
QUANDO AS METAS IMPOSSÍVEIS COLOCAM A LIDERANÇA À PROVA
Liderar na era da Permavucalution é avançar sem mapas fixos, em um território onde o solo se move continuamente sob os pés. Nesse novo paradigma, os líderes mais eficazes não são aqueles que tentam eliminar a incerteza, mas os que desenvolvem uma convivência lúcida com ela — transformando-a em combustível para inovação, reinvenção e crescimento sustentável.
O termo VUCA — Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade — surgiu no final do século XX, inicialmente no contexto militar, para descrever o cenário instável do pós-Guerra Fria. Rapidamente, o conceito migrou para o universo corporativo, tornando-se uma lente estratégica para compreender as dinâmicas econômicas, geopolíticas e sociais de um mundo em aceleração constante. No entanto, ao avançarmos pelo século XXI, as premissas de VUCA não apenas se intensificaram — elas se tornaram permanentes.
A globalização, a revolução digital e a interdependência crescente entre sistemas econômicos elevaram a imprevisibilidade a um novo patamar. A volatilidade deixou de ser episódica e se institucionalizou; a incerteza, antes associada a momentos de crise, tornou-se a nova normalidade. Nesse cenário, prever o futuro já não é mais um exercício de estratégia, mas uma ilusão de controle.
A complexidade e a ambiguidade, por sua vez, também se amplificaram. A interconexão entre mercados, tecnologias e culturas criou um emaranhado de variáveis onde decisões precisam ser tomadas sob múltiplas pressões simultâneas — muitas vezes com dados incompletos ou contraditórios. Soluções óbvias se tornaram exceções raras.
Eventos como a crise financeira de 2008 e, mais recentemente, a pandemia de COVID-19 revelaram com brutal clareza as fragilidades dos sistemas globais. Eles não apenas expuseram vulnerabilidades estruturais, mas consolidaram a percepção de que não estamos mais diante de crises pontuais. Estamos imersos em um estado contínuo de instabilidade, onde choques sucessivos se sobrepõem, se amplificam e se retroalimentam.
É neste contexto que o futurista Bob Johansen introduz, em 2017, o conceito de Permavucalution — uma fusão entre permanência, VUCA e evolução. Ele não apenas nomeia uma nova era, mas propõe uma nova mentalidade: a de que a instabilidade crônica é o novo tecido do mundo. Segundo Johansen, a velha lógica de “crise seguida de estabilidade” está obsoleta. Em seu lugar, emerge a necessidade de lideranças capazes de operar no meio do turbilhão, vendo o caos não como inimigo a ser domado, mas como matéria-prima da transformação.
As organizações que prosperaram nesse ambiente não foram aquelas que resistiram às mudanças, mas as que souberam desaprender para reaprender. Elas não apenas responderam às disrupções — elas as integraram à sua cultura. O que para alguns foi um remendo temporário, como o trabalho remoto, para outros tornou-se um novo modelo operativo e identitário.
Johansen não oferece apenas um novo jargão; ele propõe um novo framework de consciência organizacional. Um convite à maturidade adaptativa, onde líderes aprendem a integrar a instabilidade à sua forma de pensar, decidir e agir. Nesse novo horizonte, liderar é um ato filosófico, um exercício sistêmico e uma prática de escuta profunda do presente que está sempre se desfazendo.
A liderança tradicional — orientada por controle, previsibilidade e estabilidade — já não basta. O líder do futuro é um facilitador de transições, um orquestrador de aprendizados, um designer de culturas resilientes. Ele não foge do caos: ele o transforma em impulso para criar futuros desejáveis, mesmo diante da imprevisibilidade inevitável.
A Arte de Dizer Não Estratégico
Com certeza se você está lendo este artigo é porque já tem claro que hoje a liderança eficaz passa menos pela velocidade de resposta e mais pela sabedoria na escolha das batalhas. A pressão por resultados imediatos — impulsionada por mercados cada vez mais acelerados e por metas muitas vezes descoladas da realidade operacional — coloca líderes diante de um dilema silencioso, porém corrosivo: qual é o ponto de inflexão entre o compromisso responsável e a sobrecarga destrutiva?
