
O QUE VOCÊ DEIXOU INACABADO? COMO O TEMPO E A CORAGEM PODEM REESCREVER SUA HISTÓRIA
“O tempo não apaga o que foi verdadeiro. Ele apenas espera que tenhamos coragem de voltar ao que foi interrompido — e desta vez, fazer sentido.” — Marcello de Souza
Em algum momento da sua vida, você já sentiu que algo essencial ficou para trás? Não me refiro às perdas acidentais, nem às renúncias conscientes, mas àquelas suspensões sutis, quase imperceptíveis, provocadas por um medo disfarçado de racionalidade, por circunstâncias que escaparam ao nosso domínio ou por uma ausência de clareza que nos impediu de compreender o que aquilo realmente significava. A frase que inspira esta reflexão não oferece conforto ilusório sobre o passar do tempo. Pelo contrário — ela convoca, desafia e reposiciona.
O tempo, ao contrário do que muitos supõem, não é um agente de esquecimento, mas sim um curador silencioso e paciente. Ele arquiva, conserva e amadurece aquilo que um dia foi verdadeiro. Não enterra, apenas espera. Espera que estejamos suficientemente conscientes, suficientemente inteiros, para revisitar — com um novo olhar, com outra maturidade — aquilo que deixamos inacabado. E não para reviver nostalgicamente o passado, mas para resignificá-lo sob a luz de uma compreensão mais profunda e integral.
Você já parou para pensar que o que foi autêntico, mesmo que adormecido pelo tempo, jamais se dissolve? Aquilo que carregava essência, verdade e potência psíquica permanece, aguardando silenciosamente o momento da nossa coragem. Coragem de retornar não para repetir, mas para transcender. Coragem de olhar nos olhos do que foi interrompido e, finalmente, dar-lhe o lugar que ele merece em nossa história: o de um ponto de virada, não o de um fim mal resolvido.
Essa frase — que talvez soe como um sussurro aos ouvidos mais atentos — não convida à nostalgia, mas ao resgate consciente e transformador. Trata-se de um chamado para sairmos do automatismo mental, esse ciclo linear e previsível que tantas vezes nos engessa, e adentrarmos o território vasto, fecundo e disruptivo do pensamento sistêmico. Nesse campo, percebemos que a vida não é feita de linhas retas, mas de ciclos, padrões e camadas de sentido.
Na fluidez dos nossos dias e na fragmentação típica da vida contemporânea, quantas vezes interrompemos ideias, relações, projetos ou conversas internas com nós mesmos? E mais: quantas vezes fizemos isso sem reconhecer o impacto psíquico, emocional e até mesmo organizacional dessas rupturas?
A Dinâmica Sistêmica do Tempo e da Verdade Interior
“A vida não é uma linha reta, mas um espiral: revisitamos os mesmos pontos, porém em níveis mais altos de consciência.” – Marcello de Souza
A filosofia existencialista nos alerta com precisão: fugir daquilo que é autêntico é viver em má-fé — como diria Sartre. E a má-fé, por sua vez, não apenas desconecta o sujeito de sua essência, como inaugura uma dissonância cognitiva crônica, insustentável, na qual nossos comportamentos colidem com nossos valores mais profundos. O resultado é uma vida fragmentada, marcada por contradições silenciosas e angústias disfarçadas de eficiência.
Nesse contexto, o tempo não é um adversário impiedoso. Ele não oprime, nem pune. Pelo contrário, atua como aliado compassivo, oferecendo a distância necessária para que possamos enxergar os padrões invisíveis que nos movem. Ele nos dá o privilégio de revisitar, com mais lucidez, os lugares internos que antes nos causavam desconforto ou paralisia. Quando finalmente estamos prontos, o tempo se abre como uma janela generosa: permite-nos reescrever narrativas, refazer pactos internos e redesenhar o sentido de nossa trajetória.
