
Não é Ansiedade, é Egoísmo: O Vício de Ser o Centro da Própria Novela
Vivemos tempos em que a intensidade é confundida com autenticidade. A vulnerabilidade tornou-se mercadoria. No coração de tantas relações, na solidão dos próprios quartos ou nas timelines infinitas, a ansiedade é proclamada como sofrimento legítimo, mas, muitas vezes, o que encontramos é outra coisa: egoísmo disfarçado de vulnerabilidade. É o vício em ser o centro da própria novela.
Chamamos de ansiedade aquilo que paralisa, silencia e desorganiza corpo e mente. Mas o egoísmo performático — o protagonismo emocional — não paralisa, não silencia: ele exige atenção constante, reconhecimento e audiência. Quem o pratica constrói uma narrativa em que cada gesto de dor, cada emoção sentida, é convertida em espetáculo. O mundo não é suficiente se não girar ao redor do “eu”.
“Quando o ego exige palco, a relação se perde; quando o eu observa, o vínculo se transforma.” – Marcello de Souza
A psicologia comportamental nos ensina que existe um mecanismo chamado “narcisismo encoberto”: indivíduos expõem fragilidades não para curar, mas para receber aplausos por “serem tão verdadeiros”. Cada desabafo, cada lágrima, cada relato intenso é uma moeda trocada por validação. O cérebro, ao reforçar o circuito de dopamina gerado pela atenção, aprende rápido: sofrer vale a pena — mas não para si, e sim para ser visto. O que era intimidade se transforma em audiência.
Aqui entra o paradoxo: o que o egoísmo emocional oferece não é acolhimento, mas ilusão. Ele produz uma proximidade aparente, mas na verdade distancia. A relação não cresce; ela se transforma em palco de autoafirmação. É a coreografia das máscaras, um teatro onde cada ato é calculado para impressionar, e não para amar.
Nietzsche nos lembraria que coragem é olhar para si mesmo sem fugas; Jung nos diria que sombra é o que precisa ser integrado. No contexto relacional, isso se traduz em algo simples e doloroso: encarar o eu sem aplausos, sentir sem manipular olhares, existir sem espetáculo. A maturidade emocional começa quando substituímos a fome de atenção pela prática da alteridade: ouvir mais, observar sem julgar, doar sem esperar retorno. É sair do palco da própria novela e entrar no mundo do outro.
O egoísmo emocional se alimenta da ilusão de importância, do medo de não ser visto, da insegurança disfarçada de vulnerabilidade. Ele converte o outro em coadjuvante de uma história que deveria ser privada, mas que se torna pública por necessidade de validação. E é justamente aí que a confusão acontece: confundimos nossa incapacidade de lidar com a ausência de atenção com ansiedade. O que sentimos não é a pressão do mundo sobre nós; é a exigência do nosso próprio ego em dominar o mundo ao nosso redor.
Relacionamentos, liderança, amizade e amor não se sustentam quando o “eu” eclipsa o “nós”. A cura para o excesso de protagonismo não é mais protagonismo, mas mais alteridade. É cultivar a escuta silenciosa, a presença sem expectativa, o cuidado que não cobra retorno. É existir sem precisar que alguém aplauda, sentir sem publicar, doar sem contabilizar.
Quando começamos a praticar a alteridade, compreendemos algo revolucionário: a intimidade verdadeira não está na intensidade exibida, mas na profundidade compartilhada. Não está na performance do sofrimento, mas na coragem de mostrar o que realmente somos, sem roteiro, sem câmera, sem expectadores.
E você, em sua última relação, quantas máscaras usou — ou tolerou — antes de perceber que estava consumindo ou sendo consumido emocionalmente? Quantas vezes confundiu ansiedade genuína com necessidade de aplausos? Quantas vezes esqueceu que o verdadeiro vínculo exige presença, cuidado e atenção genuína, e não palco, likes e validação?
O egoísmo emocional nos aprisiona em ciclos: o outro é mediador da nossa autoestima, a dor vira ferramenta de manipulação, a vulnerabilidade é convertida em espetáculo. Libertar-se disso exige coragem: olhar para si sem máscara, sentir sem manipular, existir sem público. Essa é a maturidade emocional que transforma relações, que torna possível amar sem ser refém do próprio ego.
“A verdadeira coragem não está em expor dores, mas em existir quando ninguém assiste.” – Marcello de Souza
No fundo, é simples e ao mesmo tempo desafiador: a cura não está em mais “eu”, mas em mais alteridade, mais cuidado genuíno, mais presença silenciosa. Ansiedade é um sintoma que pede atenção e acolhimento; egoísmo é uma escolha que pede limites e reflexão. O verdadeiro caminho para a plenitude relacional é abandonar a novela que nos aprisiona e viver a realidade crua e bela da intimidade genuína.
A vida não precisa de protagonistas, precisa de seres inteiros que escolhem se encontrar no outro, não no palco.
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