A lógica predominante de “sempre mais” precisa ser substituída pela inteligência do “o que realmente importa”. Ao longo da minha trajetória com líderes de alto desempenho, um padrão crítico se repete: muitos chegam a um ponto em que percebem que certas metas são simplesmente inalcançáveis sem sacrificar a qualidade, o propósito ou a integridade da equipe. O que se exige, nesse momento, não é força bruta, mas clareza estratégica — a coragem madura de reconhecer que dizer “não” pode ser o gesto mais responsável e eficaz de liderança.
Esse “não” não é um ato de recusa, mas sim de direção. Não se trata de evitar responsabilidades, mas de proteger o que é essencial para sustentar o desempenho no longo prazo. Como bem observou Jim Collins em Empresas Feitas para Vencer, organizações excepcionais concentram seus esforços em áreas de impacto real. Elas não se dispersam tentando fazer tudo; elas fazem o que importa com excelência. Essa é a essência do foco estratégico.
Um exemplo notável dessa sabedoria ocorreu durante a pandemia, com a startup norte-americana Headspace Health. Ao enfrentar uma explosão de demanda por serviços de saúde mental, a liderança resistiu à tentação de crescer exponencialmente sem critério. Em vez disso, disse “não” a uma série de projetos paralelos e redirecionou os esforços para a consolidação da plataforma principal, reforçando a qualidade da entrega e o bem-estar dos colaboradores. O resultado? Um crescimento sustentável, reconhecimento global e uma equipe mais coesa e engajada.
Esse tipo de decisão reflete uma liderança que não apenas sobrevive à Permavucalution, mas que prospera dentro dela. Trata-se de uma recusa estratégica, fundamentada tanto em dados quanto em valores, que alavanca inovação, fortalece a cultura organizacional e preserva a vitalidade dos times.
Negar o que não faz sentido é, portanto, uma competência de alto valor. Líderes que compreendem isso não agem por impulso, mas com discernimento. Eles entendem que cada “sim” carrega consigo a renúncia a outros potenciais, e que a escassez de recursos — humanos, emocionais e financeiros — exige escolhas conscientes, não compromissos compulsivos.
Estudos recentes reforçam essa urgência. Segundo o State of the Global Workplace 2023, da Gallup, 76% dos trabalhadores relatam estresse ou sobrecarga constante, o que mina o engajamento, prejudica a performance e afeta diretamente a saúde organizacional. Ao ignorar esses sinais, líderes arriscam não apenas os resultados, mas a sustentabilidade do próprio ecossistema humano que sustenta a empresa.
No cenário atual, dizer “não” deixou de ser uma barreira. É uma ferramenta de inovação, uma escolha sistêmica e uma prova de maturidade organizacional. Um ato ético e estratégico que, longe de ser evasivo, é profundamente comprometido com aquilo que realmente importa.
O Dilema do Líder: Recusar ou Ceder?
Um dos pontos mais críticos — e menos discutidos — na jornada de líderes de alto desempenho é o momento em que se torna necessário reconhecer a inviabilidade de determinadas metas. Quando os objetivos ultrapassam os limites do possível, mantendo-se descolados da capacidade operacional e dos recursos disponíveis, insistir em sua execução não é sinal de comprometimento, mas de negligência estratégica.
Ao contrário do que muitos imaginam, recusar tarefas ou metas desproporcionais não é um ato de fraqueza, nem uma falha de visão. Pelo contrário, representa uma maturidade rara: a habilidade de tomar decisões impopulares, mas necessárias, em nome da sustentabilidade da equipe e da integridade das entregas. É nesse ponto que o líder revela sua verdadeira grandeza — não ao aceitar tudo, mas ao dizer “sim” apenas ao que faz sentido dentro de um projeto coerente de futuro.
Como reforça Jim Collins em Empresas Feitas para Vencer, o foco estratégico é um dos principais pilares do sucesso organizacional. Lideranças eficazes evitam a dispersão de esforços em tarefas de baixo impacto e priorizam aquilo que realmente move a organização em direção aos seus objetivos de longo prazo. A clareza de prioridades é, portanto, um recurso tão valioso quanto o capital financeiro ou tecnológico.
A Fadiga de Mudança e o Efeito Invisível no Desempenho
Em paralelo a esse dilema, emerge uma ameaça silenciosa, porém devastadora: a fadiga de mudança. Conceituada por estudiosos como Jeffrey Pfeffer, professor da Universidade de Stanford, essa fadiga representa o desgaste emocional, cognitivo e físico causado pela exposição constante a transformações organizacionais não digeridas. Como aponta Pfeffer (2018), a pressão por mudanças contínuas, somada à falta de espaço para assimilação, cria um ciclo de exaustão que corrói a motivação e compromete o desempenho.
