para os outros. Essa é a Atenção Plena na prática.

Por outro lado, em situações fundamentadas na ilusão (achismo) e na crença, podemos não perceber, mas perdemos o controle. Mesmo que não estejamos conscientes disso, experimentamos estresse e passamos tempo sem agir ou sem tomar medidas benéficas com base em nossas experiências passadas. As pessoas que têm plena confiança em suas crenças encontram-se em um estado de tensão constante, pois tendem a encarar suas convicções como verdades absolutas. Quando essas expectativas não se concretizam, é comum surgirem vieses cognitivos, que por sua vez influenciam negativamente as decisões, levando a uma busca incessante pela validação de suas teorias. Isso pode resultar em comportamentos críticos, julgadores e inseguros. Por exemplo, se passarmos três dias seguidos preocupados com uma determinada situação, sem agir, podemos antecipar todos os efeitos negativos que isso pode acarretar em vários aspectos de nossa vida. No entanto, ao invés disso, se optarmos por agir de forma proativa, trazendo questões para a realidade por meio de pesquisa, diálogo e debate, construímos um conhecimento sólido para lidar com o momento presente, permitindo-nos tomar ações mais eficazes e bem elaboradas.

Atenção Plena X estabilidade

Não podemos esquecer que todos nós procuramos encontrar um ponto de equilíbrio de certa segurança. Por isso, tendemos sempre a repetir padrões no qual ajuda manter as coisas como estão, acreditando ilusoriamente que ao fazer isso estamos no controle da vida. Na verdade, ao agirmos assim, estamos perdendo o controle.

Quando as pessoas afirmam “É assim que se faz”, não é verdade. A vida é uma constante holística, assim como tudo que há nela, não por menos que sempre haverá maneiras diferentes de construirmos nossa própria realidade, e a sua escolha pode depender do contexto naquele momento. Você não pode resolver os problemas de hoje com as soluções de ontem. Por isso, quando alguém diz Quando alguém diz: ‘Mantenha as coisas assim, está dando certo’, um alarme inconsciente deveria soar na sua cabeça, porque isso significa desde desatenção, apequenamento, acovardamento, medo, ilusão, achismo, zona de conforto, até a ignorância. A vida se dá por experiência, ou seja, o valor da vida está na experienciação como atributo a ela, não é por acaso que o conhecimento é o principal alimento para nossa mente.

A sabedoria só ocorre quando transformamos conhecimento em experiência. Somente na prática de viver a vida é que se torna possível entender que sempre há possibilidades na vida muito além daquelas que somos capazes de enxergar. Saiba, portanto que as regras que lhe ensinaram funcionaram para quem as criou; e quanto mais diferente você for daquela pessoa que a criou, pior serão os resultados para você. Veja a diferença – quando você está em estado de Atenção Plena é guiado por regras, rotinas e metas, mas não dominado por elas – delas sempre haverá aprendizado e a possiblidade de aprimoramento a nível cognitivo e identitário.

A Atenção Plena oferece uma variedade de benefícios. Para alguns, melhora significativamente o desempenho, enquanto para outros, altera sua percepção da realidade, desenvolvendo um olhar sistêmico. Em meus treinamentos, costumo aplicar um exercício desafiador que ilustra isso. Divido os participantes em três grupos e os desafio a perceber o quanto podemos estar entediados com nosso trabalho. Nessa atividade, peço a dois grupos que apresentem novos usos para produtos que foram lançados, mas fracassaram, como o Google Glass, a Microsoft WebTV, a pizza do McDonald’s, entre outros. Um dos grupos se dedica a investigar por que o produto não atingiu sua finalidade original, enquanto o segundo grupo pratica a Atenção Plena, concentrando-se nas propriedades do produto. Em seguida, um terceiro grupo, sem conhecimento prévio sobre os produtos ou seus fracassos, avalia as apresentações dos outros dois grupos e propõe novos usos para os produtos selecionados. É interessante observar que as ideias mais criativas geralmente surgem do segundo grupo.

