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Amor Como “Auto-Terapia” Perigosa: Quando Usamos O Parceiro Para Reparar Feridas Que São Nossas

“Amar alguém para se salvar é entregar a chave da sua prisão.”
— Marcello de Souza

Essa frase pode soar paradoxal, mas revela uma das armadilhas mais sutis e devastadoras das relações humanas: transformar o amor em “auto-terapia”.
Quando projetamos no outro a tarefa impossível de curar nossas feridas, convertendo o relacionamento em refúgio para as próprias faltas, condenamos o vínculo a um desequilíbrio inevitável — porque nenhuma alma suporta o peso de nos salvar daquilo que só nós podemos enfrentar.

O amor como reparação inconsciente
Quando o amor nasce não da coexistência entre dois seres inteiros, mas da tentativa de remendar o que sentimos quebrado em nós, deixamos de amar — e começamos a buscar cura. O parceiro, então, torna-se terapeuta involuntário, depositário das nossas carências, das nossas sombras e do que ainda não amadureceu em nossa psique.
Esse movimento não é apenas uma metáfora romântica: é um padrão psicológico, cultural e neurobiológico. Ele sustenta vínculos dependentes, produz dor, ressentimento e aprisiona as relações em ciclos de idealização e frustração.
Como alertava Jung, “aquilo que não é trazido à consciência se manifesta como destino”. Quando não reconhecemos nossas feridas, passamos a enxergá-las no outro — e o chamamos de problema.

Entre a psicologia, a neurociência e a filosofia: a ilusão da cura externa
Psicologicamente, a projeção é o mecanismo inconsciente pelo qual transferimos ao outro emoções que não suportamos em nós. Assim, medos, inseguranças e traumas da infância reaparecem mascarados no amor adulto. Buscamos no parceiro o colo que nos faltou, o olhar que não tivemos, o cuidado que ficou suspenso no tempo.
A neurociência confirma o que a alma já sabia: o cérebro molda-se pelas experiências de apego. Se a infância foi marcada por vínculos frágeis, a mente adulta tende a reproduzir a busca incessante por validação — e, ao não encontrá-la, ativa circuitos de dor e abandono. A química do amor, com oxitocina e dopamina, torna-se o substituto neurobiológico da segurança perdida, e é por isso que o amor mal resolvido vicia: ele promete o que o inconsciente teme perder.
Filosoficamente, essa busca por completude fora de si revela a negação do Self. Quando delegamos ao outro a tarefa de nos curar, abdicamos da liberdade interior — e transformamos o amor em dependência.
Como provocou Osho, “você deveria ser capaz de estar só, completamente só e, ainda assim, tremendamente feliz. Só então, você pode amar.”

O campo da dor: quando o amor se torna cobrança
Essa dinâmica gera um campo de dor que habita o cotidiano emocional. É o peso das expectativas não ditas, o ressentimento velado, a culpa que se disfarça de cuidado. É quando amamos para sermos amados — e não para sermos verdadeiros.
Quantos relacionamentos naufragam sob o peso do que o outro nunca prometeu oferecer?
Quantas vezes o “amor” é apenas o espelho do nosso medo de estar só?
O dilema é humano: reconhecer que ninguém pode curar nossas feridas é libertador, mas também doloroso. Requer coragem para encarar a solidão, humildade para acolher as sombras e disciplina para construir a autocompaixão — essa forma madura de amor que não cobra, não exige e não aprisiona.

A virada de consciência: amor como encontro, não como remendo

“Amar não é preencher o vazio do outro, mas oferecer companhia a partir da plenitude.” – Marcello de Souza

A verdadeira virada ocorre quando percebemos que a cura é um caminho solo — e o amor, um encontro entre dois viajantes que caminham por escolha, não por necessidade.
Amar, então, deixa de ser busca por completude e se torna celebração de inteireza.
A psicoterapia, a prática da presença e a reflexão filosófica sobre autonomia tornam-se instrumentos de libertação emocional: ajudam-nos a devolver ao outro o que é dele — e a recolher o que é nosso.
Esse é o ponto de virada: quando deixamos de amar para fugir de nós mesmos e passamos a amar a partir do que já somos.
O vínculo deixa de ser espelho da dor e se transforma em espaço de crescimento mútuo, onde a liberdade é o solo fértil da conexão autêntica.

A dança do amor livre
O amor não é um curandeiro ambulante.
É uma dança entre dois seres inteiros — que se tocam sem se aprisionar.
É o encontro entre dois caminhos que se cruzam não para se fundir, mas para se expandir.
Amar é ter coragem de permanecer inteiro diante do outro.
É escolher estar, não porque falta algo, mas porque há algo que transborda.
Esse é o amor que cura: não o que remenda, mas o que desperta.

“A ferida que projetamos no outro é a sombra que recusamos no espelho.” – Marcello de Souza

Este texto não busca apenas explicar o fenômeno, mas provocar uma virada de consciência. Porque amar, de fato, é um ato de responsabilidade emocional e liberdade interior. E só quando nos tornamos inteiros é que o amor deixa de ser um pedido de socorro — e passa a ser um convite à expansão.

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