O LÍDER INTROVERTIDO
“Tudo quanto conheço, mas sobre o qual no momento não estou pensando; de tudo quanto eu tinha consciência, mas agora esqueci; tudo quanto os seus sentidos percebem, mas que não é notado pela minha mente consciente; tudo quanto, involuntariamente e sem prestar atenção, sinto, penso, recordo, quero e faço; todas as coisas futuras que estão tomando forma em mim e que algum dia virão à consciência; tudo isso é o conteúdo do inconsciente.” Antony Stevens
O incentivo para este artigo foi a leitura do excelente livro de Susan Cain, O poder dos quietos. Como os tímidos e introvertidos podem mudar um mundo que não para de falar. Este livro é entremeado de inspiração. Uma leitura rica, mas simples, que possibilita entender as pessoas introvertidas. Uma importante fonte de conhecimento para o aprimoramento nos modelos tradicionais de liderança que ajuda a responder questões como: Qual o perfil de um líder! Uma pessoa introvertida pode ser um líder?
Logo, o objetivo desse artigo é entender que apesar da pressão social para que as pessoas sejam extrovertidas, nem sempre esta característica propicia vantagens que os tornem capazes de serem líderes de sucesso, em contra partida é possível ser um excelente líder sendo introvertido.
Susan Cain em sua pesquisa apresentada no livro, mostra que mais de um terço da população mundial são introvertidos, um número extremamente significante para ser equivocadamente analisado. Basta observar grupo de amigos, família e ambientes de trabalho, a quantidade de introvertidos que conhecemos em nossa vida.
Muito do preconceito que as pessoas com esta característica sofrem ocorrem justamente por aqueles que não entendem o que é ser introvertido, talvez por serem vítimas dos imperativos sociais que faz com que rotulemos as pessoas por tipos de personalidade e isso não tem nada de verdade com o real como também não traz nada de útil. Fato é que nossas personalidades mudam com o tempo, mesmo quando somos adultos. Sempre estamos, nunca somos.
A linguagem é um fator importante em jogo: descrever a nós mesmos ou aos outros usando um adjetivo como “introvertido” ou “extrovertido” implica que isso é o que somos, e com isso vêm as conotações de permanência. Mas os seres humanos são resultados das suas próprias experiências, e esse fascínio por rótulos pode nos impedir de ver que sempre podemos mudar e crescer. Pensando assim, qual os problemas em ser introvertido ou extrovertido? Por que não podemos então, ser ambos?
Ainda no século XIX, Carl Jung, foi o primeiro a popularizar esse termo de introvertido e extrovertido. Jung criou e aprimorou o conceito de reflexivo e ativo para Introvertido e Extrovertido (ou “extraversão”, como ele escrevia). Ele acreditava que não existia uma pessoa somente introvertida ou somente extrovertida. Embora muitos de nós nos denominamos veementemente como “extrovertidos” ou “introvertidos” e vejamos esses traços como partes essenciais de nossa identidade, as definições de Jung não eram tão polarizadas. Na visão de Jung, precisávamos buscar “energia” tanto fora quanto dentro para sermos “pessoas plenas”.
Longe de ser “o que somos”, Jung considerava a introversão e a extroversão como tipos de consciência que podemos experimentar de maneiras diferentes em situações distintas. Tanto a introversão quanto a extroversão podem dominar nosso comportamento, mas também podemos nos beneficiar uma da outra que está em algum lugar dentro de nós, como uma maneira de valorizar as experiências de vida.
Podemos perceber que seguindo os princípios de Jung temos, naturalmente, dois mundos: o interior e o exterior. Inconscientemente elegemos qual desenvolver mais a partir do resultado das nossas relações experimentadas pela vida. Para Jung, extroversão está para o enfoque dado ao objeto e introversão como o enfoque dado ao sujeito. Assim, em relação ao tipo introvertido e extrovertido ele revelou: “um encarrega-se da reflexão; o outro, da iniciativa e da ação prática.” Em outras palavras, na extroversão, a energia da pessoa flui de maneira natural para o mundo externo de objetos, fatos e pessoas em que se observa: atenção para a ação, impulsividade (ação antes de pensar), comunicabilidade, sociabilidade e facilidade de expressão oral. Extroversão significa “o fluir da libido de dentro para fora.” O indivíduo extrovertido vai confiante de encontro ao objeto. Esse aspecto favorece sua adaptação às condições externas, normalmente de forma mais fácil do que para o indivíduo introvertido.