Mas o tempo — convém lembrar — não é apenas um constructo social ou cronológico. Ele é também um fenômeno neurobiológico e simbólico. Nas lentes da psicologia social e da neurociência afetiva, o tempo se desvela como um campo de possibilidades. Nossa memória, em sua essência plástica e reconstrutiva, não arquiva os acontecimentos de forma estática. Pelo contrário, ela ressignifica vivências à medida que amadurecemos emocional e cognitivamente. O que chamamos de “interrupção” não é, portanto, um fim absoluto — é uma suspensão provisória, uma pausa carregada de potência, um convite aberto à reconciliação com o que não pôde, à época, ser plenamente vivido ou compreendido.
Dentro dessa perspectiva sistêmica, o tempo passa a ser o grande espaço de fertilidade simbólica onde o reencontro com o essencial pode finalmente acontecer. No desenvolvimento humano — e também organizacional — reconhecer esse campo de possibilidades exige mais que disposição. Exige coragem. Uma coragem que não se resume ao enfrentamento heroico, mas que se ancora na escuta profunda de si, na disposição para confrontar não apenas os ruídos do mundo externo, mas, sobretudo, os bloqueios internos que sustentam a inércia: medos, lealdades inconscientes, narrativas limitantes e padrões emocionais cristalizados.
Aqui, o conceito de coragem amplia-se. Torna-se um ato de profundo autoconhecimento e autorregulação emocional. Um movimento existencial que encontra eco no sentido da vida não se descobre em situações ideais, mas justamente na travessia das adversidades e na escolha consciente por atribuir significados autênticos à própria dor, às próprias pausas e recomeços.
Esse movimento — de retorno àquilo que foi deixado para trás — deixa de ser uma regressão e se transforma em transgressão positiva: uma ruptura com o ciclo da repetição inconsciente e um passo firme na direção da autenticidade. Afinal, como nos mostra a dinâmica dos sistemas vivos, aquilo que é interrompido, mas permanece inconcluso, continuará reverberando até que seja olhado, acolhido e, finalmente, transformado.
A Coragem como Motor da Renovação e da Resiliência
Como bem observou Simone Weil:
“A ausência é um ser mais potente do que a presença.”
Essa potência da ausência, que carrega em si uma força silenciosa, é um convite à reinvenção — mas também um desafio, pois exige coragem para habitar o vazio e enfrentar o que ficou por concluir.
Em minha jornada como desenvolvedor cognitivo comportamental, tenho testemunhado relações autênticas, trajetórias promissoras e projetos brilhantes que foram abruptamente interrompidos — por medo, desconforto ou excesso de racionalização. Relações humanas fundamentais foram abandonadas diante da resistência interna, criando lacunas existenciais que só o tempo e a coragem podem preencher.
Essa coragem para retornar ao inacabado não é um chamado a reviver o passado, mas a resgatar a essência daquela experiência para integrá-la no presente. Voltar não significa retroceder; é um movimento de profundidade e reinvenção. Um exemplo emblemático é o líder que, após abandonar sua vocação docente para seguir no mundo corporativo, reconhece anos depois que sua verdadeira maestria está em educar — não necessariamente em palestras formais, mas na cultura organizacional que agora influencia, no desenvolvimento de pessoas, na mentoria informal. É o reencontro com um sentido esquecido, mas nunca perdido.
A memória emocional — distinta da narrativa linear da memória cognitiva — não está submetida ao tempo cronológico. Ela é atemporal e experiencial, armazenada em estruturas cerebrais como a amígdala e o hipocampo, podendo ser despertada por gatilhos sutis: uma melodia, um aroma, uma frase, uma sensação de ausência que reverbera na alma.
Segundo a neurociência afetiva de Jaak Panksepp, o circuito da vinculação (sistemas CARE e PANIC/GRIEF) é extraordinariamente resistente ao tempo. Quando um vínculo profundo se rompe, ele não desaparece; reorganiza-se internamente e permanece latente, aguardando resolução, integração ou, em alguns casos, reconexão. É uma forma neurobiológica do que chamamos de “ferida aberta” ou “semente adormecida”.
A psicologia positiva reforça essa visão: propósito não se inventa, se redescobre. E essa redescoberta está intrinsecamente ligada à vulnerabilidade — como ensinou Brené Brown —, que nos convida a encarar perguntas difíceis, como: “O que neguei em mim mesmo por medo de parecer incoerente ou frágil?”
