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OS DOIS LADOS DO PERFECCIONISMO

Muitas vezes sou convidado a participar de processos de seleção para ajudar na análise de perfil comportamental e acredite, passa ano e entra ano, não me canso de deparar com candidatos que, quando perguntados sobre seu maior defeito, insiste em dizer que são perfeccionistas, como se isto significasse alguma qualidade que possa realmente impressionar o entrevistador. Se você é uma destas pessoas, cuidado!

Perfeccionismo não necessariamente é um perfil que uma líder experiente vai querer na sua equipe. Isso porque — pessoas perfeccionistas tem por natureza o hábito de buscar a própria perfeição e consequentemente desenvolvem atitudes negativas com seus colegas, afinal tendem sempre a querer que os outros sejam como ele. Além disto, acabam construindo dentro de si um senso crítico quase que insuportável, extrapolando para outros, podendo tornar um ambiente sadio em tóxico. Sem perceber, passam a sofrer com o tempo pelas expectativas criadas e não alcançadas, vinculando suas capacidades ao medo do fracasso e da perda. Isto porque os perfeccionistas quando ficam muito tempo em uma determinada função, gradativamente começam a alucinar com certas questões que não estão sobre seu controle. Não por menos que muitos perfeccionistas se adoecem, entre outros males, vão ficando cada vez mais ansiosos e passam a viver uma inconstância de humor quando não desenvolvem algum tipo de transtornos mais graves. Aliás, não faltam exemplos de pessoas que já atendi que por causa do seu perfil perfeccionista, sofrem pelo medo, tão como fazem as pessoas mais próximas também sofrer.

Uma das grandes questões que pairam sobre eles é a frustração. Normalmente são pessoas que acabam se sentindo frustrados e desencorajados por não atender aos padrões que se autoimpõe, já que o alto grau de exigência parece aliado à baixa tolerância à possibilidade de cometer erros — eis então uma combinação perfeita para a procrastinação — deixar de terminar o que começa tão como de assumir novos desafios.

O perfeccionismo normalmente começa com pequenas manias, que vai gradativamente aumentando com o tempo e este é um problema para quem está à frente de uma equipe. No começo, um perfeccionista tende a ser confundido com uma pessoa dedicada, que está realmente a fim de fazer a diferença, mas com o tempo, fatores emocionais e comportamentais se destacam. Isto não é por acaso, para quem já liderou projetos sabe que todo excesso de autocobrança se torna uma arma letal para uma boa gestão — favorece a ineficiência, leva a atrasos, dificuldade de cumprir prazos, esgotamento físico e mental e até mesmo resultados irrisórios, em comparação a tudo que poderia ter sido alcançado se a busca focasse na sensatez, estratégia, tranquilidade e no equilíbrio.

É verdade que não se pode generalizar os perfeccionistas, afinal nem toda constante sensação de insatisfação necessariamente seja a base para ser diagnosticado, entretanto, fato é que se há um excesso quanto a autocritica de tudo que faz, sim merece ser analisado por um especialista comportamental já que pode sim se tratar de um processo psicoterápico. Sabe porque, além das questões profissionais que podem ser severamente prejudicadas há também o problema na vida pessoal que afeta relacionamentos e faz mal não só à saúde mental, mas também ao corpo, como já dito, causando aumento de pressão sobre si mesmo e com isso inúmeros fatores relacionados ao estresse podem surgir. Entre os males que pode causar, já presenciei quadros associados transtornos alimentares, anorexia, distúrbio obsessiva-compulsivo, ansiedade social, bloqueio criativo, depressão, compulsões e alcoolismo (entre outras drogas).

Uma das surpresas que tive ao pesquisar sobre perfeccionistas é que desde a década de 1960, já havia muitas linhas de pesquisa para explorar o assunto. Um dos artigos que me chamou a atenção está relacionado a dificuldade que os perfeccionistas tem para dar a valor a trajetória da busca de seus objetivos. Normalmente este perfil tem muita preocupação em constituir parâmetros comparativos com outras pessoas, o que prejudica toda a sua percepção quanto a vivência propriamente dita. Em outras palavras, a sua forma de constituir autovalor está quase sempre atrelada a termos de produtividade e realização, onde sua base de referência sempre será as outras pessoas, o que leva a perder o sentido de se autovalorizar, de sentir prazer com a sua jornada, por isso com o tempo vão perdendo a conexão com seus desejos, vontades, ambições, sonhos, histórias e realizações.