Na introversão, o indivíduo direciona a atenção para o seu mundo interno de impressões, emoções e pensamentos. Assim, observa-se uma ação voltada para o interior, reflexão, o pensar antes de agir; postura reservada, retraimento social, retenção das emoções, discrição e facilidade de expressão no campo da escrita. O introvertido ocupa-se dos seus processos internos suscitados pelos fatos externos. Dessa forma o tipo introvertido diferencia-se do extrovertido por sua orientação por fatores subjetivos e não pelo aspecto objetivamente dado. Jung aponta para o fato de que a expressão “fator subjetivo” não deve ter a conotação preconceituosa de algo que foge à realidade.
Segundo Jung nenhum ser humano é exclusivamente introvertido nem extrovertido – ambas as atitudes existem dentro de cada um de nós, mas só uma delas foi desenvolvida como função de adaptação; logo podemos dizer que extroversão assim como a introversão são características presentes em todos, entretanto prevalece aquela no qual faz mais sentido para o ambiente de acordo com as relações humanas nela presente. De fato, essas diferenças entre os indivíduos são causadas pelas diversas maneiras com que as pessoas utilizam sua mente, ou seja, pelas funções psíquicas e/ou processos mentais preferencialmente utilizados para se relacionar com o mundo externo ou interno.
Depois de Jung, vários estudos dentro da psicologia foram direcionados a questão sobre os introvertidos e extrovertidos e hoje não há dúvidas que o modo preferencial de uma pessoa reagir ao mundo deve-se as suas características herdadas geneticamente, às influências familiares e às experiências principalmente durante a sua primeira década de vida, portanto, é resultado de um conjunto de fatores que vão muito além do que uma simples questão de escolha.
Fundamentalmente, diante da perspectiva basicamente atual pode-se dizer que o tipo introvertido está mais para uma pessoa introspectiva, que precisa voltar-se para seu mundo interior e explorá-lo, pois, os seus referenciais lá se encontram. Sua introspecção vem de uma característica psicológica, aonde a pessoa é mais contida emocionalmente. Uma criança com esse perfil, normalmente procura brincar sozinha, inventando o seu mundo de criatividade e alegria. Isso não seria problema algum se não fosse pela pressão social em geral, que, por terem um comportamento mais reservado que da maioria, que são extrovertidos, acreditam que existe algo de errado, como ocorre muitas vezes dentro da própria casa, pela atitude dos pais, que começam a acreditar que a criança tem problema e que isso atrapalhe suas habilidades sociais, seu futuro e o sucesso na vida e então, muitas vezes, erroneamente, rotulando-a.
Acredita-se que esta pressão social na caracterização das pessoas serem extrovertidas ou não tem seu crescimento a partir do início do século XX, aonde cada vez mais no mundo industrializado as diferenciações entre as classes sociais tornou-se ainda mais singulares e as relações humanas foram deixando de valorizar as pessoas pelo que ela é (Ser), – chamado de período cultural do caráter, e passou a admirar as pessoas pelas suas representações e conquistas (Ter) – denominado como cultura da personalidade. Com isso, surgiu a busca frenética de posses, uma estrutura econômica viva e intensa, aonde prevalece a arte do convencimento, extrapolando os limites relacionais, que se tornou uma exigência de sobrevivência pela busca das trocas e interesses. Best Sellers de autoajuda tornaram-se populares e todos em direção ao quebrar paradigmas relacionais entre as pessoas, como uma resposta ilusória e fantasiosa aos problemas comportamentais tão como relacionais. Exemplo foi o livro escrito em 1936 por Dale Carnegie, “Como fazer amigos e Influenciar Pessoas”, que logo se tornou uma febre entre os executivos e vendedores. Em sua capa está descrito que ali dentro está as ilusórias soluções para resolver os maior dos problemas – o de relacionar-se bem com as pessoas e influenciá-las na vida cotidiana, nos negócios, no trabalho e nos contatos sociais.
