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Por Que Criamos Memórias do Que Nunca Aconteceu? A Ciência Por Trás das Lembranças Falsas

Imagine-se em uma reunião de família, ouvindo histórias sobre sua infância. De repente, alguém menciona um episódio que você não se lembra de ter vivido, mas que parece tão vívido que você começa a acreditar que aconteceu. Como isso é possível? Por que nosso cérebro cria memórias de eventos que nunca ocorreram? A resposta está na complexa e fascinante natureza da memória humana, um tema que o psicólogo cognitivo Martin Conway, da City University of London, estuda há mais de 40 anos.

Memórias Autobiográficas: O Que Realmente Lembramos?
Segundo Conway, a memória autobiográfica — aquela que usamos para recordar nossa história de vida — não é uma reprodução fiel do passado. Em vez disso, ela é uma construção mental, uma espécie de “obra de arte” baseada em fragmentos de experiências reais, mas que frequentemente inclui erros e até mesmo eventos fictícios. Essas memórias não precisam ser precisas; o que importa é que sejam consistentes com a narrativa que criamos sobre nós mesmos.
“Memórias autobiográficas servem para nos definir como indivíduos”, explica Conway. “Elas não precisam ser exatas, mas precisam se encaixar na história que construímos sobre nossa vida e personalidade.”

Por Que Criamos Memórias Falsas?
A criação de memórias falsas é um fenômeno comum e, na maioria das vezes, inconsciente. Pode acontecer quando imaginamos algo repetidamente, ouvimos histórias de outras pessoas ou misturamos eventos reais com fantasias. Por exemplo, você pode se lembrar de um passeio no parque durante a infância porque sua mãe contou essa história tantas vezes que ela se tornou parte da sua memória, mesmo que nunca tenha acontecido.
Conway ressalta que a memória e a imaginação compartilham as mesmas redes neurológicas no cérebro. Quando não estamos focados em tarefas específicas, essas redes ficam ativas, permitindo que lembremos do passado e imaginemos o futuro. Essa sobreposição explica por que às vezes confundimos o que realmente aconteceu com o que apenas imaginamos.

Memórias Coletivas e Culturais
Além das memórias individuais, também existem as memórias coletivas, que são compartilhadas por grupos ou sociedades. Essas lembranças podem ser sobre eventos históricos, traumas ou conquistas, e desempenham um papel crucial na formação da identidade de uma comunidade. No entanto, assim como as memórias pessoais, elas estão sujeitas a distorções e reinterpretações ao longo do tempo.
A cultura também influencia como lembramos. Em culturas ocidentais, por exemplo, as memórias tendem a ser mais individualistas, focadas em experiências pessoais. Já em culturas asiáticas, as lembranças frequentemente envolvem o coletivo, como interações com familiares ou eventos comunitários.

A Tecnologia e a Memória
Com o avanço da tecnologia, muitas pessoas temem que estejamos “terceirizando” nossa memória para dispositivos digitais. Conway, no entanto, vê isso de forma positiva. “A tecnologia expande nossa memória, não o contrário”, afirma. Ele lembra que a humanidade sempre usou ferramentas — como a escrita — para complementar a cognição. A chave é usar a tecnologia de forma consciente, sem abrir mão da capacidade de refletir e processar informações por conta própria.

Como Manter a Memória Saudável?
Ao contrário do que muitos pensam, a memória não é um músculo que pode ser exercitado. Aprender novas habilidades, como tocar um instrumento ou falar outro idioma, pode melhorar a cognição, mas não necessariamente a memória. O que realmente faz a diferença, segundo Conway, é a socialização.
“Manter-se engajado com amigos, familiares e colegas é a melhor coisa que você pode fazer pela sua mente”, diz ele. A interação social promove a aprendizagem constante e ajuda a manter o cérebro ativo, reduzindo o risco de declínio cognitivo.

Memórias Falsas e a Identidade Pessoal
No fim das contas, as memórias — sejam elas precisas ou não — desempenham um papel fundamental na forma como nos vemos e como nos relacionamos com o mundo. Elas nos ajudam a construir uma narrativa coerente sobre nossa vida, mesmo que essa narrativa inclua eventos que nunca aconteceram.
Conway enfatiza que a memória não é apenas sobre o passado, mas também sobre o presente e o futuro. “Ela nos ajuda a entender quem somos e a planejar para onde queremos ir”, explica.

A próxima vez que você se pegar questionando a veracidade de uma lembrança, lembre-se: a memória não é uma câmera que registra fatos com precisão, mas sim um artista que cria uma obra única e pessoal. E, como toda obra de arte, ela pode conter imperfeições, mas também beleza e significado.

E você, já teve a experiência de se lembrar de algo que nunca aconteceu? Como lida com as falhas e distorções da sua memória? Compartilhe suas reflexões nos comentários!

Leia a entrevista na íntegra aqui:
https://www.bbc.com/portuguese/geral-51191339

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