Nos meus atendimentos, é comum perceber com o perfeccionista se sente vulnerável, baixa autoestima e normalmente, por causa do seu senso de autocritica, tornam-se insuportáveis. Ao mesmo tempo que podem estar bem, de repente pode mudar seu humor por questões muito banais. Também é muito comum ver este perfil perder parte significativa do seu tempo com questões superficiais, que prejudica muito suas relações e atributos profissionais. O desempenho é contaminado com preocupações desnecessárias, com detalhes que normalmente se problematiza da sua própria alucinação, gastando muito mais tempo do que o necessário – e, muitas vezes, não trazendo qualquer benefício adicional. Outra questão que é muito perceptível é que este perfil tem a tendência sempre de adiar atividades porque as coisas não estão exatamente como imagina, que para ele deveriam ser perfeitos, muitas vezes, isso gera uma condição de medo e angústia. Não faltam exemplos em meus atendimentos de pessoas que constrói dentro de si crenças limitantes ao ponto de como autodefesa da sua própria imaginação, investe menos tempo do que precisa para, por exemplo, colocar um projeto em prática, usando isto como artificio de defesa de si mesmo, ou seja, justificativas paradoxais de que se tivesse empenhado mais perfeccionismo poderia atingir seu objetivo. Com isto alimenta ainda mais suas crenças com a própria frustração, tornando um ciclo continuo, privando significativamente das suas próprias realizações.

Uma das questões que mais me chamou a atenção atendendo este perfil, são que alguns deles estabeleciam para si mesmo critérios de realizações onde a expectativa estava muito acima do que o necessário e passível de ser realizado, e todas as vezes que não conseguiam alcança-las, eles criavam para si condições ainda mais desafiadoras, o que aumentava muito o nível de ansiedade e insatisfação consigo mesmo.

Uma outra questão que vale a pena ressaltar é que perfeccionistas tendem sempre a se esquivar de feedbacks. Este talvez seja um dos mais graves erros, afinal, eles partem do principio que eles estão mais certos ou são melhores ao mesmo tempo que com receio de serem confrontados com a realidade, evitam ou não dão a devida atenção a sugestões, criticas ou mesmo opiniões que possa contrapor seu ponto de vista. Que a longo prazo deixa de dar a si mesmo a chance de evoluir, aprender e crescer como pessoa e como profissional. Acabam alimentando sua própria “bolha” que muitas vezes é fantasiosa e distante da realidade.

Este perfil normalmente começa a ser desenvolv7idos já na infância.  Podendo ter relação com os excessos de cobranças vindo dos pais ou responsáveis diretos, que de alguma forma eleva a relação ou à sobrecarga emocional da criança através de cobranças que não estão à altura da idade mental o que fazem elas se sentirem incapazes de dar conta do que lhes foi atribuído e com isso acaba por carregar essa marca para a vida adulta, o que acarreta grande sensação de insuficiência. Por outro lado, também pode ser fruto de pais negligentes que não atenderam o mínimo daquilo que chamo de necessidades fundamentais do ser, como ser amado, admirado, respeitado, etc. e com isso, quando adultos buscam suprir tais necessidades para serem notados. Há ainda situações de crianças que por viverem em famílias desestruturadas ou em condições de desmazelo acabam por adotar um perfil em busca subjetiva de perfeição como um contra ponto de controle sobre outros ambientes. Pesquisas também tem demostrado que filhos de pais perfeccionistas têm grandes possibilidades de desenvolver as mesmas características.

