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Aceitação e Distanciamento – O Caminho para Reduzir o Sofrimento Psicológico

O sofrimento é uma condição humana inevitável, algo que todos enfrentamos em maior ou menor grau ao longo da vida. Entretanto, na sociedade ocidental contemporânea, existe uma pressão constante para erradicar o sofrimento de maneira imediata, como se fosse possível eliminar completamente qualquer sensação de mal-estar. A crença amplamente difundida é que, para viver plenamente, devemos estar livres de pensamentos negativos, lembranças dolorosas ou qualquer tipo de sofrimento emocional. No entanto, a realidade parece ser muito mais complexa.

Estudos recentes em psicologia comportamental e terapias focadas na aceitação sugerem que o sofrimento não apenas é inerente à vida, mas que tentar eliminá-lo completamente pode, na verdade, ser contraproducente. Algumas abordagens terapêuticas inovadoras, como a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) e a Terapia Dialética Comportamental (DBT), propõem que a chave para uma vida mais plena não está em suprimir o sofrimento, mas em mudar a maneira como lidamos com ele.

A Ciência da Aceitação: Não é Passividade, Mas Atividade Intencional
A aceitação ativa, como é chamada em muitas dessas terapias, não implica resignação ou passividade. Pelo contrário, ela exige uma ação deliberada de “deixar ir” pensamentos e emoções, sem tentar modificá-los ou apagá-los. Segundo a psicóloga e pesquisadora Patricia Fernández Martín, a sociedade muitas vezes nos ensina a buscar soluções imediatas, como distrações rápidas ou estratégias para “curar” as emoções. No entanto, essa abordagem de curto-prazismo pode gerar ainda mais sofrimento. Em vez de eliminar ou controlar o sofrimento, é fundamental aprender a viver com ele de maneira saudável.

Em seu livro Manual para Soltar, o psicólogo Joaquim Soler explora a importância de praticar a aceitação radical, uma das premissas centrais da Terapia Dialética Comportamental (DBT). A aceitação radical sugere que, ao invés de lutar contra nossas emoções difíceis, devemos permitir que elas existam sem nos identificarmos com elas, sem nos tornarmos reféns delas. Pesquisas demonstram que quando adotamos essa postura, não só melhoramos nossa saúde mental, como também cultivamos uma maior sensação de bem-estar e resiliência.

O Desafio de Aceitar o Sofrimento: Em Busca de Sentido no Processo
Mas por que é tão difícil aceitar o sofrimento? Segundo um estudo de 2022 publicado no Journal of Contextual Behavioral Science, a resistência à dor emocional está profundamente enraizada na nossa biologia. Nosso cérebro foi desenvolvido para evitar o sofrimento e buscar recompensas imediatas, o que está diretamente relacionado ao sistema de recompensa dopaminérgico. Esse impulso natural, embora essencial para a sobrevivência, pode nos levar a agir de maneira impulsiva ou a evitar enfrentar desafios emocionais importantes.

A psicóloga Thaïs Tiana Sastre, do Hospital de Santa Creu e Sant Pau, destaca que a aceitação não é uma forma de negar a dor, mas de reconhecê-la e ainda assim continuar a agir de acordo com nossos valores e objetivos. Como ela explica, a resistência ao sofrimento frequentemente se manifesta em ruminações — pensamentos repetitivos que nos prendem ao passado ou nos antecipam um futuro cheio de incertezas. Esse ciclo de ruminação não apenas mantém o sofrimento vivo, mas também nos impede de aproveitar o momento presente.

Metáforas como Ferramentas para a Transformação
Uma das abordagens mais eficazes utilizadas nas terapias de aceitação envolve o uso de metáforas. Uma metáfora poderosa que aparece frequentemente é a comparação entre a vida e o cuidado de um jardim. Assim como um jardineiro cuida de suas plantas, podemos cuidar de nossos pensamentos e emoções. No entanto, assim como um jardim pode ser invadido por ervas daninhas, nossas mentes também podem ser invadidas por pensamentos negativos e perturbadores. O segredo não está em erradicar essas ervas, mas em escolher onde concentramos nossa energia e atenção.

Os psicólogos clínicos recomendam que a pessoa visualize sua mente como um jardim, onde os pensamentos negativos são comparados a ervas daninhas. Em vez de lutar contra essas ervas, o objetivo é cultivar as plantas — ou seja, os pensamentos e comportamentos que realmente nos ajudam a crescer como indivíduos. Ao praticar essa metáfora, aprendemos a focar nas coisas que realmente importam e que, no fim, contribuem para nosso bem-estar.

O Poder da Ação: Comportamento Coerente com a Aceitação
O último componente essencial da aceitação é o comportamento coerente com nossos valores. Mesmo diante de um sofrimento, podemos continuar a agir de maneira alinhada com aquilo que consideramos significativo. A prática da aceitação comportamental envolve tomar decisões e ações que são independentes do estado emocional momentâneo, focando sempre no que é importante a longo prazo.

Em outras palavras, a aceitação não significa abandonar os nossos objetivos, mas sim aprender a navegar por eles com maior clareza emocional. Quando aceitamos uma situação difícil, por exemplo, a perda de um emprego ou o fim de um relacionamento, nossa tarefa não é encontrar uma solução mágica, mas agir com base no que ainda podemos controlar e fazer para seguir em frente de forma construtiva.

Aceitação Como Ato de Crescimento Pessoal
Em última análise, a aceitação não é um fim, mas um meio. Ao aceitarmos o sofrimento, nossas emoções e nossos pensamentos, criamos o espaço necessário para o crescimento e o aprendizado. Como afirma o psiquiatra Javier García Campayo em seu livro Como reduzir o sofrimento com aceitação e atenção plena, a verdadeira mudança acontece quando deixamos de lutar contra o sofrimento e passamos a nos concentrar no que é possível fazer, apesar dele.

Portanto, a verdadeira questão não é como eliminar o sofrimento, mas como podemos transformar nossa relação com ele para que ele não nos impeça de viver uma vida significativa. Aceitar não é resignar-se, mas cultivar com intenção as “plantas” que realmente fazem a diferença em nossas vidas, enquanto aprendemos a lidar com as “ervas daninhas” que inevitavelmente surgem.

Você pode ler mais sobre este assunto, neste incrível artigo publicado por Patrícia Fernández Martín, em:
https://elpais.com/eps/psicologia-y-bienestar/2024-08-15/no-lo-puedes-cambiar-estos-son-los-beneficios-de-aceptar-y-tomar-distancia.html#?rel=mas

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