Essa mesma abordagem pode ser aplicada em diversos contextos empresariais para aprimorar processos, modelos de gestão, ferramentas e o comportamento dos colaboradores, além de otimizar indicadores-chave de desempenho, processos de contratação e demissão, entre outros aspectos.

Por exemplo, como escritor, reconheço que cada página escrita contribui para o aprimoramento das outras. Ao estudar a Atenção Plena e os erros enquanto escrevia, adotei uma prática interessante. Comecei a revisar meus textos dias após a escrita, adotando o ponto de vista de alguém que não possui conhecimento sobre o assunto. Essa perspectiva me permitiu identificar áreas de melhoria e oportunidades de pesquisa adicionais. Muitas vezes, as pessoas realizam esse processo inconscientemente. Começamos com dúvidas, tomamos decisões e, ao nos depararmos com erros, os encaramos como catástrofes. No entanto, percebi que cada erro oferecia uma oportunidade de aprendizado e aprimoramento. Ao permanecer plenamente atento, descobri que os erros podem ser benéficos e nos conduzir a soluções mais eficazes.

O segredo para promover a Atenção Plena nas empresas é entender que quando as pessoas realizam suas tarefas de forma forçada ou insatisfeita, isso pode resultar em caos. No entanto, se cada colaborador trabalhar no mesmo contexto, estiver completamente presente e atento, não há razão para não alcançar um excelente desempenho coordenado.

Existem inúmeras vantagens associadas à prática da Atenção Plena. Além de ser o melhor caminho para prestar atenção e melhorar a criatividade, ela também proporciona lucidez e a capacidade de aproveitar as oportunidades quando surgem. A Atenção Plena ajuda a minimizar riscos e aprimorar as relações humanas, reduzindo o julgamento e tornando a pessoa mais carismática. Além disso, ela afasta o medo, o receio e a insegurança, bem como ideias de adiamento e lamentações. Quando você compreende por que está realizando determinada tarefa, não se censura por não estar fazendo outra coisa.

Seja almoçando, entrevistando alguém, trabalhando em um projeto, escrevendo um livro ou realizando avaliações, só existem duas maneiras de fazer essas atividades: com Atenção Plena ou de forma desatenta. Quando você está totalmente presente e atento, isso se reflete nos resultados obtidos e deixa uma marca duradoura. Essa abordagem também impacta o valor que atribuímos às coisas, influenciando nossas escolhas futuras. A prática da Atenção Plena pode ser considerada como o caminho para a excelência em todas as áreas da vida.

Atenção Plena X Comportamento X Relações humanas

Não preciso enfatizar o quanto todos nós tendemos a rotular, criticar e julgar pessoas de forma leviana: ele é rígido; ela é impulsiva, ele não é confiável, não sabe o que faz, parece burro, ele é lento, preguiçoso, e assim por diante. O problema com essa visão linear limitada é que frequentemente nos leva ao erro. Quando estigmatizamos alguém dessa forma, não oferecemos a oportunidade de nos relacionarmos e conhecermos as pessoas e seus valores, o que nos impede de aproveitar seus talentos. A Atenção Plena nos ajuda a entender por que as pessoas se comportam de determinada maneira. Com ela, podemos compreender a singularidade das pessoas e o motivo pelo qual cada uma age da forma que age, pois isso faz sentido para elas.

No meu trabalho de treinamento e coaching, costumo realizar um exercício no qual peço às pessoas que avaliem seus próprios traços de personalidade – o que gostariam de mudar e o que mais valorizam em si mesmas. O resultado desse exercício geralmente é irônico. Os traços que as pessoas valorizam costumam ser versões positivas daquilo que desejam mudar. Por exemplo, alguém pode dizer: ‘Eu não consigo parar de ser impulsivo porque valorizo a espontaneidade.’ Em outras palavras, essa pessoa está sugerindo que, se eu quiser ajudá-la a mudar seu comportamento, precisarei convencê-la a não valorizar a espontaneidade. No entanto, é possível que, ao enxergá-la sob essa perspectiva correta – como alguém espontâneo, em vez de impulsivo -, eu não queira mais incentivá-la a mudar. Isso parece contraditório, não é mesmo?

