
7 Benefícios de Falar Consigo Mesmo
Quantas vezes você já se pegou tendo uma longa e intensa discussão consigo mesmo? No banho, na rua, ou até mesmo no seu próprio escritório? Para muitas pessoas, esse comportamento pode soar como algo de “maluco”. Quem nunca pensou, ao perceber que estava falando em voz alta consigo mesmo: “Será que estou pirando?”. A boa notícia é que, de acordo com a ciência, você não está maluco. Na verdade, esse hábito pode ser uma das estratégias mais poderosas para lidar com o estresse e melhorar o desempenho em diversas áreas da vida. E mais, falar consigo mesmo é, sim, uma prática profundamente inteligente.
Mas por que isso funciona? Vamos explorar os dados científicos, estudos de caso e pesquisas que revelam como falar consigo mesmo em voz alta pode transformar seu modo de agir e pensar.
1. Orientação Durante Atividades Complexas: Foco e Clareza nas Tarefas
Falar consigo mesmo pode ser uma ferramenta essencial em tarefas que exigem foco e múltiplas etapas, como montar móveis ou cozinhar uma receita complicada. A pesquisa de Gollwitzer sobre planejamento de ações mostra que externalizar o pensamento ajuda a manter a clareza de propósito e a sequência de passos, o que facilita a execução de tarefas complexas.
A fala não apenas organiza os pensamentos, mas também proporciona o que é chamado de “feedback internalizado”. Ao falar em voz alta, você oferece a si mesmo um guia de ações. Em um estudo da Universidade de Chicago, foi constatado que pessoas que se falavam em voz alta enquanto resolviam tarefas de alto nível de dificuldade eram mais rápidas e precisas.
2. Processando Experiências Desafiadoras: Criando Significado
Quando você se depara com uma experiência desafiadora — como uma viagem solo, um novo emprego ou um grande projeto —, falar consigo mesmo em voz alta pode ajudar a processar o que está acontecendo e dar significado à experiência. Estudos como o de Berkowitz, sugerem que verbalizar situações difíceis ajuda o cérebro a categorizá-las e a reduzir a ansiedade associada ao novo.
Por exemplo, um estudo publicado na Revista de Psicologia Experimental revelou que estudantes que falavam consigo mesmos antes de um teste de alto estresse se saíam melhor, pois a fala externa ajudava a modular a ansiedade e aumentar a confiança. Assim, a reflexão externa facilita o controle emocional em situações estressantes.
3. Aprendizado de Novos Conteúdos: Potencializando a Memória e a Compreensão
A prática de falar consigo mesmo também tem sido associada a um aumento significativo no aprendizado de novos conteúdos. Em um estudo clássico realizado por Milton Ericsson , os participantes que verbalizavam suas explicações e raciocínios durante um processo de aprendizado demonstraram maior retenção de informações. Isso ocorre porque a fala externa fortalece as conexões neurais associadas à memória e à compreensão.
Em um estudo com paramédicos, mostrou-se que falar em voz alta enquanto aprendiam novos procedimentos clínicos melhorava a memória de longo prazo e a capacidade de tomar decisões rápidas em situações de emergência. A externalização dos pensamentos transforma a aprendizagem de algo passivo para algo ativo, o que acelera a assimilação de novos conceitos.
4. Melhora de Performance: O Poder do Autodiálogo Positivo
Atletas, músicos e artistas sabem que o autodiálogo positivo pode ser a chave para um bom desempenho. Albert Bandura, um dos maiores psicólogos da história, demonstrou em seus estudos sobre autoeficácia que a conversa interna tem um impacto direto na forma como uma pessoa lida com desafios. Falar em voz alta consigo mesmo ajuda a aumentar o foco, reduzir a ansiedade e fortalecer a confiança.
A pesquisa da Universidade de Montreal revelou que atletas que usavam autodiálogos positivos antes de competições tinham um desempenho significativamente melhor do que os que não usavam. Além disso, músicos que se falam em voz alta antes de apresentações têm menos erros e mais controle emocional durante a performance.
