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O PODER DO SOFRIMENTO

“Se liberdade é a possibilidade de fazer o que quer então eu preciso primeiro querer para depois poder ser livre para fazer o que já quero. Portanto de certa forma a liberdade de fazer o que se quer pressupõe uma vontade que lhe é condição, ou seja, se eu preciso querer para ser livre é óbvio que eu não posso ser livre para querer – sendo escravos da própria vontade! ” Schopenhauer

 Não se pode pensar na vida sem pensar no tempo, ela, a vida, é a tradução da finitude do tempo em nossa trajetória. Talvez não haja na vida nada além do passar do tempo, talvez a vida seja o próprio passar do tempo em nós, e sendo assim, a reflexão sobre a vida não pode prescindir a reflexão sobre o tempo. Com o tempo vem as experiências vivenciadas e com ela vem os desafios e o sofrimento. O tempo e o sofrimento tornam-se assíncronos, já que o sofrimento pode ser um grande e valioso meio de autoconhecimento, uma plenitude que independe do seu tempo vivido. Ele pode acelerar nossa maturidade sendo um estado intrínseco na vida humana. É impossível viver uma vida sem sofrer, marcando a pessoa, dando o parecer de sua própria identidade, afinal de contas, a alma humana está condicionada ao ambiente existencial. O ambiente no qual estamos inseridos constitui um ambiente social todo peculiar, que determina, ao que parece, o comportamento da pessoa. Por isso o sofrimento esta intrínseco à condição de viver, responsável por sua evolução através do tempo, seja qual for a cultura ou a condição social.

Para entender as razões do sofrimento temos que entender o porquê a vida ser como ela é, temos que primeiro compreender a nossa participação na vida. Ao pensar que tudo que existe costuma ser entendido como resultado de uma ou mais causa, podemos então melhor definir esta estrutura com o pensamento dos gregos. Conforme o Professor Clóvis descreve que os gregos acreditavam que tudo acontece por seu motivo próprio de uma forma síncrona necessária, como um verdadeiro relógio suíço, aonde cada peça se encaixa e tem sua função precisa, desta forma cada um tem sua causa na participação no universo. Pensando assim, todos os fenômenos naturais têm o porquê das causas naturais de sua ocorrência, logo, tudo que acontece no universo tem causa e tudo que acontece não é gerado por si mesma, mas sim determinado por um motivo exterior, transcendendo. Tudo que existe no universo é o que só poderia ser, assim o universo é regido pelo princípio da causalidade, e ninguém escolhe a própria existência e ninguém escolhe a própria maneira de estar no mundo, portanto ninguém delibera entre uma vida e outra vida porque a vida a ser vivida está predeterminado em nexos da causalidade da própria existência de ser. Mas a verdade é que apesar de racionalmente querermos acreditar que o que acontece é a única forma que poderia acontecer ser, diante as circunstâncias do meio em que você vive e que tudo fora de você acontece porque tem que acontecer, você em uma profunda introspecção da vida tem a nítida impressão que não é bem assim, que talvez esta maneira de pensar seja mais uma das artimanhas que a mente tem para justificar os próprios atos das escolhas perante a vida. 