Quando consideramos a complexidade da mente humana, o paradoxo faz sentido. Com a base do pensamento sistêmico, podemos compreender que em toda relação existe valor quando somos totalmente transparentes. Essa transparência nos permite questionar nossos próprios julgamentos equivocados sobre os outros e buscar compreender o ponto de vista deles. Podemos aplicar essa mesma ideia à prática da Atenção Plena. Ao nos depararmos com o descontentamento em relação a algo, como uma apresentação que não saiu conforme o esperado ou uma tarefa que não foi realizada como desejávamos, podemos nos questionar sobre o valor desse acontecimento: ‘Isso é uma tragédia ou apenas uma inconveniência?’ Provavelmente, a resposta será a última.

Muitas vezes, nos aborrecemos com coisas que não passam de meras inconveniências, e nosso sofrimento é resultado de uma percepção distorcida da realidade. Convido você a ler um artigo que publiquei recentemente, intitulado ‘Quer integrar cada parte de sua vida? Então esqueça o equilíbrio’ (https://www.marcellodesouza.com.br/quer-integrar-cada-parte-de-sua-vida-entao-esqueca-o-equilibrio/), no qual busco esclarecer a integração entre trabalho e família, em contraposição ao conceito de equilíbrio. O equilíbrio muitas vezes implica em perdas e sugere que os aspectos profissional e pessoal são antagônicos, o que não reflete a realidade humana, marcada pela singularidade de cada indivíduo. Quando estamos plenamente atentos, compreendemos que as regras são criadas por pessoas e não devem nos limitar. Além disso, é importante lembrar que a tensão em uma relação não é causada apenas por eventos externos, mas também pela visão distorcida que temos da mesma, muitas vezes influenciada por uma comunicação falha.

Imagine uma situação comum em um ambiente de trabalho: um colega de equipe costuma sempre chegar atrasado para as reuniões. Em vez de simplesmente rotulá-lo como ‘desorganizado’ ou ‘pouco comprometido’, a prática da Atenção Plena nos convida a entender os motivos por trás desse comportamento. Talvez esse colega estejam enfrentando dificuldades pessoais ou desafios em sua vida que afetam sua pontualidade. Ao adotar uma abordagem de compreensão e empatia, podemos nos abrir para dialogar com ele e oferecer suporte, em vez de simplesmente criticá-lo. Essa mudança de perspectiva não apenas fortalece o relacionamento entre os membros da equipe, mas também permite que aproveitemos melhor os talentos e contribuições de cada indivíduo, promovendo um ambiente de trabalho mais colaborativo e inclusivo.

Atenção Plena X Previsão

Todos nós temos o hábito de antecipar acontecimentos e, muitas vezes, tendemos a imaginar o pior cenário possível. No entanto, é importante lembrar que prever o futuro pode até ser uma estratégia de prevenção, mas de qualquer forma é sempre uma ilusão, pois nunca podemos ter certeza do que está por vir. Quando nos encontramos tomados pela ansiedade, a prática da Atenção Plena pode nos ajudar a reavaliar nossas preocupações e autoconceitos.

Por exemplo, é comum eu atender clientes que estão enfrentando ansiedade devido à instabilidade econômica, que afeta diretamente a segurança no emprego. Ao conduzir um simples exercício com eles, peço que descrevam cuidadosamente cinco razões pelas quais não podem, de forma alguma, perder seus empregos. O resultado geralmente revela preocupações excessivas e irracionais. No entanto, ao incentivá-los a explorar como uma possível perda de emprego poderia apresentar oportunidades, como novos caminhos profissionais ou mais tempo com a família, sua perspectiva muda. Ao invés de pensar que “definitivamente vai acontecer”, começam a considerar a possibilidade de “talvez aconteça” e a desenvolver planos alternativos para lidar com essa eventualidade.