Segundo a McKinsey & Company, as empresas hoje enfrentam cinco vezes mais iniciativas de mudança do que há uma década. Quando tais iniciativas são acompanhadas por metas irrealistas, o impacto negativo é exponencial: o engajamento diminui, a qualidade das entregas cai e a taxa de rotatividade tende a crescer. A cultura se fragiliza, o senso de pertencimento se dilui e o propósito organizacional se perde em meio à urgência e à sobrecarga.
Líderes que não reconhecem esse cenário tornam-se agentes involuntários de desgaste. Já aqueles que desenvolvem a coragem de frear o ciclo vicioso da superexigência e reposicionar suas equipes com foco, clareza e respeito ao limite humano se tornam construtores de culturas regenerativas e resilientes — e não apenas gestores de performance.
A Arte de Dizer Não: Uma Abordagem Científica
A recusa estratégica não é um ato de resistência passiva, mas uma competência essencial para líderes comprometidos com a sustentabilidade organizacional e a entrega de valor real. A pergunta que se impõe é: como tomar decisões de recusa que sejam éticas, embasadas e eficazes? A resposta está na interseção entre a ciência da decisão e os princípios da psicologia comportamental.
A Teoria da Decisão, formulada por Herbert Simon, Prêmio Nobel de Economia, introduz o conceito de racionalidade limitada, segundo o qual os líderes operam sob restrições cognitivas, emocionais e temporais que os impedem de escolher a opção perfeita. Em vez disso, precisam tomar decisões suficientemente boas (satisficing), baseadas nas informações disponíveis e nas condições do momento. Essa perspectiva desafia o ideal de controle absoluto e reforça a importância de decisões estratégicas que reconheçam os próprios limites e os da organização.
Do ponto de vista psicológico, a sobrecarga crônica e o senso contínuo de urgência estão entre os principais preditores do esgotamento profissional. A Dra. Christina Maslach, referência mundial no estudo do burnout, identifica três dimensões críticas desse fenômeno: exaustão emocional, despersonalização (ou cinismo) e redução da eficácia profissional. Tais sintomas, quando presentes em líderes e equipes, comprometem não apenas a saúde mental, mas a capacidade de tomar decisões claras e sustentáveis.
É nesse ponto que a recusa estratégica emerge como um ato de liderança consciente: ela protege o capital humano da organização e fortalece o compromisso com o que realmente importa. Recusar, nesse contexto, não é um sinal de fraqueza ou aversão ao risco, mas de maturidade decisória — um alinhamento entre propósito, prioridades e possibilidades reais de execução.
A Matriz de Recusa Estratégica: Uma Abordagem Essencial para a Gestão Eficaz de Demandas no Contexto Organizacional
No artigo seminal da Harvard Business Review, When You’re Asked to Meet Impossible Goals, os autores Luis Velasquez e Jordan Stark oferecem uma reflexão crucial sobre os desafios da gestão no cenário corporativo contemporâneo. Em um ambiente caracterizado pela multiplicação de demandas e pela limitação de recursos, a habilidade de tomar decisões estratégicas se destaca como um diferencial essencial para líderes. Neste contexto, a liderança não se limita à execução das metas, mas também envolve a capacidade de fazer escolhas difíceis, incluindo o ato de recusar solicitações que, embora urgentes ou aparentemente importantes, podem desviar o foco e comprometer os recursos organizacionais.
A Matriz de Recusa Estratégica, desenvolvida por Velasquez e Stark (2025), é um framework que classifica demandas que auxilia os líderes a navegar por essas decisões complexas, alinhando-as com a visão de longo prazo e com as reais capacidades da organização. Ao proporcionar uma estrutura clara, a matriz permite uma avaliação criteriosa das demandas, contribuindo para uma liderança mais assertiva e orientada por resultados.
