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O MAL DA EMPATIA

  “Fui à floresta porque queria viver deliberadamente, encarar apenas os fatos essenciais da vida, e ver se eu poderia aprender o que ela tinha a ensinar, e não, quando eu vier a morrer, descobrir que nunca vivi. Eu não desejei viver o que não era vida, estar vivendo me é tão caro; nem desejei praticar a resignação, a menos que fosse necessário. Eu queria viver profundamente e sugar toda a essência da vida, viver tão robustamente tal qual um espartano e jogar fora tudo o que não era vida (…)” (Henry David Thoreau)

O transcendentalismo Kantiano e a floresta de Thoreau são relíquias do passado. Um passado histórico, mas separado de nosso presente pelo abismo da globalização, em que a virtualidade e a tecnologia substituem a mera cronologia. As aldeias de um passado não muito distante foram urdidas pelo espírito da comunidade. Essas aldeias desapareceram, ficando irreconhecíveis e transformadas no mundo desenvolvido através de ondas sucessivas de progresso – a Revolução Industrial, as reformas utilitárias e democráticas, a era dourada do capitalismo, a revolução da informação e o êxodo dos centros urbanos pós-modernos. A comunidade foi ultrapassada pela tecnologia, e a consciência moral foi destruída pela tecnocracia. Neste momento, o termo empatia foi utilizado pela primeira vez por E.B. Titchener, psicólogo, por volta de 1900, e origina-se da palavra grega empátheia, que significa “entrar no sentimento”.

Teoricamente, ser empático é levar as pessoas a ajudarem umas às outras. Está intimamente ligada ao altruísmo – amor e interesse pelo próximo – e à capacidade de ajudar. Quando um indivíduo consegue sentir a dor ou o sofrimento do outro ao se colocar no seu lugar, desperta a vontade de ajudar e de agir seguindo princípios morais. A capacidade de se colocar no lugar do outro, que se desenvolve através da empatia, ajuda a compreender melhor o comportamento em determinadas circunstâncias e a forma como o outro toma as decisões. Dentro da ciência, a empatia foi se contextualizando e voltou a ser tema de debate na constituição da “Teoria da Mente”, por volta de 1978, quando se iniciou uma nova discussão sobre a habilidade de atribuir estados mentais – crenças, intenções, desejos, conhecimento, etc – a si próprio e aos outros, e de compreender que os outros possuem crenças, desejos e intenções que são distintas da sua própria. Empatia é um conceito relacionado, significando a experiência de reconhecimento e compreensão dos estados mentais, incluindo crenças, desejos e particularmente emoções dos outros, frequentemente caracterizada como a habilidade de “compreender o ponto de vista do outro”.

Foi no início do século XX que as atitudes relacionais entre as pessoas passaram a ser tema de interesse para estudos. Após o fim da primeira guerra mundial quando os Estados Unidos estava se tornando a maior economia do mundo. Além das fábricas de automóveis, os EUA também eram os maiores produtores de aço, comida enlatada, máquinas, petróleo, carvão, etc. Nessa época que surgiu a famosa expressão “American Way of Life” (Modo de Vida Americano). O mundo invejava o estilo de vida dos americanos. De 1920 até 1929, os americanos iludidos com essa prosperidade aparente, começaram a abandonar os campos e invadir as cidades, passaram a apostar no mercado de bolsa de ações, comprando várias ações em diversas empresas, até que no dia 24 de outubro de 1929, se deu a pior crise econômica da história do capitalismo. Muitos empresários não sobreviveram à crise e foram à falência, assim como vários bancos que emprestaram dinheiro não receberam de volta o empréstimo e faliram também. A quebra da bolsa trouxe medo, desemprego e falência. Milionários descobriram, de uma hora para outra, que não tinham mais nada e por causa disso alguns se suicidaram. O número de mendigos aumentou. Essa terrível crise que atravessou a década ficou conhecida como a Grande Depressão.