Todas estas diferenças antecedem a discussão na hora de viver, do porquê existimos ou qual nossos papéis aqui não podem contaminar as causas de nossa existência. Pode-se haver milhares de diferença entre as pessoas, e cada uma pode ter sua forma de ver e enxergar a própria vida, mas nenhuma delas tem a ver com as virtudes moralmente dignas em função daquilo que escolhemos para a própria vida. A substancia de dignidade do homem está exclusivamente centrada nas suas decisões existenciais, por isso qualquer tipo de diferença de fato, seja material, social, étnica, que anteceda esta decisão ou deliberação nada tem a ver com as próprias escolhas. Este tipo de proposta, nos leva a uma inferência óbvia já que apesar de sermos brutalmente diferente em tudo, na hora de decidirmos sobre a vida, somos iguais. É esta igualdade, uma igualdade estatutária, decisória, de escolhas do melhor caminho que pressupõe uma liberdade para fazer da própria vida o que bem se entender. Por que se não tivermos esta liberdade, teríamos que viver de qualquer jeito, viver regido por aquilo que se tem e não teríamos que definir nossas vidas. Seriamos como os outros animais e como qualquer outro animal, regido pela simples natureza, como descrito em uma passagem da obra de Rousseau em seu “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens”, Rousseau faz sua comparação entre os homens e os animais, suas escritas apresentam exemplos inequívocos para compreensão, por exemplo: ele diz que um gato nasce gato e que o gato é gato desde de seu nascimento até sua morte, e o que ele faz em toda sua vida é o que todos gatos fazem, sem diferença, como uma espécie de programação que ele denomina como instinto. Seu instinto contém todas as respostas necessárias para viver como um gato, sem inventar, criar, inovar ou empreender, gato é gato todo o tempo. Se pegar um gato com fome e colocá-lo do lado de um prato de alpiste ele morre de fome, mas não improvisa para tentar sobreviver até outra coisa aparecer. Do mesmo jeito é o pombo, que nasce pombo e morre pombo, fazendo somente aquilo que foi programado a fazer. Clóvis diz, “Pombo não tem ética, não tem ideias, não tem educação, cultura, civilização, ele como o gato não cria ou inventa, e se tiver com fome ele não vai comer o file que o gato come, mas sim ficara na esperara pelo alpiste. Pombo é pombo, gato é gato e assim são os animais. Já o homem é muito diferente disto, criando a própria natureza, tudo originado pelo homem foi para sua sobrevivência e adaptação para conviver com outros da espécie”.

O que importa efetivamente à vida é o que você decidiu fazer, aquilo que decidiu para sua vida, ou seja, isto é um atributo da vida humana que vem do consenso da filiação, afinal, se seguirmos, por exemplo o cristianismo, passamos a interpretar-nos como filho de Deus, feito sua imagem e semelhança e desta filiação que nossa vida se diferencia do resto da natureza. O filosofo Prof. Clóvis Barros diz que o contexto intelectual do homem o torna exclusivo perante a natureza, para o homem seu melhor caminho depende exclusivamente dele. Mas então somos todos iguais, somos todos iguais nas escolhas? Esta questão paira sobre a humanidade e torna-se fato que a resposta e evidentemente, Não! Tem-se que se compreender que a igualdade humana é uma igualdade de princípios, entretanto na hora de escolher a vida, decidir sobre ela, fica evidente uma diferenciação aonde cada um fará sua própria escolha, umas melhores ou piores que as outras. Mas ao que se passa a compreender é que na verdade fica evidente então, que você assiste ao reaparecimento das diferenças entre cada um a partir das escolhas que fazemos.

Será que a vida nada mais é que um resultado de múltiplos determinantes e condicionamentos, sejam eles de ordem biológica, psicológica ou social? Seria a pessoa apenas o produto aleatório de sua constituição física, da sua disposição caracteológica e da sua situação social? E, mais particularmente, será que as reações psíquicas da pessoa a esse ambiente socialmente condicionado estariam de fato evidenciando que ela não pode fugir às influências dessa forma de existência às quais foi submetida? Precisa ela necessariamente sucumbir a essas influências? Será que ela não pode reagir de outro modo às condições de vida reinantes sociais? Podemos dar resposta a essa pergunta tanto baseados na experiência, como em caráter fundamental.

Um grande filosofo da nossa história que nos ajuda a refletir sobre a vida ser como ela é foi Rene Descartes, o pai fundador da filosofia moderna, ele foi fundamentalmente perspectivo quando desenvolveu sua estrutura de pensamento baseado na dúvida. Estabelecendo uma ruptura com o passado, propondo a dúvida metódica, duvidando de tudo, ver o que resistira da sua dúvida. Clóvis explica que a primeira coisa que ele duvida são os sentidos, para ele o sentido leva ao erro, tudo depende da perspectiva de como olhamos. Ele duvida também das quimeras, o que se chama hoje de associação das ideias. Descartes disse que quando o pensamento vem aleatoriamente na cabeça, e muito parecido com o sonho, então ele diz a nossas quimeras e nossos sonhos falam muito mais sobre nós do que sobre o mundo que supomos conhecer. “Tem –se que desconfiar das quimeras, as pessoas quando erram quase sempre não se dão conta que estão equivocadas o que garante que estou certo”. Então duvidar é necessário já que nada é absolutamente certo. Não existe uma certeza, não existe algo que não se pode duvidar – “Eu duvido, logo….” só e confiável aquilo que se pode duvidar! Se eu duvido, algo dúvida em mim, “Duvido logo, sou”! Então a celebre frase “Duvido, logo sou” representa então que Sou por que duvido e esta é a única certeza. A verdade é que na vida não está tudo pronto e de que você não é o resultado de causalidade, mas sim o que existe é uma gênese, no qual cada um de nós somos escultores e escritores da própria vida. Como isto não parece coerente é preciso fundamentar a coesão entre você e o restante do universo, ninguém arbitra no livre arbítrio das causalidades da natureza e do por que ocorre já que o homem por si busca suas respostas para explicar a ocorrência de cada efeito no qual vivencia, porém você toma como real que o homem possui seu livre arbítrio para viver, diferente do restante do universo que tem sua causa e efeito.

