
ONDE NASCE O EXTRAORDINÁRIO
ONDE NASCE O EXTRAORDINÁRIO
Há um instante, quase imperceptível, em que o destino de uma carreira, de uma equipe, de uma ideia, balança na borda de um precipício. Não é o momento das grandes decisões anunciadas em relatórios ou das vitórias celebradas em reuniões. É algo mais sutil, mais cru: o instante em que você sente o peso do que precisa ser dito, feito ou arriscado, mas o ar ao seu redor parece implorar por silêncio. Já estive lá, no limiar onde o pulso acelera e o instinto sussurra para recuar. E é exatamente nesse espaço — entre o impulso de avançar e a tentação de se proteger — que se forjam os que crescem e os que apenas seguem.
Imagine uma sala cheia de vozes, papéis, telas piscando com números que prometem certezas. Agora, imagine o que não está lá: as palavras que morrem na garganta, as ideias que hesitam antes de nascer, os olhares que se desviam quando a verdade pede passagem. Esse vazio não é inócuo; ele é um escultor invisível, moldando equipes que se contentam com o mediano enquanto poderiam dançar com o extraordinário. O que diferencia os que transcendem não é a ausência de medo, mas a escolha de atravessá-lo, como quem pisa em brasas sabendo que do outro lado há um terreno novo, ainda não mapeado. Essa escolha não é um ato isolado; ela exige um palco maior, uma trama de relações onde o risco se torna não uma ameaça, mas uma ponte.
Eu me lembro de um projeto que acompanhei, onde uma equipe de talentos brilhantes patinava em círculos, refém de um padrão confortável, mas estéril. As reuniões eram impecáveis: cronogramas cumpridos, slides polidos, sorrisos educados. Mas algo faltava — uma faísca, uma fricção que só surge quando alguém ousa romper a coreografia ensaiada. Foi uma analista júnior, a mais improvável das vozes, que quebrou o feitiço. Com um tremor na voz, ela apontou uma falha óbvia, mas ignorada, no plano central. Não foi a crítica em si que mudou o jogo, mas o que veio depois: o silêncio da equipe não era de julgamento, mas de reconhecimento. Um colega completou sua ideia, outro trouxe dados que a sustentavam, e, de repente, o que era uma sala de indivíduos se tornou um organismo vivo, pulsando com uma energia que nenhuma métrica previa. Eles não apenas resolveram o problema; eles reescreveram o que significava trabalhar juntos.
Esse momento não foi obra do acaso. Ele nasceu de uma dança delicada entre dois elementos que raramente coexistem: a ousadia de expor o que é incômodo e a confiança de que o outro está lá, não para julgar, mas para construir. Pense nisso como uma corda esticada entre dois penhascos: de um lado, a coragem de dar um passo sem garantias; do outro, a certeza de que há mãos prontas para segurar, caso o vento sopre forte demais. Sem coragem, a corda é apenas um peso morto; sem conexão, é uma travessia solitária, fadada a falhar. Juntos, esses elementos criam algo que transcende o individual: um espaço onde o risco não é um fardo, mas uma alavanca, e onde a vulnerabilidade se torna o cimento que une o coletivo.
Por que, então, é tão raro vermos essa dança em ação? Porque ela exige que enfrentemos uma verdade incômoda: crescer não é apenas acumular vitórias, mas habitar o desconforto de se expor. É escolher dizer o que queima no peito, mesmo quando a voz treme. É ouvir uma crítica sem erguer muralhas, mas com a curiosidade de quem sabe que o atrito pode lapidar. É reconhecer que o outro, com suas falhas e forças, é o espelho onde vemos o reflexo do que podemos nos tornar. Essa escolha não é um evento grandioso; ela acontece nos detalhes — no e-mail que você hesita em enviar, na pergunta que quase faz, na pausa que dá espaço para o outro se revelar. São esses instantes, pequenos e frágeis, que desenham o contorno de uma carreira que não apenas avança, mas deixa marcas.
Agora, imagine o oposto: um ambiente onde o não-dito reina, onde o medo de errar ou de ser julgado transforma reuniões em teatro de sombras. Eu já vi equipes assim, onde o talento é abundante, mas a energia é sufocada por uma névoa de cautela. Nessas dinâmicas, as pessoas não crescem; elas se adaptam, moldando-se a um molde que promete segurança, mas entrega estagnação. O resultado não é apenas a perda de inovação ou resultados; é a erosão de algo mais profundo — a sensação de estar vivo, de contribuir para algo que pulsa além do organograma. Carreiras travam não por falta de competência, mas por essa ausência de oxigênio, onde o medo de se expor sufoca o que poderia florescer.
Mas há outro caminho, e ele não exige heroísmos cinematográficos. Ele começa com a escolha de habitar o espaço entre o confortável e o necessário. É o líder que, em vez de ditar respostas, faz perguntas que incomodam, convidando o time a olhar para as rachaduras do plano. É o colega que, ao discordar, não busca vencer, mas abrir uma janela para novas possibilidades. É a equipe que, ao sentir o peso de uma decisão difícil, não se fragmenta, mas se alinha, como músicos que encontram a harmonia mesmo em notas dissonantes. Esse caminho não é fácil; ele exige que você se veja não como uma peça isolada, mas como parte de um tecido maior, onde cada fio fortalece o todo.
E se eu te dissesse que esse tecido não é apenas uma metáfora, mas uma força tangível? Já acompanhei equipes que, ao abraçar essa dança entre risco e conexão, não só superaram metas, mas redefiniram o que significa performar. Em uma dessas experiências, um grupo de profissionais, inicialmente desconexos, começou a compartilhar não apenas ideias, mas histórias — pequenos fragmentos de suas jornadas, erros, dúvidas. O que era uma equipe tornou-se um sistema vivo, onde cada risco assumido por um fortalecia a confiança do outro. Eles não apenas entregaram resultados; eles criaram um espaço onde o crescimento era inevitável, como uma planta que encontra luz após anos na sombra.
Essa transformação não é um acidente. Ela nasce da coragem de habitar o desconforto e da confiança de que o outro está lá, não como adversário, mas como coautor de algo maior. É uma alquimia que transforma o ordinário em extraordinário, onde o ato de se expor — seja com uma ideia ousada, um feedback sincero ou uma dúvida vulnerável — se torna o gatilho para um crescimento que não se mede em cargos, mas em impacto. Carreiras que florescem não são aquelas que evitam o risco, mas as que o abraçam como um convite para reescrever o possível, sempre com a certeza de que há um coletivo pronto para sustentar a queda, se ela vier.
Então, pause por um instante. Sinta o peso do que você carrega agora — a ideia que hesita em sair, a conversa que adia, o passo que teme dar. O que aconteceria se, hoje, você escolhesse soltar isso ao mundo? Não por bravura cega, mas por curiosidade, pela ânsia de descobrir o que emerge quando o medo dá lugar à possibilidade. Porque, no fundo, crescer não é sobre chegar ao topo; é sobre tecer uma trama onde cada risco, cada conexão, cada instante de autenticidade nos aproxima do que realmente somos capazes de ser. E nesse processo, não são apenas carreiras que se transformam — são vidas, equipes, futuros.
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