Um dos maiores equívocos em que se vê é denominar uma pessoa introvertida com uma pessoa que possui o perfil comportamental da timidez, procrastinadora, incapaz, lenta ou improdutiva. Aliás, ser introvertido é muito diferente de ser tímido. Pessoas tímidas tem um desconforto comportamental. Criam dentro de si um bloqueio ao se relacionar com outras pessoas e de interagir com o mundo. Uma barreira inconsciente que aflora o medo e a vergonha. Caracteriza-se pela preocupação com as atitudes, reações e pensamentos de si mesmo com os outros e vice-versa. Podendo comprometer sua capacidade de realização pessoal, tornando procrastinador na vida, empobrecendo-a. Timidez, muitas vezes, também pode funcionar como um mecanismo de autodefesa, uma máscara que permite à pessoa avaliar situações novas através de uma atitude de cautela e buscar a resposta adequada dentro da sua realidade introspectiva para a situação.
Fato é que ser extrovertido ou introvertido faz parte de certos imperativos que determinam padrões equivocados e fica evidente quando se observa o dia a dia de todos nós, seja na vida social, profissional ou pessoal. Basta analisar os modelos adotados nas escolas, na maioria das empresas e até mesmo em inúmeros treinamentos de desenvolvimento profissional e de liderança além claro desse mal contemporâneo emblemado pelo mundo digital, como FOMO (Fear of Missing Out ) que logo vemos o julgamento exposto nas redes entre as pessoas que são extrovertidas e as que não são.
De qualquer forma há uma tempestade diária sobre cada um de nós com regras que exigem das crianças e adultos que devem sempre trabalhar em grupo, equipes, estar em evidência, se expor, aparecer, se destacar, falar, etc. O que muitos não pensam é que na maioria das vezes, estas ações acabam resultante em perder grandes talentos, inibindo as habilidades de pessoas que poderiam fazer a diferença, justamente por não incentivar elas nas suas zonas de maiores estimulações que mais adequadas para o seu perfil. A maior parte do modelo atual na sociedade cria ambientes favoráveis ao perfil de pessoas extrovertidas, teorizando a necessidade de estimulação. Ainda há muitos que supõe que a criatividade e produtividade tem que vir de grupos de pessoas, salas cheias e todos juntos, sem divisão, sem paredes, como aqueles ambientes conhecidos como “war room” que ficaram famosos pelo princípio de energizar a equipe, concentrar informações e permitir gerar grandes ideias para atingir os melhores resultados, indo quase sempre contrário do que muitos estudos comportamentais e da própria neurociências tem para nos ensinar nos dias de hoje. Tornou-se comum dizer que a pessoa ser introvertido não é bem o jeito certo de ser, com uma cobrança equivocada, como se tivesse realmente de ser extrovertido para gerar resultados e participar com destreza do meio social.
A verdade é que não se pode suprir as características fundamentais das pessoas apresentando regras únicas que sirvam a todos, é preciso fazer uma análise muito mais sistêmica. Talvez o que poucos levam em consideração é que esta cobrança possa gerar aos introvertidos mais do que o isolamento, mas também uma tristeza interna imensa, primeira pela falta de uma de duas necessidades fundamentais do ser humano que é o sentimento de pertencimento e o segundo o de aceitação e isso pode limitar não só a capacidade intelectual de produzir resultados extraordinários, como gerar um estresse psicológico por falta de compreender e respeitar a sua característica individual de ser. Equívoco imensurável social, já que pessoas introvertidas quase sempre são pessoas criativas, certeiras, focadas, com uma percepção apurada aos detalhes, concentradas, atentas, precisas, tem uma capacidade cognitiva de inter-relacionar as coisas de maneira muito mais exata do que as extrovertidas e muito menos passíveis de correr riscos imprevistos – o que faz uma grande diferença nos dias de hoje. Não há dúvidas que é mais fácil enganar um extrovertido do que um introvertido.
Ser introvertido é apenas questão de ser reservado principalmente com meio social. Mas isto não é uma constância, e sim de momentos. Os extrovertidos necessitam de muita estimulação, enquanto os introvertidos sentem muito mais vivos, ativos e capazes quando, em parte do seu tempo, estão em ambientes mais silenciosos, reservados e tranquilos. Isto não é sempre, mas grande parte do tempo, esta paz traz sua centralidade introspectiva entre si mesmo e o mundo.
