
A Erosão Silenciosa nas Organizações
Imagine uma organização onde o ar parece carregado de um silêncio que ninguém ousa romper. Não há explosões de conflito, nem demissões em massa, mas algo mais sutil: uma lenta dissolução do que torna o trabalho humano e significativo. Pessoas chegam pontualmente, executam tarefas mínimas, mas seus olhares evitam o brilho da paixão. É como se o espírito coletivo estivesse se fragmentando, pedaço por pedaço, sem alarde. Essa é a erosão silenciosa – um fenômeno que não se anuncia com estrondo, mas corrói de dentro para fora, transformando ambientes de potencial em desertos emocionais.
Como especialista em desenvolvimento comportamental humano e organizacional vejo essa erosão não como um mero problema de produtividade, mas como uma crise existencial coletiva. Por que existencial? Porque ela questiona o cerne da nossa presença no mundo do trabalho: o que significa “estar” em uma organização se o “ser” já se perdeu? Inspirado em pensadores como Jean-Paul Sartre e Martin Heidegger, que falavam da autenticidade e da angústia do ser-no-mundo, proponho aqui uma visão integrada: a erosão silenciosa não é só um sintoma de estresse; é a manifestação de uma alienação profunda, onde o indivíduo, privado de propósito, opta pela sobrevivência em detrimento da realização. Mas o que surpreenderia até os mais renomados especialistas em liderança e comportamento organizacional? Uma hipótese original: essa erosão pode ser modelada como um ciclo neuro-existencial, onde o cortisol crônico não só inibe a criatividade, mas amplifica uma “angústia existencial laboral”, levando a uma desconexão que se autorreforça, como um buraco negro comportamental. Vamos desdobrar isso com rigor, apoiados em evidências científicas, estudos multidisciplinares e exemplos reais, para não só diagnosticar, mas provocar uma reflexão que transforme.
Quando o Cérebro Entra em Modo de Sobrevivência
Pergunte a si mesmo: o que acontece quando o trabalho deixa de ser um espaço de crescimento e se torna uma arena de ameaça constante? A neurociência oferece respostas contundentes. Ambientes organizacionais marcados por insegurança ativam a amígdala, o centro emocional do cérebro, desencadeando uma cascata de hormônios como o cortisol e a adrenalina. Esse “modo de defesa” não é abstrato; estudos mostram que o estresse agudo e crônico compromete diretamente funções cognitivas superiores, como a criatividade e a memória de trabalho.
Por exemplo, uma pesquisa publicada na revista Stress em 2019 demonstrou que o estresse agudo prejudica o desempenho no pensamento criativo, afetando principalmente a fase inicial do processo cognitivo, onde ideias são geradas. Aqui, o cortisol atua como um mediador: níveis elevados reduzem a flexibilidade mental, transformando mentes inovadoras em máquinas de repetição mínima. Mas vá além: integre isso à filosofia existencial. Sartre falava da “má-fé” – a autoenganação onde negamos nossa liberdade para evitar angústia. No contexto laboral, o trabalhador desengajado entra em má-fé existencial: permanece no emprego, mas nega sua agência criativa para “sobreviver”. Um estudo recente na Frontiers in Psychology (2022) explorou isso empiricamente, ligando criatividade à resposta fisiológica ao estresse via modelo biopsicossocial, mostrando que ameaças percebidas bloqueiam a expressão autêntica.
O que surpreende? Minha proposição: esse ciclo neuro-existencial cria um feedback loop onde o cortisol não só inibe a criatividade, mas amplifica a angústia heideggeriana do “ser-jogado” no mundo – o trabalhador se sente lançado em uma rotina sem sentido, erodindo o “Dasein” (ser-aí) autêntico. Especialistas em psicologia comportamental, focam no viés cognitivo, mas raramente integram o existencialismo; aqui, vemos como o estresse não é só biológico, mas ontológico, questionando a essência do ser humano no trabalho.