A história humana tem demonstrado que o homem por si só é capaz de se adaptar, reinventar e redescobrir maneiras para superar e vencer a vida. Há suficientes exemplos, muitos deles heroicos, que demonstraram ser possível superar os desafios vivenciais, comportamentais e sociais; e que continua existindo, portanto, um resquício de liberdade do espírito humano, de atitude livre do eu frente ao meio ambiente, mesmo nessa situação de coação aparentemente absoluta, tanto exterior como interior.

Compreendendo que somos livres nas escolhas permite-nos aprofundar naquilo que o mundo propõe para nós. A psicóloga Soraya Aragão diz em seu artigo “que na realidade, nascemos no sofrimento e este sempre nos acompanhou, assim como os momentos felizes. O sofrimento não é a única forma de aprendizado, mas infelizmente sempre o relegamos”. Quem já passou pela dor e sofrimento sabe, que através do tempo, há milhares de oportunidades de rever as dificuldades de outra forma, e que através das experiências vividas, permite tomar novas decisões contra ou a favor da sujeição aos poderes do meio que possam priva-lo da felicidade. O meio social nos coagem a acreditar que devemos ser felizes o tempo todo, o que obrigatoriamente nos afasta daquilo que é a característica mais intrínseca da vida – a liberdade – e que a induzem, com a renúncia à liberdade e à dignidade, a virar mero joguete e objeto das condições externas, deixando a mercê das imposições dos meios.

Somente podemos interpretar o sentimento de uma pessoa como algo a mais que mera expressão de certas condições físicas, psicológicas e sociais – por mais que todas elas sejam os mais diversos “complexos” psíquicos, que parecem sugerir que o empobrecimento do SER esteja vinculado à lei normativa de uma psique tipicamente social. Aquilo que sucede interiormente com a pessoa, aquilo em que o meio parece “transformá-la”, revela ser o resultado de uma decisão interior. Em princípio, portanto, toda pessoa, mesmo sob severas circunstâncias, pode decidir de alguma maneira no que ela acabará sendo como um típico prisioneiro social, ou então uma pessoa, que também ali permanece sendo ser humano e conserva sua dignidade.

Dostoievsky afirmou certa vez: “Temo somente uma coisa: não ser digno do meu tormento”. Essas palavras são extremamente relevantes quando nos deparamos com aqueles cujo comportamento social, sofrimento e morte testemunham essa liberdade interior última do ser humano, a qual não se pode perder. Sem dúvida, elas poderiam dizer que foram “dignas dos seus tormentos”. Elas provaram que, inerente ao sofrimento, há uma conquista, que é uma conquista interior, como disse Viktor Frank “A liberdade espiritual do ser humano, a qual não se lhe pode tirar, permite-lhe, até o último suspiro, configurar sua vida de modo que tenha sentido”.

