
Como um Palavrão Pode Ser Mais Eficaz que um Analgésico
Em um cenário em que a dor física e emocional afeta bilhões de pessoas diariamente, os tratamentos convencionais — como analgésicos e terapias — são ferramentas essenciais. No entanto, o que muita gente não sabe é que há uma alternativa que, surpreendentemente, está sendo validada pela ciência: os palavrões. Isso mesmo! Pode parecer uma piada, mas estudos científicos estão demonstrando que xingar pode ter efeitos analgésicos reais, além de outros benefícios para o nosso corpo e mente. Mas, como isso funciona? E o mais importante, o que a neurociência tem a dizer sobre essa prática aparentemente simples, mas poderosa?
Por Que Palavrões Funcionam?
Segundo Richard Stephens, psicólogo da Universidade Keele (Reino Unido), o impacto dos palavrões sobre a dor foi documentado pela primeira vez em 2009, quando ele e seus colegas realizaram um estudo com voluntários que precisavam manter as mãos em água gelada por tanto tempo quanto conseguissem. Os participantes que soltaram palavrões durante o experimento conseguiram suportar a dor por mais tempo do que os que utilizaram palavras neutras. Isso ocorre devido a uma resposta neurofisiológica conhecida como hipoalgesia (redução da percepção da dor).
Stephens e sua equipe descobriram que o uso de palavrões ativa áreas cerebrais ligadas ao controle emocional e ao sistema de “luta ou fuga”, desencadeando uma resposta de estresse que prepara o corpo para lidar com situações adversas, como dor extrema. Essa ativação aumenta a tolerância à dor, similar ao que ocorre quando a adrenalina é liberada em situações de emergência.
Em uma entrevista para o Washington Post, Stephens descreveu o fenômeno como uma espécie de “analgésico natural”, com um impacto imediato e sem efeitos colaterais. Em outras palavras, os palavrões podem ser uma forma rápida e sem custos de melhorar o conforto físico em situações desafiadoras.
Estudos Transculturais: O Poder do Palavrão
O estudo de Stephens não ficou restrito a um ou outro idioma. Em 2017, uma pesquisa realizada com a colaboração de Olly Robertson (Universidade de Oxford) ampliou o escopo, investigando o impacto dos palavrões na dor em diferentes culturas. Os participantes ingleses e japoneses foram convidados a repetir palavrões enquanto imergiam as mãos em água gelada. Curiosamente, apesar das diferenças culturais no uso de palavrões, ambos os grupos mostraram aumento na tolerância à dor.
Esse estudo forneceu uma evidência adicional de que o efeito dos palavrões não é simplesmente social ou cultural, mas está enraizado em uma resposta biológica universal. A amígdala, uma região do cérebro responsável pela regulação emocional, parece ser ativada de maneira semelhante, independentemente do idioma. Para Robertson, isso sugere que os palavrões podem ter um efeito quase primitivo, que transcende barreiras linguísticas e culturais.
O Impacto da Linguagem no Comportamento e nas Emoções
Embora o uso de palavrões para lidar com a dor tenha sido o foco principal das pesquisas, cientistas também exploraram os efeitos emocionais e comportamentais das palavras. Em 2018, Stephens e seus colegas descobriram que, ao falar palavrões, os participantes não só suportavam mais dor, mas também apresentavam um aumento significativo de força física durante exercícios de potência anaeróbica, como o teste de bicicleta ergométrica.
Este efeito não está relacionado apenas a um aumento da energia física. Estudos de psicologia comportamental sugerem que os palavrões têm o poder de nos desinibir emocionalmente. Isso acontece porque, ao usar um vocabulário forte e direto, rompemos com convenções sociais e, muitas vezes, com bloqueios emocionais, o que nos permite expressar sentimentos mais autênticos. Essa liberação emocional pode ser particularmente útil em situações de estresse ou tensão, ajudando a prevenir o burnout e o estresse crônico, que têm sido associados a uma variedade de condições de saúde, desde doenças cardíacas até problemas de saúde mental.
Neurologia e o Papel da Adrenalina
A explicação científica por trás do impacto dos palavrões é ainda mais interessante. Quando falamos palavrões, o cérebro libera substâncias químicas, como a adrenalina, que estimulam o sistema nervoso simpático, a mesma reação que ocorre quando enfrentamos uma ameaça. Essa resposta prepara o corpo para enfrentar o perigo ou, como no caso dos estudos sobre dor, para lidar com o desconforto físico.
Pesquisas recentes também sugerem que o uso de palavrões pode ser uma forma de “hackear” o cérebro para melhorar o desempenho físico e mental. Quando o cérebro libera adrenalina, ele aumenta o fluxo sanguíneo para os músculos, melhora a percepção de força e resistência, e nos prepara para um esforço físico mais intenso, o que pode resultar em uma maior tolerância ao exercício físico, como foi observado nos experimentos de bicicleta ergométrica.
O Poder das Palavras e a Prática Científica
Os dados e as pesquisas científicas revelam que os palavrões não são apenas uma maneira de aliviar a dor, mas uma forma eficaz de alterar o estado psicológico e emocional. A linguagem, muitas vezes subestimada em termos de seu poder, tem um impacto profundo sobre o nosso comportamento, nossa percepção da dor e até mesmo a nossa força física.
Se algo tão simples como um palavrão pode desencadear respostas fisiológicas e psicológicas tão poderosas, o que mais podemos aprender ao explorar as nuances da nossa linguagem cotidiana? Será que, ao tomarmos consciência de como nos comunicamos, podemos aprender a “hackear” nosso cérebro de forma mais eficaz para melhorar nosso bem-estar físico e emocional?
Como bem disse o pesquisador Richard Stephens: “Falar palavrão é uma forma de autoajuda sem remédios, sem calorias e sem custos.” Então, da próxima vez que você se machucar ou enfrentar um grande desafio, talvez o melhor remédio seja simplesmente gritar um bom palavrão — cientificamente validado!
Referências:
Stephens, R. et al. (2009). “The influence of verbalisation on pain tolerance.” Psychology Science.
Robertson, O. & Stephens, R. (2017). “Pain and swearing: A cross-cultural perspective.” Journal of Cross-Cultural Psychology.
Stephens, R. et al. (2018). “Swearing and physical strength: Effects on anaerobic performance.” Journal of Sports Psychology.
Hughes, G., et al. (2020). “Swearing and stress: A neuropsychological perspective.” Neuropsychologia.
Você também pode ler o artigo na íntegra em:
https://www.estadao.com.br/saude/soltar-palavroes-tem-efeitos-positivos-na-saude-e-quase-magico-diz-pesquisador-entenda/
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