Este princípio também se aplica quando nos sentimos sobrecarregados com as responsabilidades do dia a dia. O segredo está em questionar constantemente as crenças que nos fazem sentir negativamente sobrecarregados. Se você se pega pensando que é o único capaz de realizar determinadas tarefas, que existe apenas um caminho para concluí-las e que a empresa irá desmoronar se você não agir, é hora de buscar ajuda. Na verdade, o propósito da Atenção Plena é despertar para a realidade presente e expandir nossos horizontes, nos lembrando de que parte da vida está sob nosso controle, enquanto outra parte significativa nunca estará. Chamamos isso de ‘acaso’, e ao nos prepararmos para lidar com o desconhecido de forma lúcida, estamos mais aptos a enfrentar os desafios que surgem em nosso caminho.

Em suma, a prática da Atenção Plena nos ajuda a perceber que não existem apenas resultados positivos ou negativos, mas sim uma gama de possibilidades, cada uma com seus próprios desafios e oportunidades únicas. Na verdade, a Atenção Plena nos conduz a ter claro em nossa mente que a realidade é sempre uma construção introspectiva. Somos nós que construímos nossa realidade e a maneira que lidamos com ela também é uma escolha nossa.

Atenção Plena X Liderança

Em equipes de projetos, é comum que os membros defendam diferentes estratégias, o que me lembra uma antiga história sobre liderança: Dois líderes diante de um juiz precisam chegar a uma conclusão. Um deles apresenta sua versão da história, e o juiz diz: “Você tem razão”. O outro também conta sua versão, e o juiz afirma: “Você tem razão”. Então, perplexos, eles exclamam: “Não podemos estar ambos certos”. Surpreendentemente, o juiz reitera: “Vocês têm razão”. Isso ilustra o quanto a clareza do momento presente é crucial em todas as facetas da vida.

Como líderes, tendemos a seguir uma lógica baseada em nossas experiências ao tentar resolver questões que envolvem escolhas entre diferentes soluções ou compromissos. Porém, muitas vezes, estamos no piloto automático, o que nos impede de perceber que frequentemente é possível encontrar soluções em que todos saiam ganhando. Em vez de sobrecarregar ou desencorajar as pessoas em suas posições, dar um passo atrás e abrir mão de nossos próprios sentimentos quando estamos no poder pode tornar-nos mais acessíveis, menos egoístas e vaidosos.

É importante abrir espaço para discussões sob diferentes pontos de vista e perceber que existem bons argumentos dos dois lados. Liderança consciente plena envolve ouvir e harmonizar opiniões de maneira equilibrada. Mesmo sendo um executivo com muitos compromissos e enfrentando uma crise pessoal, quando os argumentos são expostos, podemos retomar a estratégia com uma abordagem completamente nova, que pode gerar resultados positivos no futuro.

Sempre encorajo meus clientes a refletirem profundamente antes de dar feedback a um funcionário com desempenho insatisfatório. Para que isso funcione bem, é essencial deixar claro que a avaliação é uma perspectiva pessoal e não uma verdade universal. Isso facilitará o diálogo e a compreensão mútua. Por exemplo, imagine que você pergunte a um aluno qual é a soma de um mais um, e ele responda: “Depende, pode ser dois ou um”. Como professor, você pode simplesmente corrigi-lo dizendo “Errado”, ou pode tentar entender o raciocínio por trás da resposta “um”. Então, ele explica: “Se você juntar um tablete de chiclete com outro e colocar ambos na boca, um mais um é igual a um”. Nesse momento, você percebe que mais importante do que determinar certo ou errado é compreender a lógica que levou a pessoa a pensar dessa maneira.

É claro que, como muitos, você pode agir como se fosse superior e intimidar os outros. No entanto, ao fazer isso, você não aprenderá nada, pois ninguém ousará lhe fornecer feedback. Isso resultará em isolamento e infelicidade. Ninguém que está no topo precisa estar isolado. Você pode chegar lá e permanecer aberto ao diálogo. Para alcançar esse objetivo, é necessário construir relacionamentos sólidos, o que só é possível quando se está plenamente presente.