Pesquisas em neurociência mostram que memórias emocionalmente significativas não se apagam; elas se reorganizam e são profundamente integradas à nossa identidade. O hipocampo pode modular traços superficiais, mas o que tocou o núcleo do self permanece, ainda que temporariamente adormecido. A paixão abandonada por “praticidade”, o projeto criativo engavetado por “falta de tempo”, a conversa difícil evitada pelo comodismo — nenhum desses desaparece. Transformam-se em feridas não cicatrizadas ou sementes que aguardam condições propícias para germinar.
E é nesse movimento de reintegração que a plasticidade cerebral atua como a grande aliada da resiliência — uma habilidade que não nasce pronta, mas que se constrói no diálogo dinâmico entre o indivíduo e seu ambiente, entre emoção e razão, memória afetiva e projeção de futuro.
Ao reencontrar o que foi interrompido, o sujeito não simplesmente revive o passado: ele o recria, ressignifica sua história e reescreve sua narrativa pessoal e organizacional com a profundidade e autenticidade de um novo significado emergente.
O Sentido Profundo: Além do Linear e do Fragmentado
“O relógio mede minutos; a coragem, eternidades.
O que você chama de ‘passado’ pode ser só o prefácio
de um capítulo que ainda não ousou escrever.” – Marcello de Souza
Espero que o que trago aqui seja a clareza da vida em relação a quem somos, a nossos sonhos e a tudo aquilo que transcende desejos para formar nossa autêntica vontade. Afinal, muitos confundem esquecimento com superação. Em diversas situações, quando alguém se deixa convencer por narrativas externas a “romper e seguir em frente”, pode, na verdade, ter apenas empurrado para o inconsciente toda a dor e a verdade daquele amor, daquele projeto ou daquela jornada.
Há experiências que não são meros episódios da vida — são processos iniciáticos. Elas nos convidam a adentrar o autoconhecimento, a encarar o abismo das emoções e a atravessar a alma.
Essa repressão emocional, longe de ser uma cura, configura um congelamento. E aquilo que foi congelado pode descongelar anos depois, justamente quando o ego amadurece, a mente se torna mais reflexiva e a alma se dispõe a revisitar o que antes parecia insuportável.
Permita-se transcender a fragmentação característica da vida moderna. O pensamento linear, apesar de sua eficiência em múltiplos contextos, limita a compreensão da complexidade dos fenômenos humanos e organizacionais em sua totalidade. No tecido da existência, o tempo não é uma reta imutável, mas um entrelaçamento sutil onde passado, presente e futuro coexistem. O sentido profundo emerge justamente na intersecção desses tempos, quando enxergamos o que foi interrompido não como fracasso, mas como um convite à reconstrução consciente.
Nossas interrupções pessoais reverberam no tecido social. Um estudo clássico sobre arrependimentos no fim da vida, conduzido por Bronnie Ware (The Top Five Regrets of the Dying), revela que 80% das lamentações relacionam-se à falta de coragem para viver uma vida fiel a si mesmo. Essa não é uma questão exclusivamente individual — é um fenômeno cultural. Organizações que sacrificam seus valores fundamentais em nome do lucro imediato colhem crises de identidade; relacionamentos que abafam conflitos cultivam ressentimentos crônicos.
Neste ponto, psicologia social e logoterapia convergem: atribuir sentido ao que ficou inacabado é um ato de responsabilidade coletiva e ética.
Esse movimento sistêmico — que integra razão, emoção e existência — distingue líderes e organizações capazes de prosperar em um mundo marcado pela transformação constante. Resgatar o que foi verdadeiro, ainda que interrompido, configura um exercício profundo de presença executiva, onde autenticidade e inspiração se entrelaçam para gerar novos padrões de excelência e bem-estar.
Caminhos para a Aplicação no Desenvolvimento Humano e Organizacional
Na interseção dos saberes em psicologia comportamental, neurociência e filosofia prática, encontramos estratégias potentes para esse retorno intencional. Exercícios de autorreflexão profunda, a narrativa como ferramenta de ressignificação, práticas de mindfulness e o cultivo da presença executiva tornam-se aliados indispensáveis para enfrentar interrupções com lucidez e coragem.
