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Quando o Corpo Aprende a Confiar Novamente

Algumas dores não gritam. Elas se escondem como névoa fina em manhãs de negação.

Elas se alojam no silêncio, nos gestos contidos, na insônia sem causa, nas respostas emocionais que nos surpreendem. É sobre essa dor silenciosa que quero falar hoje. A dor de não confiar no que se sente. A dor de um corpo que, um dia, aprendeu que sentir era perigoso.

Mais do que dissociação, trata-se de um exílio interno. Um rompimento entre o que se vive por fora e o que se percebe por dentro. E esse exílio não nasce do nada: ele é gestado em vínculos marcados pela invalidação. Crescemos ouvindo que estávamos exagerando, sendo sensíveis demais, vendo coisas onde não havia. Com o tempo, o corpo acredita. A alma desacredita. A verdade interna adormece.

Esse fenômeno, conhecido como gaslighting, não é apenas uma manipulação relacional — é uma mutilação psíquica. Ele fere a base da nossa confiança interna: a intuição. E quanto mais o outro nega o que sentimos, mais aprendemos a silenciar o corpo para sobreviver.

Segundo o filósofo Maurice Merleau-Ponty, o corpo não é apenas o que temos — é o que somos no mundo. Ele é linguagem. Ele é memória. Quando o corpo adoece por não ser ouvido, não é só o físico que sofre. É a própria identidade que se fratura.

O trauma não silencia apenas o passado. Ele reescreve o presente.

A neurobiologia do trauma, como aponta Peter Levine, mostra que situações emocionalmente devastadoras deixam rastros no sistema nervoso autônomo. Em vez de elaborarmos o que sentimos, aprendemos a congelar, fugir ou lutar — e isso se torna um padrão. Muitas vezes, seguimos a vida como se estivesse tudo bem… mas algo dentro permanece em estado de emergência.

A boa notícia é: o corpo pode aprender de novo. Pode reconfigurar-se. Pode se reconectar.

Sentir é reaprender a confiar.

E essa reconexão começa de maneira simples — porém sagrada: ao permitir-se sentir sem se julgar. Ao dizer para si: “Isso que estou sentindo é real. Mesmo que não tenha explicação.”

A reconciliação emocional não é um processo lógico. É uma alquimia entre presença, aceitação e coragem.

Ela se dá no momento em que colocamos a mão no peito e respiramos com intenção. No instante em que respeitamos a lágrima que escapa. No gesto pequeno de colocar limites. Ou, simplesmente, ao escolher ficar consigo mesmo quando tudo grita por distração.

Não se trata de voltar ao passado para remoer dores. Mas de revisitá-lo com outros olhos. Talvez hoje, mais maduros, possamos olhar para aquela relação que nos feriu e perceber: o outro também não sabia como amar. Talvez tenha tentado. Talvez tenha falhado. Mas talvez a dor não tenha sido pessoal — e sim ancestral.

Não é preciso justificar o que nos machucou. Mas compreender o cenário que nos levou ao afastamento de nós mesmos pode ser o primeiro passo para retornar.

Sentir, de novo, é um ato de rebeldia contra a cultura da anestesia emocional.

É um gesto político, espiritual e psicológico. Porque quando você sente — verdadeiramente sente — algo dentro se realinha. E aí, sim, nasce a liberdade.

Como dizia Carl Rogers, “quando me aceito como sou, então posso mudar”. A mudança não acontece pela negação. Mas pela gentileza de se reconhecer — com todas as feridas, com todas as forças, com todos os silêncios.

E talvez, no fundo, tudo o que o corpo esperava era isso: ser escutado sem pressa. Sem julgamento. Com amor.

🌿 Duas reflexões para finalizar:

“A escuta do corpo é a forma mais radical de dizer: ‘eu existo’.” – Inspirado em Bessel van der Kolk

Onde o Silêncio Começa a Falar
“Toda vez que duvidaram do que você sentia,
um pequeno muro foi erguido entre você e sua própria verdade.
Mas o corpo, esse sábio rebelde,
continuou a sussurrar — mesmo quando ninguém ouvia.
Agora, quando você fecha os olhos e respira fundo,
talvez perceba:não era exagero.
Era só a sua alma tentando sobreviver.
E ela sobreviveu.
Agora, pode viver.” – Marcello de Souza

Se esse texto tocou você, compartilhe com quem também está tentando se reconectar. A dor pode ser uma ponte. Mas o amor-próprio é a direção.

“E o corpo, enfim, se fez casa.
Com teto de escuta.
E paredes de presença.”
– Marcello de Souza

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