Naquele momento, Dale Carnegie percebera que o mundo estava mudando, que o comportamento das pessoas tinha que se adaptar ao momento que vinha passando, diante a toda a transformação econômica, concorrência acirrada, desemprego em alta, queda nas vendas em todas as áreas fez com que surgisse a necessidade de fazer diferente; foi então que em 1936, surgi o primeiro livro de autoajuda. Carnegie lança um dos livros que posteriormente se tornou um dos maiores Best-Sallers de autoajuda do mundo – “Como Fazer Amigos & Influenciar Pessoas”. Um verdadeiro guia, com modelos de pseudo padrões de comportamentos humanos e sociais que passou a servir como um manual empático na proposta paradoxal de fazer diferente ao dominar a arte de conquistar as pessoas. A partir daí inúmeras obras e estudos superficiais e inconsistentes passaram a ser publicadas com o mesmo propósito, de tornar a pessoa mais interessante aos olhos dos outros, estabelecendo uma espécie normose, propondo regras padrões do comportamental humano. 

Desde aquela época, vários cientistas sociais investigaram os meios pelos quais é possível influenciar as atitudes e ações de outra pessoa. A 30 anos atrás, no ápice do turbilhão de pesquisas sobre a inteligência emocional, muitos manuais e guias de autoajuda sobre o tema surgiam, mas efetivamente poucos com conteúdo proveitosos, não especulativos. Pesquisadores não se preocupavam em efetivamente estudar os efeitos da empatia através do papel das emoções nas relações e negociações, havia pouquíssimos estudos sobre como os sentimentos e as emoções influenciam a forma como as pessoas superam conflitos e chegam a um acordo.

Segundo a psicóloga Alison Wood Brooks, os acadêmicos da negociação focavam basicamente em estratégias e táticas, seguindo seus manuais comportamentais interligados somente a busca da persuasão, Brooks chama a atenção quando diz que isto ocorre principalmente nas formas como os interlocutores identificam e consideram alternativas, usam moedas de troca e executam a coreografia de propostas e contrapropostas. Buscando estabelecer o convencimento adotando um personagem através de táticas para produzir uma maneira positiva. Quando os especialistas começaram a analisar os efeitos psicológicos das negociações, focavam estados de ânimo difusos e não definidos – por exemplo, se os participantes se sentiam mais animados ou desconfiados, e como isso afetava seu comportamento.

Na última década, no entanto, com a ajuda da neurociência, cientistas perceberam que havia algo muito maior a ser analisado, foi então que começaram a examinar como emoções específicas – raiva, tristeza, decepção, ansiedade, inveja, empolgação e pesar – podem também afetar o comportamento nas relações. Eles estudaram as diferenças entre o que acontece quando as pessoas simplesmente sentem essas emoções e quando elas também as demonstram para a outra parte por meio de palavras ou ações. Desta forma, foi se tornando evidente que mais que um sorriso empático, existe muito mais a ser analisado quando se busca compreender o comportamento das pessoas, que o excesso e o uso desnecessário de gestos e expressões podem consistir em momentos que não necessariamente devemos adotar a empatia como caminho para conquistar resultados desejados.

Segundo Brooks, quando as negociações envolvem interlocutores com relacionamentos de longo prazo, entender o papel das emoções é ainda mais importante, pois nos relacionamentos, torna-se comum a empatia entre as partes, deixando-nos cegos para observar o todo de uma negociação, favorecendo a erros e decisões equivocadas e outras precipitadas. Perceber como o outro está se sentindo é um componente crítico da inteligência emocional, o ato de perceber a linguagem verbal e não verbal é fundamental no negócio e para conquista de resultados desejados, porém quando se há um excesso de empatia entre as partes, as pessoas perdem a noção e o controle da observação, criando verdadeiros mapas inconscientes, interferindo drasticamente nos propósitos fundamentais. 

Não faltam livros e pesquisas que afirmam que o hábito de ser persuasivo, de desenvolver a arte da empatia, colocando-se no lugar do outro e direcionar a ele atenção e cuidado; evidentemente todos eles sugerem ser isto uma habilidade e um grande diferencial, tornando-se muito frutífero seja qual for o ambiente. Não implicando ser para uma ou mais pessoas, o ato da empatia, sempre parece ser favorável e um tanto estratégico. Entretanto, há casos, porém, em que esse sentimento causa problemas e, em vez de aproximar as pessoas, tem efeito oposto, bastante nocivo.