Outra grande referência para esta busca incessante de compreender a vida vem de Nietzsche. Nietzsche em sua síntese do “Eterno Retorno”, usou a expressão fugaz. O professor Clóvis explica que aqui ele propõe um sentido negativo, ou seja, ele quer dizer que a vida poderia estar em um sentido melhor, aonde a expressão fugaz está em um sentido de uma vida sem densidade. “Uma vida sem intensidade, uma vida sem adensamento, e é claro que porque razão a vida seria fugaz? Porque se não viver de acordo com eterno retorno é porque você permitiu que sua vida fosse submetida a um processo de escolha dos instantes a partir dos desejos que não são os teus, portanto a sua vida foi regida de fora, e uma vida regida de fora é uma vida indevida. Logo, a teoria do eterno retorno proposta por Nietzsche, sugeri que as vidas sejam regidas pelos desejos dos viventes que as vivem. Claro, viver você vai viver de qualquer jeito, mas você pode escolher a maneira na qual pretende viver, para isto tem-se que compreender dentro de si o que existe autenticidade pura para compor suas próprias escolhas. A fugacidade da vida na expressão de Nietzsche significa entregar as forças do niilismo a intensidade da vida e viver a partir das forças vitais. A fugacidade da vida, seria permitir que ela seja decidida pela transcendência, a intensidade da vida seria lutar para que ela seja decidida pela iminência”. O professor Clóvis usa para isto a metáfora a alegoria das marionetes, porque justamente a ação que move o boneco da marionete paira sobre a marionete sem que você possa ver o cordão de nylon que liga o ponto, o eixo, da força propulsora fazendo acreditar que a marionete se move por si só, mas na verdade ela deixa-se mover por forças que transcendem a ela, portanto a marionete é um exemplo clássico de uma vida fugaz. Você acredita ser senhor da própria vida porque não enxerga o fio de nylon que o escraviza.

 A vida intensa é a vida que se rompe com os cordões da marionete e o boneco não se desmorona, e isto ocorre porque a partir de agora passa a se mover por suas próprias forças, e as forças que movem o boneco são as forças do desejo que superam o sofrimento. Com isso deixamos de nos contentar com uma realidade que não existe, que sempre repercute em um vazio existencial imenso, nos prendendo ao mesmíssimo, amputando toda e qualquer possibilidade de encontrar espaço para as grandes transformações, para o trabalho que a vida nos proporciona ao sofrermos, seja qual for as razões existenciais, fazendo com que acreditemos que elas não existissem e que não trazem o seu verdadeiro valor de experimentar a vida.  Pois não somente uma vida ativa tem sentido, dando à pessoa a oportunidade de concretizar valores de forma criativa. Não há sentido apenas no gozo da vida, esse, que permite à pessoa realizar valores na experiência do que é belo, na experiência da arte ou da natureza. Também há sentido naquela vida que dificilmente oferece uma chance de se realizar criativamente e em termos de experiência, que sejam também nos momentos de sofrimento e dor, no qual lhe reserva a possibilidade de reconfigurar o sentido da existência, que consiste precisamente na atitude com que a pessoa se coloca face à restrição forçada de fora sobre seu SER.

Viktor Flankl, psiquiatra e sobrevivente do holocausto, escreveu em seu livro “Em Busca da Felicidade” algo que diz que faz muito sentido, nele descreve que o recluso está Privado de realizar valores criativos. Mas não se encontra sentido apenas na realização de valores de criação, mas também na experiência. Se é que a vida tem sentido, também o sofrimento necessariamente o terá. Afinal de contas, o sofrimento faz parte da vida, de alguma forma, do mesmo modo que o destino e a morte. Aflição e morte fazem parte da existência como um todo. Em todos os tempos as pessoas sempre se preocupam com a questão: “Será que vamos sobreviver a este mundo cada vez mais individualista? ” Pois, caso contrário, todo esse sofrimento não tem sentido. Em contraste, a pergunta: “Será que tem sentido todo esse sofrimento? Afinal de contas, será que faz sentido lutar tanto para viver?”. “Uma vida cujo sentido depende exclusivamente de ser feliz ou não, de lutar ou não, portanto, das boas graças de semelhante acaso – uma vida dessas talvez nem valeria a pena ser vivida”.

A psicóloga Soraya Aragão diz que “não podemos negar que momentos difíceis existem, que virão e que deverão ser assumidos sempre como desafio e aprendizagem, de maneira inteligente e resiliente, compreendendo que ninguém sofre por sofrer”. Transcendemos a capacidade inerente como meio de aprendizado e evolução. O sofrimento bem vivenciado torna-nos, com certeza, mais humanos.