Fato é que muitas vezes crianças que apresentam traços de perfeccionismo chamam a atenção, já que quase sempre os adultos acham que isto representa disciplina e inteligência, e não por menos, a própria criança vê utilidade em sua forma de ser, e se utilizam para obter ganhos como por exemplo, excelentes alunos são muitas vezes recompensados e, de fato, quanto mais se dedicam, mais se tornam meticulosos e melhores no que fazem. O problema que com a idade as responsabilidades vão mudando e aquilo que quando criança estava sobre controle quando crescem as variáveis já não são as mesmas e principalmente na fase da adolescência  ou quando entra para o mercado de trabalho, descobrem que há muitas incertezas para controlar e que não tem mais um adulto para suprir outros fatores e dar certa segurança como quando criança , então há um choque de realidade e surge o sentimento de que são incapazes ou não são bons o suficiente e, para tentar superar este confronto passar a exagerar nas atividades, como por exemplo, podem ficar acordados a noite inteira trabalhando ou estudando, outros somatizam e se fecha em um próprio mundo, se isolando de tudo que é externo a ele tão como outros caem em depressão. O perfeccionismo também pode atrapalhar as pessoas quando aparece em áreas delicadas da vida e algumas manifestações de perfeccionismo podem ser especialmente problemáticas para relacionamentos a médio e longo prazo.

Mas, nem tudo são espinhos!

Agora, também é fato que tendências perfeccionistas podem ser úteis se saber usa-la a seu favor, de maneira saudável, com base no desenvolvimento de técnicas de autocontrole, e foi isto que descobri ao pesquisar mais a fundo o perfeccionismo. Na prática, uma maneira eficiente de lidar com o perfeccionismo é não se deixar levar pelo desgaste e saber criar gatilhos passiveis de servirem de alerta para indicar quando parar; há diversas técnicas dentro da terapia cognitiva comportamental capazes de ajuda a pessoa a perceber o quanto a autodepreciação é fruto de crenças vazias e que não vale a pena e por isso é preciso praticar a arte da a imperfeição.

Neste caso a ideia de um processo de Terapia é justamente ajudar a alcançar um nível de “perfeccionismo saudável”. Em outras palavras, mesmo não gostando de errar, aprender a tolerar as próprias falhas, ao mesmo tempo que, reaprender a dar valor a vida concentrando-se nos pontos fortes e que encontram grande satisfação em suas realizações. Sem menosprezar outros que também são importantes, mas que não precisa de tanta severidade para lidar com eles.

Além disto, através da ajuda de um especialista o perfeccionista consegue enxergar características indiscutivelmente positivas, como a tendência de definir padrões elevados e cumprir tarefas às quais se propõe, embora também considere traços que causam desconforto, como o medo de cometer erros e a inclinação de duvidar das próprias realizações e até invalidá-las, pode-se condicionar a usar isto a favor, desde que aprenda a lidar com objetivos e estratégias. E aquilo que era um conjunto de preocupações de avaliação desajustadas, agora segue toda uma linha onde se é estabelecido critérios de analise.

Não se pode descartar o lado positivo também de se “estabelecer padrões elevados” e “esforço para atender metas autoimpostas”, o que quero dizer é que isso demonstra forte correlação de fazer bem feito no sentido positivo – isto é o que chamo de excelência. Na realidade a excelência é o “esforço positivo” no qual se, realisticamente buscada, sempre irá elevar o nível das suas atividades. Entretanto, não se pode perder a sensatez do equilíbrio particular entre as características “boas” e “más”, ou seja, é preciso saber aonde aplicar a excelência, por isto, a estratégia e objetivos precisam sempre andar lado a lado de um perfeccionista. Na dúvida, ou, na falta de saber distinguir o que é real e factível do possível e o que é perda de tempo ou alucinação, vale a pena buscar um coach, um terapeuta, um mentor, que são pessoas especializadas em trazer sensatez para a vida.  

Existem algumas linhas dentro da psicologia comportamental que considera que crenças e comportamentos de perfeccionistas podem favorecer seu bem-estar e aumentar suas chances de sucesso – é possível escrever um texto melhor que o anterior, ter uma casa mais confortável, construir um negócio mais bem-sucedido ou mesmo ser mais tolerante com aqueles com quem convivemos. Por exemplo, alguns acreditam que há profissões que o perfeccionismo faria toda a diferença como artesãos, mecânicos, cirurgiões, artistas, filósofos, professores, provavelmente seriam considerados ideais para este perfil, mas eu discordo categoricamente. Não podemos esquecer que o perfeccionismo tende sempre a limitar a análise da situação, normalmente as pessoas vivem sua bolha e dificilmente vai buscar se aprofundar em questões quando elas tendem a contradizer aquilo que já se é considerado como certo. Sem dizer no alto custo físico e mental de si mesmo e dos que o acompanha.

