
Tudo O Que Chega É Cego, Só O Que Não Chega É Que Vê!
“Tudo o que chega é cego, só o que não chega é que vê.”
— Fernando Pessoa
Este verso, sutil e inquietante, nos convida a mergulhar no mistério das relações: o que realmente enxergamos quando nos relacionamos? Acreditamos conhecer o coração do outro, suas intenções e silêncios, mas o que chega até nós é sempre um fragmento, filtrado pelas lentes da nossa própria história e percepções. Essa cegueira inevitável não é uma falha, mas o convite para uma jornada mais profunda — a de acolher o invisível, o não-dito, o mistério que torna o amor uma experiência única e transformadora.
Muitas vezes, caímos na armadilha de tentar captar a totalidade do outro. Imagine um momento comum: sua parceira ou parceiro faz um comentário que te magoa. Imediatamente, a mente tece uma narrativa — “ele não me entende”, “ela não me valoriza” — como se fosse possível decifrar intenções com precisão absoluta.
Muitos vínculos terminam ou se tornam tóxicos justamente porque insistimos em enxergar o todo onde só há fragmentos. Cegos pela urgência de controlar, entender e julgar, aprisionamo-nos em expectativas irreais e interpretações equivocadas. A mente quer preencher o invisível com certezas, mas o que não chega — o silêncio, a ausência, o não-dito — é o verdadeiro solo onde o encontro acontece ou se desfaz.
Se Sartre e Buber nos lembram que o outro é um território inexplorado, a neurociência confirma que nosso cérebro filtra, simplifica e muitas vezes distorce as informações recebidas. Por isso, a cegueira do que chega não é uma falha pessoal, mas uma condição inerente. O problema surge quando a arrogância de “acreditar que podemos ver o invisível” nos impede de acolher a complexidade e a imperfeição do outro.
O invisível como solo de uma relação saudável
Relacionar-se de forma autêntica é um ato de humildade: reconhecer que o invisível não é um vazio, mas um espaço sagrado onde o outro existe em sua plenitude. Pense naquele momento em que seu parceiro ou parceira optou pelo silêncio ao invés de explicar uma dor. Você já tentou “forçar” uma resposta, buscando entender o que não estava pronto para ser dito? Ou se sentiu frustrado porque o outro não se abriu como esperava?
É nesses espaços que a sabedoria mora — acolher o invisível, respeitar o mistério sem tentar dominá-lo.
A fenomenologia do vínculo, como nos inspira Élio Salles, nos convida a habitar o espaço entre o visível e o invisível. É no silêncio entre as palavras, na pausa entre os gestos, que o amor verdadeiro floresce. Amar de verdade é estar presente sem exigir que o outro se revele por completo, é dançar com o mistério sem medo da incerteza.
Essa incapacidade de aceitar o invisível é o que faz tantos relacionamentos naufragarem. A toxicidade nasce da tentativa desesperada de preencher vazios com interpretações unilaterais, julgamentos e cobranças que negam o direito do outro de ser mistério. Amar é justamente o contrário: estar presente no que se revela e no que se oculta, com humildade e paciência.
Convido você a olhar para suas relações com essa lente e a se perguntar:
Você tem se permitido acolher o invisível, o que não chega?
Ou insiste em tentar enxergar o que jamais foi feito para ser visto?
Está aberto para o silêncio que fala mais alto que mil palavras?
Essa jornada não é para quem busca certezas fáceis, mas para os que estão dispostos a habitar a incerteza do ser, navegar entre o visível e o invisível, o dito e o não-dito, o encontro e o desencontro.
Na vida e no amor, nem tudo pode ou deve ser visto. A sabedoria está em reconhecer os limites da visão e respeitar o espaço do outro — até mesmo o que permanece oculto.
Cinco reflexões para iluminar o caminho do encontro verdadeiro:
A cegueira do que chega é inevitável; a sabedoria está em acolher essa limitação sem tentar dominá-la.
A toxicidade nasce da ilusão de que podemos (e devemos) enxergar tudo, negando o direito do outro ao mistério e à vulnerabilidade.
O invisível não é vazio; é o solo fértil onde o amor pode crescer ou morrer.
A aceitação do silêncio entre nós abre espaço para o diálogo autêntico e a conexão genuína.
Respeitar o limite do olhar é um ato de humildade que nos protege do julgamento e do sofrimento desnecessário.
“Entre o que se mostra e o que se esconde, reside a essência do verdadeiro encontro.”
— Élio Salles, pensador da fenomenologia do vínculo
Por fim,
Relacionar-se é a arte delicada de conviver com o invisível — um equilíbrio constante entre o que se revela e o que se oculta. É saber que, ao querer ver tudo, podemos perder a visão mais essencial: a do coração que escuta, acolhe e respeita, mesmo sem compreender completamente.
Quer que eu já prepare o carrossel alinhado a essa estrutura para seguirmos com a jornada?
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Será que esperar pelo futuro sempre vale a pena?
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