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REFLEXOS DE NÓS MESMOS: COMO NOSSOS OLHARES MOLDAM A REALIDADE

“…não vemos as coisas como elas são, vemos as coisas como somos.” – Immanuel Kant

Você já parou para refletir sobre o quanto nossa percepção não é um espelho imparcial da realidade, mas um reflexo moldado por quem somos? Em algum momento de sua vida, você já considerou que não vemos as coisas como elas realmente são, mas sim como somos? Essa questão, inspirada por Immanuel Kant, nos lança à provocação de questionar até que ponto estamos prontos para realmente enxergar o mundo de forma objetiva. Será que nossos medos, crenças, limitações e experiências influenciam tanto que nos tornamos prisioneiros de nossos próprios olhos?

O Véu da Percepção

Nossas percepções operam como lentes profundamente subjetivas, impostas ao mundo externo. Diferente do que frequentemente se crê, a mente humana não é uma câmera fotográfica imparcial; ela é, na verdade, um sofisticado sistema de interpretação e constante ressignificação — não apenas da nossa história pessoal, mas também de cada instante que experienciamos. Tudo o que vemos, acreditamos e, muitas vezes, defendemos com convicção passa por esse filtro cognitivo que distorce, ajusta e até inventa aspectos da realidade, na tentativa de nos reconfortar com uma visão coerente com aquilo que já somos.
Um dos exercícios que estimulo meus clientes a fazerem sempre é se perguntar: até que ponto essas lentes nos protegem, e até que ponto nos aprisionam? Imagine um líder que acredita firmemente que o controle absoluto é a chave do sucesso. Inconscientemente, cada uma de suas interações, suas decisões e até seus elogios serão modelados por essa crença subjacente. Ele observa e interpreta o mundo à sua volta por meio de uma visão autolimitada, que inevitavelmente molda a percepção e as reações daqueles ao seu redor. Assim, sem perceber, seus próprios processos mentais e emocionais deixam de ser meros receptores da realidade para atuarem como criadores dela.
Essa dinâmica se desdobra também em situações corriqueiras, como quando julgamos ou criticamos os outros — inevitavelmente projetando em suas ações algo que, muitas vezes, pertence muito mais a nós do que a eles. Dessa forma, tendemos a rotular os outros com as lentes da nossa própria perspectiva, obscurecendo as singularidades e as nuances que escapam ao nosso entendimento imediato. Não por acaso uma simples questão pode nos ajudar a aprimorar nossas relações: O que percebemos, afinal, reflete o outro ou apenas reflete nossa própria sombra existencial?

A Psicologia Social e o Impacto Subjacente dos Estereótipos nas Organizações

Ao nos aprofundarmos na influência de nossas próprias lentes, nos deparamos com uma questão ainda maior: como esses filtros pessoais afetam nossas interações em contextos organizacionais, onde o impacto de cada percepção se amplifica? A psicologia social revela que os estereótipos não são meros julgamentos superficiais, mas um mecanismo quase imperceptível que molda, de forma silenciosa, nossas relações e decisões. Pioneiro nos estudos sobre conformidade, Solomon Asch demonstrou como aspectos aparentemente insignificantes podem influenciar profundamente nossas percepções dos outros.
Assim, ao encontrar alguém com características que associamos a uma “diferença” — seja de pensamentos, crenças, estilo, valores, origem ou cultura — nossa reação é frequentemente mediada por impressões condicionadas e automáticas, as quais nem sempre conseguimos reconhecer. No ambiente organizacional, esses vieses têm um peso ainda maior. Eles criam um terreno onde as primeiras impressões podem rapidamente se cristalizar em julgamentos rígidos, alterando o fluxo da comunicação e até a disposição para a colaboração.
Em equipes diversificadas, esse fenômeno é amplificado, pois os estereótipos podem se transformar em obstáculos ao diálogo autêntico e à troca de ideias inovadoras. Além disso, a presença de preconceitos inconscientes pode influenciar decisões de liderança, avaliações de desempenho e a promoção de talentos, afetando a equidade e limitando o potencial de desenvolvimento coletivo.
Diante disso, quero sugerir um exercício perguntando para você mesmo: até que ponto estamos conscientes dos rótulos que aplicamos aos outros? Estamos prontos para desafiar as “verdades” que carregamos sobre aqueles que nos cercam? E, mais importante, como podemos cultivar uma percepção mais empática, capaz de enxergar além do que nossas predisposições iniciais sugerem?