De maneira alguma quero aqui contradizer que fazer algo benfeito é muito bom — e como sempre digo a meus clientes, se você está feliz, não há razão para se preocupar! Agora, quero apenas chamar a atenção para não tornar problema algo que pode ser tratado, justamente para não deixar ele se tornar obsessão. Neste caso passa a ser motivo de sofrimento na maior parte do tempo, deixando de ter alegria no que se faz. Este é o momento de procurar ajuda justamente para compreender os sentidos dessa busca idealizada pela perfeição.

Por fim, e espero que tenha ficado claro que existem maneiras eficazes de lidar com o perfeccionismo e dele tirar proveito pela constante busca pela excelência sem se deixar levar pelo excesso de autocrítica. Comece fazendo uma auto analise, adotando estratégias e consolidando objetivos reais – para se tornar verdadeiros perfeccionistas saudáveis – para isto primeiro sempre leve em consideração seus limites e o autocuidado, sabendo dizer palavras como: chega, não, suficiente, bom, etc. e assim exercitando a tolerância para eventuais erros. Além disto, concentre-se em seus pontos fortes no qual realmente gere grande satisfação em suas realizações. O que quero dizer é fazer uma constante avaliação de mapeamento de si mesmo. Ouvir os próprios sentimentos para saber balizar o que vai bem e o que não vai e assim, quebrar a dependência de uma busca continua de reconhecimento e aceitação. Se utilize da ideia de esforço positivo para melhorar a saúde e o humor, tão como a maior sociabilidade e satisfação coma vida de forma geral. O importante é ter lucidez de que o perfeccionismo pode até ser positivo, mas se faltar controle e não o perceber, ele adoece e causa cicatrizes que podem marcar por toda a vida. Vale também lembrar que a maioria das pessoas que se esforçam para alcançara perfeição sofre com uma preocupação autodestrutiva.

 O uso desse traço a seu próprio favor é uma condição de constante aprendizado que não podem jamais serem confundidas com pessoas que frequentemente se empenham, são comprometidas com suas atividades em grande parte das ocasiões e obtêm bons resultados, estes são aqueles “altamente conscientes” com a realidade da mesma forma que  esforçados para a realização, por que, afinal tem na sua ambição suas digitais, seus próprios sonhos, desejos e vontades.

Vale também ressaltar que depois de todo este tempo atendendo pessoas, não tenho dúvidas de que é preciso ter clareza que perfeccionistas dificilmente conseguem fazer uma auto avaliação capaz de um diagnóstico, da mesma que é pouco provável que uma pessoa com esse traço exacerbado procure ajuda por esse motivo – em parte porque os pensamentos já estão dominados pela forma habitual de ser, o que torna difícil para a própria pessoa reconhecer o problema. E mesmo quando o enxergam relutam o máximo possível em procurar um especialista para se tratar.

Se você é perfeccionista e neste momento me pedisse uma dica: pratiquem a imperfeição, permitindo-se desafiar padrões para saber se o resultado será realmente tão ruim quanto se imagina. Junto aos meus clientes eu busco encoraja-los a errar deliberadamente, começando com coisas simples, como por exemplo: “esquecer propositadamente” de comprar algo quando sai para fazer compras. Ou então, peço para que eles leiam um certo capitulo de um livro e faça um resumo dele podendo usar o tempo que for e alguns dias depois faça outro resumo deste mesmo capitulo, mas agora no máximo em dez minutos.  Depois disto peço para me entregarem os textos para que eu faça uma classificação informal. Normalmente meus clientes descobrem que o resumo escrito em um tempo fixo tem qualidade muito similar à do que foi feito com esforço excessivo. Normalmente, exercícios como estes ajudam a lidar com esta condição que gera tanta angustia. Se você é um perfeccionista e neste momento sofre com isto, não hesite, procure um especialista. Ninguém precisa sustentar a infelicidade! Não seja mais um que se preocupa com o fundamental e deixando o essencial de lado, afinal como certa vez disse Bernjamin Disraeli: A vida é muito curta para ser pequena!

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