Como criar uma cultura plenamente consciente?

Não, não estou falando de um prêmio em dinheiro, mas sim da essência de uma questão fundamental. Deixe-me explicar: é muito mais simples do que parece. Tudo começa com a clareza sobre como uma visão sistêmica pode transformar nossa perspectiva em todas as áreas da vida. É necessário um nível de lucidez sobre a importância desse conceito, tanto para nosso desenvolvimento pessoal quanto profissional. Quando estou envolvido em consultoria ou treinamento, meu primeiro passo é destacar o quanto estamos propensos a perder oportunidades quando adotamos uma abordagem linear da vida. Por exemplo, acreditar que seguir simplesmente casos de sucesso é a chave para o futuro de uma empresa.

Você pode cultivar a atenção plena se atender a duas condições fundamentais:

  1. Reconhecer que sua maneira de fazer as coisas não é a única certa. Esta é uma armadilha comum: pensarmos que nossa abordagem é a melhor e que nada deve mudar. Isso, obviamente, é uma ilusão e pode até nos levar à tragédia. Se queremos verdadeiramente ser eficazes, precisamos estar completamente presentes e observar todas as nuances de uma situação. Por isso, quando nos deparamos com um problema e sentimos a pressão para encontrar uma solução, é mais sábio admitir que não sabemos tudo. Ao invés de fingir ter todas as respostas, podemos reconhecer nossa ignorância e convidar outros a se juntarem a nós nessa jornada de descoberta coletiva.

Ao adotar essa postura, criamos um ambiente propício para a colaboração e o crescimento mútuo. Essa abertura para o aprendizado contínuo nos leva a enfrentar os desafios com humildade e determinação, sabendo que juntos somos mais fortes.

2º. Repudie políticas de erro zero. Recusar-se a adotar políticas de erro zero é essencial. Essas políticas representam uma forma de enganação cognitiva, onde fingimos que nunca cometemos erros. Na realidade, isso é uma ilusão perigosa. Em vez disso, devemos incentivar as pessoas a questionar o porquê das coisas e a considerar as vantagens de diferentes abordagens. Ao fazer isso, criamos um ambiente de coletividade e pertencimento, onde estamos mais bem preparados para perceber e aproveitar as oportunidades ao ouvir os outros.

Permita-me compartilhar uma experiência pessoal. Em minha longa trajetória trabalhando com líderes e gestores em uma das maiores empresas de telecomunicações, me deparei com uma situação interessante. Alguns engenheiros expressaram sua discordância em relação às decisões tomadas por seus superiores, pois desejavam contribuir com seus conhecimentos especializados sobre o assunto. Diante disso, questionei: “Qual é o problema?”. Sua resposta foi: “Quantos engenheiros, líderes e gestores trabalham aqui. E se todos quiserem agir assim?”. Minha resposta foi direta: “Se todos adotarem essa postura, vocês serão responsáveis por criar uma política inclusiva, participativa e colaborativa. No entanto, é crucial discernir se essa é uma situação isolada ou recorrente. Se for um caso isolado, mesmo assim, faz diferença! Mas se isso se tornar uma tendência, é uma oportunidade para se destacar na carreira”.

Essa abordagem incentiva a autonomia e a responsabilidade, promovendo uma cultura organizacional saudável e progressiva. Em vez de temer os erros, devemos encará-los como oportunidades de aprendizado e crescimento.