O excesso da empatia pode retira o sendo critico, permitindo que tomemos decisões equivocadas, tendenciosas e omissas. Mesmo que não se tenha a intenção de prejudicar outros ou mesmo o negócio, ser empático de forma excessiva, gera na verdade, um sentimento de dívida e fidelidade, o que nem sempre é algo útil e benéfico. A empatia é, sem sombra de dúvida, importante e de extremo interesse, seja dentro ou fora do trabalho; a vida é constituída por afetos, relações no qual vivemos uns com os outros, sempre. A Empatia nos traz o sendo de confiança e porque não uma dose de esperança. Trabalhadores ou não, criamos expectativas, seja com amigos, clientes ou fornecedores, e, portanto, por de trás disto, existe a ideia que nos faz acreditar que os outros farão aquilo que esperamos que façam, principalmente quando empáticos.

O psicólogo Robert B. Claldini, foi outro grande autor sobre este tema, ele narra alguns dos estudos científicos sobre o assunto e em seu artigo – “O que faz você dizer SIM”, Claldini descreve um breve guia para escapar da armadilha quando não se capaz de efetivamente equilibrar a empatia, para que isto não torne uma arma contra a si mesmo e ao próprio negócio, por exemplo, ou pelo fato dessas inclinações empáticas nem sempre ajudarem a orientar nossas transações comerciais, nossa participação social e nossas relações pessoais de forma consciente. O conhecimento e a aplicação das regras propostas por tantos autores imperativos da empatia propõe como algo que aumenta nosso poder enquanto cidadãos, entretanto senão termos consciência do presente momento, podemos estar sendo prejudicados pelo simples fato de agir pela emoção gerada pela empatia e não pela razão. O próprio Robert B. Claldini descreve em seu livro – “O poder da persuasão”, as seis inclinações básicas do comportamento humano, e claro, descreve categoricamente a importância da empatia nas relações e na busca eminente de gerar uma resposta positiva, trabalhando tópicos como: reciprocidade, coerência, validação social, gostar (de alguém), autoridade e escassez.

A empatia se tornou algo tão discutido nas relações empresarias, que se categorizou como a base de treinamentos comportamentais. Adam Waytz, psicólogo e professor na Kellogg School of Management da Universidade Northwestern, descreve em seu artigo, por exemplo, extremos como o adotado há alguns anos pela Ford Motor Company, que começou a solicitar aos seus engenheiros (na maioria homens) que usassem a empathy belly – um simulador que permite experimentar sintomas de gravidez como dor nas costas, pressão na bexiga, 14 quilos ou mais em ganho de peso. Eles podiam até sentir “movimentos” que imitam os chutes fetais. A ideia era fazer com que entendessem os desafios ergonômicos enfrentados pelas grávidas ao dirigir, seu alcance limitado, mudanças na postura e centro de gravidade. É difícil saber se a experiência melhorou os carros da Ford ou aumentou a satisfação dos clientes, contudo, os engenheiros confessam ter se beneficiado com ela. Eles continuam usando a barriga postiça, mas não só isto, também estão simulando a visão embaçada e a rigidez nas articulações dos condutores mais idosos com um “aparato de terceira idade”.

No mínimo, esses exercícios constituem uma tentativa de “colocar-se no lugar de outra pessoa”, nas famosas palavras de Henry Ford, que considerava essa atitude a chave do sucesso.

Como verdadeira habilidade necessária em todos, a empatia está em alta praticamente em todo lugar – não somente na Ford, e não só em relação a equipes de projeto e de desenvolvimento de produtos. Está no coração da concepção do design e da inovação em sua definição mais ampla, fundamental em profissões que atuam diretamente com as pessoas como no marketing e treinamentos motivacionais. Também é louvada como uma habilidade crucial de liderança – que o ajuda a influenciar os outros em sua organização, a antecipar as preocupações dos stakeholders a responder aos seguidores da mídia social e até mesmo a realizar reuniões melhores.