Trazendo isso para liderança podemos ir muito mais além já que uma das perspicácias de um bom líder está intricada justamente na inteligência emocional. Suas habilidades cognitivas emocionais são o alicerce para liderar considerando o todo e as partes. Um levantamento do instituto de pesquisa Gallup de 2017 sobre o ambiente de trabalho americano diz que apesar do domínio dos extrovertidos, apenas 13% dos funcionários concordavam fortemente que a liderança de sua organização estava se comunicando de forma eficaz com o resto. Pesquisas como essa vem continuamente demostrando que os extrovertidos são representados de forma exagerada em posições de liderança sênior. Em um outro estudo, por exemplo, mostrou que 98% dos autos executivos obtiveram pontuação ‘muito alta’ ou ‘acima da média’ na escala de extroversão. Mas a maioria das pessoas que estavam sobre a liderança dessas pessoas em geral não estão satisfeitas com seus líderes.
Uma das virtudes que contemplam a capacidade emocional é justamente a forma de analisar, observar e perceber os detalhes e esse é um dos diferenciais mais presentes entre os introvertidos. Não faltam exemplos em todos os tempos de grandes líderes introvertidos que se destacaram justamente pelo seu olhar sistêmico, por serem mais propensos a ouvir e processar as ideias de sua equipe e considerar outras sugestões antes de agir de acordo com elas, fazem deles muito mais assertivos. Executivos admiráveis como Mark Zuckerberg; Sheryl Sandberg; Larry Page, fundador do Google; Marissa Mayer, CEO do Yahoo; Gandhi; Steve Wozniak que inventou o primeiro computador da Apple; Charles Schwab, da Charles Schwab Corporation; Bill Gates; Brenda Barnes, presidente executiva da Sara Lee; James Copeland, ex-diretor executivo da Deloitte; Touche Tohmatsu, Lou Gerstner, o lendário executivo da IBM; Charles Darwin; Theodor Geidsel (Dr. Seuss); entre milhares de outros em todos os períodos no tempo.
O guru da administração Peter Drucker diz que “Entre os mais eficientes líderes que encontrei e com quem trabalhei em meio século, …. Alguns trancavam-se em seus escritórios e outros eram ultras sociáveis. Alguns eram rápidos e impulsivos, outros estudavam a situação e levavam um tempão para tomar uma decisão… O único traço de personalidade que encontrei em comum em todos eles era algo que não tinham ou pouco tinham: ‘carisma’, e a necessidade desse termo ou o do que ele significa”. Foi sustentando a fala de Drucker que o professor de administração da Universidade Brigham Young, Bradley Agle, estudou os presidentes executivos de 128 grandes companhias e descobriu que aqueles considerados carismáticos pelos principais executivos tinham maiores salários, mas não uma melhor performance corporativa.
Dentre outros exemplos citados no livro, está também a descrição do estudo do prestigioso teórico da administração Jim Collins, que diz que muitas das companhias de melhor performance do fim do século XX foram administradas pelo que ele chama de “Líderes de nível 5”. Esses excepcionais presidentes executivos são conhecidos não pelo brilho ou pelo carisma, mas pela extrema humildade combinada com uma intensa vontade profissional. Em seu influente livro Empresas feitas para vencer, ele conta a história de Darwin Smith, que igual as onze empresas de destaque que pesquisou a fundo, perceberam que as companhias de alta performance tinham algo muito em comum, que era a natureza de seus presidentes executivos: todas elas eram lideradas por homens modestos como Darwin Smith, citado como exemplo indiscutível. Isso porque é claramente visível que esses executivos longe de serem lentos, como muitos acham dos introvertidos, na verdade, eram mais atenciosos e mais propensos a reconhecer o valor e a dar mérito aos membros da equipe por suas ideias e desempenho. Aqueles que trabalhavam com esses líderes tendiam a descrevê-los com as seguintes palavras: quieto, humilde, modesto, reservado, tímido, gentil, de modos suaves e reticentes. A lição, segundo Collins, é clara – “Não precisamos de personalidades gigantes para transformar nossas empresas. Precisamos de líderes que constroem não o próprio ego, mas a instituição que administram.”
Então, o que os líderes introvertidos podem fazer diferente?
