
QUEM SÓ PROCURA POR ESPELHOS PODE PERDER JANELAS
“O homem que olha só para dentro vê sombras; o que olha para fora, descobre que sombras também são luz.” – Marcello de Souza
Você já parou para pensar que a busca incessante por reflexos de si mesmo pode ser a principal barreira para o florescimento da consciência e do ser? Vivemos tempos em que a autopreservação, em suas variadas formas, tem se manifestado como um hábito quase automático, um mecanismo de defesa em que, por vezes, ficamos presos a imagens familiares e confortáveis — os espelhos. Mas, e se essa fixação nos privasse da riqueza e do ineditismo que só as janelas abertas para o mundo oferecem?
Este é o convite que faço hoje: a transcender a repetição do olhar autorreflexivo, sem desconsiderar seu valor, e experimentar a ousadia de direcionar o foco para as “janelas” — aquelas possibilidades externas, que nos desafiam e enriquecem o repertório mental, emocional e existencial.
A Ilusão do Espelho
O espelho, símbolo milenar da identidade, nos serve para reconhecermos o que somos — a nossa face, nossa essência individual. No entanto, quando nossa atenção se fixa exclusivamente no espelho, o que ocorre é um fenômeno psicológico de autorreferência excessiva. A Psicologia Social já nos ensinou que o self é uma construção dialógica, formada pela interação entre o indivíduo e o contexto social que o cerca. Limitar-se apenas à própria imagem é fechar-se a essa dinâmica de construção contínua.
Neurocientificamente, a recorrência do olhar fixo em si mesmo ativa circuitos cerebrais ligados à autopercepção, mas que, se não forem balanceados por estímulos externos, podem levar a padrões rígidos de pensamento, reforçando vieses cognitivos que limitam a criatividade e o aprendizado. É como se nos tornássemos reféns de um sistema fechado, autossuficiente, porém estagnado.
Já vivenciei, em minha trajetória profissional com líderes, casos emblemáticos em que a fixação na autoimagem — seja pelo medo do julgamento ou pela necessidade de controle — impediu uma escuta genuína dos demais, travando processos decisórios e o desenvolvimento organizacional. Isso, por sua vez, se refletiu em ambientes tóxicos, ausência de inovação e, sobretudo, na perda de significado para as pessoas envolvidas.
O Poder da Experiência Externa e do Olhar Sistêmico
Por outro lado, as janelas representam as oportunidades de expansão do olhar, o contato com o outro, com o diferente, o desconhecido. É por meio delas que se estabelece a verdadeira aprendizagem, aquela que provoca transformação cognitiva e comportamental.
Ao adotarmos uma postura de abertura, conectamo-nos à complexidade do real, reconhecendo que o mundo e o ser humano são sistemas dinâmicos, não linearmente previsíveis. O pensamento sistêmico, fundamental na gestão contemporânea e no desenvolvimento humano, nos convida a enxergar além da superfície, a mapear interdependências e a lidar com a incerteza de maneira resiliente.
Além disso, a psicologia comportamental revela que nossa neuroplasticidade é estimulada pela exposição a novas experiências e estímulos. Quando nos abrimos para as “janelas”, abrimos caminho para a construção de novas conexões neuronais, ampliando a capacidade de adaptação, empatia e inovação.
A lógica aqui é paradoxal: para compreender verdadeiramente a nós mesmos, precisamos estar dispostos a ir além do espelho, ousar sair da zona de conforto da autorreflexão e encarar o que há de fora, mesmo que isso cause desconforto inicial. Essa transição é vital para líderes e profissionais que desejam transformar suas realidades internas e coletivas.
A Jornada do Autoconhecimento Como Movimento entre Espelhos e Janelas
É fundamental, contudo, reconhecer que o autoconhecimento não é um processo unidimensional. A busca por reflexos — seja em nosso comportamento, valores ou crenças — é essencial para a construção da identidade e da presença executiva, como aprendi ao longo dos anos trabalhando com coaches, gestores e líderes. Porém, o movimento estacionário, preso ao espelho, conduz à cristalização de padrões e à limitação existencial.
O desafio é caminhar numa dialética entre o interno e o externo, entre o eu e o outro, entre o conhecido e o desconhecido. O filósofo que habita em cada um de nós é convocado a um exercício constante de questionamento e abertura, para que o desenvolvimento humano e organizacional possa se dar de forma genuína e perene.
Em organizações, essa dialética é ainda mais evidente. Os ambientes positivos — que eu, como CHO, tive a oportunidade de ajudar a construir — são aqueles em que os colaboradores se sentem seguros para olhar tanto para dentro quanto para fora, para sua própria atuação e para as dinâmicas coletivas, para o contexto e para o futuro. Essa fluidez entre espelhos e janelas é um dos pilares da liderança ágil e da cultura de alta performance.
A Filosofia do Olhar Multiperspectivo e a Transcendência da Zona de Conforto
Ao retomarmos a reflexão filosófica, podemos recorrer a uma verdade que perpassa os séculos: o saber e o ser humanos se ampliam na medida em que nos permitimos experienciar o outro e o diverso. O filósofo que somos não está apenas na contemplação do eu, mas na coragem de abrir portas para o outro, para o novo e para o imprevisto.
Tal como no conceito de “epistemologia do sujeito” e “alteridade”, encontrar janelas é aceitar que o conhecimento não reside exclusivamente dentro de nós, mas no encontro com a alteridade — o outro, o diferente, o estranho.
Essa atitude nos impele a transcender o pensamento linear e egocêntrico, entrando no domínio do pensamento sistêmico e dialógico, o qual nos possibilita enxergar o mundo como um campo de possibilidades e relações vivas. É nesse campo que reside o motor da inovação, da transformação e da verdadeira evolução, seja pessoal ou organizacional.
A Escolha Entre Estar Refletindo ou Expandindo
Portanto, pergunto a você que acompanha estas linhas: o que tem ocupado o seu olhar? Tem-se limitado ao espelho — ao conforto do conhecido e da segurança da autoimagem — ou tem se permitido abrir janelas para o mundo, desafiando suas certezas e ampliando seus horizontes?
Este convite é para que você reflita, de forma profunda e sincera, sobre o lugar que ocupa em sua própria existência e nas organizações em que atua. Reflita sobre a riqueza que reside na dialética entre o olhar para dentro e para fora, entre o que já é e o que pode ser.
Convido você a compartilhar sua percepção, sua experiência, suas dúvidas e insights nos comentários abaixo. Sua voz é fundamental para ampliarmos esta conversa e aprofundarmos juntos esse debate tão urgente e necessário.
E se você se identificou com essa abordagem, saiba que estou aqui para auxiliá-lo(a) em sua jornada de autodescoberta e desenvolvimento pessoal e organizacional.
Perguntas para você refletir:
• Qual é a janela que você ainda não ousou abrir em sua vida ou carreira?
• De que forma o espelho em que você se olha pode estar limitando sua visão de mundo?
• Como equilibrar a autopercepção e a abertura ao diferente para promover uma transformação genuína?
“A verdadeira sabedoria não reside em conhecer a si mesmo apenas, mas em reconhecer que o outro é o espelho que reflete as infinitas janelas do existir.” – Marcello de Souza
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Diz-me quem amas e eu ...
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