Porém, o psicólogo Adam Waytz, chama a atenção em seus estudos e pesquisas no qual demonstra muito do que se apresenta sobre Empatia, distorce a verdadeira necessidade e aplicabilidade e se não souber dosar a Empatia você poderá entrar em uma armadilha e prejudicar o negócio, os relacionamentos, influenciar negativamente sua equipe e deteriorar sua capacidade de liderança, mesmo sabendo ser essencial para liderar e gerir – sem ela decisões desastrosas seriam tomadas, e os benefícios que acabamos de descrever, sacrificados -, deixar de reconhecer seus limites pode acometer o desempenho individual e organizacional.

Adam Waytz, descreve em seu excelente artigo “Os limites da empatia”, alguns dos maiores problemas com os quais se pode deparar:

  PROBLEMA 1: É DESGASTANTE

Da mesma forma que tarefas cognitivas pesadas, como guardar muitas informações ao mesmo tempo ou evitar distrações em um ambiente agitado, a empatia consome nossos recursos mentais. Assim, trabalhos que exigem empatia constante podem levar à “fadiga por compaixão”, um quadro de estresse e sensação de esgotamento. Profissionais da saúde, comissários de bordo, assistentes sociais e agentes de correção correm especialmente esse risco, pois a empatia é central ao seu trabalho. Em um estudo com enfermeiras de uma clínica geriátrica, por exemplo, os indicadores-chave da fadiga por compaixão eram psicológicos: ansiedade, tensão e aquilo que alguns pesquisadores chamam de empatia excessiva, que significa a tendência de sacrificar suas próprias necessidades pelas dos outros (em vez de simplesmente “sentir” pelas pessoas). A demanda por empatia é também “incansável” em outros setores. Dia após dia os gestores devem motivar trabalhadores da área do conhecimento ao compreender suas experiências e perspectivas e ajudá-los a encontrar sentido pessoal em seu trabalho. Profissionais de atendimento ao consumidor precisam continuamente amenizar as preocupações daqueles que os procuram, ansiosos. Por si só, a empatia é desgastante em qualquer contexto que constitua aspecto principal do trabalho – e justamente por isso precisa ser treinada, como qualquer outra habilidade. A empatia não somente exaure energia e recursos cognitivos – ela também se esgota se a pessoa não recorrer a estratégias psíquicas para lidar com a situação de forma saudável. Pessoas que relatavam dedicar, no ambiente de trabalho, “algum tempo para ouvir os problemas e preocupações dos colegas” e para ajudar “os que estão sobrecarregados de tarefas” se sentiam menos capazes de se conectar com a própria família, estavam emocionalmente esgotadas e sobrecarregadas por demandas relacionadas ao trabalho. A empatia não somente exaure energia e recursos cognitivos – ela também se esgota se a pessoa não recorrer a estratégias psíquicas para lidar com a situação de forma saudável.

Pessoas que relatavam dedicar, no ambiente de trabalho, “algum tempo para ouvir os problemas e preocupações dos colegas” e para ajudar “os que estão sobrecarregados de tarefas” se sentiam menos capazes de se conectar com a própria família, estavam emocionalmente esgotadas e sobrecarregadas por demandas relacionadas ao trabalho.

   PROBLEMA 2: SE UM GANHA OUTRO PERDE

A empatia não somente exaure energia e recursos cognitivos – ela também se esgota se a pessoa não recorrer a estratégias psíquicas para lidar com a situação de forma saudável. Vários psicólogos acreditam que temos um “quantum” de energia, variável de um indivíduo para outro. Mas, na maioria dos casos, quanto mais empatia se dedica ao cônjuge, por exemplo, menos sobra para oferecer à mãe; quanto mais oferece à mãe, menos é possível dispor ao filho. Tanto nosso desejo em ser empáticos e o esforço que isso exige são disponíveis em quantidade limitada, quer estejamos lidando com a família e amigos ou com clientes e colegas.