Os Fundamentos da Matriz de Recusa Estratégica
A matriz classifica as solicitações em quatro quadrantes principais, com base em dois fatores centrais: viabilidade de execução e importância estratégica. Ao posicionar as demandas dentro dessa matriz, os líderes podem tomar decisões mais informadas sobre onde alocar os recursos da organização e quais compromissos realmente merecem atenção. Abaixo, uma análise detalhada de cada categoria da matriz:
Baixa Viabilidade e Baixa Importância Estratégica: A solução aqui é simples: recusar a solicitação. Quando uma demanda possui baixa relevância estratégica e a organização não tem capacidade ou recursos para executá-la de forma eficaz, a recusa não deve ser encarada como um fracasso, mas sim como uma decisão estratégica fundamental. Exemplo: “Essa tarefa não impactará significativamente nossos objetivos de longo prazo, portanto, devemos concentrar nossos esforços em iniciativas mais impactantes.”
Alta Viabilidade e Baixa Importância Estratégica: Embora a execução dessa tarefa seja viável, ela não possui relevância estratégica significativa. Neste caso, a recomendação é despriorizar. A viabilidade não justifica o desvio de foco, e a tarefa deve ser reavaliada ou delegada para momentos mais oportunos, quando os recursos forem mais adequados. Exemplo: “A execução dessa tarefa é viável, mas ela desvia nossa atenção de projetos mais alinhados com nossas prioridades. Vamos adiá-la para um momento mais adequado.”
Baixa Viabilidade e Alta Importância Estratégica: Quando uma tarefa é estratégica, mas a execução é limitada pela falta de recursos ou capacidade, a melhor abordagem é a renegociação. O líder deve avaliar alternativas, como ajustar prazos, buscar recursos adicionais ou adaptar a execução para viabilizar a demanda sem comprometer outras prioridades. Exemplo: “Este projeto é essencial para nossos objetivos de longo prazo, mas não temos os recursos necessários para executá-lo agora. Podemos renegociar o prazo ou buscar suporte adicional para viabilizar a execução?”
Alta Viabilidade e Alta Importância Estratégica: Quando tanto a viabilidade quanto a importância de uma demanda são altas, a decisão é clara: comprometer-se. Nesse cenário, o líder deve alocar os recursos necessários e priorizar a execução, garantindo que o projeto seja concluído com excelência e alinhado com os objetivos estratégicos da organização. Exemplo: “Esta iniciativa é crucial para nossos objetivos, e temos os recursos para implementá-la com eficácia. Vamos priorizar e garantir a sua execução de alta qualidade.”
Reformulando a Recusa como uma Ação Estratégica
A simples decisão de recusar uma demanda, por mais necessária que seja, não é suficiente para garantir o sucesso dessa ação. De acordo com Velasquez e Stark, o maior desafio não está apenas em identificar quando recusar, mas em como comunicar essa recusa de forma construtiva. Reformular a recusa de maneira estratégica pode ser o ponto de inflexão que determina se ela será vista como uma oportunidade de foco ou como um obstáculo.
1. Reformulando a Forma de Dizer Não
Enquadrar a recusa não como um “não” direto, mas como uma priorização estratégica, transforma uma ação aparentemente negativa em uma escolha de liderança clara e focada. O líder deve evitar justificar a recusa apenas com base na limitação de recursos, pois isso pode enfraquecer a decisão. Em vez disso, é necessário contextualizar a recusa dentro de uma visão mais ampla, destacando o impacto positivo que a priorização de outras demandas terá para os objetivos organizacionais. Um exemplo de abordagem seria:
“Apesar da viabilidade de execução dessa demanda, neste momento, precisamos concentrar nossos esforços em projetos que agreguem maior valor estratégico para a organização.”
Ao reformular o “não” dessa maneira, a decisão é contextualizada dentro de uma visão de longo prazo, o que a torna mais compreensível e, em muitos casos, mais aceitável para a equipe e stakeholders.
2. O Custo de Dizer Sim
Conforme publicado na Harvard Business Review (2025), líderes enfrentam hoje um dos maiores desafios que é visualizar corretamente os custos ocultos de aceitar novas demandas. O viés de planejamento, frequentemente, leva a uma subestimação dos desafios e a uma superestimação da capacidade de execução. Quando esses custos são claramente expostos, a decisão de recusar se torna mais fácil de ser compreendida e aceita. Para isso, é fundamental envolver a liderança nas discussões sobre viabilidade e capacidade, destacando os trade-offs que precisam ser feitos. Exemplo:
“Aceitar essa nova demanda significaria atrasar projetos essenciais que já possuem recursos alocados. Como preferimos priorizar neste momento?”