Viktor Frankl cita em seus textos que o termo latino finis, tem dois significados: fim e meta, ou seja, o próprio termo nos dá a opção de escolha entre determinar o fim ou dar início a busca de sentido à vida. Porém grande parte das pessoas não conseguem deixar sua procrastinação e buscar prever o final de uma forma provisória de existência, estas tornam-se escravas também das justificativas e não granjeia viver em função de uma meta, preferem encontrar o caminho que parece sempre mais fácil, mas que por fim torna-se muito mais doloroso, direcionando as próprias culpas das próprias escolhas a um “culpado”. A grande tragédia disto é que estas pessoas passam a viver em função do passado, não permitindo sua existência voltada para futuro, torna-se a dor algo eterno, sofrendo para algo que já deixou de ser. Ela, também não consegue mais existir voltada ao presente, saborear o que conquistou, honrar sua trajetória, como o faz a pessoa numa existência normal. Tornar-se então, dependente de uma ansiedade através de uma ruptura da sua estrutura de sua vida introspectiva, dando justificativa a tudo, pela causalidade. Com isto vem a decadência interior, buscando respostas, tornando-se reclusos com o mundo e com o tempo, sentindo-se como se tivesse “desaparecido para este mundo”.

Para aqueles que se entregam como pessoa às dificuldades da vida, principalmente por não mais conseguir focar num alvo futuro acaba sendo dominada por um processo retrospectivo, com a tendência de sempre voltar ao passado, trazendo em suas ações e pensamentos a depreciação do presente, desfocando todas as possibilidades em que está inserido, não se permitindo mais saborear a vida com o gosto de viver. Está depreciação do presente, da realidade circundante, implica em resultados degenerativos, isso porque podem ser facilmente esquecidas as possibilidades de influência do contexto da vida, desvairando-se com a própria realidade. A implicação disto é justamente a própria desvalorização da realidade, oriunda da forma provisória de existência, tornando-se sedutor entregar os pontos completamente, a abandonar-se a si mesma e tudo a sua volta, visto que de qualquer forma “tudo está perdido”. Essas pessoas estão se esquecendo de que, muitas vezes, é justamente as situações exterior extremamente difíceis que dá à pessoa a oportunidade de crescer interiormente para além de si mesma. A verdade é que não existe ganhos sem perdas e estas pessoas não entendem a importância do sofrimento e das dificuldades da vida; para essas gera-se uma disputa introspectiva, acabam se perdendo à realidade e a importância da sua existência, como se houvesse uma conspiração interna impedindo de não levar a sério a existência atual e depreciando-se cada vez mais em fatos sem qualquer valor. Preferem fechar-se a essa realidade, ocupando-se apenas com a vida passada e com as alucinações futuras. A vida dessas pessoas acaba se desvanecendo, em vez de alçar-se a um ponto alto justamente para dar vida a vida sob as dificuldades extremas, para o que, em princípio sempre a outras chances e que tudo depende da forma de observar.

O sofrimento pode nos fazer desenvolver a capacidade humana de podermos viver em uma harmonia social, trazendo consigo a ampliação da compreensão humana, no qual todos nós somos participantes da vida, em um contexto individual de escolhas, mas com objetivo comum de evoluir e ser feliz. As pessoas que mais querem desistir desta vida são justamente aquelas que querem mais viver, porém de uma forma ilusória diferente. Naturalmente, são poucas as pessoas capazes de dar valor a todas as experiências da vida, compreender que não se pode crescer, evoluir e vencer sem ter experimentando também as amarguras; muitas conseguiram, mesmo no fracasso exterior e mesmo na perda da vida, alcançar uma grandeza humana que antes, em sua existência cotidiana que jamais lhes tivesse sido concedida.