Consideremos este estudo: pesquisadores examinaram casos em que havia conflitos de escolha chamados no mundo corporativo de trade-off) associados a comportamentos empáticos no trabalho e em casa. Foram acompanhados 844 profissionais de várias áreas, incluindo cabeleireiros, bombeiros e atendentes de telemarketing. Pessoas que relatavam dedicar, no ambiente de trabalho, “algum tempo para ouvir os problemas e preocupações dos colegas” e para ajudar “os que estão sobrecarregados de tarefas” se sentiam menos capazes de se conectar com a própria família, estavam emocionalmente esgotadas e sobrecarregadas por demandas relacionadas ao trabalho. Algumas vezes a situação “se um ganha outro perde” leva a outro tipo de trade-off. A empatia em relação às pessoas “de dentro”- de nossa equipe ou organização – pode limitar nossa capacidade de ter empatia pelas pessoas “de fora” de nosso círculo imediato. Naturalmente dedicamos mais tempo e esforço em compreender as necessidades de amigos e colegas próximos e simplesmente achamos mais fácil fazê-lo, pois, para começar, nos importamos mais com eles. Esse investimento desigual cria uma lacuna que é ampliada por nosso estoque limitado de empatia. À medida que consumimos a maior parte do que temos disponível com as “nossas” pessoas, os vínculos com elas se tornam mais fortes, enquanto o desejo de nos conectar com as de fora vai minguando.

A empatia preferencial pode levar à agressão dos “de dentro” em relação aos “de fora”. Por exemplo, em um estudo que realizado com o professor Nicholas Epley, da Universidade de Chicago, observamos como dois grupos de voluntários – aqueles que se sentavam ao lado de um amigo (para preparar a conexão empática) e aqueles que se sentavam ao lado de um estranho – associaram um grupo com o qual não se identificavam, por exemplo, terroristas, com ideias particularmente negativas. Após descrever os terroristas, perguntamos até que ponto eles apoiariam afirmações que os retratassem como sub-humanos, até que ponto aceitariam submetê-los ao afogamento e a quais voltagens de choque elétrico estariam dispostos a administrar. O simples fato de se sentar em uma sala com um amigo aumentava significativamente a disposição das pessoas em torturar e tratar os outros como se não fossem humanos. Embora esse estudo represente um caso extremo, o mesmo princípio vale para as organizações. A compaixão por nossos próprios funcionários e colegas algumas vezes produz respostas agressivas em relação aos outros. Com mais frequência, os de dentro simplesmente não têm interesse em ter empatia pelos de fora – e isso pode fazer com que as pessoas rejeitem oportunidades para colaboração construtiva entre funções ou organizações.

   PROBLEMA 3: AMEAÇA À ÉTICA

A empatia pode, ainda, causar lapsos no julgamento ético. Vimos um pouco disso no estudo sobre os terroristas. Em muitos casos, porém, o problema não se origina da agressão em relação aos de fora, mas sim de uma extrema lealdade aos de dentro. Ao fazer um esforço concentrado para ver e sentir da mesma forma que as pessoas próximas a nós, podemos tomar seus interesses como nossos. Assim, ficamos mais dispostos a fazer vista grossa para transgressões ou até nos comportarmos mal em nome de nossas convicções. Numerosos estudos sobre tomadas de decisão demonstram que as pessoas são mais propensas a trapacear em favor de outra. Em contextos em que os benefícios são ora financeiros, ora relacionados à reputação, para racionalizar sua desonestidade. Quanto mais têm empatia pela dificuldade alheia ou sentem a dor de alguém tratado de forma injusta, mais propensas ficam a mentir, trapacear ou roubar para beneficiar os oprimidos. No ambiente de trabalho, a empatia em relação aos colegas pode inibir a revelação de informações de interesse público – e, quando isso acontece, parece que os escândalos vêm na sequência. Basta pensar em situações que envolvem instituições policiais, militares e religiosas denunciadas por brutalidade, abuso sexual, fraude. Em geral, as denúncias são feitas por pessoas de fora, que não se identificam com os perpetradores da violência.

Na pesquisa com Liane Young e James Dungan, do Boston College, foi os efeitos da lealdade nas pessoas que utilizavam o Mechanical Turk, da Amazon, um mercado online em que usuários ganham dinheiro por concluir tarefas. No começo da pesquisa, pedimos a alguns participantes que escrevessem um ensaio sobre lealdade e a outros sobre imparcialidade.