Estudos que Revelam a Magnitude do Problema
Não falamos de hipóteses isoladas; dados empíricos pintam um quadro alarmante. O Relatório do Estado do Local de Trabalho Global da Gallup, atualizado em 2024, revela que apenas 21% dos trabalhadores globais estão engajados, com um declínio de dois pontos percentuais – o que custou à economia mundial US$ 438 bilhões em produtividade perdida. Mais chocante: 59% dos empregados estão “quiet quitting” – não engajados, apenas preenchendo vagas e contando as horas. Nos EUA, isso atinge pelo menos 50% da força de trabalho, com jovens abaixo de 35 anos mostrando a queda mais acentuada em engajamento.
Mas por quê? A Gallup atribui isso a gerentes desengajados (apenas 27% em 2024), que influenciam 70% do engajamento da equipe. Integre a pesquisa de Amy Edmondson sobre segurança psicológica: em seu trabalho seminal de 1999, publicado na Administrative Science Quarterly, ela demonstra que equipes com alta segurança psicológica – onde erros são vistos como aprendizado – exibem maior inovação e retenção. Sem isso, surge o silêncio: medo de feedback negativo leva ao desengajamento, como destacado em perspectivas filosóficas sobre silêncio organizacional, onde o “não dito” reflete uma alienação existencial.
Um insight surpreendente para especialistas: combinando Gallup com existencialismo, proponho que o quiet quitting é uma forma de “resistência existencial” – não preguiça, mas uma recusa autêntica a investir em sistemas que negam o significado. Estudos como o de 2021 no PMC sobre valores existenciais em gerenciamento oriental e ocidental apoiam isso, mostrando que culturas que ignoram o propósito levam à erosão.
Casos que Ilustram a Erosão em Ação
Considere a Blockbuster: outrora gigante do entretenimento, sua erosão silenciosa veio da incapacidade de adaptar-se à digitalização. Funcionários desengajados, presos em rotinas obsoletas, viram o declínio sem voz para inovar – um caso clássico de silêncio organizacional levando ao colapso. Mais contemporâneo: a pesquisa da TalentLMS sobre “quiet cracking” revela empresas forçando desengajamento via cargas excessivas e direções pobres, como em tech firms durante a pandemia, onde 74% dos empregados sentem que sua saúde mental é ignorada. Um exemplo surpreendente: na Lehman Brothers, o risco excessivo erodiu a confiança interna, levando a uma crise existencial coletiva antes do crash de 2008 – não só financeiro, mas uma perda de sentido no “ser” corporativo.
Em contraste, empresas como a Netflix combateram isso com culturas de feedback radical, inspiradas em segurança psicológica, transformando erosão em inovação. O que surpreende? Minha análise: esses casos mostram que a erosão não é inevitável; é uma escolha cultural que ignora a dialética existencial entre liberdade e responsabilidade.
Como Detectar a Erosão Antes do Colapso
Reflita: sua equipe hesita em desafios, temendo punição? Papéis turvos geram medo de errar? Sobrecarga sem reconhecimento dilui a energia? Relações protocolares evaporam a coletividade? Medo de nomear problemas abafa a verdade? Esses cinco sinais, ampliados pela Gallup, indicam não falhas individuais, mas culturais. Surpreendente: neurociência liga isso a cortisol crônico, reduzindo arte como terapia – um estudo de 2016 mostrou 45 minutos de criação artística baixando cortisol em 39 adultos saudáveis.
O Antídoto: Liderança Humana e o Resgate Existencial
O remédio não é ferramentas; é liderança autêntica. Crie segurança psicológica, como Edmondson defende, transformando conflitos em pontes. Integre existencialismo: líderes devem fomentar “perguntas libertadoras” que resgatem o propósito. Minha proposta: um framework “Neuro-Existencial de Engajamento”, combinando DCC para reduzir cortisol com diálogos filosóficos para restaurar autenticidade – algo que vai além de Edmondson ou Gallup, surpreendendo ao unir ciência e ontologia.
Uma Chamada para a Plenitude Humana
A erosão silenciosa não é destino; é convite para transformação. E você, líder ou colaborador, o que fará para que o silêncio dê lugar ao diálogo autêntico? Reflita: em que medida sua organização nutre o “ser” além do “fazer”? Compartilhe nos comentários – juntos, podemos reescrever narrativas.
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