Quando trato deste assunto no meu trabalho sempre vem à mente as listas e receitas prontas. Acredite, sempre funcionam até a pessoa achar que domina e a partir daí a maioria das pessoas tende a ser negligente. Bom, aqui vou partir de uma metáfora bem explicativa sobre a importância das listas e receitas prontas, para isso vou usar a ideia de um youtuber especialista em avião, no qual ele aponta a importância delas na vida do piloto: Num avião você tem diversos comandos obrigatórios que devem ser seguidos rigorosamente. Por exemplo, se a meteorologia prevê neve e o sistema antigelo estiver desligado, o avião pode cair. Listas de tarefas não são ruins quando se deseja obter informação qualitativa naquele momento. “Por favor, observe as condições do tempo. Com base nessas condições, o sistema antigelo deve ficar ligado ou desligado?”. Se você fizer perguntas como estas que encorajem a Atenção Plena, você traz as pessoas para o momento presente e tem maior probabilidade de evitar acidentes. A propósito, comentários qualitativos de Atenção Plena também ajudam nas relações interpessoais. Se você elogiar uma colega dizendo “Você parece ótima”, isso nem de longe parece tão eficiente como dizer “Como está elegante e com um olhar empoderado”. Para dizer isso, você tem de estar lá, inteiro, e as pessoas reconhecerão e apreciarão essa atitude por perceber que você se importa com ela.

A aplicação da Atenção Plena em todas as áreas da vida pode ser transformadora. Ao estarmos plenamente presentes em cada momento, podemos tomar decisões mais conscientes e eficazes. Afinal, a vida é composta por uma série de momentos, e é através deles que construímos nossas memórias e moldamos nosso destino.

Portanto, convido você a cultivar a Atenção Plena em seu dia a dia, a observar os detalhes e a encontrar significado em cada instante. Ao fazer isso, você estará abrindo portas para novas oportunidades e criando uma base sólida para o seu sucesso pessoal e profissional. Lembre-se de que cada momento importa e que você tem o poder de torná-lo significativo. Esteja presente, seja proativo e permita-se ser guiado pela sabedoria do momento presente.

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OBRIGADO POR LER E ASSISTIR MARCELLO DE SOUZA EM MAIS UMA PUBLICAÇÃO EXCLUSIVA SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO

 Marcello de Souza começou sua carreira em 1997 como líder e gestor de uma grande empresa no mercado de TI e Telecom. Desde então atuou frente a grandes projetos de estruturação, implantação e otimização das redes de telecomunicações no Brasil. Inquieto, desde 2008 vem buscando intensamente compreender a relação do comportamento humano com a liderança e a gestão. Dentro do universo do desenvolvimento comportamental, não mede esforços para sua busca contínua de conhecimento, com isso se tornou pesquisador, escritor, facilitador, treinador, consultor, mentor e palestrante além de atuar como coaching e terapeuta cognitivo comportamental. Como amante da psicologia comportamental, psicologia social e neurociências criou o seu canal do YouTube para compartilhar com mais pessoas a paixão pelo desenvolvimento cognitivo comportamental.

Todos os dados e conteúdo deste vídeo são escritos e revisados por Marcello de Souza baseados em estudos científicos comprovados para que o melhor conteúdo possível chegue para você.

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 Apresentação e adaptação: Marcello de Souza

Tenho me dedicado atualmente boa parte dos meus estudos sobre comportamento para entender melhor o que efetivamente é, e quais os benefícios da Atenção Plena. Apesar de se tratar de um assunto complexo e fundamentado em diversas ciências comportamentais, entre elas a psicologia social, comportamental, tão como a psicologia positiva e tradicional e a neurociências, nesse artigo quero demostrar o quanto podemos aplica-la a nosso favor para alcançar resultados significativos. Além disso quero aqui ajudar a compreender como mudar nosso comportamento diante ao simples fato de prestar mais atenção no que acontece a nossa volta, em vez de agir no piloto automático. Por que? Entre os ganhos da Atenção Plena é possível destacar: redução de tensões principalmente nas relações, instigar a criatividade e o pensamento sistêmico e inovador, estimular o desempenho, ter mais controle sobre as decisões tomadas como também dar mais valor a própria vida. Quer saber mais, então convido você a ler mais este super artigo. Excelente leitura e reflexão!

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4 Comentários

    • Marcello De Souza

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      Best regards,

      Marcello de Souza, Ph.D.