Posteriormente, os participantes eram expostos a um trabalho malfeito de outra pessoa. Aqueles que haviam recebido o incentivo pela tarefa da lealdade eram menos propensos a atenção para o desempenho inferior do colega. Essa constatação complementa as pesquisas que demonstram que o suborno é mais comum em países que recompensam o coletivismo. O senso de pertencimento e interdependência entre os membros do grupo costuma levar as pessoas a tolerar a transgressão, fazendo com que se sintam menos responsáveis pelos erros e dispersando a responsabilidade para o todo coletivo em vez de imputá-la ao indivíduo. Em suma, a empatia por aqueles de dentro de nosso círculo imediato pode obstruir a justiça para todos. “

  PROBLEMA 4: FIDELIDADE EMPÁTICA

Eu sempre digo que uma das problemáticas maiores da empatia é justamente consentir a fidelização do relacionamento, e quando isto ocorre, muitas vezes deixamos de perceber o contexto para observar apenas as partes, quando nos tornamos cegos empáticos. No senso comum a fidelidade, por exemplo, é apresentada como uma virtude social, justa e boa, mas o que a história nos ensina e que nem sempre é assim, já que tudo depende a quem e ao que você é fiel, será que ser fiel a um colega pedófilo, mal, grotesco, desrespeitoso, desonesto, não pode significar em si uma atitude virtuosa; a fidelidade pela fidelidade em si não garante nada, não garante valor moral, já que e possível ser fiel e maléfico, fiel e desonesto, fiel e ladrão, desde que você seja fiel as escolhas equivocadas, e de certa maneira a fidelidade leva, de alguma forma, a agir de maneira coerente as expectativas que gerou, mas a coerência entre o que gerou de expectativa e o que termina fazendo nem sempre é bem-vinda, esta coerência pode cobrar de você uma atitude viciada, maléfica e condenável, então percebe-se a entender que todo gesto empático pode implicar em escolhas tendenciosas. 

É evidente que a empatia se torna fundamental para a vivencia social. É praticamente impossível imaginarmos um mundo aonde a empatia é absolutamente ausente, aonde a apatia seja regra absoluta. Se pensar assim por alguns minutos, logo percebera que a convivência entre as pessoas se torna absolutamente impossível quando há somente apatia.

De certa maneira, o ser humano tem como natureza a expectativa de não frustrar as pessoas no qual tem algum tipo de relacionamento, desta forma a empatia torna-se representativo no senso comum como algo positivo, uma virtude moral, sendo então uma ferramenta facilitadora da convivência social. Entretanto, quando se fala em empatia, também está falando de relacionamento, e o relacionamento é baseado no senso ético de boas condutas para uma harmonização relacional saudável no qual muitas vezes acabam se confundindo, estabelecendo além do convívio e respeito também a fidelização das partes, e nem sempre a fidelidade tem sua contemplação positiva, por isto é fundamental a reflexão da empatia de uma forma mais complexa, para que seja possível assim a compreensão de todas as resultantes que se pode alcançar.

Os problemas apresentados podem parecer difíceis de tratar, mas é possível mitigá-los dentro de grupos e organizações. Adam Waytz sugeri para que as pessoas dividam o trabalho. Segundo ele, a boa notícia é que a compaixão pode ser treinada – e expandida. Numa empresa, por exemplo, um exercício interessante é pedir a cada funcionário que se concentre inicialmente em algumas pessoas para treinar a empatia, em vez de fazê-lo de forma generalizada. Algumas pessoas podem voltar sua atenção primeiramente aos clientes e outras, aos colegas – uma espécie de força-tarefa para atender a diferentes necessidades. Aos poucos, é possível aumentar conscientemente o tamanho dos grupos pelos quais cada um é “responsável” por “cuidar”. A ideia é estender, gradualmente, a capacidade empática, evitando criar grupos isolados.

Adam Waytz propõe ainda que a Empatia não seja um sacrifício. A mente humana é capaz tanto de intensificar quanto de diminuir nossa suscetibilidade à sobrecarga da empatia. Por exemplo, exacerbamos o problema “se um ganha outro perde” quando supomos que nossos próprios interesses e os dos outros são fundamentalmente opostos. Isso costuma acontecer em negociações em que partes com diferentes posições não saem do lugar, pois estão obcecadas com a lacuna entre elas. Encarar o outro como adversário -, ou, pior ainda, como inimigo – não só nos impede de compreender e responder à outra parte como também nos faz sentir como se tivéssemos “perdido” quando não conseguimos que algo seja do nosso jeito. Podemos evitar o esgotamento buscando soluções integrativas que sirvam aos interesses de ambos os lados. Mas para isso é preciso fazer concessões.