Essa abordagem permite uma discussão mais aberta e estratégica sobre os recursos disponíveis e as implicações de cada escolha, promovendo maior entendimento e colaboração entre todos os envolvidos.
3. Criando uma Cultura de Recusa Estratégica
Implementar a recusa estratégica como uma prática contínua exige que a organização desenvolva uma cultura de priorização. A recusa não pode ser vista como um sinal de fraqueza ou falha de liderança, mas como uma ação proativa e alinhada com os objetivos estratégicos. Para que isso se torne uma prática normal, deve ser incorporado aos processos da organização, sendo parte da rotina de tomada de decisão.
Criar uma cultura organizacional que entenda a recusa estratégica como uma prática normal e necessária é crucial. Empresas como Google e Netflix têm mostrado consistentemente que, quando a recusa estratégica é uma parte integrante da cultura empresarial, os resultados são mais robustos, tanto em termos de inovação quanto no bem-estar dos colaboradores. Ao normalizar a priorização, a recusa se torna uma ferramenta de engajamento com as prioridades e não uma resistência à demanda.
A Recusa Estratégica como Cultura Organizacional
Quando bem implementada, a recusa estratégica não deve ser uma prática isolada, mas sim uma parte estruturada e contínua da cultura organizacional. Organizações que promovem uma cultura de foco estratégico, como as mencionadas, demonstram que a recusa, longe de ser um obstáculo, é um facilitador de um trabalho mais focado, mais inovador e, consequentemente, mais bem-sucedido. A recusa estratégica se torna, assim, um pilar da execução bem-sucedida e da agilidade organizacional.
Escolher é um Ato de Liberdade e Responsabilidade
Na essência, liderar é um exercício constante de escolha — e toda escolha verdadeira implica renúncia. Como já apontava Viktor Frankl, “entre o estímulo e a resposta existe um espaço. Nesse espaço reside o nosso poder de escolher a resposta. E, nessa resposta, está a nossa liberdade e o nosso crescimento.” Aplicado à liderança, esse espaço é o território onde o “não” estratégico se revela não como uma negação, mas como uma afirmação consciente do que realmente importa.
Sob a lente do pensamento sistêmico, cada decisão de um líder reverbera como uma onda: afeta pessoas, processos, cultura e o futuro da organização. Dizer “sim” indiscriminadamente é o mesmo que desequilibrar o sistema, sobrecarregar suas engrenagens e comprometer sua sustentabilidade. Em contrapartida, o líder que desenvolve a coragem de escolher com clareza e recusar com sabedoria atua como guardião da saúde do ecossistema organizacional — compreendendo que preservar a vitalidade coletiva é mais estratégico do que atender a urgências desconectadas de propósito.
Recusar, portanto, é um ato de profundo respeito: respeito pelos limites humanos, pela integridade das relações e pela inteligência do sistema como um todo. É também uma demonstração de presença e consciência — qualidades que distinguem os líderes que atuam no piloto automático daqueles que lideram com propósito, intencionalidade e impacto duradouro.
Na era da hiperexigência, o verdadeiro diferencial não será fazer mais, mas saber o que não fazer. O tempo de um líder é um bem escasso — e precisa ser investido com sabedoria nas causas certas, pelos motivos certos, com as pessoas certas.
Referências
• Collins, Jim. Empresas Feitas para Vencer: Por que Algumas Empresas Alcançam a Excelência… e Outras Não. HarperBusiness, 2001.
• Pfeffer, Jeffrey. Dying for a Paycheck: How Modern Management Harms Employee Health and Company Performance — and What We Can Do About It. Harper Business, 2018.
• Maslach, Christina; Leiter, Michael P. The Truth About Burnout: How Organizations Cause Personal Stress and What to Do About It. Jossey-Bass, 1997.
• Simon, Herbert A. Administrative Behavior: A Study of Decision-Making Processes in Administrative Organizations. Free Press, 1947.
• Gallup. State of the Global Workplace Report, 2023. Disponível em: https://www.gallup.com.
• McKinsey & Company. The Business of Change, 2023. Disponível em: https://www.mckinsey.com.
• Velasquez, Luis; Stark, Jordan. When You’re Asked to Meet Impossible Goals. Harvard Business Review, 2025. Disponível em: https://hbr.org/2025/05/when-youre-asked-to-meet-impossible-goals
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