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A TRANSPARÊNCIA COMO CONDIÇÃO PARA O PENSAR

A verdade que nós também criamos paraísos ilusórios para nossas situações mais complexas, a partir da forma que vemos as coisas, distorcemos a realidade quase sempre a nosso favor. O ambiente no qual estamos inseridos, não são diferentes. Nos predispõe a situações que nos induz a certas escolhas e está na condição de permissão ou não, a forma de descrever uma rotina ou uma determinada situação.

Perceber a própria responsabilidade pelos próprios atos e que está nas ações a representação daquilo que somos, pode nos ajudar a traçar melhor as escolhas e o caminho que tomamos para o nosso melhor. Toda a nossa consciência é também uma criação. Criamos nosso mundo a partir das percepções conscientes das relações no qual somos parte. Nossas relações representam nossa existência, e efetivamente esta é a única certeza da existência do eu, partindo do princípio da percepção que valores, código, política, tudo se transforma na mesma velocidade que também nos transformamos e de que somos transformados. Se nos desconectarmos da nossa consciência convertemos a ser dominado pelo meio no qual fazemos parte como servidão. Neste sentido, fazer parte não quer dizer que estamos deixando de ser quem somos, mas sim que nos sujeitamos a aceitar as coisas como estão.

São as prioridades que nos conduz as decisões que tomamos a todos os instantes, e relacionadas ao ambiente presente, quando menos se espera, estamos fazendo apenas aquilo que é prioritário e não damos mais atenção a representação do que estamos fazendo. Nossas prioridades não nos desoneram da responsabilidade de nossas ações. Por receber ordens, apenas porque um chefe ou outro determinou que é assim e não de outra forma a forma de fazer, não nos isenta da responsabilidade por ter feito e este custo é muito alto para se carregar quando nos tornamos conscientemente responsáveis de nossas ações.

Neste sentido, não se pode deixar de considerar que todas nossas escolhas estão relacionadas também a própria perspectiva da responsabilidade. Quando se pergunta o que estamos nos tornando a nós mesmos, na verdade se está possibilitando uma relação introspectiva da própria condição de existência, no qual as respostas são ínfimas em um mundo o qual é impossível ter conhecimento de todas as variáveis além das possiblidades que incessantemente mudam da mesma forma no qual fazemos escolhas. Escolhas que podem não ser a mais adequada um segundo após ter escolhido, mas que foi escolhida e quem escolheu fomos nós. Por isto, existe uma complexa relação entre nossa capacidade de julgar, e as questões que perpassam com a nossa própria condição de agir.

A liberdade é condição de existência e desenvolver a capacidade de questionar a si e aos outros é questão de autonomia sobre as escolhas. A prática das escolhas é um exercício de gestão. Porque somos nós, somos as nossas decisões. Este é o alerta diante a incorporação de regras, perante a incorporação dos modos que os regimes organizacionais nos dominam, do exercício da autoridade e, que no século XXI não podem ser aceitas como certezas de um mundo de sucessivas mutações. O que se percebe hoje é que na contemporaneidade, para sobreviver, exige por si o direito de pensar.

 É fato, que para qualquer gestão seja nos negócios ou na própria vida, o pensamento pode-se tornar ameaçador, porque ele desestabiliza, mas, são as desestabilizações que nos leva a encontrar novos caminhos a serem perseguidos, a construção de algo genuíno, autêntico, inovador. Toda e qualquer desestabilidade nos leva a desconstrução do óbvio para a construção do oportuno. Não se engane, o óbvio quase sempre é o caminho mais fácil, mas dificilmente é o melhor caminho e quase sempre nos faz sofrer.

Quando nos sentimentos desestabilizados é quando começamos a nos articular o pensamento, e então, tornamos capazes a condição e o modo de julgar as próprias ação. Reintegramos na condição da responsabilidade individual. E isto é exatamente o que acontece nas organizações. Pessoas formam uma organização da mesma forma que as organizações são formadas por pessoas, por isto é verdade que a qualidade das relações que irão hoje determinar que tipos de organização se está criando. Está na qualidade das relações o reflexo da própria cultural organizacional.

Aquelas pessoas formadas já no final do século XX, acreditam que a razão de liderar a vida deve ser emancipadora. Na verdade, neste sentido, a razão entra em colapso com o pensamento fortemente defendido durante o próprio século XX, porque para ter razão é preciso praticar a condição de pensar. Pensar não é ter ideia de quem nunca se teve, mas é poder identificar quais são as causas e quais são os modos no qual podemos interagir da melhor forma, para transformar e efetivamente dar a própria marca para construção de algo maior. E esta tarefa do pensar é também uma maneira para encontrar autonomia, aprimorando a forma de fazer gestão. O pensar é a representação da própria identidade. Conhecer é domínio técnico. O pensar, não! Todos nós podemos acumular conhecimento, mas o pensamento é algo diferenciado, representativo daquilo que somos mediados a própria condição de ser. É a interpretação do nosso mundo, significados de nossas razões. É a habilidade dos sentidos que estamos atribuindo para cada uma das nossas escolhas. O pensamento não se interessa pelas verdades das coisas, mas sim pelo próprio significado, o pensamento é uma forma de dar conteúdo ao nosso próprio mundo e isto é parte da arte de fazer gestão.