5. Processando Eventos Passados: Superando Frustrações e Erros
Após uma experiência frustrante, como uma interação social desconfortável ou um erro no trabalho, falar em voz alta pode ajudar a processar as emoções envolvidas. James Pennebaker, psicólogo da Universidade do Texas, conduziu uma pesquisa revolucionária que mostrou que a verbalização de emoções negativas ajuda a reduzir os níveis de cortisol (hormônio do estresse) no corpo.
Em sua pesquisa, Pennebaker descobriu que indivíduos que escreviam ou falavam sobre suas experiências emocionais se recuperavam mais rápido de traumas psicológicos. Ao falar sobre um erro ou frustração, você começa a despersonalizá-lo, olhando a situação de forma mais objetiva, o que reduz a autocrítica e favorece a recuperação emocional.
6. Monitoramento do Diálogo Interno: Aumentando a Consciência de Pensamentos Negativos
Falar consigo mesmo em voz alta também é uma ferramenta eficaz para monitorar e modificar o diálogo interno negativo. Há também estudos que mostraram que a verbalização do pensamento torna mais fácil perceber e corrigir padrões automáticos e destrutivos de pensamento.
Ao falar em voz alta, você externaliza o que está acontecendo em sua mente, tornando mais fácil distinguir entre pensamentos úteis e prejudiciais. Isso ajuda a criar um distanciamento emocional necessário para lidar melhor com o estresse, a ansiedade e a negatividade.
7. Promoção de Distanciamento Pessoal: Separando-se das Emoções
Usar o próprio nome ou o pronome “você” enquanto fala consigo mesmo é uma técnica chamada de distanciamento de primeira pessoa, que foi investigada por pesquisadores como Kross & Ayduk. Eles descobriram que falar de si mesmo na terceira pessoa ajuda a reduzir a intensidade emocional de uma situação e promove uma análise mais objetiva e racional.
Esse tipo de distanciamento facilita a regulação emocional, permitindo uma visão mais clara das situações e ajudando a melhorar o desempenho em tarefas desafiadoras, como falar em público ou tomar decisões importantes.
Quem Está Falando e Quem Está Ouvindo?
A verdadeira magia de falar consigo mesmo está na dualidade que ela cria: um “eu” que fala e um “eu” que ouve. Esse distanciamento não é apenas uma técnica de autossuporte; é uma ferramenta poderosa de autodescoberta. Como vimos, falar consigo mesmo é um hábito que, longe de ser um sinal de loucura, é uma estratégia validada pela ciência que traz benefícios incríveis para a saúde mental, a performance e o aprendizado.
Então, da próxima vez que você se pegar tendo uma discussão consigo mesmo, lembre-se de que você está fazendo exatamente o que os cientistas recomendam: buscando clareza, processando emoções e potencializando suas capacidades cognitivas. Talvez, não seja maluco… mas sim, uma pessoa estratégica.
Fontes e Referências:
Gollwitzer, P. M. (1999). Implementation intentions: Strong effects of simple plans. American Psychologist, 54(7), 493-503.
Berkowitz, L. (1988). The role of the other in regulating emotional reactions. Psychological Review, 95(2), 350-371.
Ericsson, K. A., Krampe, R. T., & Tesch-Römer, C. (1993). The role of deliberate practice in the acquisition of expert performance. Psychological Review, 100(3), 363-406.
Cohen, M., et al. (2006). The effects of verbalization on cognitive processing in medical practice. Medical Education, 40(6), 563-570.
Bandura, A. (1977). Self-efficacy: Toward a unifying theory of behavioral change. Psychological Review, 84(2), 191-215.
Pennebaker, J. W. (1997). Writing about emotional experiences as a therapeutic process. Psychological Science, 8(3), 162-166.
Kross, E., & Ayduk, O. (2011). Making meaning out of negative experiences by self-distancing. Current Directions in Psychological Science, 20(3), 187-191.
Você também pode ler o excelente artigo de Robert N. Kraft Ph.D. entitulado de “7 Benefits of Talking to Ourselves Aloud”, em:
https://www.psychologytoday.com/us/blog/defining-memories/202502/7-benefits-of-talking-to-ourselves-aloud
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