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Quando “Eu Sou Assim” se Torna uma Armadilha: O Perigo da Rotulagem nas Relações

Você já parou para observar como muitas pessoas usam diagnósticos ou rótulos psicológicos — ansioso(a), perfeccionista, narcisista — como justificativa automática para seus comportamentos? Não se trata apenas de autocompreensão; trata-se de criar uma blindagem invisível contra a responsabilidade emocional.

A princípio, os rótulos surgem como ferramentas de autocompreensão, uma lente para nos entendermos melhor. Mas quando mal utilizados, podem se transformar em escudos invisíveis que desviam responsabilidade, congelam o diálogo e transformam vínculos afetivos em arenas de frustração silenciosa.

Rotulagem Defensiva: da Psicologia ao Cotidiano
Chambless e Hollon (1998) cunharam o conceito de “rotulagem defensiva”, quando indivíduos usam diagnósticos ou traços de personalidade como justificativa para suas reações emocionais. Na prática, isso se manifesta assim:

“Você não entende minha ansiedade”
“Eu não posso evitar, sou assim”
“Isso é quem eu sou, não tente mudar isso”

Cada frase, aparentemente inofensiva, desloca a responsabilidade emocional do indivíduo para o parceiro, estabelecendo um desequilíbrio de poder afetivo. Winnicott (1965) já alertava: quando o self verdadeiro é substituído por construções defensivas, o espaço de intimidade se reduz. O vínculo saudável dá lugar a uma interação de proteção e acusação silenciosa.

Na neurociência comportamental, Gross (2014) demonstra que a regulação emocional é comprometida quando o indivíduo depende de justificativas para manter o ego intacto. Cada ato de “eu sou assim” ativa circuitos de recompensa ligados à redução de dissonância cognitiva, reforçando a resistência à mudança. O resultado? Um ciclo inconsciente em que o parceiro se vê constantemente “culpado” pelo impacto emocional, enquanto o indivíduo rotulado se sente protegido e inquestionável.

Frustração e Desamparo
Para quem está do outro lado, o efeito é devastador. Estudos sobre a Terapia de Casal Focada nas Emoções (EFT) (Johnson, 2004) revelam que a incapacidade de reconhecer a própria responsabilidade cria ciclos de distanciamento afetivo. O parceiro, ao não conseguir lidar com o comportamento, é visto como causador do conflito. A relação se transforma em uma dança silenciosa de ressentimento, onde a comunicação genuína desaparece.

“Somos todos seres em constante evolução. Quanto mais nos permitimos mudar, mais nos conectamos ao outro em um nível profundo.” – Marcello de Souza

Exemplo cotidiano:
Imagine uma discussão sobre tarefas domésticas. Um dos parceiros reage com impaciência, e o outro diz:

“Não posso evitar, sou perfeccionista.”

O que era uma oportunidade de diálogo construtivo torna-se um terreno de frustração: a responsabilidade é deslocada, o vínculo é tensionado e o ciclo se repete.

Neurocientificamente, cada vez que a justificativa protege o ego, há uma descarga de dopamina associada à sensação de “ter razão”, enquanto o outro experimenta ansiedade e frustração (Siegel, 2012). Este desequilíbrio emocional reforça padrões tóxicos que, se não tratados conscientemente, podem cristalizar-se como dinâmica recorrente da relação.

Da Rotulagem à Responsabilização Consciente
O caminho para relações mais saudáveis exige transformar rótulos em ferramentas de autocompreensão, não em escudos de evasão. Isso envolve:
1. Reconhecer a armadilha – perceber quando um rótulo é usado para justificar atitudes prejudiciais.
2. Observar o impacto real – refletir sobre como os comportamentos afetam o parceiro e a relação.
3. Desenvolver autorregulação emocional – desacelerar impulsos, responder conscientemente e não reagir automaticamente.
4. Abrir espaço para vulnerabilidade – dialogar com coragem, expondo fragilidades sem transformá-las em desculpas.
Relações conscientes exigem que cada parceiro assuma sua participação no vínculo, evitando reduzir comportamentos complexos a traços fixos ou diagnósticos. Só assim o “eu sou assim” deixa de ser barreira e torna-se ponto de partida para crescimento mútuo.

Exemplos de Aplicação Prática
• Ao notar que reage defensivamente, pergunte a si mesmo: “Estou realmente sentindo isso, ou estou usando meu diagnóstico como justificativa?”
• Durante conflitos, evite frases do tipo: “Não posso evitar, sou assim.” Substitua por: “Sinto isso e quero aprender a lidar melhor com minha reação.”
• Incentive o parceiro a expressar sentimentos sem julgamento e pratique a escuta ativa.

Essas atitudes não apenas fortalecem a intimidade, mas promovem um laboratório emocional de aprendizado mútuo, onde cada parceiro cresce junto e com consciência.

Vamos agora refletir com essas provocações:

“Em uma relação, não se trata de estar certo, mas de estar presente.”
Nas relações saudáveis, a presença emocional é mais importante que a razão. Quando a atenção está no outro, o ego se dissolve e cria espaço para a verdadeira conexão. O segredo é ouvir, não para responder, mas para entender.


“O ego constrói paredes; a vulnerabilidade constrói pontes.”
Cada vez que abrimos mão do controle e permitimos que a vulnerabilidade entre na relação, criamos pontes sólidas de confiança e compreensão. Não existe espaço para o amor sem vulnerabilidade.


“Relações não crescem na rigidez, mas na fluidez do agora.”
As relações conscientes exigem uma constante adaptação e reconhecimento de que somos seres em transformação. Ao se abrir para o novo, deixamos de ser prisioneiros do passado e abraçamos a evolução.


“A verdadeira maturidade não está na capacidade de ter razão, mas na coragem de evoluir.”
Em vez de insistir no ponto de vista, que tal escolher o crescimento? A maturidade emocional se constrói quando optamos por entender o outro, em vez de forçar um alinhamento com nossas certezas.


“Cada relacionamento é um campo de cultivo, onde a comunicação precisa ser plantada com atenção e regada com respeito.”
A comunicação consciente e a autorregulação emocional são as sementes para relações saudáveis. O que você semeia em suas palavras e atitudes pode criar vínculos sólidos ou destrutivos.

Por fim,
Enquanto os rótulos forem usados como desculpas, a relação permanece em modo de sobrevivência emocional, e os conflitos repetem-se sem resolução. Mas quando os diagnósticos e características pessoais são transformados em ferramentas de autoconhecimento, o vínculo evolui de um campo de batalha para um laboratório de intimidade, confiança e aprendizado mútuo.

“A verdadeira liberdade nas relações começa quando abrimos mão do controle e aceitamos o outro como ele é.” – Marcello de Souza

Pergunte-se: até que ponto você tem usado justificativas para proteger seu ego, ao invés de assumir responsabilidade pelo impacto de suas ações? Quanto isso tem afetado quem está ao seu lado? E você, está pronto para olhar honestamente para si mesmo e transformar seu “eu sou assim” em crescimento e consciência?

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