É fundamental aprender que somos o autor e ator do próprio ato de deliberar sobre a própria vida, e é evidente que quem delibera ou decide sobre para a própria vida decide e decide sempre em função do que quer que aconteça, opta ou pressupõe sobre um certo resultado ou sobre um certo efeito. Quando você age você não agiu sabendo exatamente o que vai acontecer mas agiu sim sabendo o que você quer que aconteça. Clóvis diz que “o que importa é o que você quer que aconteça, portanto você é julgado por aquilo que você quer da vida, significa que você será julgado por aquilo que você quer que aconteça por aqueles com os quais você se relaciona. E o que você quer que aconteça? Haverá os que digam que o que importa é sempre o que acontece de fato e não o que você espera que aconteça, mas estes são pragmáticos, como Maquiavel. Logo o que importa aqui são suas próprias escolhas, tendo a certeza do que quer que aconteça, dependendo das variáveis que vão além das próprias inclinações”. Na verdade, o que realmente importa na vida é a harmonização dela com o todo, e no final das contas a vida é exatamente isso. Soraya Aragão diz ainda que “Sofrimento é o que você percebe como sofrimento” então é claro que este não é o único jeito de pensar a vida. O sofrimento é um processo de amadurecimento em que todos irão passar, você não está imune de sofrimentos, aliás ninguém está. 

A vida é a nossa grande escola. Tudo o que nos acontece está de algum modo influenciando nosso crescimento, o homem jamais regride, tendemos a ser melhor a cada instante, e nossa evolução depende exclusivamente de nós mesmo, de como observar e o quanto se permite, para escrever a própria obra. Claro que existe momentos na vida que por si só são verdadeiros fitilhos e que sinalizam o fechamento de um ciclo. Aceitando ele ou não, sempre no ápice da vida é possível nos reposicionar e nos readaptar, agradecendo sempre a própria história pois é ela que nos permite estarmos aqui abertos as infinitas possibilidades. O sofrimento também é a oportunidade de uma nova passagem de um oportuno momento permitindo iniciar-se novas ensejos. Os caminhos da vida se faz na nossa jornada e são os movimentos cíclicos da vida que nos permite reflexões verdadeiras e profundas que nos levam a dar novos significados a nossa existência tendo como consequência as nossas próprias escolhas e você aquilo que escolhe para você.

O Professor Clóvis “diz que o homem é aquilo que ele escolhe para existir”. Ele cita em sua palestra uma passagem de Jean-Paul Sartre “que comenta que a má fé é o recurso dos fracassados, pois quando age e se sai bem, você se glorifica, mas quando a coisa dá errado você diz que é vítima do universo, que não pode fazer diferente, e isto e falta de critério, e eximir das responsabilidades absoluta que é a nossa pela definição de nós mesmos”. Em uma outra passagem Clóvis completa com uma outra frase de Sartre que “a humanidade se joga ao holofote sobre você, esperando que você aja para saber quem ela é, porque o que é o homem. Ele não é nada do que faz! Não há monstros, desumanos, mas sim uma renovação constante definição de homem a partir da vida de todos os homens”, e finaliza dizendo que “através da perspectiva existencialista é a que mais alta consagra a liberdade fundamental do homem para viver!”

REFERÊNCIAS

ARAGÃO, S. R. O Fechamento De Um Ciclo É Sempre Uma Oportunidade De Renascimento Interior. Disponível em: < www.alquimiadavida.org>. Acessado em: 5 de julho, 2016.

ARAGÃO, S. R. O Sofrimento pode ser sinal de libertação. Disponível em: < www.alquimiadavida.org>. Acessado em: 5 de julho, 2016.

Descartes,R. Discurso do Método. São Paulo: L&PM, 2015

FRANKL, V. E. L. Em busca do sentido. São Paulo: Vozes, 2015.

FERRY, L. Aprender A Viver. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.

FILHO, C. B. Felicidade. Espaço Ética, São Paulo: 2016. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=rgWrovpS9PE>. Acesso em: 15 de março, 2016.

FILHO, C. B. Liberdade. Espaço Ética, São Paulo: 2016. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=MrOHDr9c2po>. Acesso em: 15 de março, 2016.

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FILHO, C. B. Razão e Sentimentos. Espaço Ética, São Paulo: 2016. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=mTTfdLQLrYM>. Acesso em: 09 de março, 2016.

FILHO, C. B. Vida que Vale a Pena Ser Vivida. São Paulo: Vozes, 2010.

 Nietzsche,F. Além do Bem e do Mal. São Paulo: L&PM, 2005.

Nietzsche,F. Assim falou Zaratustra. São Paulo: Martin Claret, 2013.

ROUSSEAU, J-J. Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os homens. São Paulo: L&PM, 2008.

2 Comentários

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