No contexto organizacional, fomentar uma cultura de retorno consciente e atribuição de sentido tem o potencial de transformar crises em oportunidades, bloqueios em pontes e silêncios em diálogos produtivos. Líderes e gestores que incorporam essa visão sistêmica constroem ambientes positivos, estimulando o engajamento, a criatividade e a evolução coletiva.
Estratégias para Fazer o Tempo Trabalhar a Seu Favor
“Tudo o que amamos profundamente torna-se parte de nós.”
— Helen Keller
Para que o tempo se torne um aliado e não um algoz, é necessário que cultivemos rituais conscientes que nos conectem ao que foi interrompido e ao que ainda pulsa em nós. Eis um convite prático e transformador:
• Arqueologia emocional: Reserve quinze minutos do seu dia para listar três elementos da sua vida que ficaram interrompidos — seja um talento inexplorado, um diálogo não concluído ou um hábito que abandonou. Não se permita julgamentos; simplesmente observe, como um arqueólogo diante de um sítio que aguarda desvelar sua história.
• A pergunta-chave: “Se eu retomasse isso hoje, qual seria a versão atualizada, mais madura e sábia dessa verdade?” Esta indagação transcende o passado e abre espaço para uma reinvenção autêntica, alinhada ao seu presente.
• Microexperimentos: Reinicie com pequenos gestos — escreva um parágrafo daquele livro que ficou engavetado, marque um café com quem evitou, risque um esboço daquele projeto esquecido. São esses passos mínimos que criam movimento e oferecem ressonância ao reencontro.
Este ritual não é sobre retornar ao passado, mas sobre acolher o que nele habita, para criar sentido e conexão no presente e no futuro.
A Última Interrupção: Quando o Agora é o Ponto de Virada
“No silêncio do tempo, o sentido repousa,
Não na ausência, mas no retorno audaz;
É a coragem que desperta a alma e ousa,
Transformar o interrompido em um novo compasso de paz.” — Marcello de Souza
O tempo não nos pressiona — ele nos espera com paciência, como o oleiro que conhece o valor do repouso antes da modelagem. A verdadeira questão não é “será que é tarde demais?”, mas “o que posso criar hoje, com a maturidade e a sabedoria que o tempo me concedeu?”
Este instante presente, este “agora” – tão fugaz e, paradoxalmente, tão pleno –, é o ponto de virada onde o passado e o futuro se entrelaçam, e onde reside o poder da escolha consciente.
Um mero convite
Nietzsche nos adverte:
“Não são os fatos que nos destroem, mas a história que contamos sobre eles.”
E você, que história tem contado sobre aquela interrupção? Que verdade esquecida ou silenciada está aguardando sua coragem para ser revisitada e ressignificada?
Compartilhe suas reflexões, pois a transformação nasce da troca. Ou, se preferir, silencie e dê o primeiro passo — mesmo que imperceptível, ele é o início da reconstrução.
O que você evita não desaparece; torna-se a trama invisível que sustenta sua existência. Assumir isso é o começo da liberdade e do reencontro com sua autenticidade mais profunda.
Lembre-se:
“Nem todo o que foi interrompido jaz perdido; há uma força silenciosa que aguarda a nossa decisão para ser despertada e reescrita — no compasso da coragem e do sentido.” – Marcello de Souza
Estou aqui para caminhar ao seu lado nessa jornada de autodescoberta e transformação, oferecendo ferramentas e presença para que você não apenas retome o que ficou inacabado, mas o eleve a um novo patamar de significado e realização.
Que este texto seja um convite à coragem, um chamado ao reencontro e, sobretudo, um farol que ilumine seu caminho para a plenitude.
#marcellodesouza #marcellodesouzaoficial #coachingevoce #desenvolvimentohumano #desenvolvimentocomportamental #resiliência #liderançaautêntica #neurocienciacomportamental
Você pode gostar

VOCÊ ESTÁ ESPERANDO SER PROMOVIDO? E SE A HISTÓRIA QUE VOCÊ CONTA SOBRE SI MESMO ESTIVER TE SABOTANDO?
10 de julho de 2025
AS MARIONETES DA AUTOAJUDA
18 de dezembro de 2019