Esta possível resposta também pode vir de um outro trabalho citado no livro de Susan, com o estudo do professor de administração Adam Grant, da Universidade de Wharton, que passou um tempo considerável consultando os quinhentos maiores executivos da revista Fortune e líderes militares — do Google ao Exército e à Marinha dos Estados Unidos, onde ele se convenceu de que as pesquisas existentes que mostravam uma correlação entre extroversão e liderança não contavam a história toda. Em sua pesquisa ele chegou à conclusão de que: Primeiro, quando examinou detalhadamente os estudos existentes sobre personalidade e liderança, descobriu que a correlação entre extroversão e liderança era pouca. Em segundo lugar, muitas vezes esses estudos eram baseados na percepção dos pesquisadores sobre o que constituía um bom líder, em oposição a resultados reais. E a opinião pessoal muitas vezes reflete apenas um preconceito cultural. Porém, o que mais intrigava Grant era que as pesquisas existentes não diferenciavam os vários tipos de situação que um líder pode enfrentar. Pode ser que certas organizações e contextos sejam mais adequados a estilos de liderança dos introvertidos, pensou ele, e outros a abordagens extrovertidas, mas os estudos não faziam essa distinção.
Grant tinha uma teoria sobre que tipos de circunstância pediriam uma liderança introvertida. Sua hipótese era de que líderes extrovertidos melhoram a performance de grupo quando os funcionários são passivos, mas que líderes introvertidos são mais eficientes com funcionários proativos. Para testar essa ideia, ele e dois colegas, Francesca Gino, especialista em Priming e autora do excelente livro A Risca, da Harvard Business School, e o pesquisador David Hofman, da Kenan-Flager Business School, na Universidade da Carolina do Norte, fizeram seus próprios estudos. Grant diz que faz sentido que introvertidos só sejam bons em liderar aqueles que tomam a iniciativa. Devido a sua inclinação a ouvir os outros e à falta de interesse em dominar situações sociais, introvertidos tendem a ouvir mais e a implementar sugestões. Tendo se beneficiado do talento de seus seguidores, eles então inclinam-se a motivá-los a serem ainda mais proativos. Em outras palavras, líderes introvertidos criam círculos viciosos de pró atividade. Nos estudos, os membros das equipes relataram ter percebido os líderes introvertidos como mais abertos e receptivos a suas ideias, o que os motivava a trabalhar. Por outro lado, os extrovertidos podem estar tão interessados em deixar sua marca que correm o risco de perder as boas ideias dos outros pelo caminho e permitir que os trabalhadores recaiam na passividade. “Muitas vezes, os líderes acabam falando demais”, afirma Francesca Gino, “e não ouvem nenhuma das ideias que seus subordinados tentam dar”. Mas com sua habilidade natural para inspirar, líderes extrovertidos são melhores em alcançar resultados com trabalhadores passivos.
Faz todo o sentido a afirmação de Francesca Gino quando compreende que, grupos seguem opiniões das pessoas dominantes e carismáticas presentes; pesquisas recentes mostra que 85% das pessoas preferem e se permitem ouvir e seguem os outros, mas não são seguidas – mesmo parecendo não haver qualquer correlação é verdade que nem sempre o melhor orador tem as melhores ideias. Em outras palavras, este número é extremamente significante quando compreendemos a afirmação de que quando se tem lideres extrovertidos em um grupo ocorre por muitas vezes o monopólio das conversas, opiniões e sugestões, que acabam por ofuscar os outros, o que diminui a capacidade de criação de novas ideias e perspectivas, estancando outras possibilidades além da visão e experiência de poucas pessoas.
De fato, não é surpresa nenhuma quando se observa o comportamento das pessoas quando presente em grupos. Parece que não consegue estar em um grupo de pessoas sem instintivamente se espelhar, copiando pensamentos e opiniões da maioria presente. Coisas aparentemente únicas de cada um, passa a ser manipulada por aquilo que na maioria são aceitas; com o tempo isso estende para as próprias crenças das pessoas que estão a volta, sem ao menos perceber o que se está fazendo. Para a neurociência isso não é nenhuma novidade, afinal emoções e sentimentos contaminam, modificando e influenciando os pensamentos que por sua vez será refletido no comportamento das pessoas. Há uma região especifica do cérebro para isso, onde atua os chamados de neurônios espelho.
Como a maioria das pessoas tem como característica preferir seguir e de ser liderado, é importante refletir que os lideres tem um papel fundamental na concepção do clima organizacional e resultados, seja da sua equipe, projetos e empresas. Afinal a emoção é uma experiência afetiva que aparece de maneira continua e que é desencadeada por um objeto ou situação excitante, que provoca muitas reações motoras e glandulares, além de alterar o estado afetivo. O consciente e inconsciente está contextualizada no mundo e como tal, vive cercados de objetos, situações e de outras pessoas com quem há interação. Sendo assim, o sentimento é a consciência das emoções que são interpretações da mente em uma somatória das experiências anteriores com o contexto do ambiente no qual está inserido, que é estimulado através de processos internos, entre outros os neurônios espelho.