A Ciência das Neurociências

Em meu livro “O Mapa Não É O Território, O Território É Você”, busco explorar como a neurociência ilumina os complexos processos cerebrais que sustentam a construção dos nossos “mapas mentais”. Esses mapas não são simples representações da realidade; são construções cognitivas conscientes, estruturadas a partir das nossas percepções do mundo, funcionando como atalhos mentais que nos permitem economizar energia cognitiva. Moldados pelas nossas vivências passadas, esses esquemas facilitam a interpretação rápida do ambiente, mas, ao mesmo tempo, podem restringir nossa visão ao nos limitarmos à familiaridade de interpretações anteriores.
Contudo, o que frequentemente ignoramos é que esses mapas mentais não representam o mundo de forma objetiva, nem tampouco são espelhos fiéis de quem somos. Somos, na verdade, aquilo a que nos adaptamos a ser — ou seja, nossa percepção da realidade não é fixa, mas uma construção que se ajusta ao presente e se entrelaça com o nosso próprio passado, moldado por territórios internos. Essa visão nos revela como seres em constante transformação, não como versões imutáveis de nós mesmos. Nesse sentido, de acordo com as neurociências, o cérebro não armazena memórias de maneira estática, como se fosse um arquivo imutável. Em vez disso, elas resultam de fragmentos de sentimentos e emoções, que estão em constante ressignificação. O cérebro reorganiza e interpreta essas memórias, criando uma narrativa dinâmica que não apenas molda a nossa compreensão do presente, mas também projeta nossas expectativas e ações futuras.
Em outras palavras, a ideia central é que nossas memórias não são simplesmente armazenadas de forma objetiva ou estática, mas são construídas a partir de sentimentos e emoções que atribuímos a experiências passadas. Esses sentimentos não apenas influenciam a maneira como as memórias são formadas, mas também as ressignificam constantemente, moldando nossa visão do mundo e afetando como percebemos o presente e projetamos o futuro.
Esses “mapas mentais” são, portanto, interpretações subjetivas, criadas a partir das nossas experiências emocionais, e não representam o mundo ou a realidade de maneira objetiva. Eles funcionam como atalhos cognitivos, facilitando a navegação no dia a dia, mas também podem limitar nossa visão, pois nos prendemos às interpretações do passado, sem considerar novas perspectivas ou possibilidades. Assim, em vez de sermos um reflexo fiel da realidade, somos constantes ressignificações de nossas próprias experiências e sentimentos, o que nos torna seres em transformação contínua.
Além disso, esses atalhos cognitivos, que inicialmente parecem ser vantajosos por sua eficiência, podem, paradoxalmente, nos limitar. Quando o cérebro confia excessivamente em padrões e interpretações antigas para situações novas, a realidade acaba sendo filtrada por lentes que não correspondem mais à situação atual. É como se, ao tentar ver a totalidade, estivéssemos limitados a uma visão parcial e frequentemente desatualizada. Essa reinterpretação constante, por mais útil que tenha sido para a nossa adaptação ao longo do tempo, pode distorcer nossas decisões e interações, gerando vieses que nos afastam de uma visão mais objetiva do mundo.
Por exemplo, se alguém teve uma experiência traumática em uma interação social anterior, seu cérebro transforma em “território” e, inconscientemente, projetar a mesma interpretação sobre novas situações. Mesmo que o contexto atual seja radicalmente diferente, o indivíduo tende a reagir de acordo com um “mapa mental” que não se aplica mais. O perigo, então, é que esse “mapa” se torna um guia que, ao invés de nos orientar, nos aprisiona. Como disse, o mapa nunca é o território, e mais, ele se refere às lentes da nossa percepção, enquanto o território somos nós, com toda a nossa carga de vivências e experiências inconscientes.
Esse processo, essencial para nossa sobrevivência, também nos impede de expandir nossos horizontes cognitivos. O cérebro, na busca incessante por segurança e conforto, prefere a familiaridade do conhecido, porque ele reduz a incerteza e o esforço mental. Porém, ao ficarmos presos em territórios mentais já conhecidos, limitamos nossa capacidade de inovação e de ver além das limitações autoimpostas, ignorando novos territórios, novas possibilidades e novas formas de nos conectar com o mundo.

Rompendo o Ciclo de Autoengano

A filosofia, em sua busca incessante pela verdade, nos propõe que o autoconhecimento é o único caminho capaz de transcender as limitações impostas pela nossa perspectiva egocêntrica. Friedrich Nietzsche, em sua crítica contundente à ilusão da razão, sustentava que a verdadeira sabedoria reside na capacidade de dissolver as ficções que criamos sobre nós mesmos e sobre o mundo. Esse processo de desilusão, segundo ele, não é apenas uma libertação, mas uma reconfiguração radical da nossa maneira de ser e de entender nossa existência.
Por outro lado, a psicologia comportamental, em particular na visão de Carl Rogers, complementa esse raciocínio ao afirmar que a autorreflexão profunda é essencial para o processo de individuação — uma jornada rumo a um “eu” mais autêntico, livre das distorções e das armadilhas do autoengano. Em uma sociedade obcecada pela superficialidade e pela velocidade da informação, a capacidade de olhar para dentro e confrontar as “verdades” estabelecidas é cada vez mais rara.
Agora, convido você a um exercício de metapercepção: Quais de nossas certezas, adquiridas ao longo da vida, não passam de sombras projetadas pela mente, máscaras que usamos para evitar o desconforto da vulnerabilidade? Seríamos, acaso, capazes de ver o mundo com um olhar não contaminado por essas construções cognitivas, ou estamos, de fato, irremediavelmente presos em um ciclo perpétuo de autoengano e distorção da realidade?

O Desafio de Enxergar com Clareza

Ao longo desta jornada de autoconhecimento, nos deparamos com uma questão fundamental: estamos verdadeiramente preparados para remover as camadas que distorcem nossa percepção da realidade? Ou continuaremos reféns dos mapas mentais que construímos ao longo dos anos, incapazes de ver o mundo em sua essência?
O convite que faço a você, leitor, não é apenas uma reflexão superficial. É um desafio profundo: até que ponto a visão que você tem de si mesmo e do mundo é uma expressão genuína de sua essência, e quanto dela é, na verdade, um reflexo das convenções sociais, das influências externas e das construções psíquicas que acumulamos ao longo do tempo?
Desafie-se. Questione-se. O que é verdadeiramente seu e o que é imposto? E, mais importante, até que ponto a clareza pode transformar sua vida, suas escolhas e seu futuro?

“Quando você mudar a forma como vê o mundo, o mundo mudará a forma como lhe responde.” – Marcello de Souza

Se este conteúdo ressoou com você e despertou uma chama de questionamento, saiba que a jornada está apenas começando. Estou aqui para acompanhá-lo e desafiá-lo a enxergar com mais profundidade, a transformar suas percepções e, assim, alcançar uma verdadeira liberdade de ser. O que você está disposto a descobrir sobre si mesmo?
Vamos juntos.

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