O ato do pensar é a liberdade para construir algo além do que seria construído por si só, afinal, pensar exige diversidade. Um ambiente aonde se tem pessoas pensantes é aquele que tem mais diferenças do que igualdades, mais liberdade do que regras, mais perguntas do que respostas, mais incertezas do que certezas e por isto não é orientado por uma ordem mais sim, por perguntas capazes de desestabilizar qualquer um no qual se está cheio de certezas! Porque se há respostas certas é porque algo deve ter tornado imperativo. O imperativo é a imposição autoritária, certezas que impedem a pratica do pensar. Se há certezas é porque algo não está certo. Neste sentido, a pergunta faz-se em uma tarefa reflexiva, já que ela tem de produzir uma consciência e não simplesmente porque é assim e assim é o jeito certo de fazer! Somente através das perguntas é que se encontram as melhores possibilidades com a pratica do pensar!

O pensando que agora, século XXI, é marcado por pós verdades e por tantas outras questões imperativas e deterministas, transforma a liberdade de ser em um o embate do descrito e como condição da transparência. Entretanto, se há transparência, não há verdades. Eis aqui o paradoxo da transparência e por isto mesmo, a transparência torna-se uma virtude.  Pode-se dizer muitas verdades ou meias verdades e a forma que podem ser ditas ser transparente do que for, mas nem sempre dizer a verdade é toda a verdade já que o sentido da verdade é sempre aos olhos do interlocutor. Desta forma, a questão da virtude da transparência passa a ser outra aqui, para que sempre fique questões: Porque isto está sendo dito? Porque e que forma esta informação está maciçamente imposta? Qual o real interesse desta ou daquela informação? Neste sentido, ser transparente torna-se questão de liberdade. Manter a capacidade de questionar a si e aos outros é um exercício de ser transparente. Logo, o pensar deve impulsionar a construção da transparecia, consigo mesmo e com os demais. Analisando assim, chega-se à ao paradoxo fundamentalista do século XXI nas organizações como um todo. A condição que para existir é preciso ser transparente o suficiente para pensar!

A reflexão é um exercício do pensar. É uma força muito poderosa e que nos ajuda a reconstruir nossas subjetividades, e que são necessários para interpretar fatores sistêmicos e comportamentais que estão alinhados ao interesse plural das relações, que torna uma das questões mais difíceis para entender como fazer uma análise mais precisa das relações, garantindo que se está sendo bom juízes, sem julgar por estar sendo julgado. Como conhecer os fatores que influenciam e que contaminam as observações e as sentenças e uma ação para pensar. Saber analisar o comportamento humano em uma equipe, um grupo ou mesmo no meio no qual se vive e encontrar perguntas que auxiliam a traçar possibilidades para uma melhor construção estrutural e relacional como condição, esquivando-se para não cair em armadilhas imperativas, também é um exercício do pensar. Por outro lado, silenciar, não questionar, não analisar, não buscar estabelecer condições para um melhor convívio, constituindo relações salutares, pode colocar de mãos dadas, justamente com o mal que sempre se busca evitar.

Ser transparente é uma demanda da virtude cobrada para o século XXI. Não se engane, é muito difícil ser transparente aonde a palavra transparência é predicado dos interesses pessoais e institucionais. Isto torna-se mais difícil e complexo do que querer ser verdadeiro. Em outras palavras, a transparência da forma colocada neste artigo é um desdobramento do pensar. O lugar do sujeito consigo mesmo e a descoberta da pluralidade que está em cada ser humano. É a condição de em vez de aceitar, desconfiar quando a consciência não está incomodando. A transparência aqui é quando se argumenta quando as respostas já estejam dadas e as certezas consolidadas.

Se eu sei que posso pensar, então sei que posso fazer a inferência de que eu também posso errar e reconhecer o erro se torna então também um valor. O compromisso com a transparência é uma demanda para o além do pensar é dar valor a própria vida. Porque é o modo de se relacionar consigo mesmo e com o mundo. E a transparecia é uma das cobranças mais imponentes para o século XXI para não se submeter ao encantamento tirano da ignorância cada vez mais imperativa.

REFERÊNCIAS E INSPIRAÇÃO

ARENDT, H. (2006). O que é política? Rio de Janeiro: Bertrand.

ARENDT, H. (2009). A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária.

HERZOG, R. O homem diante das transformações do mundo. CPFL: Café Filosófico. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=JAh8PqrnEeM>.

LEVY, P. (2000) A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Loyola.

NETO, J.A.F. Hannah Arendt: a capacidade de julgar. CPFL: Café filosófico. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=toVanA_7Y28>.

SAFATLE, V. Por um colapso do indivíduo e de seus afetos. CPFL: Café filosófico. Disponível em: < https://www.institutocpfl.org.br/2015/09/29/por-um-colapso-do-individuo-e-de-seus-afetos-com-vladimir-safatle-versao-na-integra/>.