Para compreender este processo é preciso entender que os neurônios espelho são encontrados nas áreas do córtex pré-motor e parietal inferior – associadas a movimento e percepção, bem como no lobo parietal posterior, no sulco temporal superior e na ínsula, regiões que correspondem a nossa capacidade de compreender o sentimento de outra pessoa, onde se dá a empatia e a teoria da mente. O cérebro associa as ações e reações das pessoas, realiza uma análise do contexto e do ambiente inserido, para anteceder seu planejamento, adequando o comportamento. Ao que tudo indica, através da percepção dos sentidos no instante presente inicia uma espécie de simulação ou duplicação interna dos atos de outros, imitando mentalmente tudo o que observa.
Entender as intenções de outros é fundamental para o comportamento social e os neurônios-espelho pareceram conferir essa capacidade em um experimento projetado para testar seu reconhecimento de intenções. Na comunicação, esta descoberta trouxe um outro rumo aos estudos comportamentais e a compreensão da capacidade que se tem de influenciar ser influenciado pelo meio que estão inseridos. Isto é extremamente relevante já que uma pessoa extrovertida pode influenciar um ambiente de trabalho tornando-o mais harmônico ou agressivo, promover discussões calorosas que até mesmo podem levar ao desastre ou não.
O ser humano age de acordo com o meio e esta é a maneira que cérebro humano realiza comparações neurais com o que está sendo observado para que inconscientemente encontre a melhor aposta com o meio para o instante seguinte. Foi através do neurônio espelho que se observou o quanto vivemos praticamente no “automático” e que se tem muito pouca capacidade de assumir o controle das atitudes e ações sociais. Entretanto, Bar-On, diz em seu livro que um princípio fundamental da Inteligência emocional é sua capacidade introspectiva de reconhece-la, e o que difere do introvertido é sua capacidade de perceber seu estado, o que eleva sua habilidade para atingir processos adaptativos, ampliando seu potencial de autocontrole, minimizando sua condição em ser influenciado ou mesmo manipulado pelo meio, o que faz ter mais artifícios melhores e mais conscientes para tomar decisões mais sensatas a partir das suas próprias escolhas. Entender como maximizar as contribuições destas características, torna-se uma ferramenta importante para todos os líderes.
Na realidade o ideal é que as escolas e companhias cultivem bons ouvintes assim como bons falantes para papéis de liderança. Grant diz que a imprensa popular está cheia de sugestões de que líderes introvertidos devem praticar suas habilidades de falar em público e sorrir mais. Mas a pesquisa de Grant mostra que, pelo menos em uma coisa importante — encorajar funcionários a tomar iniciativas —, líderes introvertidos se dariam bem continuando a fazer o que fazem naturalmente. Os líderes extrovertidos, por outro lado, “podem desejar adotar um estilo mais reservado e quieto”, escreve Grant. Eles talvez precisem aprender a sentar para que os outros possam levantar. Falar menos e escutar mais.
Fique claro que em nenhum momento se está sendo criticado ou desprestigiado a importância das habilidades sociais dadas pelos extrovertidos e muito menos sobre a abolição dos trabalhos em grupo. Mas sim, entender que com os problemas que são enfrentados hoje em áreas que exigem exatidão, como a ciências humanas, biológicas, economia, entre outras, em um mundo onde tudo tem se tornado cada vez mais urgente, precisamos realmente de exércitos e pessoas que se unam para resolve-los, trabalhando juntos; entretanto, quanto menos as pessoas apontarem, deixar a crítica e o julgamento e dar mais liberdade a aqueles que fazem da sua introspecção a diferença melhor é para todos. Nesse universo da urgência está o lugar perfeito para que os introvertidos sejam eles mesmos, fomentando maior probabilidade de que com eles surjam ideias originais e soluções criativas e inovadoras. Afinal, talvez hoje com tudo que está acontecendo, esteja ainda mais claro que nunca se precisou tanto de introspecção, de silêncio e de menos falação.