Dê períodos de descanso às pessoas. Adam Waytz, diz que como professor de gestão e organizações, não consegue conter certo desconforto quando os alunos se referem aos cursos do departamento sobre liderança, equipes e negociação como “habilidades sutis”. Compreender e responder às necessidades, interesses e desejos de outros seres humanos envolve um dos trabalhos mais árduos que existem. Apesar de se dizer que a empatia vem naturalmente, é preciso um intenso esforço mental para compreender outra pessoa – e então responder com compaixão e não com indiferença. Em geral sabemos que as pessoas precisam de um alívio periódico do trabalho, seja ele analítico, técnico ou repetitivo, como digitar dados. O mesmo vale para a empatia. Não basta encorajar projetos auto direcionados que beneficiam os grupos (e geralmente resultam em mais trabalho), como fez a Google em sua política de 20% do tempo livre para funcionários.

Pode ser muito produtivo e saudável encorajar os indivíduos a dedicar um tempo para se concentrar somente em seus interesses. Pesquisas recentes constataram que as pessoas que fazem vários intervalos para descanso – e nesses períodos cuidam dos próprios interesses – posteriormente relatam sentir mais empatia pelos outros. Ou seja: quando as pessoas e se sentem restauradas, têm melhores condições de desempenhar as tarefas difíceis e responder ao que os outros precisam. Com base nisso, algumas empresas estão adquirindo câmaras de isolamento, como as “cápsulas do bem-estar e aprendizado” da Orrb Technologies, para que as pessoas possam literalmente se colocar dentro de uma bolha para relaxar, meditar ou fazer o que quer que as ajude a recarregar as energias, outras empresas, como a distribuidora de componentes elétricos Van Meter, contam com intervenções bem mais simples, como fechar as contas de e-mail dos funcionários quando estão em férias para permitir que se concentrem em si mesmos sem interrupções.

Não há como negar, lidar com pessoas bem como conviver de forma saudável com elas é uma arte, e a empatia é necessária para o bom convívio relacional; o bem-estar esta interligado a interação social sendo útil para outras pessoas, poder ajudar, se sentir útil é um dos maiores recompensadores da vida, mas é fundamental que se tenha controle sobre si mesmo, sobre as próprias ações. Não se pode deixar por ser dominado pelos outros, lembre-se que somos responsáveis pelos nossos atos e pelos resultados de nossas ações. Se Aristóteles estivesse vivo, creio que ele seria um defensor entusiástico de “philautia” como uma base necessária para a compreensão empática, acreditando que pessoas que não se sentem bem consigo mesmas ou alimentam um grau de aversão por si mesmas terão dificuldade em se relacionar com os sentimentos, as necessidades e as visões de mundo de outras. Se você quiser se pôr na pele de outra pessoa, precisa se sentir confortável na sua própria, por isto, antes de tudo, precisamos explorar como podemos nos tornar criteriosos em nossas escolhas, observar, perceber e compreender que além do momento inserido existe as intenções de cada um. Somente assim, muito mais que estar conectado, estaremos resguardados, sem correr o risco de ser vítima da própria empatia.

REFERÊNCIAS

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CIALDINI, R. B. O poder da persuasão. Rio de Janeiro: Elsevier Editora, 2006.

CIALDINI, R. B. Revista Mente e Cérebro – O que faz você dizer sim – edição 280. São Paulo: Segmento, 2016.

FILHO, C. B. Ética Na Comunicação. São Paulo: Vozes, 2003.

MARINOFF, L. O caminho do meio. São Paulo. Record. 2008.

WAYTZ, A. Revista Mente e Cérebro – Os limites da empatia – edição 279. São Paulo: Segmento, 2016.

WHEELER, M. A arte da negociação. São Paulo: Leya Brasil 2014.

WHITE, A. From Comfort Zone to Performance Management. Disponível em: <http://www.byggai.se/mats/att/Comfort-to-Performance.pdf>. Acessado em: 18 de fevereiro, 2016.

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