Além disso é preciso quebrar este paradigma inserido na sociedade que só existe um perfil para ser líder e que as pessoas devem por regra ser extrovertidos. De alguma forma, precisa-se incentivar esta perspectiva ambivertida, principalmente se considerar a criatividade a reflexão e a produtividade. Em diversos estudos comportamentais, psicólogos observaram a vida de pessoas que destacaram por sua criatividade e inovação e concluíram que muitas são pessoas boas em trocar e desenvolver ideias, mas que também tem traços fortes de introversão. Como uma das conclusões destaca-se que para esses a solidão é muitas vezes um ingrediente crucial para o pensamento lateral e a reflexão, consequentemente vem a criatividade e a inovação.
Quem sabe que agora com toda a questão em que se faz necessário o isolamento social, cada um de nós venha a aprender que devemos parar com a loucura de trabalho ser somente em grupo. As empresas devem encorajar as interações casuais, conversas descontraídas, do tipo em que as pessoas se reúnem, e do nada, troquem ideias sem cobrança ou pressão. Isto e ótimo. Ótimo para o introvertido e extrovertido.
Na verdade, talvez agora se estejamos aprendendo o verdadeiro valor da privacidade, liberdade, e autonomia no trabalho. Na escola a mesma coisa! É obvio que é essencial ensinar as crianças a trabalharem juntas, porém também tem que ensinar a desenvolver sua autorresponsabilidade e assim também trabalharem sozinhas. Isto é particularmente muito importante para crianças extrovertidas, elas precisam aprender a se virar. Porque em parte é daí que surge os valores singulares de cada um, a criatividade, a inteligência emocional, pensamentos laterais bem como as ideias mais profundas.
Para os extrovertidos vale a pena de vez em quanto ser um Buda. Vá para a natureza. Seja um “Buda” e tenha suas próprias revelações. Isto não é dizer para que todos irem para o mato e construir suas cabanas e se isolarem e nunca mais falar um com os outros. Mas sim que cada um deveria se desligar e ouvir o próprio interior. Praticar a arte de falar menos e filtrar aquele que ouve, para despoluir a mente com tanto lixo que enchemos ela diariamente. Deixar o automático que a vida impulsiona, para agir pela essência e consciência.
Por fim, se o objetivo aqui estivesse em dar um conselho então que seja o de olhar no que temos dentro da nossa própria história, das experiências já vividas e no motivo delas existirem. Sejam introvertidos ou extrovertidos, todos tem inúmeras experiências e conhecimentos a ser oferecido e que podem ser compartilhados para o aprimoramento de todos e que essas riquezas sempre que possam, agraciem com energia e alegria as outras pessoas. Mas introvertidos, sejam vocês mesmos, provavelmente com o impulso de guardar cuidadosamente o que há dentro de si, que ocasionalmente, só ocasionalmente, abram sua mente para as outras pessoas verem, porque o mundo precisa tanto de vocês e de tudo que carregam.
FONTE DE PESQUISA E BIBLIOGRAFIA
BAR-ON, R.,PARKER, J.D.A. Manual da Inteligência Emocional. São Paulo: ARTMED, 2000.
CANO V. A.; PELLEJERO, M.; FERRER, M. A.; IRUARRIZAGA, I. Y. Z. A. Aspectos Cognitivos, Emocionales, Genéticos Y Diferenciales De La Timidez. REME, Madrid:2005. Disponível em < http://reme.uji.es/articulos/acanoa5610802100/texto.html> Acesso em: 05/10/2015.
CAIN, S. O Poder Dos Quietos. Como os tímidos e introvertidos podem mudar um mundo que não para de falar. Rio de Janeiro: Agir, 2012.
Chamine, S. Inteligencia Positiva. Rio de Janeiro: Fontanar, 2013.
COOPER, R., SAWAF, A. Inteligência Emocional. Na empresa. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
GINO, F. À Risca! Tomada de Decisão-Como Não Desviar da Rota Planejada e Acelerar. São Paulo: Da Boa Prosa, 2014.
GOLEMAN, D. Inteligência Emocional. A teoria revolucionária que define o que é ser inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998.
SAFRO, S. Timidez vs. Fobia Social: Onde é que vamos traçar a linha? Artigo, São Paulo:2005. Disponível em < http://serendip.brynmawr.edu/bb/neuro/neuro05/web2/ssafro.html> Acesso em: 05/10/2015.
SOUZA, M. A Inteligência Emocional e a Linguagem Comportamental e Corporal. Marcello de Souza – Projetos & Pessoas, São Paulo:2015.
4 Comentários
Beatris Wolinski
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